quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

A dor dos pobres não sai nos jornais

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Nos anos 70, escapando da censura, a peça musical Gota D’Água, numa das geniais canções de Chico Buarque, Notícia de Jornal, ao falar dos dramas vividos pelos pobres, dizia: “a dor da gente não sai no jornal”.

O dia clareando, percorrer as primeiras páginas dos mais “importantes” (será?) jornais brasileiros mostra cruelmente que ainda é assim, ou é pior, pois já não há a censura daqueles anos de chumbo a obrigar que o “Brasil Grande” fosse manchete e o “pequeno Brasil” um canto de rodapé.

Fachin e um certo juiz heterodoxo

Por Jeferson Miola, em seu blog:             

Sempre se soube que o julgamento do habeas corpus do Lula nesta terça, 4/12, era jogo de cartas marcadas. Chance zero do STF praticar justiça neste julgamento [ler aqui], pois isso causaria a ruína da Lava Jato e abalaria os alicerces do bolsonarismo e do Estado de Exceção.

Como o resultado contra Lula estava previamente concebido, o que ficou comprovado durante a sessão, não haveria motivos para espanto ou surpresas. O que não se esperava, contudo, era o comportamento inescrupuloso e capcioso de Luiz Fachin.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

O dia em que recusei convite da Globo

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Recebo convite para a comemoração dos 80 anos de Woile Guimarães. Woile foi um dos grandes jornalistas da geração imediatamente anterior à minha. Passou pelo Jornal da Tarde, dirigiu depois a sucursal da TV Globo em São Paulo, onde se notabilizou pelo talento e pelo fino trato. E me vem à memória uma das decisões mais importantes que tomei em minha carreira.

Nos anos 80 fiquei conhecido pelo uso intensivo da matemática no jornalismo e pela introdução do chamado jornalismo de serviços na imprensa, criando o Seu Dinheiro, no Jornal da Tarde e, depois, o Dinheiro Vivo na Folha.

O quão livre é o MBL?

Por Iago Montalvão, no site da UJS:

Já não é mais segredo para ninguém que vivemos em um momento turbulento na política brasileira. Sobram motivos, mas faltam explicações sobre como chegamos até aqui. O fato é que desde a crise mundial de 2008 que atingiu o Brasil com mais força após 2013, somada às manipulações midiáticas e de lideranças infiltradas nos movimentos que levaram às Jornadas de Junho e, ainda, o desencadeamento da operação Lava-Jato e sua espetacularização por parte do judiciário e da imprensa, instalou-se um ambiente de total descredibilização das instituições democráticas e de um completo caos político em nosso país.

Continência de Bolsonaro e a republiqueta

Por Mário Magalhães, no site The Intercept-Brasil:

Se ainda integrasse o serviço ativo do Exército, Jair Bolsonaro teria transgredido a norma que estabelece regras para o gesto de continência nas Forças Armadas. Na quinta-feira, o presidente eleito prestou continência ao visitante John Bolton, assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Mas o capitão reformado é cidadão civil, deputado federal há sete mandatos; não tem obrigação de obedecer aos dispositivos castrenses. Seu ato foi mesmo o que pareceu: mais um retrato para o álbum de imagens picarescas de submissão diplomática na história do Brasil.

A pobreza no Brasil é um genocídio

Editorial do site Vermelho:

O Dia Mundial do Pobre, instituído em 2017 pelo Papa Francisco e assinalado neste ano em 18 de novembro, coincidiu com dados alarmantes sobre o assunto, entre eles os que mostram o aumento de 2 milhões de brasileiros em situação de pobreza em um ano, conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Síntese de Indicadores Sociais (SIS) apontou que a pobreza extrema também cresceu em patamar semelhante. Soma-se a esses dados o relatório da Oxfam Brasil revelando que a desigualdade de renda parou de cair e a pobreza cresceu.

Bolsonaro e a regressão trabalhista

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

“É horrível ser patrão nesse país” (Jair Bolsonaro)

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Bom mesmo, para o presidente eleito, é ser trabalhador sem carteira assinada, sem direitos, ganhando a metade dos empregados formais.

Para ele, que votou a favor da “reforma trabalhista” de Michel Temer, ainda foi pouco o que fizeram. Tem que arrochar mais os trabalhadores para deixar os patrões mais satisfeitos.

Temer prometeu que a sua reforma iria gerar novos empregos, mas aconteceu exatamente o contrário.

