terça-feira, 11 de maio de 2010

Abril demite editor que criticou a Veja

Reproduzo denúncia do blogueiro acreano Altino Machado, publicada no sitio Terra Magazine. Na sequência, reproduzo matéria do blog Escrinhador que ajuda a entender o grave episódio:

A National Geographic Brasil, da Editora Abril, demitiu nesta terça-feira (11) o editor-assistente Felipe Milanez pelas críticas em seu Twitter contra a revista Veja, da Abril, por causa da reportagem “A farra da antropologia oportunista” sobre delimitação de reservas indígenas e quilombos no país.

- A decisão me foi comunicada pelo redator-chefe Matthew Shirts. Ela veio lá de cima e ainda estou zonzo porque não imaginava que minha opinião fosse resultar nisso – disse Milanez.

Bastante conhecedor da Amazônia, especialmente das tribos indígenas, o repórter-fotográfico Felipe Milanez estava com viagem marcada para o Amazonas na quinta-feira (13). Ele iria percorrer durante 15 dias a BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Vellho (RO), acompanhando uma equipe da Embratel que dá suporte às torres de telefonia.

Ele usou o Twiter para avisar seus seguidores sobre a demissão:

- To destruido, muito chateado. Acabo de ser demitido por causa dessa infeliz conta de Twitter. Sonhos e projetos desmancharam no ar virtual

Milanez havia se manifestado no Twitter a respeito da nota do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, citado por Veja na reportagem, mas que nega ter dado entrevista para a revista.

- Eduardo Viveiros de Castro achou um bom adjetivo pra definir a matéria da Veja: “repugnante” – escreveu.

Milanez escreveu mais adiante:

- Veja é abusada. Assim E. Viveiros de Castro corre o risco de nunca mais ser citado na revista (!), como Jon Lee Anderson.

Além de ter reproduzido tweets em que o antropólogo acusa Veja de “fabricar” declaração, Milanez também chegou a citar os microblogs dos repórteres Leonardo Coutinho, Igor Paulin e Júlia de Medeiros, autores da reportagem, como exemplos de “anti-indígenas” para quem quisesse segui-los.

- Não sei ainda o que vou fazer da vida. Não estou arrependido porque nunca imaginei que minha opinião pudesse causar uma reação tão drástica. Talvez eu tenha sido ingênuo, mas quem defende índio tem que estar com a cabeça preparada para levar paulada – afirmou Milanez.


A incrível entrevista que nunca existiu

O Escrevinhador, ao contrário de Veja, falou com o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro - vítima de mais essa lambança da revista (editada às margens fetidas do rio Pinheiros):

Foi por meio de um telefonema de um amigo que o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, do Museu Nacional, descobriu que havia dado uma entrevista à revista "Veja". O estudioso que não lê Veja há vinte anos, nem quando vai ao dentista (nesse caso prefere Caras), não teve contato com os repórteres. Aliás, não se recorda de alguma vez ter dado uma declaração à revista "talvez décadas atrás, quando a revista ainda queria ser séria?”. Realmente, faz tempo.

Eduardo faz uma retificação: “quando me alertam para algo especialmente repulsivo, acabo lendo. Refiro-me, por exemplo, à tentativa recentíssima de demonizar todos os usuários de Daime por causa do assassinato de Glauco. E por aí afora”.

Os repórteres da Veja tentaram, via assessoria do Museu Nacional, entrevistar Eduardo que foi categórico: “Recusei-me a falar com eles (é meu direito), por não confiar na revista, achá-la de péssima qualidade jornalística, e por abrigar um batalhão de colunistas da direita hidrófoba”. Parece que sua decisão foi em vão já “que não os impediu de falarem comigo, pelo visto...”

Foi mais um capítulo da empreitada da Veja em defesa dos latifundiários e contra qualquer ameaça aos seus poderes. Desta vez o alvo foram os quilombolas e as comunidades indígenas, da boca do renomado antropólogo teria saído a afirmação “Não basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente cultural original".

Eduardo conta que meses atrás ficou sabendo “que a revista preparava algo deste teor, por "encomenda" da senadora Kátia Abreu e da CNA -- talvez fosse apenas um boato, é claro.

O antropólogo desconfia que os repórteres da Veja tenham “extraído” sua declaração de uma entrevista dada ao Instituto Socioambiental sob o título “No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é”. “Por burrice, má fé e arrogância (não necessariamente nesta ordem), eles 'resumiram' exatamente - ao contrário - o que eu digo nesse texto, e ainda fizeram o leitor supor que declarei isso de viva voz para eles, que nunca vi mais gordos”.

O episódio reforça a ironia do título da reportagem: oportunista é o jornalismo praticado pela Veja e essa farra já foi longe demais.

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2 comentários:

Remindo disse...

Ué, e a liberdade de imprensa que eles tanto prezam??????

vi495 disse...

Terra Magazine segue, inabalável, em sua trajetória "canhotinha-com-o-PT-na-cabeça", e a bola da vez é a VEJA, instrumento "marigno" da direita raivosa brasileira. É mole ou quer mais?