Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:
Apontado como “líder satanista” (na imunda boataria pró-Serra, que inundou a internet nas últimas semanas), Michel Temer (o vice de Dilma) foi quem analisou com mais calma e conteúdo o debate, numa entrevista rápida ainda dentro do estúdio da “Band”: a atuação da Dilma “vai jogar nas ruas a militância”.
O debate foi isso. Audiência baixa, cerca de 3 pontos. Quem tava acompanhando? O público mais ligado em política – dos dois lados. Dilma falou pra militância. E acho que surpreendeu positivamente a todos.
A turma do PT – meio ressabiada, porque esperava liquidar tudo no primeiro turno, e porque não via reação da campanha à onda difamatória das últimas semanas – recebeu uma injeção de ânimo.
Em vez de bater pesado no horário político gratuito (visto por um público mais amplo, que poderia rejeitar a estratégia mais dura), Dilma deu as respostas no debate – visto pela militância. Foi estratégia inteligente, certeira.
Serra, ao que parece, não esperava por isso. Engoliu em seco várias vezes. E acusou o golpe, falando que Dilma estava “agressiva”. Machismo puro. Mulher quando enfrenta é “agressiva”. Ele quer princesinha? Vai buscar na MTV…
O tucano é mal acostumado – como sabemos. Tem à sua volta uma imprensa amiga, que não o incomoda. E quando aparece um jornalista ou outro a fazer pergunta “inconveniente”, ele liga pra Redação e pede a cabeça do repórter. Ou, então, confisca as fitas (como fez depois de uma entrevista pra Márcia Peltier, na CNT).
Ao fim do debate, eu olhava pro Serra (que parecia aturdido e contrariado por apanhar tanto), e pensava comigo: será que ele vai ligar pro Lula e pedir a cabeça da Dilma?
Durante uma panfletagem no Rio, há poucas semanas, Serra botou a mulher dele (não a Soninha, mas a Mônica) pra acusar Dilma de “matar criancinhas”: é o papo sujo do aborto. Quando ficou frente a frente com Dilma, nesse domingo, ele não sustentou a frase. Fugiu. E não defendeu a mulher oficial. Covardia típica de machão mal-resolvido. Ainda por cima, não gostou da Dilma “agressiva”. Tá mal acostumado com certas apresentadoras e jornalistas “amigas”…
No conteúdo, Dilma foi bem ao desmascarar a campanha de calúnias, e ao marcar na testa de Serra o rótulo de “privatista”. Tão incomodado Serra ficou que, naquela entrevista rápida pós-debate, fez questão de dizer “sou defensor das empresas estatais”.
Sentiu o golpe.
Mauricio Stycer, ótimo repórter do UOL, postava no twitter pouco depois do encerramento: “Petistas comemoram e tucanos criticam estratégia de Dilma”.
Esse também é um bom resumo.
Os petistas gostaram de ver a candidata firme – o que deve ter incendiado a militância pra reta final.
Já os tucanos não gostaram do Serra acuado. Acostumados a bater na surdina, a usar pastores e padres para os ataques mais vis, e a se esconder no anonimato da internet, os líderes do serrismo choravam: pôxa, essa doeu.
Tenho a impressão que a onda de otimismo virou de lado. Esse debate volta a lançar otimismo para o lado lulo-dilmista. E projeta sombras para o lado dos tucanos.
Vocês – que me acompanham aqui – sabem que eu tenho lado e não escondo. Mas nem por isso brigo com os fatos. Quando a boataria religiosa veio pesada, eu falei que isso podia dar segundo turno. Assim como deixei claro que Dilma apanhar calada era o caminho pra derrota. Agora, vejo uma fase nova.
Essa campanha já teve vários momentos:
- no início do ano, os tucanos menosprezaram Dilma, espalharam que ela não tinha personalidade, e era um “poste”; o menosprezo fez com que fossem surpreendidos pela arrancada de Dilma dos 15% aos 50% nas pesquisas;
- em setembro, foi o PT que menosprezou a capacidade de reação dos tucanos e de seus aliados midiáticos; denúncias e boatos levaram votos pra Marina, garantindo segundo turno;
- com o segundo turno, já se ouvia na internet o discurso dos tucanos “ah, o PT perdeu uma eleição ganha; agora Serra vai crescer até a vitória, Dilma está perdida, e a eleição está no papo”.
