sábado, 7 de março de 2015

Marta Suplicy saiu do PT

Por Valter Pomar, em seu blog:

Como milhões de pessoas, por diversas vezes votei em Marta Suplicy.

Não me arrependo do meu voto. Votei numa petista, contra inimigos da classe trabalhadora.

Pelas mesmas razões pelas quais votei em Marta, considero que ela deveria - com "audácia e transparência" - pedir sua imediata desfiliação do Partido dos Trabalhadores.

Desfiliar-se seria um ato meramente formal, já que do ponto de vista político ela já saiu do PT.

Exemplo disto é seu artigo no jornal Folha de S. Paulo, intitulado A vaca vai pro brejo?

Em seu artigo, Marta dedica-se a um esporte cada vez mais popular: desancar o governo Dilma e o PT.

Nisto, ela não se diferencia da maioria dos petistas, que também está insatisfeita com as ações recentes da nossa presidenta e com as (in)ações de setores de nosso partido.

O problema não está, portanto, no fato de Marta criticar o governo Dilma e o PT.

O problema está no ponto de vista a partir do qual ela critica.

Seu ponto de vista é tucano.

Segundo Marta, "em política existem duas coisas que levam a vaca para o atoleiro: a negação da realidade e trabalhar com a estratégia errada".

Talvez seja certo, salvo por um detalhe: o sujeito oculto.

Explico: do jeito "genérico" com que a frase está construída, ela vale para qualquer um.

Vale para Vargas e Carlos Lacerda, para Geisel e Ulysses, para Lula e FHC, para Dilma e Aécio, para o PT e para o PSDB, para a classe trabalhadora e para o grande capital.

Como o raciocínio vale para qualquer um, omite-se o conteúdo da política, o programa defendido, os objetivos pelos quais se luta.

E quem omite o conteúdo da luta, quem esquece quem somos e pelo que lutamos, pode não ter percebido, mas já entrou no pântano dos oportunistas.

Oportunistas não estão do lado certo. Estão do lado que está "dando certo".

Quando o lado certo não está dando certo, os oportunistas mudam de lado.

É importante dizer, contudo, que o fato de Marta agir como uma oportunista não significa necessariamente que todas suas críticas sejam improcedentes.

Portanto, vale a pena refletir sobre o que ela afirma no artigo A vaca vai pro brejo?

Segundo Marta, "bem antes da campanha eleitoral deslanchar" já "percebiam-se os desacertos da política econômica. Lula bradava por correções".

Certamente devido a problemas de espaço, Marta não pode explicar aqui o que ela detalhou em entrevista dada à Eliane Cantanhede, no dia 10 de janeiro de 2015.

Minha análise daquela entrevista está disponível no endereço http://www.valterpomar.blogspot.com.br/2015/01/marta-suplicy.html

Naquela entrevista, fica claro que Marta critica os "desacertos" assumindo como seu o ponto de vista do grande capital. Ou seja, o ponto de vista dos tucanos.

Da mesma forma, a crítica que a senadora faz contra a campanha presidencial de 2014 é tucana.

Palavras dela: "afunda-se o país e a reeleição navega num mar de inverdades, propaganda enganosa cobrindo uma realidade econômica tenebrosa, desconhecida pela maioria da população".

Aécio Neves não diria diferente.

Assim como Serra não diria diferente sobre a Petrobrás.

Palavras de Marta: "os brasileiros passam a ter conhecimento dos desmandos na condução da Petrobras. O noticiário televisivo é seguido pelo povo como uma novela, sem ser possível a digestão de tanta roubalheira. Sistêmica! Por anos".

Mas atenção: é sistêmica, vem de anos, mas... é um erro culpar FHC!!!

Claro, aos petistas, nem mesmo a lei. Mas aos tucanos é garantido o benefício da dúvida.

Notem quanto a argumentação da senadora é habilidosa.

Marta não diz que o PT, Dilma e Lula são culpados. Mas ao falar "do tamanho do rombo atual" e de "roubalheira sistêmica", ao tempo que poupa FHC, Marta aponta o dedo indicador para onde?

Marta não é definitiva sobre a culpa de FHC. Mas faz questão de dizer que a "estratégia" de culpabilizar FHC "parece" diversionismo.

E mesmo quando fala de FHC, ela é de uma generosidade ímpar: diz não saber se a corrupção "começou no" governo dele. Claro: a corrupção começa com governos petistas e no governo de outros partidos...

Mas o pior de ainda está por vir.

Marta conclui seu artigo dizendo o seguinte: "Recupera-se o discurso de que as elites se organizam propagando mentiras porque querem privatizar a Petrobras. Valha-me! O povo, e aí refiro-me a todas as classes sociais, está ficando muito irritado com o desrespeito à sua inteligência. Daqui a pouco o lamentável episódio ocorrido com Guido Mantega poderá se alastrar. Que triste".

A leitura deste parágrafo confirma que devemos deixar de lado todas as esperanças com quem entra no pântano do oportunismo.

Há uma campanha pela privatização da Petrobras. Isto não é um "discurso", não é uma invenção dos petistas.

Há uma campanha de mentiras contra o governo Dilma, contra o PT e contra a esquerda.

Assim como há uma irritação crescente em todas as classes sociais.

Mas quais são os motivos e as causas desta irritação?

Não terá algo que ver com o fato de que nosso governo foi eleito pela esquerda, mas não agrada a esquerda porque faz um ajuste de direita, mas tampouco agrada a direita porque foi eleito pela esquerda?

Por fim: o "lamentável episódio" ocorrido com Guido Mantega não foi obra de todas as classes sociais, não foi obra do povo em geral.

Foi obra dos mesmos setores que tantas vezes agrediram Marta Suplicy, por que a consideravam uma traidora de sua classe social de origem.

Que triste que Marta esqueça disto.

3 comentários:

antonio disse...

Perfeito.

Anônimo disse...


Até quando, Marta, vais usar o sobrenome Suplicy? Até quando, Marta, vais ficar no PT? Até quando, Marta, vais ficar ressentida?

Até quando, ó Catilina, digo Marta, abusarás de nossa paciência?

Beatriz Rosa disse...

Uma grande responsabilidade está nas mãos do TSE. O problema é que, independentemente da decisão tomada, serão acarretadas consequências importantíssimas para o país! Se o pedido de Marta Suplicy for aceito, a justiça estará concordando com o argumento da senadora, ou seja, concordará que quem pertence ao PT é conivente com os escândalos passados pelo partido. Em oposição, se negar o pedido, evidenciará a força política que o PT possui, já que, aparentemente, não há motivos para que seja rejeitado...