Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Não é difícil entender a função real da última indecência de um jornal da mídia grande contra Lula. Você sabe do que estou falando. Ao perguntar ao eleitor brasileiro se ele gostaria de ver Lula na cadeia, a Folha de S. Paulo reviveu os piores momentos de sua história.
Recapitulando. Durante a ditadura militar, a Folha emprestava caminhonetes azuis-amarelas usadas na distribuição de jornais para ajudar a máquina de repressão e tortura a localizar e prender militantes de organizações que combatiam o regime.
Em outubro 2017, a Folha emprestou sua primeira página para publicar uma manchete para fazer a mesma coisa, em outro momento da história.
A questão agora é apoiar uma medida destinada a consolidar um regime de exceção nascido a partir de impeachment sem crime de responsabilidade demonstrado - e que trava uma luta sem escrúpulos para impedir o retorno da liderança política n que lidera a oposição a tudo o que se tem feito no país desde a posse de Michel Temer-Henrique Meirelles.
Se as caminhonetes da década de 1970 ajudavam a retirar militantes das ruas, a manchete de nossos dias quer atacar a democracia de outra forma – retirando Lula de circulação na campanha de 2018.
A mesma função, a mesma meta. Os tempos é que mudaram.
Sua função é legitimar – função da mídia muito bem explicada por Sérgio Moro em seu artigo de 2004 sobre a Operação Mãos Limpas italiana – um ataque contra uma liderança popular, cuja punição é sempre mais difícil de ser consumada a seco, sem um verniz capaz de encobrir a fisionomia da operação em curso.
Trata-se, aqui, de um esforço para respaldar um ato de violência institucional. Garantir, através do TRF-4, que irá examinar a única condenação de Lula até aqui – o velho caso do o triplex do Guarujá que pertence a OAS e foi hipotecado pela Caixa – a assinar uma condenação sem provas.
Na memória cultural de um país onde a Bíblia sempre foi uma referência, inclusive para correntes religiosas em ascensão, a situação permite uma associação útil com a multidão sob domínio do Império Romano chamada a escolher entre Jesus e Barrabás. Mais do que nunca, os responsáveis por uma decisão que terá um impacto histórico imenso no futuro do país precisam de uma oportunidade para lavar as mãos e livrar a cara de quem pode tomar uma decisão política através de uma medida judicial.
Os 35% de apoio que a candidatura Lula acumula na mesma pesquisa mostram que – felizmente -- a história de um país não se limita às manchetes da imprensa amiga.
A longa campanha contra Lula não é de hoje, não começou na Lava Jato nem na AP 470. Faz parte da luta permanente do patamar de cima, de todos os países, para enfraquecer e desmoralizar lideranças autênticas do universo popular.
Nas caricaturas da imprensa reacionária, o francês Jean Jaurès, primeira liderança do PS francês, ainda no início do século XX, sempre foi retratado com uma garrafa de bebida no bolso do paletó. O britânico Arthur Scargill, líder mineiro que enfrentou o desmonte de Margaret Thatcher numa longa e dura greve de 1984-1985, costumava ser apresentado como radical e pouco civilizado.
A visão negativa de boa parte da população brasileira sobre Lula não se explica, apenas, pela motivação legítima de toda disputa política numa democracia, ambiente natural para divergências e discordâncias, que refletem posturas ideológicas diversas e também distintos interesses de classe. O caso é único – no Brasil e quem sabe no mundo -- pelo acumulo de quatro décadas de publicidade negativa mais de quarenta anos.
Os mais velhos não deixam de lembrar que, no final dos anos 1970, ainda líder metalúrgico, Lula chegou a ser criticado por usar terno com colete – e certa vez foi alvo de uma campanha em programas populares de TV porque aceitou convite para passar uma noite numa casa noturna da moda. A campanha prosseguiu, em níveis cada vez maiores de agressividade, na mesma proporção que Lula elevava sua estatura política, antes e depois da presidência.
Mesmo assim, não se conseguiu impedir que se tornasse o mais popular líder político de nossa história, que deixou o Planalto inéditos 80% de aprovação popular – após oito anos de permanente ataques contra seu governo, inclusive programas de inegável valor social, como o Bolsa Família, alvo de denúncias fabricadas desde o lançamento.
Isso acontece porque apoio a Lula não é produto de um tratamento benigno – nem sequer equilibrado – do aparelho ideológico de comunicação. Nasceu e se construiu a partir de um projeto político que, com avanços, recuos e limites, marcou o mais amplo esforço de abertura aos mais pobres já ocorrido no país. Sua resistência se explica pela experiência da população, pelas melhorias ocorridas em suas vidas.
E aqui se pode entender a segunda utilidade de uma imprensa perversa que, como ensinava um dos mestres do jornalismo norte-americano, Joseph Pulitzer, acaba criando um público tão perverso como os jornais que publica. Mesmo enfrentando uma muralha adversária, capaz de armadilhas e lances a margem da lei, é possível imaginar que Lula seja capaz de registrar a candidatura e disputar a presidência. Neste caso, a manchete de domingo passado será assunto permanente nos debates e na campanha adversária.
Deu para entender?
