terça-feira, 30 de agosto de 2016

Tucaninhos são presos. E os chefões?

Por Altamiro Borges

Na última quarta-feira (24), a Polícia Federal prendeu o presidente do PSDB de Goiás, Afrêni Leite. Investigado pela Operação Decantação, ele é acusado de participar do esquema de desvio de R$ 4,5 milhões dos cofres públicos por meio de contratos fraudulentos da Saneago, a empresa de saneamento do Estado. Segundo a PF, os recursos oriundos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de financiamentos do BNDES e da Caixa Econômica Federal foram desviados para o pagamento de propinas e dívidas das campanhas eleitorais do tucanato. O repasse foi feito através de doações ilegais e alimentou o Caixa-2 do PSDB. Durante a ação, a polícia realizou operação de busca na sede do partido em Goiânia.

Três meses antes, em maio, a Polícia Civil de Minas Gerais prendeu o presidente estadual do PSDB, Narcio Rodrigues. Ex-secretário de Ciência e Tecnologia no governo do hoje senador Antônio Anastasia – o mesmo cínico que relatou o processo de impeachment de Dilma –, ele é alvo da Operação "Aequalis", que investiga contrato superfaturado de venda de equipamentos para o centro de pesquisa "Cidade das Águas". Deputado federal por cinco vezes e coordenador das campanhas de Antônio Anastasia (2010) e de Pimenta da Veiga (derrotado em 2014), Narcio Rodrigues tem feito de tudo para escapar da cadeia. Nesta semana, alegando problemas de saúde, ele até deu uma escapadinha da prisão, mas por pouco tempo segundo a polícia local.

Já nesta segunda-feira (29), a Justiça do Paraná condenou o “empresário” Luiz Abi Antoun, primo do governador Beto Richa (PSDB), por fraude em licitações, organização criminosa e falsidade ideológica. Os crimes teriam sido cometidos em um contrato de R$ 1,5 milhão para a manutenção de carros oficiais do governo do Paraná, entre 2013 e 2015. Segundo o tímido registro da Folha, “Abi foi acusado de ser o líder do esquema, investigado na Operação Voldemort. Ele ainda é réu numa outra ação penal, sob acusação de comandar um esquema de corrupção na Receita Estadual – o que ele nega”. Pela sentença, a pena do “parente distante” de Beto Richa – como a imprensa chapa-branca costuma afirmar – chega a 13 anos e cinco meses de prisão, além de multa.

A cumplicidade da mídia venal

As prisões dos dois presidentes estaduais do PSDB e a condenação do “suposto primo” de Beto Richa não tiveram maior repercussão na mídia – que adora promover a escandalização da política apenas quando se trata de lideranças petistas. Nos minúsculos registros, a imprensa venal também evitou relacionar os “tucaninhos” com seus chefões. No caso de Narcio Rodrigues, ele é cupincha do cambaleante Aécio Neves. Num primeiro momento, temendo ser abandonado na cadeia, ele até chegou a ameaçar seus comparsas com a “delação premiada” – o que talvez explique o sumiço do presidente nacional da PSDB. Já no caso de Afrêni Leite, ele é ligado ao governador Marconi Perillo – o mesmo que mantinha sólidas amizades com o mafioso Carlinhos Cachoeira.

Segundo o procurador Mário Lúcio Avelar, há fortes indícios de que o dinheiro desviado pelo esquema da Saneago serviu para pagar dívidas da campanha do grão-tucano ao governo de Goiás, em 2014. Entre as provas coletadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público estão interceptações telefônicas de Afrêni Leite com o presidente da Saneago, José Taveira Rocha, outro preso na operação e que já ocupou o cargo de secretário da Fazenda de Marconi Perillo. “Nas ligações, ambos são cobrados a fazerem pagamentos ligados à campanha do tucano. Além de presidente do PSDB de Goiás, Leite também ocupa o posto de diretor de expansão na Saneago. O procurador afirma ainda que o presidente do PSDB goiano teria negociado R$ 1 milhão em doações para a legenda com companhias que são fornecedoras da Saneago, como a JC Gontijo, investigada no Mensalão do DEM”, descreve a Folha.

