Por José Antonio Lima, na revista CartaCapital:
O establishment do Partido Republicano, formado por políticos influentes e pelos maiores doadores da sigla, passaram os últimos meses aguardando que a candidatura de Donald Trump se desidratasse e caísse na irrelevância.
A ideia era aguardar os danos que sua personalidade caricata e sua ideologia incoerente, uma mistura de ataques a vacas sagradas republicanas e ideias fascistas, mostrasse aos eleitores o absurdo da escolha pelo empresário.
A Super Terça de 1º de março, na qual Trump conseguiu vitórias acachapantes, deixou claro que os mandachuvas do partido estavam amplamente equivocados.
Agora, correm contra o tempo para criar uma alternativa viável a Trump – doadores já criaram um novo Comitê de Ação Política Anti-Trump – e evitar uma candidatura cujo desfecho pode colocar em risco a própria existência do partido.
A terça-feira 1º foi um dia crucial na escolha dos candidatos à presidência dos Estados Unidos por reunir uma série de disputas prévias decisivas. Os republicanos realizaram primárias e assembleias partidárias (o caucus) em 13 estados, sendo 11 delas vinculantes para a escolha do candidato presidencial.
Trump obteve sete vitórias, quatro delas por grandes margens (Alabama, Geórgia, Massachusetts e Tennessee) e três com vantagens mais apertadas (Arkansas, Vermont e Virginia). Desde 1988, quando a Super Terça foi instituída, os candidatos que obtiveram vitórias maiúsculas nessa data obtiveram a nomeação de seus partidos, tanto entre os democratas quanto entre os republicanos.
Além de ampla, a vitória de Trump é representativa por ter sido plural. Sua principal base de apoio são os eleitores brancos e sem curso superior, um dos setores da população duramente afetados pela crise iniciada em 2008 e ainda não totalmente superada, e Trump conseguiu conquistá-los tanto em estados moderados e laicos, como Massachusetts, quanto no sul evangélico e conservador simbolizado por Alabama e Geórgia.
O "futuro" derrotado
Mais que isso, a vitória de Trump demonstrou que seus principais concorrentes não têm muitas condições de derrotá-lo. Depois de ver Jeb Bush (filho de George H. W. e irmão de George W.) sair humilhado da corrida presidencial mesmo com uma campanha que movimentou mais de 100 milhões de dólares, o establishment republicano vê agora em uma situação complicada outro de seus queridinhos.
O senador pela Flórida Marco Rubio, jovem e de origem latina, apontado como o "futuro" republicano, venceu apenas o caucus de Minnesota e amargou terceiros lugares em diversas primárias. Em algumas delas, não obteve o mínimo de votos para conseguir delegados na convenção republicana de julho, que de fato escolherá o nomeado. Esse fracasso ocorreu mesmo após Rubio passar a última semana realizando ataques ferozes e de baixo nível a Trump, que incluíram uma insinuação de que seu órgão sexual é diminuto.
Quem se salvou na Super Terça republicana foi Ted Cruz, senador pelo Texas e, como Rubio, jovem e de origem cubana. Cruz venceu a primária de seu estado natal, a do vizinho Oklahoma e o caucus do Alaska. Ao contrário de Rubio, no entanto, Cruz está longe de ser benquisto pelos caciques republicanos. Figura importante no movimento anti-establishment Tea Party, Cruz costuma se referir aos líderes de seu partido no Congresso como "cartel de Washington".
Faltando quatro meses e meio para a convenção nacional, o Partido Republicano se vê em uma encruzilhada.
Do outro lado do espectro político, a situação parece resolvida. A ex-secretária de Estado Hillary Clinton venceu oito prévias na Super Terça, contra quatro do senador independente Bernie Sanders, e parece ter fechado a disputa.
O resultado final das votações e a distribuição de delegados para a convenção democrata será finalizada nos próximos dias, mas Clinton deve ter hoje uma vantagem maior sobre Sanders do que a obtida pelo então senador Barack Obama sobre ela em 2008, quando disputaram a nomeação democrata.
Um partido rachado
Enquanto isso, cada vitória de Trump desfaz o bloco republicano e ajuda aumentar o fosso entre o eleitorado e os políticos dos partido. Está claro que o magnata lidera uma massa enorme de eleitores e cada vez mais atrai figuras importantes da sigla – como o governador de New Jersey Chris Christie e o senador Jeff Sessions – essenciais para uma campanha nacional.
Ao mesmo tempo, no entanto, o establishment não têm um candidato à altura e continua atacando Trump sem dó. No fim de semana, uma nova onda de críticas foi dirigida a Trump porque ele se recusou a rechaçar o apoio recebido de David Duke, ex-líder da organização racista Ku Klux Clan (posição da qual se retratou mais tarde).
