sexta-feira, 19 de março de 2010

A sede da Veja e o mistério da Previ



O sítio “Os amigos do presidente Lula” deu mais um show de jornalismo investigativo. Tornou público que a atual sede do Grupo Abril, num luxuoso edifício na zona sul da capital paulista, foi uma “dádiva” do triste reinado tucano. O prédio pertence ao fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, Previ, e foi alugado para a famíglia Civita em abril de 1997. Ninguém conhece os valores da locação e o império midiático evita fazer alarde sobre este negócio constrangedor.

“Limite da nossa irresponsabilidade”

O contrato foi fechado durante o governo FHC. Na época, a Previ estava sob influência direta de Ricardo Sérgio de Oliveira, diretor do Banco do Brasil e ex-tesoureiro de FHC e do candidato derrotado José Serra. A locação se deu no mesmo período do criminoso processo de privatização das teles, que a revista Veja defendeu fervorosamente. Numa escuta telefônica, Ricardo Sérgio revelou os seus temores ao então ministro das Comunicações, Luis Carlos Mendonça de Barros:

“Estamos no limite da nossa irresponsabilidade”, alertou, após informar sobre a fiança de R$ 874 milhões ao Banco Opportunity para a negociata Embratel-Telemar. O ministro de FHC não se intimidou e defendeu a ajuda ao banqueiro Daniel Dantas. “É isso aí, estamos juntos”. Aliviado, Ricardo concluiu: “Na hora que der merda, estamos juntos desde o início”. As maracutaias da privataria nunca foram denunciadas pela Veja, agora bem instalada no luxuoso prédio da Previ.

O silêncio cúmplice da mídia

Até onde foi o ‘limite da irresponsabilidade’ no contrato entre a Previ e o Grupo Abril, questiona o vigilante sítio. A famíglia Civita nunca respondeu à questão, até porque seria difícil explicar os constantes ataques da Veja aos que “mamam nas tetas do Estado”. Os termos da locação da sede continuam em sigilo. Durante o plebiscito do desarmamento, em 2005, o jornal Estadão chegou a noticiar que o prédio pertenceria a Daniel Birmann, dono da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), o que explicaria a furiosa campanha da revista Veja contra a proibição das armas.

A matéria do Estadão, “Locador da Abril e voto da Veja”, foi rechaçada numa nota lacônica: “O Edifício Birmann 21, na Marginal de Pinheiros, que abriga a sede da Editora Abril, não pertence à família Birmann. O prédio foi locado da Previ – Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil – em 30 de abril de 1997”. Mas a famíglia Civita nunca informou os termos do sinistro contrato, como valores e prazos. O assunto foi abafado e os donos da mídia preferiram o silêncio cúmplice.

Famíglia Civita mantém o segredo

Sabe-se que o edifício, o 11º mais alto do país, é um dos mais luxuosos de São Paulo. É dotado de heliporto e conta com várias modernidades tecnológicas. Roberto Civita, o chefão da Abril e freqüentador das conspirações da Casa Millenium, até andou se gabando da aquisição. No local, o dono deste império midiático recebe, com “bons vinhos e um excelente chefe de cozinha”, seus amigos ilustres. FHC, Serra, Aécio Neves, Gilmar Mendes, entre outros, costumam freqüentar o local para trocar idéias sobre política – ou melhor, para conspirar contra a democracia.

Apesar da suntuosidade, o Grupo Abril mantém discrição sobre o edifício e sobre o contrato com a Previ. “A primeira edição da Veja com a redação nas novas instalações foi em 24 de dezembro de 1997. É estranho que a revista não tenha publicado nenhuma nota a respeito da mudança para a nova sede. A menos que o negócio seja obsceno e que precisasse ser mantido obscuro, qualquer revista se orgulharia de mudar-se para novas instalações e faria questão de comunicar ao leitor, ainda mais em se tratando de um majestoso edifício, um marco arquitetônico em São Paulo”, ironiza o sítio “Os amigos do presidente Lula”, que novamente marcou um golaço.

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2 comentários:

Unknown disse...

O fim do ombudsman

A Folha de São Paulo ficará dois meses sem ombudsman. Não há qualquer explicação para a lacuna, que seria tratada com a devida gravidade se alguém ainda levasse o jornal a sério.
Mas, realmente, fará alguma diferença? Ninguém espera grandes avanços depois que um profissional atencioso e preparado como Carlos Eduardo Lins da Silva foi incapaz de impedir exemplos de subjornalismo (a ficha falsa de Dilma Rousseff, o dossiê contra Victor Martins, a planilha de gastos do casal FHC, a tentação sexual de Lula), proselitismo reacionário (a Ditabranda e seus congêneres, o antipetismo botocudo) ou favorecimentos corporativos (a defesa da TV paga). Isso tudo em apenas dois anos de atividade.
Nas empresas que se preocupam com a fidelidade de seus clientes, o ouvidor possui função deliberativa: constrange funcionários, arranca soluções, desfaz vícios burocráticos. Já o ombudsman jornalístico virou função decorativa. Uma grife modernosa para criar ilusões participativas no leitor, devolvendo-lhe os invariáveis remedos justificativos das editorias. Convenhamos, é absurdo imaginar que uma empresa de comunicação de grande porte necessita contratar alguém que lhe aponte os erros mais bizantinos. Todo jornalista mediano, diplomado ou não, sabe perfeitamente reconhecer seus desvios cotidianos.
A Folha finge que não deve satisfações aos leitores, como se os seus tropeços administrativos (e seus desvios ideológicos) tivessem um respaldo transcendente e imutável. É esse despeito hipócrita que destrói a reputação do jornal.

Anônimo disse...

Pois então, Sr. Altamiro, agora é o caso de exigisr-se da diretoria da PREVI que publique os contratos, de forma que os afiliados possam aferir se os bens que garantirão seus rendimentos futuros estão sendo adequadamente administrados e dando o retorno normal para a hipótese. Se não, é o caso de despejar a maldita família. Que vá alojar-se debaixo das asas de algum tucano. Talvez o "tenho jatinho porque posso".