Logo após a prisão do seu correligionário, Marconi Perillo afirmou que considerava a ação policial “desnecessária” e também rechaçou a sua participação no esquema: “Não há uma vírgula, um centavo que possa estabelecer um nexo entre o governo de Goiás, a campanha do PSDB de Goiás e recursos da Saneago”. O grão-tucano, que já chegou a ser sondado com presidenciável tucano, até hoje também nega a sua relação carnal com o mafioso Carlinhos Cachoeira. O cambaleante Aécio Neves, padrinho de Narcio Rodrigues, e o governador Beto Richa, “parente distante” de Abi Antoun, também juram que são santos. Como a Justiça é complacente e a mídia venal é cúmplice, todos os chefões tucanos seguem livres e soltos – e ainda posam de vestais da ética.

Cadê o carrasco Gilmar Mendes?

No início de agosto, o presidente tucano do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes – que também é ministro do STF –, determinou a abertura de processo pedindo a cassação do registro do Partido dos Trabalhadores. Ele acusou o PT de participar “indiretamente” do esquema de corrupção na Petrobras. O pedido de cassação do partido, que lembra os tempos mais sombrios da ditadura militar, foi feito com o nítido propósito de esquentar os debates sobre o impeachment de Dilma no Senado. O golpista Gilmar Mendes inclusive descartou o fato de que as contas da presidenta reeleita foram julgadas e aprovadas pelo próprio TSE logo após as eleições, em dezembro de 2014. Como ironizam os internautas, “isto não vem ao caso”.

Na ocasião, a bancada do PT repudiou “mais uma ação seletiva e política de Gilmar Mendes, presidente do TSE. Ao pedir a cassação do registro do Partido dos Trabalhadores, Mendes tira de vez a toga e assume o papel de militante da direita brasileira. Sua decisão contra o PT coincide com um momento em que se tenta cassar o mandato legítimo da presidenta Dilma Rousseff, sem que tenha cometido crime de responsabilidade, configurando-se um golpe e a instituição de um ambiente político e jurídico de exceção no país. Ao acusar o PT de ter se beneficiado de recursos desviados da Petrobras, Gilmar Mendes evidencia sua seletividade, já que outros grandes partidos – como o PSDB, PMDB, DEM e PP – também receberam recursos de empresas investigadas na Lava-Jato”.

A nota, assinada pelo deputado baiano Afonso Florence, líder da bancada petista, ainda registrou que “a atitude autoritária do presidente do TSE só encontra paralelo no regime autoritário encerrado em 1985. A última vez em que um partido político foi cassado no Brasil foi mediante ato institucional de uma ditadura militar. São notórios o destempero verbal e a parcialidade de Gilmar Mendes contra o PT. Ele não está à altura do cargo que ocupa. Suas ações, no âmbito da Suprema Corte, como a de juízes de primeira instância, têm maculado a imagem do Judiciário brasileiro. Ao pedir agora a cassação do registro do PT, o ministro faz jus aos que o chamam de ‘tucano de toga’ do STF. O nosso Judiciário precisa de magistrados, não de militantes políticos”.

Será que agora, com as prisões de dois dirigentes tucanos e a condenação do “suposto primo” do governador Beto Richa, o “sinistro” Gilmar Mendes irá pedir a abertura do processo de cassação do registro do PSDB? Lógico que não! Afinal, eles são apenas “tucaninhos”, filhotes dos chefões da legenda falsamente moralista! Em pouco tempo, eles serão liberados ou esquecidos e as prisões sumirão da mídia. Como sempre, elas virarão pó! Ou seja: "Não vem ao caso".

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