segunda-feira, 20 de abril de 2015

FHC e impeachment: recuo ou cinismo?

Por Altamiro Borges

O ex-presidente FHC, príncipe das conspirações, surpreendeu a plateia de empresários no 14º Fórum de Comandatuba (BA) neste final de semana. Convidado especial do trambiqueiro João Dória Jr., famoso líder do fracassado “Cansei”, ele afirmou que “é precipitação falar em impeachment da presidenta Dilma”. Até os jornalistas que fizeram uma boquinha no regabofe – com todas suas despesas pagas – ficaram estupefatos. Todos esperavam uma atitude mais agressiva do ex-presidente, principalmente agora que o PSDB decidiu embarcar de vez nesta tese golpista. “Como um partido pode pedir impeachment antes de ter um fato concreto? Não pode... Impeachment não pode ser tese. Ou houve razão objetiva ou não houve razão objetiva”, bronqueou o grão-tucano FHC.

Sua palestra representou um balde de água fria em muitos ricaços, que estavam animadinhos com as marchas golpistas dos últimos meses – quem sabe até financiando algumas delas por debaixo do pano. Ela também deve causar uma baita ressaca no cambaleante Aécio Neves, que recentemente abraçou a tese do impeachment e até promoveu encontros com alguns grupelhos fascistóides. O senador mineiro-carioca, duplamente derrotado nas eleições do ano passado – perdeu a disputa presidencial e foi enxotado de Minas Gerais –, anda meio desesperado. Ele teme virar bagaço no PSDB, sendo alijado de uma nova eleição presidencial. Por isto, ele resolveu apostar todas as fichas na hipótese irresponsável do impeachment... e agora levou uma bronca do seu chefe!

Mas que ninguém se engane com FHC. O tucano é uma serpente. Basta lembrar que foi do seu instituto que partiu o primeiro pedido de um estudo sobre o impeachment da presidente Dilma, que ficou a cargo do jurista Ives Gandra, um dos chefões da seita Opus Dei no Brasil. Em vários artigos e entrevistas – ele segue com muito prestígio junto aos barões da mídia –, o grão-tucano também tem feito ácidas críticas ao atual governo e incentivado os protestos de rua. FHC adora posar de paladino da ética – logo ele que até hoje não explicou a compra de votos para sua reeleição ou a criminosa “privataria” das estatais.

FHC é calculista. Sabe que inexiste base jurídica para o pedido de impeachment de Dilma. Teme que a radicalização política escancare os conflitos de classe no país e desmascare a oposição udenista. Na batalha contra o projeto da terceirização, na semana passada, os neoliberais ficaram assustados com a reação das ruas – tanto que o PSDB já insinua que poderá rever sua posição em defesa dos interesses de rapina dos empresários. O ex-presidente pulsa a correlação de forças no país. O seu recuo é apenas temporário. Dependendo de novos fatores – e FHC sempre conta com a ajuda da “ditadura judicial-midiática” –, ele voltará à carga com as suas cínicas teses golpistas.

*****

Leia também:





0 comentários: