Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
A presidente Dilma cumpre hoje a última etapa de sua viagem aos Estados Unidos, visitando o Vale do Silício na Califórnia. Foi prestigiada por Barack Obama, restaurou os laços bilaterais abalados há dois anos e teve contatos importantes com investidores. Uma viagem exitosa cujo brilho só foi tisnado pelo tanto que ela falou sobre Lava Jato e delações. Poderia ter recorrido ao velho chavão de presidentes em viagem: “não falo sobre assuntos domésticos fora do Brasil”. De volta, ela encontrará a crise política em outro patamar e terá de estar preparada para o avanço da ofensiva adversária, que só pode ser detido por uma reação muito vigorosa. É disso que se ocupa Lula neste momento.
O desfecho da crise política não é iminente mas os próximos três meses serão cruciais. Estão sobre a mesa três hipóteses de solução radical, chamemos assim para evitar a palavra golpe: o impeachment de Dilma, a impugnação da chapa Dilma-Temer ou a adoção do parlamentarismo, tese que Eduardo Cunha lançou como sendo para 2018 mas que, se for preciso, alguém proporá como remédio da hora. Como em 1961, na crise da renúncia de Jânio. Vão prosseguir por algum tempo as trepidações, vazamentos seletivos e golpes do Congresso, como o do Senado ontem, ao aprovar um reajuste salarial para o Judiciário que atenta contra o ajuste das contas.
O desfecho é esperado (ou programado?) para mais adiante por várias razões. Uma é relacionada com a própria dinâmica da crise, que ainda não atingiu seu ponto máximo. Outra, com a falta de unidade da oposição, e do próprio PSDB, sobre o caminho a ser adotado.
Relativamente ao “timing”, a crise econômica ainda terá de piorar muito para que a crise política chegue ao ponto em que todos queiram a ruptura: povo sacrificado, empresários no sufoco e a oposição no ataque. Este momento, até aliados mais realistas do governo avaliam, pode chegar entre setembro e outubro. A não ser, é claro, que Dilma e o PT entendam o sentido de urgência da movimentação do ex-presidente Lula. Como diz um cacique da oposição, “Collor não sofreu impeachment por causa do Fiat Elba. Foi afastado porque perdeu completamente as condições de governar o país”.
Este momento pode ser evitado? Só se o governo tiver disposição para “um verdadeiro cavalo de pau”, diz um preocupado peemedebista. Isso significaria mudar completamente o ministério, reduzir pastas e trocar a guarda palaciana. Levy não pode fazer milagres na economia mas os juros de 13,75% poderiam ser trocados por um aumento do compulsório dos bancos. Algo terá de ser feito para reverter o ambiente negativista na economia, aumentar a segurança jurídica e a confiança no governo.
Por outro lado, existe a divisão na oposição sobre o caminho a seguir para remover Dilma, que determinaria o tipo de substituição. A ala tucana ligada ao senador Aécio Neves aposta na criminalização da chapa Dilma-Temer, a partir de uma ação do TSE, que tomasse como ilegais e criminosas as doações oficiais de empreiteiras implicadas na Lava Jato. A eventual impugnação da chapa Dilma-Temer, antes de dois anos de cumprimento do mandato, exigiria, nos termos da Constituição, a realização de novas eleições, em que Aécio seria o candidato natural do PSDB. “Esta solução é o pior dos mundos. O país vai pegar fogo. Lula será candidato, Aécio também e o PT irá para a guerra. Disso não viria um novo equilíbrio de forças que permitisse ao país retomar a normalidade”, diz um tucano de outra linhagem.
Ala vinculada ao governador Geraldo Alckmin, por exemplo, prefere a solução mais convencional: apenas Dilma seria afastada (pelo Congresso ou pelo Judiciário, a partir do “crime de responsabilidade” já apontado pelo TCU por violação da lei orçamentária). Neste caso, haveria uma pactuação pela posse do vice Michel Temer, que faria um governo tampão, ao final do qual haveria eleições e Alckmin seria candidato.