Os tucanos (com o segundo turno) sentaram na cadeira antes da hora. A soberba parece ter castigado Serra nesse domingo. Ele entrou no debate confiante demais. Apanhou até ficar tonto.
E, agora, vai ser difícil virar a onda de novo.
A turma dele vai tentar – com mais baixaria. Mas o recurso vai ficando gasto. Dilma recuperou a iniciativa. Pra quem já tem 10 pontos de vantagem, trata-se de um passo gigantesco rumo à vitória.
Será uma eleição difícil até o fim. Mas Dilma recuperou o favoritismo inconteste. E, agora, sem a soberba que deu errado no primeiro turno.
É o quadro que vejo nessa segunda-feira, a 20 dias da eleiçâo.
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segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Dilma nocauteou Serra no debate da Band
Reproduzo análise de Ricardo Negrão, publicada na Rede Brasil Atual:
"Cuidado com as mil caras, Serra". Esse foi um dos motes do primeiro debate do segundo turno entre os candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). A petista não ficou na defensiva. Ao contrário, acuou o tucano em vários pontos: da campanha de calúnias na internet às privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso, passando pela venda do banco Nossa Caixa para o Banco do Brasil.
Dilma lembrou a participação de Verônica Serra em episódios de desvirtuação da campanha: "Sua esposa, disse que a Dilma é a favor da morte de criancinhas". Depois complementou: "Isso é ódio, coisa que o Brasil não tem". Serra não respondeu.
O tucano também se calou quando, ainda no primeiro bloco, Dilma o instigou a falar sobre o assessor Paulo Vieira de Souza, que é acusado de desaparecer com R$ 4 milhões da campanha do tucano.
Ao contrário de Serra, Dilma se mostrou firme em dois assuntos polêmicos: o caso Erenice e o aborto.
"Concordo com a regulamentação. São 3,5 milhões de mulheres que praticam aborto em condições precárias. O que vamos fazer com essas mulheres, atender ou prender?"
Privatizações
Outro tema bastante presente no debate. A petista observou que o assessor do tucano e ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), David Zylbersztain, manifestou ser a favorável à privatização do pré-sal.
A petista também citou a tentativa de divisão da Petrobras para ser negociada em partes, ainda no governo FHC.
Serra tentou sair do tema privatizações da era FHC defendendo a da telefonia. "O Brasil hoje tem 190 milhões de telefones ", disse o tucano, que finalizou: "A era do PT seria a era do orelhão". Dilma, em seguida rebateu: "O meu Brasil não é do orelhão, é o da banda larga".
Outra tentativa de privatização bastante discutida foi a da Nossa Caixa, banco estadual de São Paulo. Dilma acusou o tucano de querer vender o banco e disse que o governo federal foi atrás para que a instituição não fosse vendida a empresas internacionais. Serra disse que a compra da Nossa Caixa fortaleceu o BB. Dilma rebateu que a compra do BB foi o iniciativa do governo Lula, porque Serra iria vender de qualquer jeito.
Dilma também questionou seu adversário sobre a continuidade de programas do governo Lula, como o Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, entre outros. "Vou continuar tudo o que deve ser continuado", disse Serra, sem nominar quais seriam esses programas.
Serra também teve de responder sobre programas do governo de São Paulo, como a dos salários dos policiais, combate às drogas e educação.
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Blogueiros criam associação no Paraná
Reproduzo matéria publicada na página Paraná Blogs:
Lideranças e ativistas populares, preocupados com o recrudescimento da repressão contra blogs e outros meios alternativos paranaenses que navegam contra a corrente conservadora no estado, criaram a Associação dos Blogueiros Progressistas do Paraná -ABPP.
O ato aconteceu em Curitiba, por aclamação, durante assembléia realizada na sede do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Paraná (Sindijus), na noite da última sexta (8).
O surgimento da associação é uma consequência direta da participação de blogueiros paranaenses no Primeiro Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que aconteceu entre os dias 20 e 22 de agosto p.p., em São Paulo (SP). Naquela oportunidade, criou-se o comitê para organizar o I Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas no Paraná (I EEBP-PR).
