Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:
Já passava das 2 da manhã desse domingo. Na porta da gráfica Pana, no Cambuci, um grupo de 50 a 60 pessoas seguia de plantão – para evitar a distribuição dos panfletos (supostamente encomendados pelo bispo católico de Guarulhos) recheados de mistificação religiosa e de ataques contra a candidata Dilma Rousseff. Mais um capítulo da guerra suja travada nessa que já é a mais imunda eleição presidencial, desde a redemocratização do Brasil.
Na internet, durante a madrugada, outro plantão rolava: tuiteiros, blogueiros e leitores de todo o Brasil buscavam informações sobre os donos da gráfica, e sobre as possíveis conexões deles com o mundo político.
Stanley Burburinho (ele mesmo!) e Carlos Teixeira fizeram o trabalho. Troquei com eles algumas dezenas de mensagens. E essa apuração colaborativa levou à descoberta: uma das sócias da gráfica Pana é filiada ao PSDB, desde 1991!
Trata-se de Arlety Satiko Kobayashi, vinculada ao diretório da Bela Vista - região central de São Paulo. Nenhum problema com a filiação de Arlety ao partido que bem entender. O problema é que a gráfica dela foi usada para imprimir panfletos aparentemente encomendados por um bispo, mas que “coincidentemente”, favorecem ao candidato do partido dela.
Aqui, o contrato social da empresa – onde Arlety Kobayashi aparece como uma das sócias: contrato_social_grafica_pana[1]
E aqui a lista de filados do PSDB, onde ela aparece no diretório zonal da Bela Vista.
Mais um detalhe: Arlety é também funcionária pública, tem cargo na Assembléia Legislativa de São Paulo. E tem um sobrenome com história entre os tucanos: Kobayashi. Paulo Kobayashi ajudou a fundar o partido, ao lado de Covas, foi vereador e deputado por São Paulo.
Arlety aparece como doadora da campanha de Victor Kobayashi ao cargo de vereador, em 2008. Victor concorreu pelo PSDB.
A conexão está clara. Os tucanos precisam explicar:
- por que o panfleto com calúnias contra Dilma foi impresso na gráfica de uma militante do PSDB?
- quem pagou: o bispo de Guarulhos, algum partido, ou a Igreja?
- onde seriam distribuídos os panfletos?
- onde estão os outros milhares de panfletos?
Os panfletos do Cambuci são mais uma prova da conexão nefasta que, nessa eleição, aproximou os tucanos da direita religiosa – jogando no lixo a história de Covas, Montoro e tantos outros que lutaram para criar um partido “moderno”, que renovasse os costumes políticos do país. Serra lançou esse passado no esgoto – e promoveu uma campanha movida a furor religioso.
Mas não é só isso!
Se Arlety Kobayashi (uma tucana) é a responsável pela impressão dos panfletos, na outra ponta quem é o sujeito que encomendou tudo?
O Blog “NaMaria” traz a investigação completa, que aponta Kelmon Luis da S. Souza como o autor da “encomenda”. Ele teria ligações com movimentos integralistas e monarquistas!
O Blog do Nassif , por sua vez, mostra que as conexões poderiam chegar até bem perto de Índio da Costa (DEM), o vice de Serra. Ele, em algum momento, também teve proximidade com monarquistas. Mas esse detalhe ainda não está bem esclarecido.
De toda forma, o círculo se fecha: tucanos, demos e a extrema-direita (católica, integralista ou monarquista). Todos unificados numa barafunda eleitoral que arrastou nomes de bispos para a delegacia, e nomes de políticos para o rol daqueles que apostam na guerra de religiões como arma eleitoral.
Há mais mistérios entre o céu e o Serra do que supõe nossa vã filosofia. Paulo Preto é um deles. A gráfica do Cambuci parece ser outro. Mistérios que não serão decifrados por teólogos, mas por delegados e agentes federais.
É caso de polícia. E não de religião.
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domingo, 17 de outubro de 2010
Crime eleitoral e a resposta da CNBB
Reproduzo a "carta aberta à CNBB", publicada no blog Viomundo e redigida por Marcelo Zelic, vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e coordenador do Projeto Armazém Memória:
Carta Aberta à CNBB.
São Paulo 17 de outubro de 2010.
Como membro da CJP-SP fui chamado pelo Deputado Estadual Adriano Diogo a registrar o flagrante de crime eleitoral na Editora Gráfica Pana LTDA, que foi contratada pelo Bispo Diocesano de Guarulhos para reproduzir 2,1 milhões de panfletos falsos da CNBB e estava para distribuir, ontem, pelo país 1,1 milhão de cópias do material e fiz estes registros, por ter ciência da orientação de nossa Comissão Brasileira de Justiça e Paz a partir do documento que li, recebido dias atrás sobre a falsificação de panfleto em nome da CNBB.
A encomenda foi realizada a pedido Mitra Diocesana de Guarulhos conforme imagens abaixo, a saber: email de encomenda, cópia do boleto bancário e carta de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini ao Pe. Jean Rogers Rodrigo de Souza, solicitando distribuição, que encaminho também anexo para divulgação, uma vez que constituem a documentação probatória da encomenda e do crime eleitoral praticado.
