sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Fascistóides “lotam” ato pró-Aécio em SP

Por Altamiro Borges

Na quarta-feira (22), os tucanos realizaram um ato de apoio ao cambaleante Aécio Neves em São Paulo. A marcha reuniu alguns ricaços e vários fascistóides. Num primeiro momento, o comando da Polícia Militar estimou que havia mil pessoas; na sequência, num toque de mágica, avaliou em 5 mil presentes. O ex-presidente FHC até deu as caras, mas logo sumiu. O ex-jogador Ronaldo, o “fenômeno” do oportunismo, também apareceu. Um dos donos do falido Estadão, Fernão Lara Mesquita, desfilou com um cartaz que mostra bem a falta de caráter dos barões da mídia: “Foda-se a Venezuela”. E o deputado-sindicalista Paulinho, da Força, cumpriu o ridículo papel de liderar a marcha num caminhão de som.

Segundo relato da própria Folha tucana, o ato teve como marca principal o anticomunismo. “O repertório de xingamentos a Dilma Rousseff (PT), ao PT e a símbolos da esquerda foi vasto. ‘Dilma terrorista!’ / ‘Ei, ebola, leva a Dilma embora’ / ‘Ai que maravilha, a Dilma vai pra Cuba e o Aécio pra Brasília’. Sobrou também para o compositor Chico Buarque, apoiador da candidata petista. ‘Chico Buarque, vai cantar Geni na m*’. A preocupação com o comunismo permeou todo o ato: ‘A nossa bandeira jamais será vermelha’, gritavam os mais exaltados. Um cartaz com os dizeres ‘Viva a liberdade! Fora o comunismo!” foi afixado na frente do carro de som que levava as celebridades”.

Algumas ausências foram sentidas. O ator Dado Dolabella, famoso agressor de mulheres, não pintou; o patético Lobão também não foi – talvez já esteja providenciando sua fuga do Brasil pelo “aecioporto” de Cláudio; o ator pornô Alexandre Frota negou fogo. O próprio Aécio Neves, talvez de ressaca com as últimas pesquisas ou barrado por algum bafômetro, também não prestigiou seus fanáticos apoiadores, que berravam: “Fora, PT”. Ainda segundo a Folha tucana, o evento não seduziu sequer a bancada de parlamentares do PSDB e do DEM. Poucos apareceram; entre eles, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSC), filho do fascista Jair Bolsonaro (PP-RJ).

Neste caso, uma curiosidade. Segundo o jornal, o jovem deputado ficou “solitário” no ato. “No último domingo (19), Jair Bolsonaro participou de um ato de Aécio em Copacabana, na zona sul do Rio, mas não foi convidado para subir no carro, nem tirar fotos com o presidenciável, o que incomodou o deputado. Segundo o filho, a família Bolsonaro irá apoiar Aécio de qualquer maneira. ‘É complicado. Ele [Aécio] aceita o apoio daquele maconheiro Eduardo Jorge e rejeita o nosso, que somos representantes de três milhões de militares. Mas o Aécio querendo ou não nós e nossos eleitores vamos votar nele”. A marcha terminou em frente ao Shopping Iguatemi, um dos mais luxuosos da capital paulista.

Reproduzo abaixo um relato da manifestação pró-Aécio escrito pelo jornalista Breno Altman, editor do site Opera Mundi:

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Tucanos são a cômica voz da brutalidade

Apoiadores de Aécio Neves marcharam ontem em São Paulo.

Os petistas haviam dado seu grito de guerra, segunda-feira, no TUCA, superlotando um dos bastiões da resistência à ditadura. Também se manifestaram em Itaquera, um dos principais bairros proletários da cidade.

Militantes do PSDB e aliados, ao som do hino nacional, concluíram sua manifestação diante do Shopping Iguatemi.

Cada macaco no seu galho. Cada crença com seu templo.

A Polícia Militar estimou a presença em mil pessoas. Depois revisou para cinco mil. Os chefes tucanos especulam números entre dez e vinte mil participantes. Qualquer que seja a conta, estava presente a fina flor da oposição de direita.

A ideia da mobilização era pinta-la com cores extrapartidárias. “Um ato convocado pela sociedade civil, mas que reuniu todos aqueles que clamam por uma mudança e pedem que o Brasil volte a ser o que era”, afirmou Milton Flávio, presidente do PSDB municipal, à reportagem do UOL.