Dez fiascos de Bolsonaro na política externa

Por Alejandro Barrios, no blog Socialista Morena:

Em 2022, o Brasil completa dois séculos de vida nacional, independente e soberana. É fato que a diplomacia convive com os impulsos internos, que são projetados ao cenário internacional. Faltando apenas quatro anos para um grande marco histórico da sua ação externa, o país vive momentos de fiascos e confusões sobre o expediente das relações exteriores: dúvidas e ataques aos pilares da casa de Rio Branco têm sido desencadeadas por setores da sociedade que não compreendem as determinações históricas da inserção internacional do Brasil. Desenvolveu-se um quadro geral de desconhecimento dos condicionantes da ação externa do país. A visão de mundo é, contudo, elemento chave em qualquer estratégia diplomática.

O que esperar da economia no novo governo?

Por Luiz Fernando de Paula, no jornal Le Monde Diplomatique-Brasil:

O quadro atual da economia brasileira mostra uma situação de compasso de espera, com uma recuperação gradual e lenta: taxa de crescimento do PIB de 1% em 2017 e 1,4% em 2018 (segundo previsão do Focus). Já a taxa de desocupação se mantém bastante elevada, oscilando entre 12% a 13% desde o início de 2017 contra 6,5% em dezembro de 2014. A utilização da capacidade da indústria, por sua vez, se situa em 75,1% no 3º trimestre de 2018 contra 81,5% no 4º trimestre de 2014; consequentemente a formação bruta de capital fixo – após forte declínio desde 2014 – se mantêm estagnada desde o início de 2016. De acordo como o relatório Focus de 16 de novembro de 2018 a previsão de crescimento do PIB real do Brasil é de 1,36% em 2018 e 2,5% em 2019; já a previsão recente do OCDE é de um crescimento menor, de 2,1%, em 2019 (contra 3,5% da economia mundial). Neste contexto, o que se pode esperar da política econômica do governo Bolsonaro? Quais as perspectivas para a economia brasileira durante o seu governo?


É horrível ser patrão! Bom é ser escravo!

Manifesto contra a extinção da EBC

Do site do Centro de Estudos Barão de Itararé:

“Ajustes podem ser feitos, uma vez que nenhuma área é imune a críticas. Contudo, não se pode confundir a necessidade de aperfeiçoamento com o fim de serviços essenciais à sociedade brasileira”. Mais de 140 organizações e representantes da sociedade civil brasileira lançam uma carta-manifesto contra a extinção da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC.

Confira na íntegra abaixo, juntamente com a lista de organizações:

Autocrítica no partido dos outros é colírio

Por Ayrton Centeno, no jornal Brasil de Fato:

Um estrangeiro distraído que desembarcar no Brasil ficará impressionado ao ouvir falar tanto em autocrítica. Julgará não existir no planeta alguém mais fascinado pela técnica de expiação do que o brasileiro. À primeira vista. Um segundo olhar, mais apurado, perceberá uma particularidade neste clamor: todos querem autocrítica mas apenas do Partido dos Trabalhadores.

De preferência, publicamente, no meio da rua, rasgando suas vestes, num espetáculo de autoflagelação, expondo-se à execração nacional como escadaria para o céu da redenção. Uma catarse para exorcizar os demônios que o conduziram ao mau caminho e para trazê-lo de volta à senda dos bons e dos justos. Parece atraente. Pelo menos, do ponto de vista dos autores da receita.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

A construção da desigualdade brasileira

Por Paulo Kliass, no site Outras Palavras:

É fato amplamente sabido e reconhecido a desigualdade estrutural que sempre caracterizou a sociedade brasileira. O enfoque pode ser centrado na distribuição de renda, na distribuição do patrimônio, na distribuição da terra, na distribuição dos imóveis urbanos ou qualquer outro tipo de mensuração do fenômeno. Pouca importa o objeto avaliado, o resultado dos níveis de concentração é sempre impressionante. Trata-se de um país profundamente desigual, atributo infelizmente secular que nos acompanha ao longo da História.

Os militares e Jair Bolsonaro

Por Adriano de Freixo, na revista Teoria e Debate:

A ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República tendo em torno de si, inclusive na vice-presidência, um grupo palaciano formado por diversos oficiais-generais da reserva que, até recentemente, ocupavam cargos importantes na estrutura das Forças Armadas (FA) e contando com o voto e a simpatia da maior parte das tropas, traz implícita uma questão de extrema relevância: como um ex-capitão, de carreira militar apagada, reformado como decorrência de processos disciplinares, com uma atuação pífia como parlamentar e que até não muito tempo era visto com ressalvas e mesmo com desdém por boa parte das lideranças militares, conseguiu angariar toda essa base de apoio nos meios castrenses?

