Por Fernando Morais, em seu blog:
O ex-presidente Barack Obama esteve ontem em São Paulo para fazer uma palestra, dar umas entrevistas, caitituar umas ideias. Pelo menos é isso que foi apresentado como a razão da visita dele aqui. Deve ser. Dizem os jornais que ele recebeu um cachê de 400 mil dólares. Que seria alguma coisa em torno de um milhão e duzentos mil reais. E mais, claro, avião, hotel, para ele e para aquela trempa que acompanha ex-presidentes nos Estados Unidos e aqui no Brasil também. Agora, uma coisa curiosa é a seguinte: ninguém abanou o rabo para saber se é justo o ex-presidente dos Estado Unidos ganhar 400 mil dólares para fazer uma palestra. É legal? É legítimo? Ninguém piscou, miou ou piou na nossa imprensa a esse respeito. É pecado, crime, quando o Luiz Inácio vai fazer palestra seja lá onde for, o Lula.
Eu me lembro que logo que a operação Lava Jato começou a avançar no calcanhar do Lula, umas das acusações que faziam e que suponho que esteja sendo mantida até hoje, é de que ele não fazia palestra no exterior. que tinha ali uma simulação, que ele ia ali para um lugar assim, assim, e na verdade, pagavam para ele 200 mil dólares, metade do que pagam para o Obama, mas que não tinha palestra nenhuma, que palestra era fachada para lavar dinheiro. Que no fundo isso era uma grana que as pessoas estavam dando pro Lula.
Na época que essa acusação saiu, eu mandei uma extensa e respeitosa carta para o juiz Sérgio Moro. Dizendo olha, como brasileiro, como jornalista, autor de um livro que não escrevi ainda sobre o Lula, nessa contingência estou sendo obrigado a acompanhar o ex-presidente pelo mundo inteiro. E disse a ele, olha, eu estive com o Lula em não sei quantos países, não lembro agora. México, Cuba, Espanha, Portugal, Alemanha, Índia, Etiópia, Moçambique, Angola. Bom, não me lembro mais de todos os lugares onde eu estive com ele.
Eu dizia para o juiz Moro o seguinte: como eu assisti todas as palestras, eu me ofereço voluntariamente para testemunhar a respeito não do Lula, mas da verdade. Porque ele fez as palestras. Porque esse trem todo? Para dizer o seguinte: encheram o saco do Lula. O Moro nunca me respondeu, não deu a menor pelota para a minha carta. O que me deu o direito de publicá-la na internet, aqui no Nocaute. O que me chama a atenção na hipocrisia da chamada grande imprensa brasileira é o seguinte: os mesmos jornais, os mesmos canais de televisão que encheram o saco do Lula sobre as viagens a respeito das quais eu continuo podendo dar depoimento, não só depoimento pessoal, mas de registro, eu tenho fotos de todas essas viagens.
Então eu quero dizer o seguinte: me surpreende essa gente que gastou repórter, salário, árvores, porque para imprimir essa porcariada toda, você tem que derrubar um milhão de árvores, para nada!
Vem o Obama aqui, recebe 400 quilos de alcatra sem osso para fazer uma palestra de um dia. E nenhum deles diz: de onde terá vindo esse dinheiro. É isso. Só queria falar isso. Não queria deixar passar em branco essa viagem do ex-presidente Obama aqui a São Paulo.
A hora que der na telha eu volto aqui.
*****
Veja a íntegra da carta de Fernando Morais ao juiz Sérgio Moro:
São Paulo, 4 de março de 2016
Meritíssimo Juiz
Sérgio Fernando Moro
MD Titular da 13ª Vara Criminal Federal
Bairro Ahú
Curitiba – Paraná
Senhor Juiz:
Na manhã de hoje tive a oportunidade de assistir à entrevista coletiva concedida pelos procuradores do Ministério Público de Curitiba. Deixaram-me a clara impressão de que suspeitam que as palestras realizadas pelo ex-presidente Lula tenham sido uma fachada para encobrir o recebimento de recursos de origem escusa.
Há alguns anos venho acompanhando o ex-presidente em suas viagens pelo Brasil e exterior para levantar informações para o livro que estou escrevendo sobre um período de sua vida pública. Logo descobri que os aviões eram um ótimo local para meu trabalho: sem interrupções de telefonemas, agendas e visitas, eu podia passar horas tomando seu depoimento – lembro-me de um voo de mais de vinte horas de duração.
Acredito tê-lo acompanhado em mais de dez viagens internacionais. De memória, lembro-me de ter estado com o ex-presidente no México, Portugal, África do Sul, Moçambique, Etiópia, Índia, Alemanha, França, Espanha e Cuba.
Em todos os casos ele realizou, sim, as palestras para as quais havia sido contratado. Em alguns dos referidos países, mais de uma. Eu o seguia da hora em que acordava até quando se recolhia para dormir. Assisti a todas as palestras e testemunhei todas as audiências que ele concedeu a artistas, autoridades, sindicalistas e empresários locais. Em nenhum momento ele pediu que eu me retirasse para que pudesse conversar privadamente com alguém – o que seria absolutamente natural.
Trago o assunto à baila por uma única razão: sou testemunha da lisura e do comportamento ético que norteou as viagens do ex-presidente Lula ao exterior – e de que ele de fato proferiu as palestras agora colocadas sob suspeição. Nesse sentido, coloco-me à disposição desse Juízo Federal para oferecer meu depoimento, o qual, estou certo, contribuirá para a elucidação dos fatos sob investigação.
