Por Paulo Motoryn, no site Outras Palavras:
O debate sobre a influência do Facebook no jornalismo nasceu para morrer. Não falo isso pela crise do próprio Facebook, sobre a qual alguns analistas já se apressaram em profetizar a queda do império de Mark Zuckerberg – o que está muito distante de acontecer. Eu digo isso porque não é o Facebook, mas o jornalismo que está em perigo.
É preciso começar assumindo que a crise do jornalismo existia muito antes do Facebook, o problema é que, se por um momento acreditamos que o Facebook nos aproximou de novos modelos para superar a crise que estava colocada desde a virada do século, agora ele nos levou para o caminho totalmente oposto ao de um jornalismo sustentável.
Para entender como chegamos até aqui, precisamos lembrar de algumas coisas importantes. Hoje, o Facebook é o principal portal de notícias para milhões e milhões de pessoas no mundo. 67% dos americanos, segundo a Pew Research Center, se informam nas redes sociais. No Brasil, 102 milhões de brasileiros se conectam no Facebook todo mês.
O Facebook é também a melhor plataforma de anúncios da história da humanidade, abastecida voluntariamente por seus mais de 2 bilhões de usuários, que cadastram suas próprias informações todos os dias, potencializando os filtros de direcionamento e personalização das propagandas. É a maior segmentação de anúncios de todos os tempos.
A capacidade que o Facebook tem de nos viciar reside em um feed de notícias que Mark Zuckerberg já afirmou ser um perfeito jornal personalizado para os seus usuários. Uma personalização que misturava posts da vovó, fotos de criança e, claro, jornalismo profissional. Tudo num lugar só.
Dito isso, vamos entender porque o Facebook deixou o jornalismo de cabeça pra baixo? Primeiro, demandou das redações que postassem suas reportagens na rede social e lhes conferiu uma nova porta de audiência. O resultado, de início, foi incrível: uma plataforma que surgiu para avaliar a beleza das estudantes de Harvard garantiu uma enorme repercussão para veículos de jornalismo de todos os tipos, os consolidados, os independentes, e até os picaretas.
Todo mundo achando que ia se dar bem, até conferirem as estatísticas de seus próprios sites no Google Analytics. Não demorou para os próprios veículos perceberem a primeira cilada: o engajamento nas redes não se revertia em acessos aos seus próprios sites de notícia.
Mas o Facebook achou que não era o bastante. Disse que o carregamento devagar de outros sites nos celulares de seus usuários indicava que os veículos deveriam cadastrar as notícias na íntegra na rede social.
Nasceu assim o Instant Articles, um dos vários projetos milagrosos propagandeados por Zuckerberg, mas que só garantiam o milagre de seu próprio benefício. O Facebook passou a extrair gratuitamente o conteúdo dos veículos e vender os anúncios na sua própria plataforma.
Depois, a promessa de mais um novo pote de ouro de Zuckerberg: os vídeos. O Facebook quis convencer as organizações de notícias a produzir vídeos curtos especificamente para sua plataforma. Mais um colapso: o ranqueamento muito maior dos vídeos no feed de notícias fez com que passássemos a assistir no Facebook os vídeos que os produtores tinham a possibilidade de gerar receita em outros sites, como o YouTube.
Pouco depois, mais uma bomba. Agora seria o Facebook Live a nova salvação. O Facebook pediu às empresas que publicassem conteúdo ao vivo, com a promessa de que, no futuro, poderia remunerar quem produz conteúdo para plataforma.
E agora? No início do ano, a empresa anunciou e implementou rapidamente um plano para retirar a quantidade de notícias na plataforma. Em seguida, se corrigiu: virou e disse que iria introduzir mais notícias locais.
Perceberam que a sequência de fotos nos mostra que agora o Facebook é o guardião do jornalismo mundial? É ele quem determina as tendências, os caminhos, as inovações. Por favor, reflita sobre isso por apenas um minuto. Pense em como isso é perigoso. Sim, uma empresa sentou no trono que lhe dá o controle da sobrevivência do jornalismo mundial – sem exagero.
Uma empresa, por natureza, faz o que é melhor para seus negócios, anunciantes e acionistas. Normal, não há o que reclamar nisso. Trata-se da essência do sistema capitalista, o problema foi dos veículos de jornalismo em acreditarem no contrário.
As organizações de notícias foram condenadas a passar a maior parte do tempo de sua “estratégia” descobrindo a melhor maneira de capitalizar a última decisão aparentemente aleatória do Facebook. É hora da transparência.
O Facebook é um negócio privado e está totalmente dentro dos seus direitos de fazer o que desejar. Mas agora que alcançou o objetivo de pautar o debate público mundial, os líderes da empresa ganharam uma responsabilidade que vai além de enriquecer os acionistas de Wall Street, certo? Não é o que parece.
É hora de ir além e, se o Facebook está em processo de abdicar de seu trono das notícias, o jornalismo deveria encontrar uma maneira de governar seu próprio reino, mesmo que esteja com a faca no pescoço, numa rua estreita, escura e sem saída.