É justo dizer que o vice-presidente tem se mantido numa posição de lealdade a Dilma, atuando como coordenador político e desconversando sobre este tema quando abordado por políticos. Ontem mesmo (terça, 30) ele teve um almoço com dezenas de parlamentares de primeiro mandato e certamente agiu do mesmo modo que em outros encontros. Seus aliados continuam reclamando, entretanto, das dificuldades criadas no próprio Palácio para o êxito de sua missão como coordenador político. Michel faz acordos com a base aliadas que envolvem nomeações e liberações de emendas mas eles esbarrariam em má vontade da Casa Civil e da área econômica.
A hipótese de “cooptação” de Michel para a “solução radical” é que a mais preocupa Lula. Ajuda a explicar seu empenho em restaurar os laços com o PMDB, especialmente com Renan Calheiros, com quem tomou café ontem, quinta-feira, 30, pedindo que ele “releve” as mágoas com o governo e estejam juntos para enfrentar a crise. Renan não é exatamente um escudeiro de Temer, pelo contrário. Sempre houve uma rivalidade entre o PMDB do Senado, que ele comanda, e o da Câmara, liderado pelo hoje vice-presidente quando era deputado e presidente do partido.
O PMDB não tem unidade sobre este eventual desfecho. Com todos os problemas que tem com o governo Dilma, é sócio do governo, controla sete ministérios e parte da máquina. No eventual governo-tampão, poderia não ter a hegemonia mesmo tendo a presidência.
A solução parlamentarista começou a ser ventilada a partir da entervista de Eduardo Cunha à Folha de São Paulo defendendo a a adoção do modelo a partir de 2018. Mas ela exigiria um plebiscito ou referendo, e isso não se faz a toque de caixa, nem teria resultado garantido. Mas passou a ser falada.
Ou seja, a divisão de interesses entre os que querem remover Dilma do governo garante a ela um tempo para reagir e evitar o pior. Voltará a presidente dos Estados Unidos disposta a promover o “cavalo de pau”, enquanto imagem de uma reação vigorosa para debelar a crise?
Estas conjecturas podem soar açodadas para quem está olhando apenas acima da superfície das águas agitadas. Mas é sobre isso que já conversam os agentes políticos mais experientes e que, na hora H, terão algum papel a cumprir no enredo.
A presidente Dilma cumpre hoje a última etapa de sua viagem aos Estados Unidos, visitando o Vale do Silício na Califórnia. Foi prestigiada por Barack Obama, restaurou os laços bilaterais abalados há dois anos e teve contatos importantes com investidores. Uma viagem exitosa cujo brilho só foi tisnado pelo tanto que ela falou sobre Lava Jato e delações. Poderia ter recorrido ao velho chavão de presidentes em viagem: “não falo sobre assuntos domésticos fora do Brasil”. De volta, ela encontrará a crise política em outro patamar e terá de estar preparada para o avanço da ofensiva adversária, que só pode ser detido por uma reação muito vigorosa. É disso que se ocupa Lula neste momento.
O desfecho da crise política não é iminente mas os próximos três meses serão cruciais. Estão sobre a mesa três hipóteses de solução radical, chamemos assim para evitar a palavra golpe: o impeachment de Dilma, a impugnação da chapa Dilma-Temer ou a adoção do parlamentarismo, tese que Eduardo Cunha lançou como sendo para 2018 mas que, se for preciso, alguém proporá como remédio da hora. Como em 1961, na crise da renúncia de Jânio. Vão prosseguir por algum tempo as trepidações, vazamentos seletivos e golpes do Congresso, como o do Senado ontem, ao aprovar um reajuste salarial para o Judiciário que atenta contra o ajuste das contas.
O desfecho é esperado (ou programado?) para mais adiante por várias razões. Uma é relacionada com a própria dinâmica da crise, que ainda não atingiu seu ponto máximo. Outra, com a falta de unidade da oposição, e do próprio PSDB, sobre o caminho a ser adotado.
Relativamente ao “timing”, a crise econômica ainda terá de piorar muito para que a crise política chegue ao ponto em que todos queiram a ruptura: povo sacrificado, empresários no sufoco e a oposição no ataque. Este momento, até aliados mais realistas do governo avaliam, pode chegar entre setembro e outubro. A não ser, é claro, que Dilma e o PT entendam o sentido de urgência da movimentação do ex-presidente Lula. Como diz um cacique da oposição, “Collor não sofreu impeachment por causa do Fiat Elba. Foi afastado porque perdeu completamente as condições de governar o país”.