Este evento está marcado para os dias 26, 27 e 28 de novembro de 2010, em Curitiba, e terá como tema: “A cidadania ativa na Internet: o caráter revolucionário dos blogs. O desafio do Paraná”. O encontro estadual terá como objetivos disseminar o fenômeno dos blogs no Paraná e ampliar o número de agentes ativos na blogosfera como forma de aprofundar o conteúdo de cidadania da internet.
Além do I EEBP-PR, ficou definido que sindicatos e partidos políticos progressistas serão convidados para fazer parte do “Movimento Paranaense pelo Direito à Comunicação” – organizado pela recém-criada associação, como resposta à perseguição à mídia livre e independente e aos blogueiros progressistas, em especial, ao jornalista Esmael Morais, que foi eleito diretor da entidade.
Na mesma direção, a diretoria provisória resolveu realizar um “Ato em Defesa da Liberdade de Expressão e da Mídia Alternativa”, em respeito ao artigo 220 da Constituição Federal, a ser realizado no próximo dia 21, às 19h, na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor), na capital paranaense.
A diretoria provisória da Associação dos Blogueiros Progressistas do Paraná é a responsável por realizar as primeiras eleições da entidade e está assim definida:
- Presidente: Sérgio Luís Bertoni (www.tie-brasil.org)
- Vice-Presidente: Mário Candido de Oliveira (www.porumparanamelhor.com/mariocandido)
- Secretário Geral: Ivo Augusto de Abreu Pugnaloni
(www.porumparanamelhor.com/mariocandido)
- Tesoureira: Nelba Maria Nycz de Lima (http://midiacrucis.wordpress.com)
- Diretor de TI: Walter Koscianski (www.engajarte-blog.blogspot.com)
- Diretor de Comunicação: Edson Osvaldo Melo (http://blogdoedsonmelo.blogspot.com)
- Diretor Jurídico: a definir
- Diretor de Mobilização: Esmael de Morais (www.esmaelmorais.com.br)
- Conselho Fiscal: Paulo Afonso Nietsche (www.naluta.net), Robson Jamaica (http://protesto-jamaica.zip.net/)
O blog oficial da ABPP é o www.paranablogs.wordpress.com
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Lideranças e ativistas populares, preocupados com o recrudescimento da repressão contra blogs e outros meios alternativos paranaenses que navegam contra a corrente conservadora no estado, criaram a Associação dos Blogueiros Progressistas do Paraná -ABPP.
O ato aconteceu em Curitiba, por aclamação, durante assembléia realizada na sede do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Paraná (Sindijus), na noite da última sexta (8).
O surgimento da associação é uma consequência direta da participação de blogueiros paranaenses no Primeiro Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que aconteceu entre os dias 20 e 22 de agosto p.p., em São Paulo (SP). Naquela oportunidade, criou-se o comitê para organizar o I Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas no Paraná (I EEBP-PR).
Este evento está marcado para os dias 26, 27 e 28 de novembro de 2010, em Curitiba, e terá como tema: “A cidadania ativa na Internet: o caráter revolucionário dos blogs. O desafio do Paraná”. O encontro estadual terá como objetivos disseminar o fenômeno dos blogs no Paraná e ampliar o número de agentes ativos na blogosfera como forma de aprofundar o conteúdo de cidadania da internet.
Além do I EEBP-PR, ficou definido que sindicatos e partidos políticos progressistas serão convidados para fazer parte do “Movimento Paranaense pelo Direito à Comunicação” – organizado pela recém-criada associação, como resposta à perseguição à mídia livre e independente e aos blogueiros progressistas, em especial, ao jornalista Esmael Morais, que foi eleito diretor da entidade.
Na mesma direção, a diretoria provisória resolveu realizar um “Ato em Defesa da Liberdade de Expressão e da Mídia Alternativa”, em respeito ao artigo 220 da Constituição Federal, a ser realizado no próximo dia 21, às 19h, na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor), na capital paranaense.