A gráfica iria entregar 2,1 milhões de panfletos, cuja informação fornecida pelo gerente da empresa pego em flagrante, pode variar em sua tiragem de 20 a 50 milhões. Foram apreendidos somente 1 milhão dos panfletos falsos, cuja liminar de apreensão já foi expedida pelo juiz responsável. Isso significa que muitos panfletos podem ter sido feitos em outras gráficas e continuarão a ser distribuído pelo país, caso não haja uma ação efetiva da CNBB.
Penso que nossos Bispos devam considerar, dada a gravidade dos fatos, encaminhar a Nota de Esclarecimento elaborada no encontro de Itaici, para ser lida em todas as paróquias, em todas as missas do próximo domingo, sua publicação no Jornal O São Paulo e demais revistas e jornais católicos, bem como a leitura nas Tvs e rádios da igreja, buscando por fim ao assunto.
Recomendo esta atitude para nossos pastores reunidos em Itaici, entendendo ser este um gesto que favorecerá a distensão dos mal-entendidos provocados, visando o amplo esclarecimento dos fiéis que receberam tal documento apócrifo e criminoso, sobre a real posição de nossos bispos do Regional 1 e da CNBB, contribuindo desta forma para serenarmos os conflitos gerados entre os católicos, reafirmando a integridade da CNBB e reforçando a cidadania, a democracia e a livre escolha de todos os brasileiros, tão atingidas com esta manifestação difamatória, que desvirtua o foco do debate que interessa à nação e o sentido das eleições de 2010.
A cizânia que a calúnia, as ofensas e as mentiras imputadas geram entre aos cristãos, por ações como está promovida pelo Bispo Diocesano de Guarulhos, estão explicitadas de forma dramática nos fatos que ocorreram hoje em Canindé, no Ceará, onde a missa acabou em tumulto, uma vez que o padre corretamente informou aos presentes que o documento que estava sendo distribuído na missa era falso e acabou sendo atacado por um político, durante a celebração. Pergunto aos nossos Bispos da CNBB; quando na igreja uma missa tão tradicional como a de Canindé, acabou desta maneira? Os fatos demonstram a gravidade do momento e a tentativa de aparelhamento do sentimento religioso em nosso país, conforme nota publicada pela CNBB.
Faz-nos refletir a justeza das palavras da candidata Dilma Rousseff, divulgadas na imprensa recentemente, sobre a campanha de ódio que estas ações subterrâneas estão gerando nos corações e mentes dos brasileiros por todo nosso país. Isso pode ficar mais grave ainda, se não for feita uma ampla campanha de esclarecimento junto aos fiéis. A CNBB e o país tem muito a perder com isso. É preciso por um basta a esta campanha baseada na mentira, na calúnia, na difamação!
Só a Verdade nos libertará.
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Carta Aberta à CNBB.
São Paulo 17 de outubro de 2010.
Como membro da CJP-SP fui chamado pelo Deputado Estadual Adriano Diogo a registrar o flagrante de crime eleitoral na Editora Gráfica Pana LTDA, que foi contratada pelo Bispo Diocesano de Guarulhos para reproduzir 2,1 milhões de panfletos falsos da CNBB e estava para distribuir, ontem, pelo país 1,1 milhão de cópias do material e fiz estes registros, por ter ciência da orientação de nossa Comissão Brasileira de Justiça e Paz a partir do documento que li, recebido dias atrás sobre a falsificação de panfleto em nome da CNBB.
A encomenda foi realizada a pedido Mitra Diocesana de Guarulhos conforme imagens abaixo, a saber: email de encomenda, cópia do boleto bancário e carta de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini ao Pe. Jean Rogers Rodrigo de Souza, solicitando distribuição, que encaminho também anexo para divulgação, uma vez que constituem a documentação probatória da encomenda e do crime eleitoral praticado.
A gráfica iria entregar 2,1 milhões de panfletos, cuja informação fornecida pelo gerente da empresa pego em flagrante, pode variar em sua tiragem de 20 a 50 milhões. Foram apreendidos somente 1 milhão dos panfletos falsos, cuja liminar de apreensão já foi expedida pelo juiz responsável. Isso significa que muitos panfletos podem ter sido feitos em outras gráficas e continuarão a ser distribuído pelo país, caso não haja uma ação efetiva da CNBB.
Penso que nossos Bispos devam considerar, dada a gravidade dos fatos, encaminhar a Nota de Esclarecimento elaborada no encontro de Itaici, para ser lida em todas as paróquias, em todas as missas do próximo domingo, sua publicação no Jornal O São Paulo e demais revistas e jornais católicos, bem como a leitura nas Tvs e rádios da igreja, buscando por fim ao assunto.
