Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:
Enquanto a mídia brasileira celebra a presença no país de Barack Obama como se fosse a reencarnação de Dom João VI, com demonstrações explícitas de servilismo e bajulação extrema (veja aqui como os tucanos bajulam funcionários dos Estados Unidos nos bastidores), aqueles que elegeram o presidente dos Estados Unidos se perguntam: entrará Obama no seleto grupo de presidentes de um só mandato?
Pois esta é a perspectiva dos dias de hoje: quem conhece bem a conjuntura eleitoral americana acredita que há boas chances de Obama ser derrotado em 2012.
Desde Ronald Reagan, eleito pela primeira vez em 1980, o pleito presidencial americano tem sido decidido por um bloco de eleitores centristas, então chamado de “Reagan democrats”, hoje batizado de “independente”.
Grosseiramente falando, são eleitores urbanos, de classe média baixa, conservadores em assuntos econômicos e menos conservadores nas questões morais (aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, etc).
Por viverem em importantes áreas urbanas dos chamados “swing states”, que ora votam com os republicanos, ora com os democratas, esses eleitores muitas vezes são o fiel da balança no intrincado sistema eleitoral dos Estados Unidos.
Lá, republicanos e democratas estão cada vez mais parecidos.
A ala liberal, trabalhista, do Partido Democrata corre sério risco de extinção. O professor Belluzzo, em artigo publicado na CartaCapital, tocou no ponto central: a base dos democratas foi “exportada” junto com os empregos industriais do país.
Eu me lembro de uma entrevista que fiz para a extinta revista Manchete, nos anos 80, com o professor John Kenneth Galbraith, em sua confortável casa de Cambridge, Massachusetts. Eram os tempos de Ronald Reagan no poder e ele descreveu o impacto da desindustrialização nos grandes centros urbanos, que vinha dos anos 70: a instalação de um ciclo da pobreza, que combinava desemprego, violência, consumo de drogas, mães adolescentes e a epidemia de Aids.
Galbraith dizia que estava amadurecendo a primeira geração que viveria pior que a geração dos pais nos Estados Unidos: era o fim da ascensão social que tinha embalado o “american dream” do pós-Segunda Guerra Mundial.
Hoje, um liberal da mesma cepa de Galbraith, Paul Krugman, em coluna escrita no New York Times, lamenta que o debate político nos Estados Unidos tenha simplesmente “esquecido” dos desempregados.
No texto, intitulado de “Os milhões esquecidos”, Krugman diz que o debate político americano está completamente dominado pelo que define como “obsessão pelo déficit”. Embora Krugman não tenha avançado por esse caminho, o fato é que a obsessão pelo déficit — e o “esquecimento” do desemprego – esconde o ataque dos republicanos aos direitos adquiridos da classe média e dos trabalhadores americanos, que está em pleno andamento, por exemplo, mas não apenas, em Wisconsin.
Como disse o cineasta Michael Moore, ao discursar em Madison (clique aqui para ver e ler):
"Ao contrário do que diz o poder, que quer que vocês desistam das pensões e aposentadorias, que aceitem salários de fome, e voltem para casa em nome do futuro dos netos de vocês, os EUA não estão falidos. Longe disso. Os EUA nadam em dinheiro. O problema é que o dinheiro não chega até vocês, porque foi transferido, no maior assalto da história, dos trabalhadores e consumidores, para os bancos e portfólios dos hiper mega super ricos. Hoje, 400 norte-americanos têm a mesma quantidade de dinheiro que metade da população dos EUA, somando-se o dinheiro de todos".
Imagino que nem em seu mais tresloucado sonho Galbraith imaginaria um desfecho destes para a situação que ele anteviu nos anos 80 do século passado.
Krugman, em seu artigo, nota a capitulação completa de Barack Obama na batalha das ideias, o que representa o virtual “esquecimento” de um sexto da força de trabalho dos Estados Unidos (os desempregados e os que só conseguem bicos de meio período).
Bem, caros leitores, esta tem sido a marca do governo desde o começo: a “negociação” dos princípios que levaram Obama a ser eleito, a submissão à pauta imposta pelos republicanos e a escolha inexorável dos interesses de Wall Street, em detrimento da chamada Main Street.
A CartaCapital fez um bom balanço das promessas não cumpridas de Obama, motivo de frustração que se manifesta especialmente entre milhões de eleitores americanos que acreditaram no “Change that you can believe in”.
O que nos leva de volta ao assunto inicial: qual é a perspectiva eleitoral de Obama em 2012?
Tudo vai depender do candidato escolhido pelo Partido Republicano. Se for um moderado, a reeleição de Obama corre sério risco. Isso porque, com Sarah Palin e o Tea Party, os republicanos conquistaram o entusiasmo da direita, cuja militância é fundamental numa campanha.
Se a direita religiosa forneceu a militância para que Ronald Reagan e George W. Bush obtivessem dois mandatos cada, agora ela ganha o reforço dos independentes que gravitaram em direção ao Tea Party, furiosos com a decisão de Obama de privilegiar os banqueiros quando tomou medidas para enfrentar a crise financeira. Como escrevi anteriormente, os republicanos conseguiram o milagre de provocar a crise, faturar (financeiramente) com o combate à crise e pendurar a conta do combate à crise nos democratas.
Um candidato centrista para os padrões republicanos completaria o serviço, atraindo independentes e democratas moderados.
Como o voto nos Estados Unidos não é obrigatório, Obama vai enfrentar uma direita tremendamente energizada, correndo o risco de não contar com o entusiasmo dos jovens eleitores que o levaram à Casa Branca, nem com o que sobrou da base tradicional dos democratas, desanimada pelas promessas de campanha não cumpridas.
