segunda-feira, 18 de maio de 2015

Beto Richa e a “coisa de bandido”

Por Altamiro Borges

Enquanto o comando tucano ainda discute a hipótese do impeachment da presidenta Dilma, quem corre o sério risco de ser desalojado do poder é o governador do Paraná, Beto Richa. Nesta terça-feira (19), um novo megaprotesto dos servidores públicos deve agitar Curitiba contra as maldades do “playboy” do PSDB – que já golpeou o regime previdenciário da categoria e agora anuncia mais cortes no setor. Para bagunçar ainda mais a vida do tucano, sempre tão bajulado pela mídia, crescem as denúncias de corrupção contra o seu governo. Na semana passada, um auditor da Receita Estadual, Luiz Antônio de Souza, afirmou que foram repassados R$ 2 milhões em propina para a campanha de Beto Richa em 2014.

O auditor está preso em Londrina, no interior paranaense, acusado de fraude fiscal, desvio de recursos públicos e exploração sexual de menores. Para aliviar a sua pensa, Luiz Antônio de Souza fechou mais um dos famosos acordos de “delação premiada” com o Ministério Público e revelou os detalhes do esquema de corrupção na Receita estadual. Segundo relato do repórter Carlos Ohara, em artigo na Folha, ele informou que “que a campanha de reeleição do governador Beto Richa (PSDB) recebeu parte da propina de dinheiro desviado dos cofres públicos do Paraná” – um montante de R$ 2 milhões. Seu depoimento caiu como bomba na já abalada e rejeitada gestão tucana no Estado.

“O governador Beto Richa, que enfrenta uma série crise econômica e uma onda de protestos e greves de servidores públicos, não quis comentar o caso. Já o PSDB do Paraná divulgou uma nota negando as acusações”, descreve a Folha. O escândalo de corrupção na Receita estadual é grave e pode levar alguns tucanos de alta plumagem pra cadeia. Na avaliação do senador Roberto Requião, do PMDB, o caso também pode resultar na abertura de um processo de impeachment de Beto Richa. Luiz Antônio de Souza e outros 14 auditores fiscais são acusados de cobrar propinas de empresários para reduzir ou até anular dívidas tributárias das empresas. O jornalista da Folha apimenta ainda mais o escândalo:

“Segundo Souza, o esquema era comandado pelo então inspetor-geral de fiscalização da Receita, Márcio Albuquerque de Lima, que também está preso. Na versão de Souza, Márcio Lima agiria em nome de Luiz Abi Antoun, que se apresenta como primo de Richa e também já havia sido preso em outro caso – de suspeita de fraude em licitação do governo estadual”. Os dois citados mantêm intimas relações com Beto Richa. O primo circulava pelo Palácio Iguaçu. “O ex-inspetor-geral de fiscalização da Receita, Márcio Albuquerque de Lima, era companheiro do governador nas corridas de 500 Milhas, em Londrina. Era ele quem ordenava os desvios que irrigavam o caixa de campanha do tucano”, relata o blogueiro Esmael Morais.

Com o cerco apertando e o risco iminente da abertura do processo de impeachment, o tucano Beto Richa resolveu sair do ninho enlameado. Ele agora declara que a “delação premiada” não tem valor e que a acusação do auditor “é coisa de bandido”. No desespero, ele até tenta sair da defensiva. “O Paraná não é bobo e sabe que há muitos interesses, principalmente políticos, tentando fazer um jogo sujo. Querem desviar o foco de problemas maiores, inventando acusações falsas”, afirmou num vídeo gravado em seu apartamento e postado no Facebook. Os tucanos, que adoram “delações premiadas” contra os seus adversários, agora engolem o seu próprio veneno – como bem apontou o jornalista Ricardo Melo, em sua coluna na Folha desta segunda-feira (18). Vale conferir:

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PSDB prova do próprio veneno

Ricardo Melo

Auditor que acusa o tucano Beto Richa é chamado de bandido; já Youssef é gente honesta

"Pegaram um criminoso, réu confesso, preso por abuso de menores, para me acusar sem nenhuma prova. Coisa de bandido."

Não, a afirmação não é de nenhum suspeito na operação da moda, a Lava Jato. O desabafo é do governador Beto Richa, tucano de carteirinha, num vídeo publicado no Facebook. Richa, como se sabe, ganhou notoriedade nacional - e internacional - como o carrasco de professores do Paraná.

Nada como um dia depois do outro. Eis que um auditor da Receita paranaense, Luiz Antônio de Souza, fez o que o doleiro Alberto Youssef pratica período sim, período não. Entrega uma delação premiada em troca de redução de penas. O conteúdo fica ao gosto de certo público qualificado.

Para quem não sabe, Souza é acusado de participar de um esquema em que empresários pagavam propina em troca da redução ou até da anulação de calotes tributários. Puxando o novelo, surgiu a denúncia de que o grupo de auditores criminosos deveria molhar a mão da campanha de Beto Richa com R$ 2 milhões surrupiados na propinagem.

O conteúdo da delação tem tanto valor quanto as infindáveis "revelações" de Youssef. Ou seja, é tudo verdade? É tudo mentira? Que parte é verdade e que parte é mentira? Silêncio ensurdecedor no PSDB.

Assim como Souza, Youssef é um criminoso contumaz. O primeiro chega a abusar de menores; o segundo prefere negociar com adultos. "Incorrigível", como declarou o Ministério Público depois que o doleiro voltou a delinquir após atuar como delator no caso Banestado.

Mesmo assim, Youssef recebeu uma nova chance. Virou testemunha-chave na Lava Jato. Mais. Ganhou direito a delações editadas.

Algumas de suas denúncias estampam manchetes; outras, que envolvem gente de fora do governo atual, têm que ser procuradas com lupa nas redes sociais.

A história fica mais grave ao sermos informados de que a Operação Zelotes, criada para investigar roubalheira grossa na Receita Federal, corre o risco de absolver 90% dos suspeitos. O caso envolve processos que somam mais de R$ 19 bilhões em impostos sonegados, deixando a Lava Jato no chinelo.

Com a palavra Frederico Paiva, procurador responsável pelo processo: "Como as medidas investigatórias não estão sendo deferidas, as pessoas também não estão preocupadas. Está todo mundo em casa".

O procurador refere-se a pedidos de busca e apreensão, escutas telefônicas etc. sistematicamente negados pela 10º Vara Federal. Nada como fazer parte da sobrenomecracia. Já o juiz Sérgio Moro só falta anunciar prisões pelo Twitter.

No Brasil, a Justiça é cega apenas para alguns. Para outros, depende de colírios financeiros.

Esqueçam o que escrevi

Com o vazio de lideranças dignas desse nome, a oposição escalou o veterano Fernando Henrique Cardoso para comandar a tropa de choque contra o governo. Rejuvenescido por amores tardios e celebrado pela banca em Nova York, faz o diabo para mostrar que está em forma.

Subiu no caixote e gostou do ambiente; aguarda-se um dueto com Marta Suplicy em rede nacional. FHC chama Lula para o embate, flerta com o impeachment de Dilma, opina sobre tudo. Menos, por exemplo, sobre o dinheiro torrado para comprar a própria reeleição.


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