A diretoria provisória da Associação dos Blogueiros Progressistas do Paraná é a responsável por realizar as primeiras eleições da entidade e está assim definida:
- Presidente: Sérgio Luís Bertoni (www.tie-brasil.org)
- Vice-Presidente: Mário Candido de Oliveira (www.porumparanamelhor.com/mariocandido)
- Secretário Geral: Ivo Augusto de Abreu Pugnaloni
(www.porumparanamelhor.com/mariocandido)
- Tesoureira: Nelba Maria Nycz de Lima (http://midiacrucis.wordpress.com)
- Diretor de TI: Walter Koscianski (www.engajarte-blog.blogspot.com)
- Diretor de Comunicação: Edson Osvaldo Melo (http://blogdoedsonmelo.blogspot.com)
- Diretor Jurídico: a definir
- Diretor de Mobilização: Esmael de Morais (www.esmaelmorais.com.br)
- Conselho Fiscal: Paulo Afonso Nietsche (www.naluta.net), Robson Jamaica (http://protesto-jamaica.zip.net/)
O blog oficial da ABPP é o www.paranablogs.wordpress.com
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domingo, 10 de outubro de 2010
A imprensa tupiniquim vai ficar nua?
Reproduzo artigo da jornalista Débora Lerrer, publicado no blog "Fazendo correr o risco":
O episódio da demissão de Maria Rita Kehl do "Estadão" pelo que ela mesma denominou de "delito de opinião", por ter criticado em seu artigo semanal a desqualificação que se fazia do voto dos pobres nesta eleição, me encheu de esperanças de que talvez a era das nove famílias donas dos meios de comunicação do Brasil esteja mesmo chegando a seu ocaso.
Tudo bem. Sou meio otimista. Já vi um caso parecido com esse há anos atrás envolvendo o Veríssimo e a Zero Hora. Mas ele, que declarara voto ao PT ou a Lula, não me lembro mais, já era tão maior do que a Rede Brasil Sul de Comunicação que eles tiveram que continuar engolindo suas opiniões. Nada mudou muito. Mas foi um escândalo e tanto em Porto Alegre.
Mas os sinais desse ocaso dos barões da mídia já estavam evidentes nas últimas eleições presidenciais, em 2006, quando o Alkmin conseguiu chegar no segundo turno. Um correspondente espanhol, amigo meu, me chamou atenção para o fato de que ele nunca tinha visto uma situação em que a imprensa de um país simplesmente não tinha a menor conexão com a vontade e a opinião da maioria da população. Ele me deu a entender que lhe parecia que a mídia brasileira funcionava como um ente em separado de sua sociedade. Havia um fosso entre o que os colunistas e a maioria dos jornalistas publicava nos jornais e a opinião da população. Mas ele não falava da maioria esmagadora que não lia jornais. Falava das pessoas com quem ele convivia, com quem ele lidava fazendo seu trabalho, vivendo no Brasil.
Mas não se pode subestimar o poder dessa turma. Mais ou menos as mesmas famílias apoiaram o Golpe de 64, atemorizados com a "república sindicalista do Jango". Só não esperavam, junto com o Carlos Lacerda, que os milicos iam gostar de ficar no poder, não iam devolver o controle do Estado assim de mão beijada para eles, e até, que iam engrossar também com eles a partir de 68.
Mas tudo isso, afinal de contas começou antes. Quem leu o belo livro de memórias do Samuel Wainer sabe que o clima começou a ficar pesado com o Getúlio justamente porque o Banco do Brasil, sob sua batuta, ousou dar um empréstimo para aquele "judeuzinho metido" montar uma cadeia de jornais que tinha condições de competir com eles, pois embora mais simpática ao ex-ditador que voltou nos braços do povo, a cadeia de jornais "Última Hora" foi feita por um jornalista experiente, criativo, que levou ótimas cabeças para trabalhar com ele e, com isso, arrebatou leitores, ameaçando os latifúndios de opinião da época, entre eles os Mesquita e os Marinho.
Em suma, mexer com essa turma é complicado. Sempre foi. Eles jogam o jogo sujo de quem tem muitos privilégios a preservar. Tinham sempre ótimos contatos e contratos com o Estado. E devem ter perdido nos últimos anos. São efetivamente competentes no que fazem, mas de repente, quem diria, estão efetivamente ameaçados.
Sempre achei que era incompetência da esquerda brasileira não ter conseguido nunca implantar um jornal diário mais progressista. Ter essa crônica dificuldade de ter veículos de comunicação que não sejam meros "lisonjeadores de fatos", parafraseando o Balzac. Afinal, jornalismo sempre vai ser, "publicar algo que alguém não quer ver publicado, o resto é publicidade", como bem definiu George Orwell.
De qualquer modo temos grandes jornalistas e corajosos editores, como o Mino Carta, que sempre levam adiante essa idéia. Mas é muito pouco para um país como o nosso, não é?