Recomendo esta atitude para nossos pastores reunidos em Itaici, entendendo ser este um gesto que favorecerá a distensão dos mal-entendidos provocados, visando o amplo esclarecimento dos fiéis que receberam tal documento apócrifo e criminoso, sobre a real posição de nossos bispos do Regional 1 e da CNBB, contribuindo desta forma para serenarmos os conflitos gerados entre os católicos, reafirmando a integridade da CNBB e reforçando a cidadania, a democracia e a livre escolha de todos os brasileiros, tão atingidas com esta manifestação difamatória, que desvirtua o foco do debate que interessa à nação e o sentido das eleições de 2010.
A cizânia que a calúnia, as ofensas e as mentiras imputadas geram entre aos cristãos, por ações como está promovida pelo Bispo Diocesano de Guarulhos, estão explicitadas de forma dramática nos fatos que ocorreram hoje em Canindé, no Ceará, onde a missa acabou em tumulto, uma vez que o padre corretamente informou aos presentes que o documento que estava sendo distribuído na missa era falso e acabou sendo atacado por um político, durante a celebração. Pergunto aos nossos Bispos da CNBB; quando na igreja uma missa tão tradicional como a de Canindé, acabou desta maneira? Os fatos demonstram a gravidade do momento e a tentativa de aparelhamento do sentimento religioso em nosso país, conforme nota publicada pela CNBB.
Faz-nos refletir a justeza das palavras da candidata Dilma Rousseff, divulgadas na imprensa recentemente, sobre a campanha de ódio que estas ações subterrâneas estão gerando nos corações e mentes dos brasileiros por todo nosso país. Isso pode ficar mais grave ainda, se não for feita uma ampla campanha de esclarecimento junto aos fiéis. A CNBB e o país tem muito a perder com isso. É preciso por um basta a esta campanha baseada na mentira, na calúnia, na difamação!
Só a Verdade nos libertará.
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Panfletos da CNBB e suas relações obscuras
Reproduzo grave denúncia publicada no blog NaMariaNews:
A desgraça dos panfletos contra a Dilma, que "supostamente" bispos da CNBB mandaram imprimir na Gráfica Pana, no Cambuci, tem em documento de encomenda/fatura o e-mail de um senhor chamado "kelmon.luis@theotokianos.org.br" (Kelmon Luis da S. Souza).
Ora, trata-se do e-mail da Associação Theotokos, da qual o Sr. Kelmon é o presidente.
Pelo RegistroBR sabe-se que o site está em nome da Casa de Plínio Salgado, que por sua vez é isto (credo!).
Será o benedito que a santa madre igreja tá nesse terror de mandar essa gente mandar uma gráfica fazer e entregar panfleto mentiroso, descarado, sórdido e podre no Paraíso, Barra Funda e Rua do Bosque? E quem paga é a Mitra Diocesana de Guarulhos?
Que relações são essas?
Desculpe, sou alma ingênua.
Atualizações
O dono da Editora Gráfica Pana LTDA é Alexandre Takeshi Ogawa. O pai, Paulo Ogawa, que aparece no vídeo é o "contador". Sócia da gráfica é Arlety Satiko Kobayashi, funcionária pública da Assembleia Legislativa de SP (ver DO: matrícula 5057); filiada do PSDB do bairro da Bela Vista; décima maior doadora da campanha de Victor Kobayashi (vereador suplente PSDB, 2008; em 2010 candidato a deputado estadual, não eleito), que por sua vez é filho do também político Paulo Kobayashi, falecido, e que solta belezas difamatórias no Twitter.
2.100.000 panfletos, por R$33 mil - Quem paga?
Atualizações
Por que os panfletos teriam de ser entregues na Barra Funda, na Rua do Bosque (que também é Barra Funda) e no bairro do Paraíso? O que a Mitra Diocesana teria a ver nesses lugares? Qual é a rede nessa história?
A Associação Theotokos fica exatamente na Rua do Bosque, 1903 - Barra Funda - São Paulo - CEP 11360-001 - essa casa abaixo. Para onde iriam os panfletos depois daí?
Ler mais: http://namarianews.blogspot.com/2010/10/os-panfletos-mentirosos-da-cnbb-e-suas.html#ixzz12d7aTHYI
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A desgraça dos panfletos contra a Dilma, que "supostamente" bispos da CNBB mandaram imprimir na Gráfica Pana, no Cambuci, tem em documento de encomenda/fatura o e-mail de um senhor chamado "kelmon.luis@theotokianos.org.br" (Kelmon Luis da S. Souza).
Ora, trata-se do e-mail da Associação Theotokos, da qual o Sr. Kelmon é o presidente.
Pelo RegistroBR sabe-se que o site está em nome da Casa de Plínio Salgado, que por sua vez é isto (credo!).
Será o benedito que a santa madre igreja tá nesse terror de mandar essa gente mandar uma gráfica fazer e entregar panfleto mentiroso, descarado, sórdido e podre no Paraíso, Barra Funda e Rua do Bosque? E quem paga é a Mitra Diocesana de Guarulhos?
Que relações são essas?
Desculpe, sou alma ingênua.
