Por Valério Arcary, no site A terra é redonda:
O ponto de partida de uma interpretação honesta da situação brasileira é que a maioria da esquerda, inclusive as forças políticas mais influentes, vem subestimando Bolsonaro, uns mais que outros, pelo menos, desde 2017. Explicar este desdém é complicado. A resposta simples, mas insuficiente, é que a esquerda moderada subestimou Bolsonaro porque compreender o apelo do discurso da extrema-direita, depois de mais de treze anos no poder, exigiria uma profunda revisão autocrítica. Há um grão de verdade aqui. Afinal, alguma coisa muito errada deve ter sido feita. Mas o problema não é concluir que Bolsonaro arrastou, por variadas razões a maioria da classe média, o desafio é descobrir porque a maioria da classe trabalhadora organizada, âncora social do PT desde os anos oitenta, não se mobilizou para defender o governo Dilma Rousseff. Essa ausência foi perturbadora. Em consequência, a esquerda moderada abraçou a tática quietista de apostar em derrotar Bolsonaro nas eleições de 2022, calculando que um inevitável desgaste seria acumulado.
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O ponto de partida de uma interpretação honesta da situação brasileira é que a maioria da esquerda, inclusive as forças políticas mais influentes, vem subestimando Bolsonaro, uns mais que outros, pelo menos, desde 2017. Explicar este desdém é complicado. A resposta simples, mas insuficiente, é que a esquerda moderada subestimou Bolsonaro porque compreender o apelo do discurso da extrema-direita, depois de mais de treze anos no poder, exigiria uma profunda revisão autocrítica. Há um grão de verdade aqui. Afinal, alguma coisa muito errada deve ter sido feita. Mas o problema não é concluir que Bolsonaro arrastou, por variadas razões a maioria da classe média, o desafio é descobrir porque a maioria da classe trabalhadora organizada, âncora social do PT desde os anos oitenta, não se mobilizou para defender o governo Dilma Rousseff. Essa ausência foi perturbadora. Em consequência, a esquerda moderada abraçou a tática quietista de apostar em derrotar Bolsonaro nas eleições de 2022, calculando que um inevitável desgaste seria acumulado.