Mas pensando bem, o jogo contra essas iniciativas sempre foi bem pesado. Tanto é que que os próprios jornalistas, apegados a seus empregos e visibilidades nos grandes meios de comunicação, nunca tenham sequer conseguido se organizar e se unir para apoiar um Conselho Nacional de Jornalistas e tenham perdido a validade de seus diplomas, em uma época em que até flanelinha anda conseguindo ter registro profissional em Brasília.
Felizmente, na era dos blogs e das redes sociais, as pessoas agora buscam se informar de outras formas. Iniciam movimentos para cancelar assinaturas, como já houve no Rio Grande do Sul, com o "Zero Fora", e como parece ter ocorrido em São Paulo recentemente com a "Falha de S. Paulo".
Mas realmente alguma coisa de muito séria deve estar ameaçando eles com a possível continuidade do governo Lula através da Dilma. Só assim, um jornal com a credibilidade que tinha o Estadão, sempre claramente conservador, mas com articulistas arejados... dá esse vexame! Enfim, eles estão ficando nus para a sociedade brasileira.
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O episódio da demissão de Maria Rita Kehl do "Estadão" pelo que ela mesma denominou de "delito de opinião", por ter criticado em seu artigo semanal a desqualificação que se fazia do voto dos pobres nesta eleição, me encheu de esperanças de que talvez a era das nove famílias donas dos meios de comunicação do Brasil esteja mesmo chegando a seu ocaso.
Tudo bem. Sou meio otimista. Já vi um caso parecido com esse há anos atrás envolvendo o Veríssimo e a Zero Hora. Mas ele, que declarara voto ao PT ou a Lula, não me lembro mais, já era tão maior do que a Rede Brasil Sul de Comunicação que eles tiveram que continuar engolindo suas opiniões. Nada mudou muito. Mas foi um escândalo e tanto em Porto Alegre.
Mas os sinais desse ocaso dos barões da mídia já estavam evidentes nas últimas eleições presidenciais, em 2006, quando o Alkmin conseguiu chegar no segundo turno. Um correspondente espanhol, amigo meu, me chamou atenção para o fato de que ele nunca tinha visto uma situação em que a imprensa de um país simplesmente não tinha a menor conexão com a vontade e a opinião da maioria da população. Ele me deu a entender que lhe parecia que a mídia brasileira funcionava como um ente em separado de sua sociedade. Havia um fosso entre o que os colunistas e a maioria dos jornalistas publicava nos jornais e a opinião da população. Mas ele não falava da maioria esmagadora que não lia jornais. Falava das pessoas com quem ele convivia, com quem ele lidava fazendo seu trabalho, vivendo no Brasil.
Mas não se pode subestimar o poder dessa turma. Mais ou menos as mesmas famílias apoiaram o Golpe de 64, atemorizados com a "república sindicalista do Jango". Só não esperavam, junto com o Carlos Lacerda, que os milicos iam gostar de ficar no poder, não iam devolver o controle do Estado assim de mão beijada para eles, e até, que iam engrossar também com eles a partir de 68.
Mas tudo isso, afinal de contas começou antes. Quem leu o belo livro de memórias do Samuel Wainer sabe que o clima começou a ficar pesado com o Getúlio justamente porque o Banco do Brasil, sob sua batuta, ousou dar um empréstimo para aquele "judeuzinho metido" montar uma cadeia de jornais que tinha condições de competir com eles, pois embora mais simpática ao ex-ditador que voltou nos braços do povo, a cadeia de jornais "Última Hora" foi feita por um jornalista experiente, criativo, que levou ótimas cabeças para trabalhar com ele e, com isso, arrebatou leitores, ameaçando os latifúndios de opinião da época, entre eles os Mesquita e os Marinho.
Em suma, mexer com essa turma é complicado. Sempre foi. Eles jogam o jogo sujo de quem tem muitos privilégios a preservar. Tinham sempre ótimos contatos e contratos com o Estado. E devem ter perdido nos últimos anos. São efetivamente competentes no que fazem, mas de repente, quem diria, estão efetivamente ameaçados.
Sempre achei que era incompetência da esquerda brasileira não ter conseguido nunca implantar um jornal diário mais progressista. Ter essa crônica dificuldade de ter veículos de comunicação que não sejam meros "lisonjeadores de fatos", parafraseando o Balzac. Afinal, jornalismo sempre vai ser, "publicar algo que alguém não quer ver publicado, o resto é publicidade", como bem definiu George Orwell.