Atualizações
O dono da Editora Gráfica Pana LTDA é Alexandre Takeshi Ogawa. O pai, Paulo Ogawa, que aparece no vídeo é o "contador". Sócia da gráfica é Arlety Satiko Kobayashi, funcionária pública da Assembleia Legislativa de SP (ver DO: matrícula 5057); filiada do PSDB do bairro da Bela Vista; décima maior doadora da campanha de Victor Kobayashi (vereador suplente PSDB, 2008; em 2010 candidato a deputado estadual, não eleito), que por sua vez é filho do também político Paulo Kobayashi, falecido, e que solta belezas difamatórias no Twitter.
2.100.000 panfletos, por R$33 mil - Quem paga?
Atualizações
Por que os panfletos teriam de ser entregues na Barra Funda, na Rua do Bosque (que também é Barra Funda) e no bairro do Paraíso? O que a Mitra Diocesana teria a ver nesses lugares? Qual é a rede nessa história?
A Associação Theotokos fica exatamente na Rua do Bosque, 1903 - Barra Funda - São Paulo - CEP 11360-001 - essa casa abaixo. Para onde iriam os panfletos depois daí?
Ler mais: http://namarianews.blogspot.com/2010/10/os-panfletos-mentirosos-da-cnbb-e-suas.html#ixzz12d7aTHYI
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José Serra, o exterminador do futuro
Reproduzo artigo do jornalista e economista José Carlos de Assis, publicado no sítio Carta Maior:
Em 1987, ano da Constituinte, encontrei com José Serra no plenário da Câmara dos Deputados aonde fui discutir com alguns parlamentares temas da Seguridade Social. Vi-o muito atarefado com um monte de papel na mão recolhendo assinaturas de deputados. Como o conhecia desde a campanha das diretas, sendo um admirador de suas posições econômicas, me aproximei e perguntei-lhe do que se tratava. É uma emenda para bloquear os recursos propostos por Sarney para a construção da Ferrovia Norte-Sul, esclareceu. Como?, perguntei surpreso; a Norte-Sul é uma obra importante para o Centro-Oeste e para o país, Serra! “Mas que não seja para desequilibrar as contas públicas”, justificou ele, indiferente ao fato de que a Norte-Sul era, de fato, a única grande obra de infra-estrutura tentada por Sarney.
No ano seguinte, o Brasil vivia uma das piores crises inflacionárias de sua história depois do fracasso do Plano Cruzado. Num movimento desesperado para tentar recuperar a estabilidade econômica e relançar o desenvolvimento, tive autorização do presidente da Confederação Nacional da Indústria, Senador Albano Franco, de quem era assessor, para tentar articular um pacto social liderado por empresários e trabalhadores a fim de propor uma alternativa viável, porém não convencional, para a dívida externa, articulada a um programa de relançamento dos investimentos de infra-estrutura. Em síntese, como estávamos em moratória externa, tratava-se de pagar dívida, sim, mas em moeda interna, orientando os recursos forçosamente para investimentos novos na infra-estrutura.
O documento central do Pacto Social chegou a ser assinado por representantes dos trabalhadores e do patronato, a despeito de uma resistência feroz do então ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, empenhado em fazer um acordo convencional com os banqueiros, que se revelou preliminar de uma nova moratória. No curso dessas discussões, levamos o tema do pacto a alguns líderes no Congresso, com outras sugestões. Entre elas, a de reduzir o imposto de renda na base da pirâmide e ter como compensação o acréscimo de uma alíquota marginal para os ricos. No momento em que se discutia isso Serra apareceu na sala e fulminou a proposta, sob a alegação de que não se podia aumentar impostos, mesmo que isso fosse para aliviar os menos favorecidos.
Não me encontrei com Serra no Governo Fernando Henrique. Encontrei-me com Malan, outro dos principais auxiliares de FHC, que me afirmou peremptoriamente que um crescimento de 3,5% do PIB seria perfeitamente satisfatório para o Brasil porque, na década de 90, a taxa de crescimento populacional havia caído! A propósito, um amigo comum me afirmou que, em 1995, assustado com a crise mexicana, Serra advogou decisivamente por uma freada do crescimento brasileiro, que vinha se recuperando com o Plano Real, sob o argumento do risco inflacionário. Como conseqüência, a mediocridade de crescimento iria imperar ao longo de todo o Governo FHC, em especial em função de uma política cambial irresponsável, sem que Serra movesse uma única palha contra.
Portanto, caveant, brasileiros: a República está em risco. Uma distração apenas e elegeremos um contador fiscalista como Presidente, obcecado pela idéia de cortar gastos públicos a qualquer custo, capaz de enterrar a curto prazo com as grandes potencialidades de crescimento que temos, sobretudo depois do segundo mandato do Governo Lula: o mandato efetivamente coordenado por Dilma na Casa Civil. O que está em jogo não é a cadeira presidencial. É o futuro do Brasil. Fala-se em educação, fala-se em saúde, fala-se em aumento de salário mínimo... mas de onde virá o dinheiro para tudo isso, senão do crescimento da economia? Foi o crescimento que permitiu a Lula fazer os programas sociais que fez e reduzir drasticamente o desemprego. Sem ele, perderemos mais uma vez o trem da história.