Este momento pode ser evitado? Só se o governo tiver disposição para “um verdadeiro cavalo de pau”, diz um preocupado peemedebista. Isso significaria mudar completamente o ministério, reduzir pastas e trocar a guarda palaciana. Levy não pode fazer milagres na economia mas os juros de 13,75% poderiam ser trocados por um aumento do compulsório dos bancos. Algo terá de ser feito para reverter o ambiente negativista na economia, aumentar a segurança jurídica e a confiança no governo.
Por outro lado, existe a divisão na oposição sobre o caminho a seguir para remover Dilma, que determinaria o tipo de substituição. A ala tucana ligada ao senador Aécio Neves aposta na criminalização da chapa Dilma-Temer, a partir de uma ação do TSE, que tomasse como ilegais e criminosas as doações oficiais de empreiteiras implicadas na Lava Jato. A eventual impugnação da chapa Dilma-Temer, antes de dois anos de cumprimento do mandato, exigiria, nos termos da Constituição, a realização de novas eleições, em que Aécio seria o candidato natural do PSDB. “Esta solução é o pior dos mundos. O país vai pegar fogo. Lula será candidato, Aécio também e o PT irá para a guerra. Disso não viria um novo equilíbrio de forças que permitisse ao país retomar a normalidade”, diz um tucano de outra linhagem.
Ala vinculada ao governador Geraldo Alckmin, por exemplo, prefere a solução mais convencional: apenas Dilma seria afastada (pelo Congresso ou pelo Judiciário, a partir do “crime de responsabilidade” já apontado pelo TCU por violação da lei orçamentária). Neste caso, haveria uma pactuação pela posse do vice Michel Temer, que faria um governo tampão, ao final do qual haveria eleições e Alckmin seria candidato.
É justo dizer que o vice-presidente tem se mantido numa posição de lealdade a Dilma, atuando como coordenador político e desconversando sobre este tema quando abordado por políticos. Ontem mesmo (terça, 30) ele teve um almoço com dezenas de parlamentares de primeiro mandato e certamente agiu do mesmo modo que em outros encontros. Seus aliados continuam reclamando, entretanto, das dificuldades criadas no próprio Palácio para o êxito de sua missão como coordenador político. Michel faz acordos com a base aliadas que envolvem nomeações e liberações de emendas mas eles esbarrariam em má vontade da Casa Civil e da área econômica.
A hipótese de “cooptação” de Michel para a “solução radical” é que a mais preocupa Lula. Ajuda a explicar seu empenho em restaurar os laços com o PMDB, especialmente com Renan Calheiros, com quem tomou café ontem, quinta-feira, 30, pedindo que ele “releve” as mágoas com o governo e estejam juntos para enfrentar a crise. Renan não é exatamente um escudeiro de Temer, pelo contrário. Sempre houve uma rivalidade entre o PMDB do Senado, que ele comanda, e o da Câmara, liderado pelo hoje vice-presidente quando era deputado e presidente do partido.
O PMDB não tem unidade sobre este eventual desfecho. Com todos os problemas que tem com o governo Dilma, é sócio do governo, controla sete ministérios e parte da máquina. No eventual governo-tampão, poderia não ter a hegemonia mesmo tendo a presidência.
A solução parlamentarista começou a ser ventilada a partir da entervista de Eduardo Cunha à Folha de São Paulo defendendo a a adoção do modelo a partir de 2018. Mas ela exigiria um plebiscito ou referendo, e isso não se faz a toque de caixa, nem teria resultado garantido. Mas passou a ser falada.
Ou seja, a divisão de interesses entre os que querem remover Dilma do governo garante a ela um tempo para reagir e evitar o pior. Voltará a presidente dos Estados Unidos disposta a promover o “cavalo de pau”, enquanto imagem de uma reação vigorosa para debelar a crise?
Estas conjecturas podem soar açodadas para quem está olhando apenas acima da superfície das águas agitadas. Mas é sobre isso que já conversam os agentes políticos mais experientes e que, na hora H, terão algum papel a cumprir no enredo.
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