Todo poder emana das redes sociais

Por Fred Melo Paiva, na revista CartaCapital:

Estupefato com a falta de habilidade e noção de Paulo Guedes no primeiro encontro que manteve com o futuro ministro da Economia, o senador Eunício Oliveira (MDB-CE) adiantou aquilo que se verifica agora com clareza transparente: “Esse povo que vem aí não é da política, é da rede social”. 

O cientista político Miguel Lago foi o primeiro a cravar que estávamos a eleger um “youtuber” presidente. “Durante décadas, Bolsonaro teve atividade legislativa medíocre e não tem nenhuma proposta séria de política pública. Mas é o rei da opinião: tudo diz, sobre tudo, mesmo que nada tenha feito. Mascara suas declarações racistas, homofóbicas e sexistas com um suposto humor que incentiva o compartilhamento”, escreveu. “Bolsonaro é tosco, e isso contribui para que pessoas o achem engraçado. É um ativo youtuber, talvez o mais bem-sucedido do Brasil.”

O teste com Paulo Guedes

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

Na próxima quarta-feira, o futuro czar da economia no governo Bolsonaro, Paulo Guedes, prestará depoimento à Polícia Federal no inquérito que apura supostas irregularidades em seus negócios com fundos de pensão de estatais.

Em seis anos ele fez fortuna ao captar cerca de R$ 1 bilhão de sete fundos.

A Lava Jato recrudesceu nos últimos dias com ações que atingiram MDB, PT, PSDB e outros partidos.

A mídia curva a espinha para Bolsonaro

Por Bepe Damasco, em seu blog:                                                                                             

Bolsonaro monta um ministério que pode ser comparado a uma seleção nacional do despreparo, do obscurantismo, da imbecilidade e da estupidez. Depois do "batom na cueca" do prêmio recebido por Sérgio Moro, a composição da equipe do capitão nazista causa estupefação em todas as pessoas com mais de dois neurônios. Mas a mídia noticia com naturalidade a escolha de cada energúmeno para a Esplanada dos Ministérios.

Nenhum regime democrático ao redor do planeta, que tem na subordinação dos militares ao pode civil um dos seus importantes pilares de sustentação, conta com sete generais ocupando cargos de primeiro escalão, como o de Bolsonaro. Mas o Globo não vê nada demais nesta grave degeneração autoritária.

O reinado de Paulo Guedes já está no fim?

Por Renato Rovai, em seu blog:

Paulo Guedes nem assumiu o cargo de superministro da Economia e já é o que nos EUA se convencionou chamar de pato manco. Um político que não tem mais força.

O inquérito que a Polícia Federal (PF) instaurou para apurar se ele cometeu irregularidades na gestão financeira de fundos de investimento o deixa completamente à mercê do humor e da boa vontade do ministro da Justiça, Sérgio Moro, que montou um gabinete repleto de policias federais.

Guedes, aliás, já deve ter sentido o cheiro de queimado. Ele teve carta branca para montar a sua equipe econômica, mas viu o resto do governo ser entregue para militares.

Análise de um ano da reforma trabalhista

Por Marina Sampaio e Paula Freitas de Almeida, no site Brasil Debate:

A reforma trabalhista foi justificada pela necessidade de tornar o Brasil mais competitivo e, simultaneamente, gerar empregos. A desregulação das relações de trabalho foi o mecanismo eleito, passando a permitir a livre contratação de trabalhadores. Ela atenderia à dinâmica capitalista internacional, que exige flexibilidade na contratação e exploração do tempo de trabalho, demandando liberdade de negociação. A seguir, identificamos alguns dos efeitos provocados pela reforma nesse um ano de sua vigência, todos incompatíveis com as justificativas iniciais.

Democracia e memória

Por Luis Felipe Miguel, no site da Fundação Maurício Grabois:

Em seu romance Andamios, publicado em 1997, o escritor uruguaio Mario Benedetti pôs em cena um ex-perseguido político que depois de anos de exílio retornava ao país. Perdido em meio a transformações que não conseguia compreender, num ambiente político que não casava com aquele de seu tempo de militância, ele pede ajuda a um amigo, que explica, sem rodeios, que é inútil tentar ligar as lembranças do passado com a realidade presente: “Democracia es amnesia” [1]. A ironia do romancista tem boa razão de ser. De fato, a experiência da redemocratização na América Latina, mas também em outros lugares do mundo, em muitos sentidos envolveu uma dose significativa de esquecimento voluntário.