Sim, porque estamos quase em pleno emprego. Para atingi-lo, será necessário ampliar, e não reduzir gastos públicos. E isso é perfeitamente possível sem gerar inflação. Temos uma dívida pública de pouco mais de 40% do PIB, uma das mais baixas do mundo. Há folga fiscal para crescer. E as pressões inflacionárias, aqui como em todo o mundo, estão longe de representar qualquer risco. Caveat, eleitor! Depois de anos de paralisação quase total do investimento público, sobretudo no período Fernando Henrique/Serra, temos grandes obras em andamento, de aeroportos a hidrelétricas, gerando dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos. E o risco que se corre não é de um deputado isolado, mesmo que influente, correndo pelo plenário da Câmara para bloquear um investimento público essencial. Seria de ter no Planalto um presidente que simplesmente não proporá ao Congresso os investimentos necessários. Nessa perspectiva, não seria eleito um presidente da República. Seria eleito o exterminador do futuro. O nosso!
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Em 1987, ano da Constituinte, encontrei com José Serra no plenário da Câmara dos Deputados aonde fui discutir com alguns parlamentares temas da Seguridade Social. Vi-o muito atarefado com um monte de papel na mão recolhendo assinaturas de deputados. Como o conhecia desde a campanha das diretas, sendo um admirador de suas posições econômicas, me aproximei e perguntei-lhe do que se tratava. É uma emenda para bloquear os recursos propostos por Sarney para a construção da Ferrovia Norte-Sul, esclareceu. Como?, perguntei surpreso; a Norte-Sul é uma obra importante para o Centro-Oeste e para o país, Serra! “Mas que não seja para desequilibrar as contas públicas”, justificou ele, indiferente ao fato de que a Norte-Sul era, de fato, a única grande obra de infra-estrutura tentada por Sarney.
No ano seguinte, o Brasil vivia uma das piores crises inflacionárias de sua história depois do fracasso do Plano Cruzado. Num movimento desesperado para tentar recuperar a estabilidade econômica e relançar o desenvolvimento, tive autorização do presidente da Confederação Nacional da Indústria, Senador Albano Franco, de quem era assessor, para tentar articular um pacto social liderado por empresários e trabalhadores a fim de propor uma alternativa viável, porém não convencional, para a dívida externa, articulada a um programa de relançamento dos investimentos de infra-estrutura. Em síntese, como estávamos em moratória externa, tratava-se de pagar dívida, sim, mas em moeda interna, orientando os recursos forçosamente para investimentos novos na infra-estrutura.
O documento central do Pacto Social chegou a ser assinado por representantes dos trabalhadores e do patronato, a despeito de uma resistência feroz do então ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, empenhado em fazer um acordo convencional com os banqueiros, que se revelou preliminar de uma nova moratória. No curso dessas discussões, levamos o tema do pacto a alguns líderes no Congresso, com outras sugestões. Entre elas, a de reduzir o imposto de renda na base da pirâmide e ter como compensação o acréscimo de uma alíquota marginal para os ricos. No momento em que se discutia isso Serra apareceu na sala e fulminou a proposta, sob a alegação de que não se podia aumentar impostos, mesmo que isso fosse para aliviar os menos favorecidos.
Não me encontrei com Serra no Governo Fernando Henrique. Encontrei-me com Malan, outro dos principais auxiliares de FHC, que me afirmou peremptoriamente que um crescimento de 3,5% do PIB seria perfeitamente satisfatório para o Brasil porque, na década de 90, a taxa de crescimento populacional havia caído! A propósito, um amigo comum me afirmou que, em 1995, assustado com a crise mexicana, Serra advogou decisivamente por uma freada do crescimento brasileiro, que vinha se recuperando com o Plano Real, sob o argumento do risco inflacionário. Como conseqüência, a mediocridade de crescimento iria imperar ao longo de todo o Governo FHC, em especial em função de uma política cambial irresponsável, sem que Serra movesse uma única palha contra.
Portanto, caveant, brasileiros: a República está em risco. Uma distração apenas e elegeremos um contador fiscalista como Presidente, obcecado pela idéia de cortar gastos públicos a qualquer custo, capaz de enterrar a curto prazo com as grandes potencialidades de crescimento que temos, sobretudo depois do segundo mandato do Governo Lula: o mandato efetivamente coordenado por Dilma na Casa Civil. O que está em jogo não é a cadeira presidencial. É o futuro do Brasil. Fala-se em educação, fala-se em saúde, fala-se em aumento de salário mínimo... mas de onde virá o dinheiro para tudo isso, senão do crescimento da economia? Foi o crescimento que permitiu a Lula fazer os programas sociais que fez e reduzir drasticamente o desemprego. Sem ele, perderemos mais uma vez o trem da história.
