segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Para que esclarecer?

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

A imprensa ainda explora o desencontro entre o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e a presidente da República, ocorrido no sábado (3/1), quando o ministro foi obrigado a desmentir declaração que havia feito na véspera sobre possíveis mudanças nas regras de reajuste do salário mínimo. A sequência do noticiário, na segunda-feira (5), coloca em contexto mais claro o suposto desentendimento, mas alguns colunistas aproveitam para levantar dúvidas sobre a autonomia dos ministros da área econômica.

Notas e frases esparsas garimpadas nos principais jornais de circulação nacional ajudam a esclarecer o episódio, que é interpretado por analistas como uma demonstração de autoritarismo da presidente e um teste para a autoridade dos novos ministros. Passado o fim de semana, o leitor que acompanhou o assunto ficou sabendo que o ministro Barbosa, assediado por jornalistas ávidos por notícias no deserto em que se transforma Brasília nos feriados, comentou na sexta-feira (2/1) que seria preciso uma nova fórmula para o reajuste do salário mínimo.

A declaração, reproduzida em meio a interpretações variadas da imprensa, tinha potencial para gerar uma crise com dirigentes sindicais, e a presidente recomendou ao ministro que esclarecesse a questão. Barbosa, então, se viu obrigado a declarar formalmente que os reajustes do salário mínimo continuarão sendo baseados na correção pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do ano anterior e o crescimento do Produto Interno Bruto nos dois anos anteriores.

Esclarecimentos adicionais colhidos em outras notícias sobre a situação do país permitem observar que a preocupação manifestada pelo ministro do Planejamento tem origem em um aspecto específico da economia nacional: há uma necessidade crescente de seguir reforçando o poder de compra do salário e ao mesmo tempo melhorar as condições operacionais das pequenas empresas, responsáveis pela expansão da oferta de empregos.

Assim, pode-se depreender que a resposta apressada do ministro do Planejamento a uma pergunta afoita dos repórteres foi retirada do contexto e amplificada pelos jornais, como uma declaração fora de sintonia. E a necessidade de esclarecer a questão é interpretada como uma ação autoritária da presidente, seguida de uma atitude submissa do ministro.

Entrevistas apressadas

Para o governo, a lição a ser tirada do episódio é que ministro nenhum deve dar entrevistas de improviso, apenas para atender a carência de pautas da imprensa. Para que a relação entre autoridades e jornalistas seja preservada naquilo que interessa à sociedade, questões com potencial para gerar ambiguidade devem ser tratadas formalmente, em encontros organizados nas condições adequadas, para que sejam reduzidos os potenciais de mal-entendidos.

Embora estes dias de festas tenham amenizado as relações entre a mídia tradicional e o governo federal, não se pode ignorar o fato de que há um permanente clima de mal-estar entre a imprensa e o grupo político que foi reconduzido ao poder central. Portanto, tudo que qualquer representante do governo disser, com potencial para produzir comentários negativos, será explorado negativamente.

Além disso, a imagem pública da presidente da República, em seu primeiro mandato, ficou marcada pela pecha de autoritarismo, o que determina como centro dos debates o grau de autonomia que ela estará disposta a conceder ao triunvirato que irá conduzir a política econômica. O ponto crucial dessa questão é a margem de operações dos ministros em um cenário no qual o poder de compra dos salários precisa ser preservado, como um dos principais recursos para o propósito de reduzir desigualdades e manter a economia aquecida.

O noticiário especializado não costuma explicar como convivem nas mesmas tabelas os gráficos que mostram a deterioração das condições macroeconômicas e, ao mesmo tempo, a elevada oferta de empregos e a valorização crescente da renda do trabalho.

Uma reportagem da Folha de S. Paulo (ver aqui), publicada na edição de segunda-feira (5), ajuda a entender a economia subterrânea das pequenas empresas e seu alto crescimento. Entre essa reportagem isolada e as manchetes de todos os dias forma-se a zona cinzenta que é explorada diariamente pelos jornais, sempre em detrimento dos interesses do trabalho, em oposição aos interesses do capital.

1 comentários:

Eduardo Lima disse...

PARA MUDAR O BRASIL PRECISAMOS... MUDAR O BRASIL!!
Precisamos de reformas estruturais profundas, que reduzam as desigualdades, que se volte mais à Classe C, espelho atual do país, e que torne o Estado acessível a todos, e não apenas a alguns endinheirados.

Informação Independente: o Governo precisa substituir os “atravessadores da informação”, ou seja, a mídia tradicional, como canal para informar o povo. Fortalecer a internet, investir nos jornais e boletins de classe, jornais de igrejas, associações, etc. Enfim, pulverizar os meios de se dirigir ao Brasil. O texto abaixo reflete sobre o tema. Recomendo a leitura!

http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR2.html

Saúde: diminuir as filas de espera e melhorar o atendimento. Não há problemas mais urgentes que estes. A criação de grandes centrais de exames e consultas especializadas nas regiões metropolitanas vai atender melhor a demanda. O texto abaixo reflete sobre o tema.

http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR3.html

Educação: Cursinhos Pré-ENEM públicos, PROUNI para o ensino médio, Pós, Mestrado e Doutorado à distância, Mestrado e Doutorado à noite, para os trabalhadores. A Classe C deve poder dar a seus filhos a melhor educação com o menor custo. O texto abaixo reflete sobre o tema. Recomendo a leitura!

http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR4.html

BANDEIRAS DA DIREITA. Algumas delas encontram eco nos medos e anseios da Classe C, que precisa ser reconquistada pelo governo, especialmente a do Centro-Sul do país. O governo pode se apossar de algumas delas como já fez antes? Como fazê-lo? É importante debater a questão? É o que o texto do link abaixo procura fazer: refletir a respeito.

http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR5.html

LEI DE IMPRENSA JÁ!

A reforma mais urgente para o Brasil é a reforma dos meios de comunicação. A versão tupiniquim da Ley de Medios dos hermanos argentinos. Como deve ser essa reforma? Em nossa opinião, deve ser radical. Desconcentrar a posse da mídia, realizar concorrências públicas para concessão, exigir conteúdo local ou regional em 60% da grade, garantir o imediato direito de resposta, punir rigorosamente as falsas reportagens e acusações, etc. E você? O que acha? Nossa reflexão sobre o tema está no texto do link abaixo:

http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR7.html

REFORMA JUDICIAL: O que mais precisa de reforma neste país, depois da mídia, é a “justiça”. É preciso reduzir o número de recursos, acelerar os processos judiciais, eliminar as manobras jurídicas, confinar os juízes a seus papéis, restringir sua ação aos autos. Juízes, promotores e procuradores devem ser punidos severamente se atuarem de forma seletiva, atrasarem ou impedirem investigações. Toda essa sensação de impunidade, discriminação e seletividade que emanam da “justiça” brasileira atinge em cheio a Classe C e mudar isso é um dos passos que mais vai garantir a reconquista dessa parcela da população pelo governo. É sobre isso a nossa reflexão desta semana no link abaixo.

http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR6.html

A REFORMA CRUCIAL: Reforma Política. Como deve ser? A nosso ver, radical. Poucos partidos, financiamento público. Não ao voto distrital em qualquer de suas formas. Voto nos partidos, com as vagas no legislativo atreladas à eleição majoritária. Listas partidárias e fidelidade. Fim da reeleição ilimitada para o legislativo, etc... O texto do link abaixo reflete sobre o tema:

http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR8.html