De qualquer modo temos grandes jornalistas e corajosos editores, como o Mino Carta, que sempre levam adiante essa idéia. Mas é muito pouco para um país como o nosso, não é?
Mas pensando bem, o jogo contra essas iniciativas sempre foi bem pesado. Tanto é que que os próprios jornalistas, apegados a seus empregos e visibilidades nos grandes meios de comunicação, nunca tenham sequer conseguido se organizar e se unir para apoiar um Conselho Nacional de Jornalistas e tenham perdido a validade de seus diplomas, em uma época em que até flanelinha anda conseguindo ter registro profissional em Brasília.
Felizmente, na era dos blogs e das redes sociais, as pessoas agora buscam se informar de outras formas. Iniciam movimentos para cancelar assinaturas, como já houve no Rio Grande do Sul, com o "Zero Fora", e como parece ter ocorrido em São Paulo recentemente com a "Falha de S. Paulo".
Mas realmente alguma coisa de muito séria deve estar ameaçando eles com a possível continuidade do governo Lula através da Dilma. Só assim, um jornal com a credibilidade que tinha o Estadão, sempre claramente conservador, mas com articulistas arejados... dá esse vexame! Enfim, eles estão ficando nus para a sociedade brasileira.
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Dom Demétrio e o desmonte de uma falácia
Reproduzo artigo de Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales (SP), publicado no sítio da Adital:
A questão do aborto está sendo instrumentalizada para fins eleitorais. Esta situação precisa ser esclarecida e denunciada.
Está sendo usada uma questão que merece toda a atenção e isenção de ânimo para ser bem situada e assumida com responsabilidade, e que não pode ficar exposta a manobras eleitorais, amparadas em sofismas enganadores.
Nesta campanha eleitoral está havendo uma dupla falácia, que precisa ser desmontada.
Em primeiro lugar, se invoca a autoridade da CNBB para posições que não são da entidade, nem contam com o apoio dela, mas se apresentam como se fossem manifestações oficiais da CNBB.
Em segundo lugar, se invoca uma causa de valor indiscutível e fundamental, como é a questão da vida, e se faz desta causa um instrumento para acusar de abortistas os adversários políticos, que assim passam a ser condenados como se estivessem contra a vida e a favor do aborto.
Concretamente, para deixar mais clara a falácia, e para urgir o seu desmonte:
A Presidência do Regional Sul 1 da CNBB incorreu, no mínimo, em sério equívoco quando apoiou a manifestação de comissões diocesanas, que sinalizavam claramente que não era para votar nos candidatos do PT, em especial na candidata Dilma.
Ora, os Bispos do Regional já tinham manifestado oficialmente sua posição diante do processo eleitoral. Por que a Presidência do Regional precisava dar apoio a um documento cujo teor evidentemente não correspondia à tradição de imparcialidade da CNBB? Esta atitude da Presidência do Regional Sul 1 compromete a credibilidade da CNBB, se não contar com urgente esclarecimento, que não foi feito ainda, alertando sobre o uso eleitoral que está sendo feito deste documento assinado pelos três bispos da presidência do Regional.
Esta falácia ainda está produzindo conseqüências. Pois no próprio dia das eleições foram distribuídos nas igrejas, ao arrepio da Lei Eleitoral, milhares de folhetos com a nota do Regional Sul 1, como se fosse um texto patrocinado pela CNBB Nacional. E enquanto este equívoco não for desfeito, infelizmente a declaração da Presidência do Regional Sul 1 da CNBB continua à disposição da volúpia desonesta de quem a está explorando eleitoralmente. Prova deste fato lamentável é a fartura como está sendo impressa e distribuída.
Diante da gravidade deste fato, é bem vindo um esclarecedor pronunciamento da Presidência Nacional da CNBB, que honrará a tradição de prudência e de imparcialidade da instituição.
A outra falácia é mais sutil, e mais perversa. Consiste em arvorar-se em defensores da vida, para acusar de abortistas os adversários políticos, para assim impugná-los como candidatos, alegando que não podem receber o voto dos católicos.
Usam de artifício, para fazerem de uma causa justa o pretexto de propaganda política contra seus adversários, e o que é pior, invocando para isto a fé cristã e a Igreja Católica.