Sim, porque estamos quase em pleno emprego. Para atingi-lo, será necessário ampliar, e não reduzir gastos públicos. E isso é perfeitamente possível sem gerar inflação. Temos uma dívida pública de pouco mais de 40% do PIB, uma das mais baixas do mundo. Há folga fiscal para crescer. E as pressões inflacionárias, aqui como em todo o mundo, estão longe de representar qualquer risco. Caveat, eleitor! Depois de anos de paralisação quase total do investimento público, sobretudo no período Fernando Henrique/Serra, temos grandes obras em andamento, de aeroportos a hidrelétricas, gerando dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos. E o risco que se corre não é de um deputado isolado, mesmo que influente, correndo pelo plenário da Câmara para bloquear um investimento público essencial. Seria de ter no Planalto um presidente que simplesmente não proporá ao Congresso os investimentos necessários. Nessa perspectiva, não seria eleito um presidente da República. Seria eleito o exterminador do futuro. O nosso!
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Por que Paulo Preto apavora Serra?
Reproduzo reportagem de Sérgio Pardellas e Claudio Dantas Sequeira, intitulada "O poderoso Paulo Preto", publicada na revista IstoÉ desta semana:
Como candidato à Presidência da República, José Serra deve explicações mais detalhadas à sociedade brasileira. Elas se referem a um nome umbilicalmente ligado à cúpula do PSDB, mas de pouca exposição pública até dois meses atrás: Paulo Vieira de Souza, conhecido dentro das hostes tucanas como Paulo Preto. Desde que a candidata do PT, Dilma Rousseff, pronunciou o nome de Paulo Preto no debate realizado pela Rede Bandeirantes no domingo 10, Serra se viu envolvido em um enredo de contradições e mistério do qual vinha se esquivando desde agosto passado, quando ISTOÉ publicou denúncia segundo a qual o engenheiro Paulo Souza, ex-diretor da estatal Dersa na gestão tucana em São Paulo, era acusado por líderes do seu próprio partido de desaparecer com pelo menos R$ 4 milhões arrecadados de forma ilegal para a campanha eleitoral do PSDB.
Na época, a reportagem baseou-se em entrevistas, várias delas gravadas, com 13 dos principais dirigentes tucanos, que apontavam o dedo na direção de Souza para explicar a minguada arrecadação que a candidatura de Serra obtivera até então. Depois de publicada a denúncia, o engenheiro disparou telefonemas para vários líderes, dois deles com cargos no comando da campanha presidencial, e, apesar da gravidade das acusações, os tucanos não se manifestaram, numa clara opção por abafar o assunto. O próprio presidenciável Serra optou pelo silêncio. Então, mesmo com problemas de caixa e reclamações de falta de recursos se espalhando pelos diretórios regionais, o PSDB preferiu jogar o assunto para debaixo do tapete.
No debate da Rede Bandeirantes, Serra mais uma vez silenciou. Instado por Dilma a falar sobre o envolvimento de Paulo Preto no escândalo do sumiço da dinheirama, não respondeu. Mas o pavio de um tema explosivo estava aceso e Serra passou a ser questionado pela imprensa em cada evento que participou. E, quando ele falou, se contradisse, apresentando versões diametralmente diferentes em um período de 24 horas. Na segunda-feira 11, em Goiânia (GO), em sua primeira manifestação sobre o caso, o candidato do PSDB negou conhecer o engenheiro. “Não sei quem é o Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado para que vocês (jornalistas) fiquem perguntando.” A declaração provocou uma reação imediata. Na terça-feira 12, a “Folha de S.Paulo” publicou uma entrevista em que o engenheiro, oficialmente um desconhecido para Serra, fazia ameaças ao candidato tucano. “Ele (Serra) me conhece muito bem. Até por uma questão de satisfação ao País, ele tem que responder. Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam este erro”, disparou Paulo Preto. Serra demonstrou ter acusado o golpe. Horas depois da publicação da entrevista, em evento em Aparecida (SP), o candidato recuou. Com memória renovada, saiu em defesa do ex-diretor do Dersa.
Como se jamais tivesse tratado deste assunto antes, Serra afirmou: “Evidente que eu sabia do trabalho do Paulo Souza, que é considerado uma pessoa muito competente e ganhou até o prêmio de engenheiro do ano. A acusação contra ele é injusta. Ele é totalmente inocente. Nunca recebi nenhuma acusação a respeito dele durante sua atuação no governo”. Aos eleitores, restou uma dúvida: em qual Serra o eleitor deve acreditar? Naquele que diz não conhecer o engenheiro ou naquele que elogia o profissional acusado pelo próprio PSDB de desviar R$ 4 mihões da campanha? As idas e vindas de Serra suscitam outras questões relevantes às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais: por que o tema lhe causou tanto constrangimento? O que Serra teria a temer para, em menos de 24 horas, se expor publicamente emitindo opiniões tão distintas sobre o mesmo tema?
Ainda está envolto em mistério o que Paulo Preto teria na manga para emparedar Serra. A movimentação do engenheiro nas horas que sucederam o debate da Rede Bandeirantes mostra claramente como ele é influente, poderoso e temido nas hostes tucanas. Conforme apurou ISTOÉ, logo depois do programa, Paulo Preto, bastante irritado por não ter sido defendido pelo candidato do PSDB, começou a telefonar para integrantes do partido. Um deles, seu padrinho político, o ex-chefe da Casa Civil de São Paulo, senador eleito Aloysio Nunes Ferreira, que deixou o debate logo que o nome do engenheiro foi mencionado. Outras duas chamadas, ainda de madrugada, foram para as residências de um secretário do governo paulista e de um dos coordenadores da campanha de Serra em São Paulo.