Não é difícil entender a função real da última indecência de um jornal da mídia grande contra Lula. Você sabe do que estou falando. Ao perguntar ao eleitor brasileiro se ele gostaria de ver Lula na cadeia, a Folha de S. Paulo reviveu os piores momentos de sua história.
Recapitulando. Durante a ditadura militar, a Folha emprestava caminhonetes azuis-amarelas usadas na distribuição de jornais para ajudar a máquina de repressão e tortura a localizar e prender militantes de organizações que combatiam o regime.
Em outubro 2017, a Folha emprestou sua primeira página para publicar uma manchete para fazer a mesma coisa, em outro momento da história.
A questão agora é apoiar uma medida destinada a consolidar um regime de exceção nascido a partir de impeachment sem crime de responsabilidade demonstrado - e que trava uma luta sem escrúpulos para impedir o retorno da liderança política n que lidera a oposição a tudo o que se tem feito no país desde a posse de Michel Temer-Henrique Meirelles.
Se as caminhonetes da década de 1970 ajudavam a retirar militantes das ruas, a manchete de nossos dias quer atacar a democracia de outra forma – retirando Lula de circulação na campanha de 2018.
A mesma função, a mesma meta. Os tempos é que mudaram.
Sua função é legitimar – função da mídia muito bem explicada por Sérgio Moro em seu artigo de 2004 sobre a Operação Mãos Limpas italiana – um ataque contra uma liderança popular, cuja punição é sempre mais difícil de ser consumada a seco, sem um verniz capaz de encobrir a fisionomia da operação em curso.
Trata-se, aqui, de um esforço para respaldar um ato de violência institucional. Garantir, através do TRF-4, que irá examinar a única condenação de Lula até aqui – o velho caso do o triplex do Guarujá que pertence a OAS e foi hipotecado pela Caixa – a assinar uma condenação sem provas.
Na memória cultural de um país onde a Bíblia sempre foi uma referência, inclusive para correntes religiosas em ascensão, a situação permite uma associação útil com a multidão sob domínio do Império Romano chamada a escolher entre Jesus e Barrabás. Mais do que nunca, os responsáveis por uma decisão que terá um impacto histórico imenso no futuro do país precisam de uma oportunidade para lavar as mãos e livrar a cara de quem pode tomar uma decisão política através de uma medida judicial.
Os 35% de apoio que a candidatura Lula acumula na mesma pesquisa mostram que – felizmente -- a história de um país não se limita às manchetes da imprensa amiga.
A longa campanha contra Lula não é de hoje, não começou na Lava Jato nem na AP 470. Faz parte da luta permanente do patamar de cima, de todos os países, para enfraquecer e desmoralizar lideranças autênticas do universo popular.
Nas caricaturas da imprensa reacionária, o francês Jean Jaurès, primeira liderança do PS francês, ainda no início do século XX, sempre foi retratado com uma garrafa de bebida no bolso do paletó. O britânico Arthur Scargill, líder mineiro que enfrentou o desmonte de Margaret Thatcher numa longa e dura greve de 1984-1985, costumava ser apresentado como radical e pouco civilizado.
A visão negativa de boa parte da população brasileira sobre Lula não se explica, apenas, pela motivação legítima de toda disputa política numa democracia, ambiente natural para divergências e discordâncias, que refletem posturas ideológicas diversas e também distintos interesses de classe. O caso é único – no Brasil e quem sabe no mundo -- pelo acumulo de quatro décadas de publicidade negativa mais de quarenta anos.
Os mais velhos não deixam de lembrar que, no final dos anos 1970, ainda líder metalúrgico, Lula chegou a ser criticado por usar terno com colete – e certa vez foi alvo de uma campanha em programas populares de TV porque aceitou convite para passar uma noite numa casa noturna da moda. A campanha prosseguiu, em níveis cada vez maiores de agressividade, na mesma proporção que Lula elevava sua estatura política, antes e depois da presidência.
Mesmo assim, não se conseguiu impedir que se tornasse o mais popular líder político de nossa história, que deixou o Planalto inéditos 80% de aprovação popular – após oito anos de permanente ataques contra seu governo, inclusive programas de inegável valor social, como o Bolsa Família, alvo de denúncias fabricadas desde o lançamento.
Isso acontece porque apoio a Lula não é produto de um tratamento benigno – nem sequer equilibrado – do aparelho ideológico de comunicação. Nasceu e se construiu a partir de um projeto político que, com avanços, recuos e limites, marcou o mais amplo esforço de abertura aos mais pobres já ocorrido no país. Sua resistência se explica pela experiência da população, pelas melhorias ocorridas em suas vidas.
E aqui se pode entender a segunda utilidade de uma imprensa perversa que, como ensinava um dos mestres do jornalismo norte-americano, Joseph Pulitzer, acaba criando um público tão perverso como os jornais que publica. Mesmo enfrentando uma muralha adversária, capaz de armadilhas e lances a margem da lei, é possível imaginar que Lula seja capaz de registrar a candidatura e disputar a presidência. Neste caso, a manchete de domingo passado será assunto permanente nos debates e na campanha adversária.
Deu para entender?
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