Mitt Romney, candidato republicano em 2012, classificou a reação inicial de Trump de "desqualificante e repugnante", enquanto Stuart Stevens, seu principal conselheiro na campanha de 2012, disse que Hillary Clinton seria uma presidente melhor que Trump. Paul Ryan, o presidente da Câmara de Representantes, afirmou que o candidato republicano não pode recorrer a "evasivas" e "jogos" e deve "rejeitar qualquer grupo baseado em intolerância".
Algumas reações foram mais extremadas. Para o senador por Nebraska Ben Sasse, se Trump vencer as prévias republicanas os conservadores norte-americanos "terão de achar uma terceira opção". Pete Wehner, ex-integrante da administração de George W. Bush, avalia que uma vitória de Trump seria "catastrófica" para o partido e para o país. "Se ele ganhar a presidência, poderemos ver iniciativas para formar um novo partido", disse ao site Politico.
O ex-governador de Minnesota Tim Pawlenty, apoiador de Marco Rubio, diz que a situação atual testará a capacidade do partido de permanecer unido. "Se o Partido Republicano fosse um avião e você estivesse olhando pela janela, veria alguns pedaços da superfície voando, e estaria pensando se o motor ou a asa seria a próxima parte"
Por enquanto, os republicanos têm duas alternativas para barrar Trump. A primeira é apostar tudo em Ted Cruz e retirar as outras duas candidaturas relevantes – as de Marco Rubio e do governador de Ohio John Kasich. Há dúvidas, no entanto, sobre a capacidade de Cruz de obter um número de delegados na convenção nacional superior ao de Trump.
A outra é manter as candidaturas de Rubio e Kasich para que eles, ao lado de Cruz, obtenham uma quantidade significativa de delegados para impedir que Trump tenha maioria na convenção nacional. Neste caso, a disputa se resumiria a uma votação entre os 2.472 delegados republicanos, que decidiriam o nomeado. Seria preciso, para tanto, uma união dos delegados de Cruz, Rubio e Kasich, bem como de outros pré-candidatos, em torno de um único nome.
A viabilidade dessas estratégias será colocada à prova nos próximos dias. Em 15 de março, o estado natal de Rubio, a Flórida, e o de Kasich, Ohio, farão suas primárias. Se Trump derrotá-los também nessas duas arenas, a disputa estará mais próxima do fim, e o partido republicano, de um dos momentos mais delicados de sua história.
O establishment do Partido Republicano, formado por políticos influentes e pelos maiores doadores da sigla, passaram os últimos meses aguardando que a candidatura de Donald Trump se desidratasse e caísse na irrelevância.
A ideia era aguardar os danos que sua personalidade caricata e sua ideologia incoerente, uma mistura de ataques a vacas sagradas republicanas e ideias fascistas, mostrasse aos eleitores o absurdo da escolha pelo empresário.
A Super Terça de 1º de março, na qual Trump conseguiu vitórias acachapantes, deixou claro que os mandachuvas do partido estavam amplamente equivocados.
Agora, correm contra o tempo para criar uma alternativa viável a Trump – doadores já criaram um novo Comitê de Ação Política Anti-Trump – e evitar uma candidatura cujo desfecho pode colocar em risco a própria existência do partido.
A terça-feira 1º foi um dia crucial na escolha dos candidatos à presidência dos Estados Unidos por reunir uma série de disputas prévias decisivas. Os republicanos realizaram primárias e assembleias partidárias (o caucus) em 13 estados, sendo 11 delas vinculantes para a escolha do candidato presidencial.
Trump obteve sete vitórias, quatro delas por grandes margens (Alabama, Geórgia, Massachusetts e Tennessee) e três com vantagens mais apertadas (Arkansas, Vermont e Virginia). Desde 1988, quando a Super Terça foi instituída, os candidatos que obtiveram vitórias maiúsculas nessa data obtiveram a nomeação de seus partidos, tanto entre os democratas quanto entre os republicanos.
Além de ampla, a vitória de Trump é representativa por ter sido plural. Sua principal base de apoio são os eleitores brancos e sem curso superior, um dos setores da população duramente afetados pela crise iniciada em 2008 e ainda não totalmente superada, e Trump conseguiu conquistá-los tanto em estados moderados e laicos, como Massachusetts, quanto no sul evangélico e conservador simbolizado por Alabama e Geórgia.
O "futuro" derrotado
Mais que isso, a vitória de Trump demonstrou que seus principais concorrentes não têm muitas condições de derrotá-lo. Depois de ver Jeb Bush (filho de George H. W. e irmão de George W.) sair humilhado da corrida presidencial mesmo com uma campanha que movimentou mais de 100 milhões de dólares, o establishment republicano vê agora em uma situação complicada outro de seus queridinhos.