Nas conversas, Paulo Preto disse que não ia admitir ser abandonado pelo partido. E que iria “abrir o verbo”, caso continuasse apanhando sozinho. Com a defesa de Serra, alcançou o que queria. Para os dirigentes do partido restou o enorme desconforto de passarem o resto da semana promovendo contorcionismos verbais para defender as ações de um personagem que acusavam dois meses antes. Em agosto, o PSDB vivia outro momento político, vários líderes tucanos reclamavam do estilo “centralizador e arrogante” de Serra, tinham dificuldades para arrecadar recursos e vislumbravam uma iminente derrota nas urnas. Agora, disputando o segundo turno e sob a ameaça de Paulo Preto, promovem uma ação orquestrada para procurar desqualificar as denúncias que eles próprios fizeram. “Às vésperas da eleição podemos ganhar o jogo. Portanto, não vou dizer nada a respeito do Paulo Preto”, disse uma das principais lideranças do partido na noite da quarta-feira 13. Esse mesmo tucano, em agosto, revelara detalhes sobre a atuação do engenheiro na obra do trecho sul do rodoanel.
“Não é hora de remexer com o Paulo Preto. Isso poderá colocar em risco nossa vitória”, afirmou na manhã da quinta-feira 14 um membro da Executiva Nacional do partido, que em agosto acusara o engenheiro de desviar R$ 4 milhões da campanha. “Em agosto, depois da reportagem de ISTOÉ, procuramos empresários e eles negaram que Paulo Preto tenha pedido contribuições”, disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Se fez de fato esse movimento, Guerra não teve pressa em revelá-lo. Só foi fazê-lo agora, pressionado pelas declarações do engenheiro.
Diferentemente do que alegou Serra em sua primeira declaração, Paulo Preto está longe de ser um desconhecido, principalmente nas altas esferas do PSDB. Ele já havia sido alvo de reportagens de veículos como “Veja” (que o chamou de “o homem-bomba do PSDB”) e “Folha de S.Paulo” . Para um político que se apresenta como um gestor atento a todos os movimentos de seus comandados, é difícil crer que o então governador Serra estivesse alheio a notícias envolvendo um dirigente da estatal que executa as principais obras do governo paulista. Além disso, Serra não pode afirmar não ter sido alertado sobre os métodos do engenheiro.
Em novembro do ano passado, em e-mail enviado ao então governador Serra, o vice Alberto Goldman já dizia que o ex-diretor do Dersa era “incontrolável”. “Ele (Paulo Preto) é vaidoso e arrogante. Fala mais do que deve, sempre. Parece que ninguém consegue controlá-lo. Julga-se o super-homem.” A mensagem eletrônica também foi remetida ao secretário de Transportes, Mauro Arce, a quem o Dersa é subordinado. “Não tenho qualquer poder de barrar ações. Mas tenho o direito, e a obrigação, de opinar e tentar evitar desgastes desnecessários”, ponderou Goldman. Os e-mails deixam claro que não estava se falando sobre um funcionário qualquer do governo. Afinal, não é corriqueiro um vice-governador perder tempo discutindo com o governador do maior Estado do País a atuação do funcionário de uma estatal.
Além dos e-mails de Goldman a Serra, as atividades do engenheiro já haviam espantado o tesoureiro-adjunto e ex-secretário-geral do partido, Evandro Losacco. Na reportagem de ISTOÉ, publicada em agosto, Losacco reconheceu que o engenheiro tinha “poder” para arrecadar e confirmou o sumiço dos R$ 4 milhões. “Todo mundo já sabia disso há muito tempo. Essa arrecadação foi puramente pessoal, mas só faz isso quem tem poder de interferir em alguma coisa. Poder infelizmente ele tinha.” O “empresariado”, segundo Losacco, entendia que Paulo Preto “tem a caneta”. “No governo às vezes você não consegue fazer tudo o que você quer. Você tem contingências que o obrigam a engolir sapo. E eu acho que esse deve ter sido o caso”, disse Losacco na ocasião.
Apesar dos alertas de Goldman, Paulo Preto ficou no cargo até abril deste ano, tocando a principal obra de São Paulo, o rodoanel. Só foi exonerado quando o próprio Goldman assumiu o governo. Se Serra não explica o porquê da permanência de Paulo Preto à frente da estatal, o próprio ex-diretor do Dersa, na entrevista à “Folha”, fornece alguns dados importantes. Paulo Preto disse que sempre criou as melhores condições para que houvesse aporte de recursos em campanhas, por ter feito os pagamentos em dia às empreiteiras terceirizadas que atuaram nas grandes obras de São Paulo, como o rodoanel, a avenida Jacu-Pêssego e a ampliação da Marginal. “Ninguém nesse governo deu condições de as empresas apoiarem mais recursos politicamente do que eu”, afirmou Paulo Preto. De fato, Paulo Preto teve um peso enorme na gestão tucana em São Paulo. Os contratos administrados pelo engenheiro estavam entre as principais obras do País, somando R$ 6,5 bilhões. De acordo com relatório do TCU, obtido por ISTOÉ, o ex-diretor chegou a pagar às empreiteiras não apenas no prazo, mas também de maneira antecipada. Os auditores do tribunal recomendaram ajustes ao que consideram uma conduta indevida de Paulo Preto, pois sempre há o risco de as empresas receberem todo o pagamento sem garantias de cumprimento das obras.
