terça-feira, 14 de outubro de 2014

O estelionato eleitoral da mídia

Editorial do jornal Brasil de Fato:

A falta de água em São Paulo é tão grave que obrigou a tucana Folha de S. Paulo a escrever, dia 9/10, um editorial sobre a crise. Passado qua­tro dias das eleições, e após ter asse­gurado a reeleição do governador do PSDB no primeiro turno, o editorial parece ter sido escrito por um petis­ta. Um esforço inócuo para mostrar que tem o que não possuem: inde­pendência do Palácio Bandeirantes.

Acertou em chamar de piada pron­ta a afirmação de que “não existe ra­cionamento, existe administração da disponibilidade de água”, dada pe­la presidenta da Sabesp, Dilma Pe­na. Não hesitou em afirmar que o go­vernador Alckmin não age com a transparência que o tema exige. Acu­sou, ainda, os tucanos que governam o estado, desde 1995, de terem si­do omissos frente aos inúmeros rela­tórios técnicos que alertaram sobre a necessidade de aumentar a capa­cidade das reservas de águas. Fina­lizou dizendo que o tucano governa­dor ao invés de enfrentar a grave cri­se a escondeu por causa do calendá­rio eleitoral.

Se a Folha sabia da gravidade da situação e estivesse realmente preo­cupada com os interesses da popula­ção, por que somente agora expõe a omissão, a irresponsabilidade e a in­capacidade administrativa dos go­vernos tucanos? E o faz num mísero editorial que passa totalmente desa­percebido da maioria dos seus leito­res. Nenhuma dessas verdades ocu­pou as manchetes da primeira pági­na do jornal ou obteve destaque no site da internet. A irresponsabilida­de e a omissão, atribuída agora ao Al­ckimin, deve ser atribuída também, e principalmente, à Folha de S. Pau­lo, ao Estado de S. Paulo, Rede Glo­bo e revista Veja, a chamada midio­zona. Foram co-participantes da es­tratégia eleitoral dos tucanos. Cada um com seu quinhão de irresponsa­bilidades pelo adiamento na adoção das medidas necessárias para enfren­tar a grave crise.

Da mesma forma, apurados os vo­tos das urnas, ficou evidenciada a instrumentalização que ocorreu com os institutos de pesquisas eleitorais. O candidato do PT, Alexandre Padi­lha, obteve uma votação muito su­perior aos índices divulgados pe­las pesquisas eleitorais até a véspe­ra das eleições. Índices que justifica­ram a decisão política da Rede Glo­bo de não promover a cobertura de sua campanha eleitoral, criando uma impressão, falsa, de que a disputa do governo estava polarizada entre o candidato do PMDB, Paulo Skaf, e o tucano Geraldo Alckimin.

Passado o primeiro turno, com o embate agora centrado, principal­mente na disputa do governo federal, os setores reacionários da socieda­de brasileira, esperançosos com a ex­pressiva e surpreendente votação que o tucano Aécio Neves obteve, não he­sitam em recorrer a quaisquer armas para atingir seus objetivos eleitorais.

Rotular os votos petistas como da­dos pelos ignorantes dos grotões – coincidentemente os pobres – co­mo fez o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é apenas a pon­ta doiceberg do preconceito e da in­tolerância que está sendo estimula­da em nossa sociedade. Os resquí­cios dos quatro séculos de uma socie­dade escravocrata, latentes na elite brasileira, afloram agora sob o verniz de uma disputa eleitoral. Ao contrá­rio do que pensa Marina Silva, Chico Mendes jamais fez – ou faria! – par­te dessa elite brasileira, que sempre foi antissocial, antinacional e antide­mocrática, nas palavras do sociólogo Florestan Fernandes.

Agora, setores do poder Judiciário entram em cena. Denúncias sem pro­vas, quando não afirmadas como su­posições ou na base do “eu ouvi fa­lar”, são estampadas como veredictos condenatórios. A instrumentalização da delação premiada, envolvendo de­núncias de um esquema de corrup­ção na Petrobras é aviltante. Instituí­ram para alcançar seus objetivos par­tidários, o “sigilo judicial com alto-fa­lante”, na feliz definição do jornalis­ta Jânio de Freitas. Enquanto as acu­sações contra os tucanos, mesmo as com consistentes provas documen­tadas, permanecem nas gavetas até prescrever.

O candidato Aécio Neves tentou censurar o Google, Yahoo! e Bing, movendo um processo para retira­da de links relacionados ao uso de drogas e ao desvio de verbas da saú­de. Obteve um mandado de busca e apreensão de computador, HD exter­no, cds e celular pertencentes a uma jornalista. A polícia invadiu o seu apartamento para cumprir o manda­do. Essa violência é ocultada com co­nivência da mídia que expõe o tuca­no como um defensor da liberdade de expressão. É mídia empresarial e o tucanato atolados numa hipocrisia que mina as conquistas democráticas conquistadas com as lutas sociais.

Cala-se a midiozona, de forma co­nivente, com as denúncias de cor­rupção no governo mineiro, do seu sistemático ataque aos servidores pú­blicos – contratou 98 mil servidores públicos sem concurso e de maneira ilegal – e no amordaçamento promo­vido à parte da imprensa que ousou lhe fazer oposição naquele estado.

12 anos de governo Aécio – Anastasia, quebrou o estado de Minas e ficam propagandeando o sucesso do “choque de gestão” do neto do Tancredo. De acordo com Fabrício A. de Oliveira, em artigo escrito no site Brasil Deba­te, “em 2013, o déficit orçamentá­rio do governo [de Minas] atingiu R$ 948 milhões, o que não ocor­ria desde 2004, o déficit nominal R$ 8,9 bilhões, e o déficit primá­rio R$ 86 milhões (...).

Por isso, a dívida consolidada lí­quida (DCL) deu um salto no ano de mais de R$ 9 bilhões, passando de R$ 70,4 bilhões, em 2012, para R$ 79,7 bilhões, em 2013, corresponden­do a 185% de sua receita corrente lí­quida (ECL).”

É esse o governante que quer co­mandar a economia do país?

A que custos estes setores reacio­nários querem obter a vitória eleito­ral? Promovendo o preconceito e a intolerância? Jogando o jornalismo na lata do lixo? Instrumentalizan­do e desacreditando instituições co­mo o poder judiciário e o Ministério Público? A manipulação do deba­te decisivo entre Lula e Collor, em 1989, faz parte da constituição ge­nética da Globo. A Folha de S. Pau­lo, O Estado de S. Paulo e a revis­ta Veja, se esforçam para ter o mes­mo DNA do jornalismo, manipula­dor, do império midiático da famí­lia Marinho. Uma excrescência que somente será superada com uma nova legislação sobre a mídia.

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