O senador pela Flórida Marco Rubio, jovem e de origem latina, apontado como o "futuro" republicano, venceu apenas o caucus de Minnesota e amargou terceiros lugares em diversas primárias. Em algumas delas, não obteve o mínimo de votos para conseguir delegados na convenção republicana de julho, que de fato escolherá o nomeado. Esse fracasso ocorreu mesmo após Rubio passar a última semana realizando ataques ferozes e de baixo nível a Trump, que incluíram uma insinuação de que seu órgão sexual é diminuto.
Quem se salvou na Super Terça republicana foi Ted Cruz, senador pelo Texas e, como Rubio, jovem e de origem cubana. Cruz venceu a primária de seu estado natal, a do vizinho Oklahoma e o caucus do Alaska. Ao contrário de Rubio, no entanto, Cruz está longe de ser benquisto pelos caciques republicanos. Figura importante no movimento anti-establishment Tea Party, Cruz costuma se referir aos líderes de seu partido no Congresso como "cartel de Washington".
Faltando quatro meses e meio para a convenção nacional, o Partido Republicano se vê em uma encruzilhada.
Do outro lado do espectro político, a situação parece resolvida. A ex-secretária de Estado Hillary Clinton venceu oito prévias na Super Terça, contra quatro do senador independente Bernie Sanders, e parece ter fechado a disputa.
O resultado final das votações e a distribuição de delegados para a convenção democrata será finalizada nos próximos dias, mas Clinton deve ter hoje uma vantagem maior sobre Sanders do que a obtida pelo então senador Barack Obama sobre ela em 2008, quando disputaram a nomeação democrata.
Um partido rachado
Enquanto isso, cada vitória de Trump desfaz o bloco republicano e ajuda aumentar o fosso entre o eleitorado e os políticos dos partido. Está claro que o magnata lidera uma massa enorme de eleitores e cada vez mais atrai figuras importantes da sigla – como o governador de New Jersey Chris Christie e o senador Jeff Sessions – essenciais para uma campanha nacional.
Ao mesmo tempo, no entanto, o establishment não têm um candidato à altura e continua atacando Trump sem dó. No fim de semana, uma nova onda de críticas foi dirigida a Trump porque ele se recusou a rechaçar o apoio recebido de David Duke, ex-líder da organização racista Ku Klux Clan (posição da qual se retratou mais tarde).
Mitt Romney, candidato republicano em 2012, classificou a reação inicial de Trump de "desqualificante e repugnante", enquanto Stuart Stevens, seu principal conselheiro na campanha de 2012, disse que Hillary Clinton seria uma presidente melhor que Trump. Paul Ryan, o presidente da Câmara de Representantes, afirmou que o candidato republicano não pode recorrer a "evasivas" e "jogos" e deve "rejeitar qualquer grupo baseado em intolerância".
Algumas reações foram mais extremadas. Para o senador por Nebraska Ben Sasse, se Trump vencer as prévias republicanas os conservadores norte-americanos "terão de achar uma terceira opção". Pete Wehner, ex-integrante da administração de George W. Bush, avalia que uma vitória de Trump seria "catastrófica" para o partido e para o país. "Se ele ganhar a presidência, poderemos ver iniciativas para formar um novo partido", disse ao site Politico.
O ex-governador de Minnesota Tim Pawlenty, apoiador de Marco Rubio, diz que a situação atual testará a capacidade do partido de permanecer unido. "Se o Partido Republicano fosse um avião e você estivesse olhando pela janela, veria alguns pedaços da superfície voando, e estaria pensando se o motor ou a asa seria a próxima parte"
Por enquanto, os republicanos têm duas alternativas para barrar Trump. A primeira é apostar tudo em Ted Cruz e retirar as outras duas candidaturas relevantes – as de Marco Rubio e do governador de Ohio John Kasich. Há dúvidas, no entanto, sobre a capacidade de Cruz de obter um número de delegados na convenção nacional superior ao de Trump.
A outra é manter as candidaturas de Rubio e Kasich para que eles, ao lado de Cruz, obtenham uma quantidade significativa de delegados para impedir que Trump tenha maioria na convenção nacional. Neste caso, a disputa se resumiria a uma votação entre os 2.472 delegados republicanos, que decidiriam o nomeado. Seria preciso, para tanto, uma união dos delegados de Cruz, Rubio e Kasich, bem como de outros pré-candidatos, em torno de um único nome.
A viabilidade dessas estratégias será colocada à prova nos próximos dias. Em 15 de março, o estado natal de Rubio, a Flórida, e o de Kasich, Ohio, farão suas primárias. Se Trump derrotá-los também nessas duas arenas, a disputa estará mais próxima do fim, e o partido republicano, de um dos momentos mais delicados de sua história.
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