terça-feira, 24 de setembro de 2019

DCI morre; a primeira vítima de Bolsonaro

Por Altamiro Borges

Deixou de circular nesta segunda-feira (23) o Diário do Comércio, Indústria e Serviços (DCI), um dos jornais mais antigos da história do país. Fundado em 1934, o veículo era dedicado ao mundo dos negócios e empregava 29 profissionais. Estes foram informados sobre a extinção pela controladora Sol Panamby, empresa ligada à família do ex-governador Orestes Quércia. Vários fatores pesaram no fechamento – como a explosão da internet, erros gerenciais e a prolongada crise econômica do país. Mas também influiu a decisão do vingativo Jair Bolsonaro de asfixiar a imprensa. Dá para dizer que o DCI é a primeira vítima fatal do governante fascista na mídia nativa.

No editorial publicado nesta segunda-feira, intitulado “A você, nosso muito obrigado”, a empresa se despede dos leitores tratando das dificuldades encontradas no último período. “Ajudamos os empresários de todos os portes a tomar suas decisões em um Brasil que ‘não é para principiantes’, como diz a conhecida expressão”, afirma em um tom quase autocrítico. Em outro trecho, ele trata das “incertezas que varreram o Brasil” nos últimos tempos.

O editorial dá destaque às “mudanças decorrentes das inovações tecnológicas”, que “deixaram de atingir apenas os segmentos da economia que cobríamos, e foram chegando cada vez mais perto de nossa atividade. A internet alterou radicalmente a forma de consumir, distribuir e produzir informações, bem como o modelo de negócio dos jornais impressos. Resistimos até onde foi possível, tentamos novos formatos, cada um fazendo sua parte: acionistas, diretores; equipes do comercial, da circulação, da redação”.

Mas, como aponta Nelson de Sá, estas não foram as únicas razões da morte. “A decisão foi creditada pelo diretor-executivo do DCI, Raphael Müller, às dificuldades na economia e à ruptura no modelo de negócios do jornalismo, mas também, em parte, às medidas provisórias do governo que suspenderam a obrigatoriedade de veiculação de balanços e editais na imprensa. ‘Elas não foram determinantes, mas sem dúvida as duas MPs tiveram influência nessa decisão, foram um reforço’, diz o executivo. ‘Eles causam uma insegurança muito grande para o ambiente em que a gente está vivendo... É muito triste, o grupo todo lamenta’, diz Müller”

As duas medidas provisórias foram editadas como forma de represália às críticas da mídia, conforme o “capetão” fez questão de rosnar em entrevistas. Uma revoga a obrigação da publicação de atos oficiais de licitações públicas em jornais. A iniciativa permite que a divulgação ocorra somente na imprensa oficial e em site do órgão público responsável. O argumento usado é de que a publicação em veículos impressos é obsoleta e “representa gasto adicional e injustificado para os cofres públicos, que hoje passam por desequilíbrio fiscal”. A outra, editada em agosto, permitiu que as empresas de capital aberto publiquem os seus balanços financeiros no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou no Diário Oficial, e não mais em veículos impressos.

Quando da edição da primeira MP, a Associação Nacional dos Jornais – a golpista ANJ, que ajudou a chocar o ovo da serpente fascista que resultou na eleição de Jair Bolsonaro – reagiu indignada. Em nota, ela argumentou que a medida provisória visava unicamente atingir financeiramente os jornais, em mais uma iniciativa para enfraquecer a atividade jornalística. “Representa também um claro retrocesso na transparência dos atos públicos demandada pela sociedade, em frontal oposição ao princípio da 'ampla publicidade dos procedimentos licitatórios' expresso na legislação”. A chiadeira, porém, não comoveu o “capetão” e o DCI é a primeira vítima na imprensa do laranjal bolsonariano.

2 comentários:

Dilbert disse...

Cria cuervos...

Anônimo disse...

Que morram todos: globo, estadão, veja, et caterva