O debate sobre a influência do Facebook no jornalismo nasceu para morrer. Não falo isso pela crise do próprio Facebook, sobre a qual alguns analistas já se apressaram em profetizar a queda do império de Mark Zuckerberg – o que está muito distante de acontecer. Eu digo isso porque não é o Facebook, mas o jornalismo que está em perigo.
É preciso começar assumindo que a crise do jornalismo existia muito antes do Facebook, o problema é que, se por um momento acreditamos que o Facebook nos aproximou de novos modelos para superar a crise que estava colocada desde a virada do século, agora ele nos levou para o caminho totalmente oposto ao de um jornalismo sustentável.
Para entender como chegamos até aqui, precisamos lembrar de algumas coisas importantes. Hoje, o Facebook é o principal portal de notícias para milhões e milhões de pessoas no mundo. 67% dos americanos, segundo a Pew Research Center, se informam nas redes sociais. No Brasil, 102 milhões de brasileiros se conectam no Facebook todo mês.
O Facebook é também a melhor plataforma de anúncios da história da humanidade, abastecida voluntariamente por seus mais de 2 bilhões de usuários, que cadastram suas próprias informações todos os dias, potencializando os filtros de direcionamento e personalização das propagandas. É a maior segmentação de anúncios de todos os tempos.
A capacidade que o Facebook tem de nos viciar reside em um feed de notícias que Mark Zuckerberg já afirmou ser um perfeito jornal personalizado para os seus usuários. Uma personalização que misturava posts da vovó, fotos de criança e, claro, jornalismo profissional. Tudo num lugar só.
Dito isso, vamos entender porque o Facebook deixou o jornalismo de cabeça pra baixo? Primeiro, demandou das redações que postassem suas reportagens na rede social e lhes conferiu uma nova porta de audiência. O resultado, de início, foi incrível: uma plataforma que surgiu para avaliar a beleza das estudantes de Harvard garantiu uma enorme repercussão para veículos de jornalismo de todos os tipos, os consolidados, os independentes, e até os picaretas.
Todo mundo achando que ia se dar bem, até conferirem as estatísticas de seus próprios sites no Google Analytics. Não demorou para os próprios veículos perceberem a primeira cilada: o engajamento nas redes não se revertia em acessos aos seus próprios sites de notícia.
Mas o Facebook achou que não era o bastante. Disse que o carregamento devagar de outros sites nos celulares de seus usuários indicava que os veículos deveriam cadastrar as notícias na íntegra na rede social.
Nasceu assim o Instant Articles, um dos vários projetos milagrosos propagandeados por Zuckerberg, mas que só garantiam o milagre de seu próprio benefício. O Facebook passou a extrair gratuitamente o conteúdo dos veículos e vender os anúncios na sua própria plataforma.
Depois, a promessa de mais um novo pote de ouro de Zuckerberg: os vídeos. O Facebook quis convencer as organizações de notícias a produzir vídeos curtos especificamente para sua plataforma. Mais um colapso: o ranqueamento muito maior dos vídeos no feed de notícias fez com que passássemos a assistir no Facebook os vídeos que os produtores tinham a possibilidade de gerar receita em outros sites, como o YouTube.
Pouco depois, mais uma bomba. Agora seria o Facebook Live a nova salvação. O Facebook pediu às empresas que publicassem conteúdo ao vivo, com a promessa de que, no futuro, poderia remunerar quem produz conteúdo para plataforma.
E agora? No início do ano, a empresa anunciou e implementou rapidamente um plano para retirar a quantidade de notícias na plataforma. Em seguida, se corrigiu: virou e disse que iria introduzir mais notícias locais.
Perceberam que a sequência de fotos nos mostra que agora o Facebook é o guardião do jornalismo mundial? É ele quem determina as tendências, os caminhos, as inovações. Por favor, reflita sobre isso por apenas um minuto. Pense em como isso é perigoso. Sim, uma empresa sentou no trono que lhe dá o controle da sobrevivência do jornalismo mundial – sem exagero.
Uma empresa, por natureza, faz o que é melhor para seus negócios, anunciantes e acionistas. Normal, não há o que reclamar nisso. Trata-se da essência do sistema capitalista, o problema foi dos veículos de jornalismo em acreditarem no contrário.
As organizações de notícias foram condenadas a passar a maior parte do tempo de sua “estratégia” descobrindo a melhor maneira de capitalizar a última decisão aparentemente aleatória do Facebook. É hora da transparência.
O Facebook é um negócio privado e está totalmente dentro dos seus direitos de fazer o que desejar. Mas agora que alcançou o objetivo de pautar o debate público mundial, os líderes da empresa ganharam uma responsabilidade que vai além de enriquecer os acionistas de Wall Street, certo? Não é o que parece.
É hora de ir além e, se o Facebook está em processo de abdicar de seu trono das notícias, o jornalismo deveria encontrar uma maneira de governar seu próprio reino, mesmo que esteja com a faca no pescoço, numa rua estreita, escura e sem saída.
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