domingo, 30 de julho de 2017

Os deputados “éticos” que julgarão Temer

Por Altamiro Borges

Está marcada para a próxima quarta-feira, 2 de agosto, a votação na Câmara Federal do pedido do afastamento do usurpador Michel Temer com base nas graves denúncias de corrupção elencadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR). As frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reúnem o grosso dos movimentos sociais, farão protestos em vários Estados para pressionar os deputados. Pela internet, milhares de pessoas têm enviado e-mails exigindo dos parlamentares o voto contra o chefe da quadrilha que assaltou o poder. Mas, a julgar pela atual composição do Congresso Nacional – o mais conservador e fisiológico dos últimos tempos –, a tendência é de que o moribundo Michel Temer ganhe mais um respiro.

Parte expressiva dos deputados que julgará o Judas também está metida em roubalheiras e é alvo de investigações. Isto ficou patente quando da votação da admissibilidade das denúncias na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal, em meados de julho. Dos 66 membros titulares, um quinto (14 “nobres” deputados) tendo sido citado em delações premiadas. Destes, dois tiveram seus casos arquivados: Esperidião Amin (PP-SC) e Paulo Maluf (PP-SP) – que não são flor que se cheire. Outros 12 seguiam sendo investigados por corrupção. Constavam do time de “éticos” os deputados José Carlos Aleluia (DEM-BA), Jutahy Júnior (PSDB-BA) e Betinho Gomes (PSDB-PE), entre outros, que salvaram a pele de Michel Temer na CCJ.

Esta proporção de um quinto de falsos moralistas é ainda maior quando se analisa o pleno da Câmara Federal. Muitos dos que julgarão o usurpador são acusados por corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, remessa ilegal de divisas, obstrução da Justiça, entre outros crimes. Estes deputados não estão preocupados com a baixa popularidade do Judas, que pode afetar suas próprias imagens. Pesquisa Ibope divulgada na quinta-feira (27) mostra que o percentual de brasileiros que consideram o governo de Michel Temer ruim ou péssimo é de 70%. Ela foi a primeira sondagem realizada após o usurpador ser denunciado por corrupção pela PGR. Na sondagem anterior do mesmo instituto, feita em março, o índice de rejeição foi de 55%.

Este resultado extremamente negativo parece não abalar os deputados que julgarão a admissibilidade da denúncia de Rodrigo Janot nesta quarta-feira. Parece coisa de máfia – um pacto de bandidos para proteger bandidos. Este turma tem plena noção de que o covil golpista está totalmente apodrecido e, mesmo assim, deve garantir a continuidade no poder de Michel Temer. Sobre este mundo do crime vale conferir o levantamento feito pela Folha acerca dos integrantes do governo que enfrentam problemas na Justiça. A matéria até que pega leve contra “os homens de confiança do presidente que estão sob suspeita”:

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- Lúcio Funaro. Apontado como operador do PMDB da Câmara dos Deputados e principalmente do ex-deputado Eduardo Cunha, o corretor de valores está preso há um ano no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal. É réu em apenas um processo, mas tem dois mandados de prisão que o mantêm na cadeia. Está negociando delação premiada. Foi ele que entregou documentos à Polícia Federal contra Geddel Vieira Lima, determinantes para o decreto de prisão do ex-ministro.

- José Yunes. Melhor amigo do presidente da República, o advogado é um dos seus principais conselheiros políticos e interlocutor junto ao setor empresarial. Foi alçado a assessor especial no início do governo Temer, mas pediu demissão após ter seu nome citado por delatores da empreiteira Odebrecht. Ainda hoje, no entanto, conversa semanalmente com Temer. É alvo de uma investigação, mas não é réu.

- Geddel Vieira Lima. Alvo de duas investigações, foi o principal articulador político do presidente junto ao Congresso no primeiro ano da gestão Temer. Como ministro da Secretaria de Governo, tinha carta branca do presidente para negociar cargos e emendas e fechar acordos com partidos da base aliada. Preso acusado de tentar atrapalhar investigações, está em prisão domiciliar.

- Romero Jucá. Inicialmente de um grupo diferente do de Michel Temer no PMDB, o senador por Roraima ganhou a confiança do presidente ao assumir a articulação do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Virou ministro do Planejamento do novo governo, mas caiu após a Folha revelar áudio em que reclamava da Lava Jato em conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. É alvo de 13 investigações, mas não réu.

- Eliseu Padilha. Braço direito de Michel Temer e homem forte do governo, o ministro-chefe da Casa Civil da Presidência é apontado por delatores da Odebrecht como o autor dos pedidos de dinheiro para campanhas do PMDB. É avaliado como o aliado mais fiel do presidente, de uma "obediência quase cega". Alvo de dois inquéritos no Supremo.

- Tadeu Filipelli. Ex-vice governador do DF, fazia a interlocução do governo com parlamentares e empresários. Atuava em articulações políticas que exigiam sigilo, como a sondagem de ministeriáveis. Foi preso em maio acusado de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo o estádio Mané Garrincha, após delação da Andrade Gutierrez.

- Rodrigo Rocha Loures. Ponte de Temer com lobistas e investidores, inclusive do mercado internacional, era um dos homens de confiança do presidente desde 2008, quando se conheceram na Câmara. Era tão próximo que foi quem intermediou a conversa com Joesley Batista, em março deste ano. Após ser filmado carregando uma mala de dinheiro da JBS, foi denunciado pela PGR por corrupção passiva. Está em prisão domiciliar.

- Eduardo Cunha. Aliado do presidente, foi o principal avalista da chegada de Temer ao Palácio do Planalto. Apesar da relação de proximidade, o presidente sempre teve cautela pela personalidade explosiva e inesperada do ex-deputado. Preso em Curitiba, alvo de 30 investigações, condenado por Sergio Moro e réu em quatro processos, ameaça Temer com sua delação premiada, em negociação.

- Moreira Franco. Principal estrategista do governo, é o interlocutor do presidente com a sociedade civil, como com intelectuais e jornalistas. Participa de todas as decisões governamentais e costuma ser a voz decisiva nas escolhas de Temer. É alvo de duas investigações no Supremo. Sua nomeação como ministro foi questionada por ser suposta tentativa de blindagem.

- Coronel Lima. São próximos desde a década de 80, quando o coronel assessorou Temer no gabinete da Segurança Pública em SP. A fazenda de Lima era usada pelo presidente em comícios. Ganhou contratos milionários com o governo federal nos últimos anos. A Operação Patmos encontrou documentos que vinculam o coronel a Temer, por meio de obras na casa de uma das filhas do presidente. Delação da JBS diz que foi entregue a ele R$ 1 milhão em dinheiro em 2014, a pedido do presidente. Não é réu e ainda não é formalmente investigado –a PGR fez pedido nas últimas semanas.


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1 comentários:

anônimo disse...

Nada como viver em uma CLEPTOCRACIA MADURA !!!
IN GO(L)D WE TRUST !!!