A “sociedade civil” estava bem representada em cima do carro de som: o deputado federal Paulinho da Força (SD), a cantora Wanessa Camargo, o humorista Juca Chaves e o vereador tucano Floriano Pesaro.

Forte mesmo, porém, era a presença da turma desejosa que “o Brasil volte a ser o que era”. Enquanto Paulinho gritava a plenos pulmões “fora, PT”, quase a seus pés um cartaz clamava: “Viva a liberdade! Fora o comunismo”.

Bem vestidos e elegantes, senhoras e senhores da República de Higienópolis, acompanhados de moças e moços da mesma nação, faziam soar os bordões do Brasil pelo qual muitos entre eles choram de saudades. Sem jamais deixar de lado, é claro, aquele tratamento educado e efusivo que aprenderam a proferir, contra a presidente, nos estádios de futebol.

“A nossa bandeira jamais será vermelha!”

“Dilma terrorista!”

“Ei, ebola leva a Dilma embora!”

“Ai que maravilha, a Dilma vai pra Cuba e o Aécio pra Brasília!”

“Dilma vai embora que o Brasil não quer você / aproveita e leva embora os vagabundos do PT” – ao som de “Para não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré.

Ah, o mestre de cerimônia era negro. O herói tentava inspirar palavras de ordem e cânticos mais civilizados, mas a horda queria mesmo era xingar e destilar seu ódio antipetista.

O trajeto e o cenário compunham tentativa de reeditar os protestos de junho do ano passado. Mas em uma versão particular: a dos herdeiros políticos e culturais da marcha com Deus e a Família, marcante na preparação do golpe militar de 1964.

Como dizia o velho barbudo, e não estou falando de Papai Noel, a história só se repete como farsa.

Eduardo Bolsonaro, o filho do favorito entre os gorilas, recém-eleito deputado federal por São Paulo, circulava pela passeata na companhia de ex-comunistas e outros tipos de vira-casacas que, no passado, combateram o regime militar.

Muitas tribos se unem na brutalidade que emana do rancor contra o partido de Lula e Dilma. Vão de fascistas declarados a uma curiosa “esquerda democrática”, todos arregimentados pela vontade de tirar o PT do governo a qualquer preço.

A frente ampla do Shopping Iguatemi, como seus antepassados, esbraveja contra a corrupção. Mas o que efetivamente lhes perturba é ver, aos pouquinhos, o Estado se deslocar da casa grande para a senzala.

Seus interesses, desejos, problemas e valores vão deixando de ser o fio condutor da vida nacional. Aos trancos e barrancos, multidões historicamente subalternas vão ocupando o centro da vida pública.

Ninguém tocou no uísque, nas propriedades e nos juros do andar de cima, mas o desconforto com a ascensão dos pobres do campo e da cidade não deixa dormir aqueles que jamais arrumaram sua própria cama.

Desesperados pela expectativa de nova derrota eleitoral, libertam-se de qualquer pudor. Ao odor de naftalina do velho repertório golpista, soma-se o cheiro putrefato das fobias contra a diferença.

Gritavam pela avenida Faria Lima como se fossem uma potência pronta para a guerra, mas o sentimento que os mobilizava era o direito à preservação da espécie.

A belicosidade tinha algo de pândega. Claro que gente dessa estirpe pode significar, em certo momento, perigo para a existência do regime democrático.

Por ora, tal ameaça está imersa no ridículo. Deve ser por isso que os petistas lutam e denunciam, vigilantes, mas preferem rir a xingar.


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1 comentários:

José Arlindo disse...

Miro,
Não me preocupo tanto com a veja e seus colunistas. O que me preocupa é o clima de "nós contra eles" que eles criaram e que se converteu num "Brasil do Norte x Brasil do Sul" que pode nos leva a uma guerra civil alimentada por essa mídia insana que está a serviço de sei lá quem e de olho em nossas riquezas, principalmente o pré-sal. Você acha muita para nóia pensar que os EUA podem estar por trás desse clima de desestabilização que foi alimentado durante todo o governo Dilma e mais acentuado agora nas eleições?