Atenciosamente,
Fernando Morais
jornalista e escritor
O ex-presidente Barack Obama esteve ontem em São Paulo para fazer uma palestra, dar umas entrevistas, caitituar umas ideias. Pelo menos é isso que foi apresentado como a razão da visita dele aqui. Deve ser. Dizem os jornais que ele recebeu um cachê de 400 mil dólares. Que seria alguma coisa em torno de um milhão e duzentos mil reais. E mais, claro, avião, hotel, para ele e para aquela trempa que acompanha ex-presidentes nos Estados Unidos e aqui no Brasil também. Agora, uma coisa curiosa é a seguinte: ninguém abanou o rabo para saber se é justo o ex-presidente dos Estado Unidos ganhar 400 mil dólares para fazer uma palestra. É legal? É legítimo? Ninguém piscou, miou ou piou na nossa imprensa a esse respeito. É pecado, crime, quando o Luiz Inácio vai fazer palestra seja lá onde for, o Lula.
Eu me lembro que logo que a operação Lava Jato começou a avançar no calcanhar do Lula, umas das acusações que faziam e que suponho que esteja sendo mantida até hoje, é de que ele não fazia palestra no exterior. que tinha ali uma simulação, que ele ia ali para um lugar assim, assim, e na verdade, pagavam para ele 200 mil dólares, metade do que pagam para o Obama, mas que não tinha palestra nenhuma, que palestra era fachada para lavar dinheiro. Que no fundo isso era uma grana que as pessoas estavam dando pro Lula.
Na época que essa acusação saiu, eu mandei uma extensa e respeitosa carta para o juiz Sérgio Moro. Dizendo olha, como brasileiro, como jornalista, autor de um livro que não escrevi ainda sobre o Lula, nessa contingência estou sendo obrigado a acompanhar o ex-presidente pelo mundo inteiro. E disse a ele, olha, eu estive com o Lula em não sei quantos países, não lembro agora. México, Cuba, Espanha, Portugal, Alemanha, Índia, Etiópia, Moçambique, Angola. Bom, não me lembro mais de todos os lugares onde eu estive com ele.
Eu dizia para o juiz Moro o seguinte: como eu assisti todas as palestras, eu me ofereço voluntariamente para testemunhar a respeito não do Lula, mas da verdade. Porque ele fez as palestras. Porque esse trem todo? Para dizer o seguinte: encheram o saco do Lula. O Moro nunca me respondeu, não deu a menor pelota para a minha carta. O que me deu o direito de publicá-la na internet, aqui no Nocaute. O que me chama a atenção na hipocrisia da chamada grande imprensa brasileira é o seguinte: os mesmos jornais, os mesmos canais de televisão que encheram o saco do Lula sobre as viagens a respeito das quais eu continuo podendo dar depoimento, não só depoimento pessoal, mas de registro, eu tenho fotos de todas essas viagens.
Então eu quero dizer o seguinte: me surpreende essa gente que gastou repórter, salário, árvores, porque para imprimir essa porcariada toda, você tem que derrubar um milhão de árvores, para nada!
Vem o Obama aqui, recebe 400 quilos de alcatra sem osso para fazer uma palestra de um dia. E nenhum deles diz: de onde terá vindo esse dinheiro. É isso. Só queria falar isso. Não queria deixar passar em branco essa viagem do ex-presidente Obama aqui a São Paulo.
A hora que der na telha eu volto aqui.
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Veja a íntegra da carta de Fernando Morais ao juiz Sérgio Moro:
São Paulo, 4 de março de 2016
Meritíssimo Juiz
Sérgio Fernando Moro
MD Titular da 13ª Vara Criminal Federal
Bairro Ahú
Curitiba – Paraná
Senhor Juiz:
Na manhã de hoje tive a oportunidade de assistir à entrevista coletiva concedida pelos procuradores do Ministério Público de Curitiba. Deixaram-me a clara impressão de que suspeitam que as palestras realizadas pelo ex-presidente Lula tenham sido uma fachada para encobrir o recebimento de recursos de origem escusa.
Há alguns anos venho acompanhando o ex-presidente em suas viagens pelo Brasil e exterior para levantar informações para o livro que estou escrevendo sobre um período de sua vida pública. Logo descobri que os aviões eram um ótimo local para meu trabalho: sem interrupções de telefonemas, agendas e visitas, eu podia passar horas tomando seu depoimento – lembro-me de um voo de mais de vinte horas de duração.
Acredito tê-lo acompanhado em mais de dez viagens internacionais. De memória, lembro-me de ter estado com o ex-presidente no México, Portugal, África do Sul, Moçambique, Etiópia, Índia, Alemanha, França, Espanha e Cuba.
Em todos os casos ele realizou, sim, as palestras para as quais havia sido contratado. Em alguns dos referidos países, mais de uma. Eu o seguia da hora em que acordava até quando se recolhia para dormir. Assisti a todas as palestras e testemunhei todas as audiências que ele concedeu a artistas, autoridades, sindicalistas e empresários locais. Em nenhum momento ele pediu que eu me retirasse para que pudesse conversar privadamente com alguém – o que seria absolutamente natural.
Trago o assunto à baila por uma única razão: sou testemunha da lisura e do comportamento ético que norteou as viagens do ex-presidente Lula ao exterior – e de que ele de fato proferiu as palestras agora colocadas sob suspeição. Nesse sentido, coloco-me à disposição desse Juízo Federal para oferecer meu depoimento, o qual, estou certo, contribuirá para a elucidação dos fatos sob investigação.
Atenciosamente,
Fernando Morais
jornalista e escritor
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