Mas esta falácia não pára aí. Existe nela uma clara posição ideológica, traduzida em opção política reacionária. Nunca relacionam o aborto com as políticas sociais que precisam ser empreendidas em favor da vida.
Votam, sem constrangimento, no sistema que produz a morte, e se declaram em favor da vida.
Em nome da fé, julgam-se no direito de condenar todos os que discordam de suas opções políticas. Pretendem revestir de honestidade, uma manobra que não consegue esconder seu intento eleitoral.
Diante desta situação, são importantes, e necessários, os esclarecimentos. Mais importante ainda é a vigilância do eleitor, que tem todo o direito de saber das coisas, também aquelas tramadas com astúcia e malícia.
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A questão do aborto está sendo instrumentalizada para fins eleitorais. Esta situação precisa ser esclarecida e denunciada.
Está sendo usada uma questão que merece toda a atenção e isenção de ânimo para ser bem situada e assumida com responsabilidade, e que não pode ficar exposta a manobras eleitorais, amparadas em sofismas enganadores.
Nesta campanha eleitoral está havendo uma dupla falácia, que precisa ser desmontada.
Em primeiro lugar, se invoca a autoridade da CNBB para posições que não são da entidade, nem contam com o apoio dela, mas se apresentam como se fossem manifestações oficiais da CNBB.
Em segundo lugar, se invoca uma causa de valor indiscutível e fundamental, como é a questão da vida, e se faz desta causa um instrumento para acusar de abortistas os adversários políticos, que assim passam a ser condenados como se estivessem contra a vida e a favor do aborto.
Concretamente, para deixar mais clara a falácia, e para urgir o seu desmonte:
A Presidência do Regional Sul 1 da CNBB incorreu, no mínimo, em sério equívoco quando apoiou a manifestação de comissões diocesanas, que sinalizavam claramente que não era para votar nos candidatos do PT, em especial na candidata Dilma.
Ora, os Bispos do Regional já tinham manifestado oficialmente sua posição diante do processo eleitoral. Por que a Presidência do Regional precisava dar apoio a um documento cujo teor evidentemente não correspondia à tradição de imparcialidade da CNBB? Esta atitude da Presidência do Regional Sul 1 compromete a credibilidade da CNBB, se não contar com urgente esclarecimento, que não foi feito ainda, alertando sobre o uso eleitoral que está sendo feito deste documento assinado pelos três bispos da presidência do Regional.
Esta falácia ainda está produzindo conseqüências. Pois no próprio dia das eleições foram distribuídos nas igrejas, ao arrepio da Lei Eleitoral, milhares de folhetos com a nota do Regional Sul 1, como se fosse um texto patrocinado pela CNBB Nacional. E enquanto este equívoco não for desfeito, infelizmente a declaração da Presidência do Regional Sul 1 da CNBB continua à disposição da volúpia desonesta de quem a está explorando eleitoralmente. Prova deste fato lamentável é a fartura como está sendo impressa e distribuída.
Diante da gravidade deste fato, é bem vindo um esclarecedor pronunciamento da Presidência Nacional da CNBB, que honrará a tradição de prudência e de imparcialidade da instituição.
A outra falácia é mais sutil, e mais perversa. Consiste em arvorar-se em defensores da vida, para acusar de abortistas os adversários políticos, para assim impugná-los como candidatos, alegando que não podem receber o voto dos católicos.
Usam de artifício, para fazerem de uma causa justa o pretexto de propaganda política contra seus adversários, e o que é pior, invocando para isto a fé cristã e a Igreja Católica.
Mas esta falácia não pára aí. Existe nela uma clara posição ideológica, traduzida em opção política reacionária. Nunca relacionam o aborto com as políticas sociais que precisam ser empreendidas em favor da vida.
Votam, sem constrangimento, no sistema que produz a morte, e se declaram em favor da vida.
Em nome da fé, julgam-se no direito de condenar todos os que discordam de suas opções políticas. Pretendem revestir de honestidade, uma manobra que não consegue esconder seu intento eleitoral.
Diante desta situação, são importantes, e necessários, os esclarecimentos. Mais importante ainda é a vigilância do eleitor, que tem todo o direito de saber das coisas, também aquelas tramadas com astúcia e malícia.
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