Nesse enredo nebuloso também chama a atenção o patrimônio milionário do engenheiro. Na declaração de bens de 2009, Paulo Vieira de Souza diz possuir um patrimônio avaliado em R$ 3,4 milhões, sendo R$ 560 mil referentes a imóveis. Dois anos antes, declarou em seu nome um apartamento, três casas e mais três terrenos localizados em áreas nobres das cidades de Campos do Jordão e Ubatuba, num total de R$ 2 milhões, além de um hotel-fazenda. Os valores não estão atualizados, como permite a legislação do Imposto de Renda. Só o apartamento de Paulo Vieira, com 550 metros quadrados, no edifício Conde de Oxford, situado à rua Domingos Fernandes, na Vila Nova Conceição, vale pelo menos R$ 5 milhões, de acordo com corretores. O jeito esbanjador de Paulo Vieira de Souza é apontado por amigos e ex-colegas de trabalho como seu calcanhar de aquiles. Na comemoração de seu aniversário, em 7 de março do ano passado, ele deu uma megafesta na Casa das Caldeiras, uma exclusiva área de eventos em São Paulo. Com motivos árabes, os convidados, inclusive vários tucanos de alta plumagem, se deliciaram com danças de odaliscas e passeios de camelo. A quem quisesse ouvir, Paulo dizia que desembolsou nada menos que R$ 1 milhão com a recepção.
A gestão do orçamento milionário que estava a cargo de Paulo Preto levanta ainda outras suspeitas. Preocupada com o destino desse dinheiro, a bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo entrou com uma representação no Ministério Público paulista, na tarde da quinta-feira 14, pedindo uma investigação completa. Embora não conste da representação entregue pelo deputado José Mentor ao Ministério Público, uma equipe técnica do PT está debruçada em duas frentes principais de investigação. A primeira busca checar se houve desvio de verbas no rodoanel, com o suposto uso de material de baixa qualidade a preços superfaturados. “Não é possível que uma obra inaugurada há seis meses já precise de reparos, como os que vemos ao longo do trecho sul. Além disso, quando se anda a 80 quilômetros por hora o carro trepida como se estivéssemos numa estrada de terra”, questiona um petista. A desconfiança também recai sobre o processo de desapropriação de imóveis ao longo do anel viário. “Temos informação de que muitas propriedades e terrenos foram renegociados várias vezes”, acrescenta o mesmo parlamentar. Confirmados os indícios que pesam contra Paulo Preto, o PT paulista trabalhará para instalar uma CPI a fim de apurar o caso ainda mais a fundo.
Seguindo o espírito dos correligionários, que se calaram, Serra argumentou que Dilma, ao trazer o episódio à tona, está se preocupando com uma questão interna das finanças do PSDB, enquanto o caso da Casa Civil envolvia dinheiro público. Isto não é verdade. As arrecadações feitas por Paulo Preto e denunciadas pelo próprio PSDB só se realizaram em razão de obras públicas, financiadas com dinheiro do contribuinte. Além disso, o desvio, se comprovado, caracterizaria a prática criminosa de caixa 2 eleitoral. Por isso, o silêncio, nesses casos, é conveniente tanto para quem arrecadou quanto para as empresas que contribuíram. Há, ainda, indícios de que ele praticava tráfico de influência, já que contratou o escritório Edgard Leite Advogados Associados, banca em que trabalha a sua filha, Priscila Arana. “Paulo Preto contratou a própria filha para defender o Dersa, ao mesmo tempo que advogava para as construtoras. É um aberração, já que era o engenheiro que liberava o dinheiro paras as empresas clientes da filha e do governo”, denuncia o deputado Mentor (PT).
Parte das empresas que supostamente fizeram as doações para a campanha do PSDB é representada pelo escritório onde a filha do engenheiro trabalha. “O escritório presta serviço, há mais de dez anos, a praticamente todas as empresas privadas que compõem os consórcios contratados para a execução do trecho sul do rodoanel”, afirma Edgard Leite Advogados em e-mail enviado à ISTOÉ. Mesmo assim, ele alega que são “inconsistentes e maldosas as tentativas de vincular o nome do escritório com qualquer ilicitude”. Os advogados confirmam ainda que a filha de Paulo Preto é funcionária da empresa desde 2006, ano em que o engenheiro assumiu o cargo de direção do Dersa. Sobre a defesa da empresa pública, o escritório diz que “jamais foi contratado pelo Dersa”. Não é, entretanto, o que mostra o processo judicial TC-011868/2007-6 sobre uma disputa jurídica entre o DNIT e o Dersa. Na peça, o nome de Priscila Arana aparece como advogada constituída para defender a estatal.
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