Foto: SJSP/ Cadu Bazilevski |
A fama de ‘censor’ que o presidenciável tucano Aécio Neves carrega em Minas Gerais, estado que governou por 12 anos, foi tema de debate na noite desta quarta-feira (22), em São Paulo. Jornalistas e sindicalistas lembraram diversos casos de censura e demissões ocorridos ao longo de seu governo, ressaltando a ameaça que sua candidatura significa para a liberdade de expressão e fazendo um alerta: “Precisamos contar quem é Aécio, pois a grande mídia não o faz”.
As palavras, no caso, foram de Kiko Nogueira, do blog Diário do Centro do Mundo. Além dele, Kerison Lopes, presidente do Sindicato dos Jornalistas de MG, e Beatriz Cerqueira, presidente da CUT-MG e do Sindicato dos Trabalhadores na Educação de MG, também participaram do bate-papo. A mediação ficou a cargo de Altamiro Borges (Barão de Itararé) e Guto Camargo (Sindicato dos Jornalistas de São Paulo), representantes das entidades que organizaram o encontro.
“É importante relatar como foram os 12 anos de governo tucano em Minas em relação à liberdade de expressão”, defende Kerison Lopes. “Itamar Franco, governador anterior a Aécio, era passível de críticas, mas seu caráter democrático era inquestionável. Com Aécio, o próprio Estado de Minas, com seu caráter conservador e tradicionalista, foi golpeado pela onda de censura”.
Kerison avalia que o tucano priorizou a comunicação como uma área estratégica, tanto que a colocou sob o comando de sua irmã, Andréa Neves. “O apelido dela em Minas é ‘Andréa Mãos-de-Tesoura’, por frequentemente cortar cabeças, matérias e áudios”, conta o sindicalista. “A gestão de Aécio promovia intervenções direta nos veículos, tanto para controlar as críticas como para maximizar, de forma falaciosa, as ações de seu governo”.
As demissões de jornalistas que ousavam publicar informações desagradáveis ao tucano, conforme relata o Kerison, eram constantes. “Bastava alguma matéria que escancarasse um problema do governo para o jornalista ser imediatamente demitido a mando de Andréa”, conta, acrescentando que mais de 10 jornalistas foram vítimas da mão de ferro do governador. “O clima de terror deu a vitória a Aécio, pois não houve readmissão e os demitidos não recuperaram espaço no mercado mineiro, gerando, inclusive, o efeito da autocensura nas redações”.
Kerison lembra que Aécio é acionista do grupo Diários Associados, o que ajuda a explicar o alinhamento dos grandes veículos mineiros, como a Rádio Itatiaia e o jornal Estado de Minas, ao seu governo. “Claro que a cooperação também garantia, aos meios, a entrada de polpudas verbas publicitárias”.
Tema invisibilizado pela grande mídia, Kerison cita a revolta dos jornalistas de política do Estado de Minas após a euforia do veículo com a presença de Aécio no segundo turno das eleições. “Os profissionais se rebelaram contra a censura e com o papel de panfleto que o jornal está prestando”, assinala. “O Estado de Minas tem feito um jogo sujo que nem a campanha do tucano consegue fazer: adultera matérias e omite a autoria das reportagens. Por isso a redação de política está parada há dias”.
Segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas mineiros, os casos do aeroporto de Claudio e de nepotismo, citados com frequência na disputa eleitoral, tem uma semelhança importante: “Ambos são conhecidos há tempos pelos jornalistas de Minas, mas nunca foram apurados. O que sabemos, pesquisamos e apuramos, passamos para outros jornais, porque aqui não são publicados”.
‘Controlar tudo e todos’
O jornalista e blogueiro Kiko Nogueira fez um relato de sua própria experiência com a censura de Aécio. Ele é um dos 66 tuiteiros que, segundo o tucano, seriam ‘robôs’ pagos para disseminar calúnias e difamações na rede. Por isso, Aécio processou o Twitter para que revelasse a identidade dos usuários – obviamente, o Twitter não acatou o pedido. “É uma fantasia de mentes realmente preocupadas em controlar tudo e todos”, dispara Kiko.