Enquanto a mídia brasileira celebra a presença no país de Barack Obama como se fosse a reencarnação de Dom João VI, com demonstrações explícitas de servilismo e bajulação extrema (veja aqui como os tucanos bajulam funcionários dos Estados Unidos nos bastidores), aqueles que elegeram o presidente dos Estados Unidos se perguntam: entrará Obama no seleto grupo de presidentes de um só mandato?
Pois esta é a perspectiva dos dias de hoje: quem conhece bem a conjuntura eleitoral americana acredita que há boas chances de Obama ser derrotado em 2012.
Desde Ronald Reagan, eleito pela primeira vez em 1980, o pleito presidencial americano tem sido decidido por um bloco de eleitores centristas, então chamado de “Reagan democrats”, hoje batizado de “independente”.
Grosseiramente falando, são eleitores urbanos, de classe média baixa, conservadores em assuntos econômicos e menos conservadores nas questões morais (aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, etc).
Por viverem em importantes áreas urbanas dos chamados “swing states”, que ora votam com os republicanos, ora com os democratas, esses eleitores muitas vezes são o fiel da balança no intrincado sistema eleitoral dos Estados Unidos.
Lá, republicanos e democratas estão cada vez mais parecidos.
A ala liberal, trabalhista, do Partido Democrata corre sério risco de extinção. O professor Belluzzo, em artigo publicado na CartaCapital, tocou no ponto central: a base dos democratas foi “exportada” junto com os empregos industriais do país.
Eu me lembro de uma entrevista que fiz para a extinta revista Manchete, nos anos 80, com o professor John Kenneth Galbraith, em sua confortável casa de Cambridge, Massachusetts. Eram os tempos de Ronald Reagan no poder e ele descreveu o impacto da desindustrialização nos grandes centros urbanos, que vinha dos anos 70: a instalação de um ciclo da pobreza, que combinava desemprego, violência, consumo de drogas, mães adolescentes e a epidemia de Aids.
Galbraith dizia que estava amadurecendo a primeira geração que viveria pior que a geração dos pais nos Estados Unidos: era o fim da ascensão social que tinha embalado o “american dream” do pós-Segunda Guerra Mundial.
Hoje, um liberal da mesma cepa de Galbraith, Paul Krugman, em coluna escrita no New York Times, lamenta que o debate político nos Estados Unidos tenha simplesmente “esquecido” dos desempregados.
No texto, intitulado de “Os milhões esquecidos”, Krugman diz que o debate político americano está completamente dominado pelo que define como “obsessão pelo déficit”. Embora Krugman não tenha avançado por esse caminho, o fato é que a obsessão pelo déficit — e o “esquecimento” do desemprego – esconde o ataque dos republicanos aos direitos adquiridos da classe média e dos trabalhadores americanos, que está em pleno andamento, por exemplo, mas não apenas, em Wisconsin.
Como disse o cineasta Michael Moore, ao discursar em Madison (clique aqui para ver e ler):
"Ao contrário do que diz o poder, que quer que vocês desistam das pensões e aposentadorias, que aceitem salários de fome, e voltem para casa em nome do futuro dos netos de vocês, os EUA não estão falidos. Longe disso. Os EUA nadam em dinheiro. O problema é que o dinheiro não chega até vocês, porque foi transferido, no maior assalto da história, dos trabalhadores e consumidores, para os bancos e portfólios dos hiper mega super ricos. Hoje, 400 norte-americanos têm a mesma quantidade de dinheiro que metade da população dos EUA, somando-se o dinheiro de todos".
Imagino que nem em seu mais tresloucado sonho Galbraith imaginaria um desfecho destes para a situação que ele anteviu nos anos 80 do século passado.
Krugman, em seu artigo, nota a capitulação completa de Barack Obama na batalha das ideias, o que representa o virtual “esquecimento” de um sexto da força de trabalho dos Estados Unidos (os desempregados e os que só conseguem bicos de meio período).
Bem, caros leitores, esta tem sido a marca do governo desde o começo: a “negociação” dos princípios que levaram Obama a ser eleito, a submissão à pauta imposta pelos republicanos e a escolha inexorável dos interesses de Wall Street, em detrimento da chamada Main Street.
A CartaCapital fez um bom balanço das promessas não cumpridas de Obama, motivo de frustração que se manifesta especialmente entre milhões de eleitores americanos que acreditaram no “Change that you can believe in”.
O que nos leva de volta ao assunto inicial: qual é a perspectiva eleitoral de Obama em 2012?
Tudo vai depender do candidato escolhido pelo Partido Republicano. Se for um moderado, a reeleição de Obama corre sério risco. Isso porque, com Sarah Palin e o Tea Party, os republicanos conquistaram o entusiasmo da direita, cuja militância é fundamental numa campanha.
Se a direita religiosa forneceu a militância para que Ronald Reagan e George W. Bush obtivessem dois mandatos cada, agora ela ganha o reforço dos independentes que gravitaram em direção ao Tea Party, furiosos com a decisão de Obama de privilegiar os banqueiros quando tomou medidas para enfrentar a crise financeira. Como escrevi anteriormente, os republicanos conseguiram o milagre de provocar a crise, faturar (financeiramente) com o combate à crise e pendurar a conta do combate à crise nos democratas.
Um candidato centrista para os padrões republicanos completaria o serviço, atraindo independentes e democratas moderados.
Como o voto nos Estados Unidos não é obrigatório, Obama vai enfrentar uma direita tremendamente energizada, correndo o risco de não contar com o entusiasmo dos jovens eleitores que o levaram à Casa Branca, nem com o que sobrou da base tradicional dos democratas, desanimada pelas promessas de campanha não cumpridas.
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