“Outra situação mais ardilosa e dramática”, conforme descreve, foi em relação ao vídeo-documentário Helicoca – O helicóptero de 50 milhões de reais, veiculado no blog e que tratava do helicóptero da família Perrela, flagrado transportando 450 kg de pasta base de cocaína. “Contamos a história, entrevistamos policiais e outras fontes, com menção meramente marginal a Aécio, pela sua forte ligação com os Perrela”.
O vídeo foi retirado do ar por ‘reivindicações de direito autoral’, conta o blogueiro. “A pessoa que fez o pedido de remoção do vídeo não existe. É um perfil falso no Twitter, no Facebook e no YouTube. Pedimos para o YouTube liberar o vídeo e nos alegaram que só seria possível mediante liberação do tal autor do pedido”.
Kiko Nogueira sublinha que os documentários Liberdade, essa palavra (de autoria de Marcelo Baeta) e Gagged in Brazil (produção estrangeira), ambos sobre a censura de Aécio Neves, também foram retirados do ar por “fantasmas”. “Muita gente reproduziu os vídeos, revertendo a censura. Tirar do ar é um tiro no pé e prova que Aécio não sabe lidar com a liberdade de expressão, principalmente na Internet”.
“Precisamos contar quem é Aécio, Andréa Neves e companhia, pois é chocante a maneira como eles operam e atacam opiniões e informações que lhe são incômodas”, sentencia o jornalista. “No Roda Viva, em entrevistas, nos debates, quando confrontado sobre o aeroporto de Claudio, o envolvimento com cocaína ou a recusa ao bafômetro, Aécio fica exasperado, raivoso. Imaginem esse homem na presidência do país”.
‘Minas é uma diversidade de proibições’
Para a líder sindical Beatriz Cerqueira, a Bia, há uma sensação de pânico entre os movimentos sociais mineiros pelo risco de ver instalado no país o cenário que levou 12 anos para ser derrubado em Minas. “O Brasil está sabendo um pouco tarde o que sofremos, mas ao menos está sabendo”, avalia.
Ela destaca o protagonismo dos movimentos sociais para quebrar o reinado tucano e furar o bloqueio midiático. “O que explica os 92% de aprovação que Aécio tanto defende na campanha eleitoral?”, questiona Bia. “Não é só a censura, mas o alinhamento dos meios de comunicação ao seu projeto. É uma hegemonia bem construída, com o apoio da imprensa”.
Como exemplo, Bia recorda que os relatórios técnicos do Tribunal de Contas do estado sempre contrariam a aprovação das contas, apontando investimentos menores do que os aprovados e amplamente divulgadas pela mídia mineira.
O quadro de perseguição aos movimentos sociais é outro grave problema abordado por ela. “Temos realizado uma intensa campanha de esclarecimento e denúncias da realidade de Minas às categorias dos trabalhadores, em especial, de educação. São campanhas simples, sem citar nomes ou partidos. Apenas denunciamos os problemas, como uma escola que funciona em um posto de gasolina, em Uberaba, e outra que funciona em um motel desativado, em Teófilo Otoni”.
Ela revela que as liminares se multiplicam a cada dia e que o movimento social perdeu todos os processos no Tribunal Regional Eleitoral (TRE). “São 24 representações existentes, mas a mais estarrecedora é, sem dúvidas, uma ação do PSDB pedindo a suspensão dos direitos políticos de dirigentes sindicais por oito anos. São sete processados”, revela. “Recebemos ordem de nos abstermos de criticar o governo do estado e o Tribunal de Justiça negou todos os recursos. Só fomos atendidos quando batemos à porta do Supremo Tribunal Federal (STF). Minas de Aécio é uma diversidade proibições”.
Um grupo de jornalistas mineiros publicou, recentemente, um documento alertando para o risco que o tucano representa para a liberdade de expressão. Além deste texto, o Barão de Itararé elegeu Aécio Neves o inimigo número 1 da liberdade de expressão no Brasil. Os blogueiros progressistas também divulgou manifesto contra o ‘censor’ Aécio Neves.
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