Reproduzo artigo de Flavio Aguiar, publicado no Blog do Velho Mundo:
Em meio a rumores, dúvidas e gente indecisa sobre que rumo tomar na crise, afinal surgiu um líder de visão clara e afinada com princípios e fins: numa reunião de cúpula da União Européia, na sexta-feira passada, 4 de fevereiro, em Burxelas, o primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi reafirmou sua confiança em Hosni Mubarak, seja para continuar no poder até setembro, seja para até lá conduzir uma transição democrática. Chamando o ditador egípcio de "homem sábio", Berlusconi foi mais longe. Para não correr o risco de ser mal interpretado, deixou claro que suas palavras não implicavam necessariamente o desejo de que Mubarak se eternizasse no poder, mas sim incluíam a possibilidade de que seu sucessor fosse "alguém como ele".
Não sei que pontos isso pode ter rendido a Mubarak na confusa e titubeante cena internacional. Nesta, os Estados Unidos pressionam sem fazer pressão, a União Européia faz pressão sem pressionar, Israel teme e treme, a esquerda israelense (algumas vozes, ver no Haaretz) adverte que não tem volta nem no Egito nem no resto do mundo árabe.
No Egito, neste sábado em que registro estas notas, a situação permanece no fio da navalha. Notícias disseminadas a partir da Fox News dão conta de um atentado contra o vice-presidente Omar Suleiman, que seguidamente vem sendo apontado como o novo homem forte do regime, o governante "de facto", para usar uma expressão cara aos nossos conservadores. Nesse atentado, que ainda não se apontam autores, teriam morrido dois de seus guarda-costas.
Na praça Tahrir, os manifeatantes que pedem a queda de Mubarak continuam reunidos, depois da gigantesca manifestação de sexta-feira, "o dia da partida". Isso, por si só, já é um feito. Quarta e quinta-feira "partidários" de Mubarak, a cavalo ou a camelo, ou jogando paralelepípedos do alto de edifícios, ou mesmo usando armas de fogo, tentaram "conquistar" os espaços, no Cairo, que os revoltados usam para suas manifestações, entre eles, o da praça Tahrir, que é o mais importante.
Existem duas versões sobre estes "mubarakistas", que nào são excludentes entre si. Uma diz que eles são policiais ou ex-policiais. A outra diz que eles são camponeses pobres, recrutados ao norte do Cairo, que, pelo equivalente a um punhado de dólares, vão cometer os atentados contra os manifestantes.
Seja como for, não conseguiram o seu intento, por três razões. 1) Depois de um momento de hesitação, o exército voltou a isolar os grupos. 2) os manifestantes revoltados estão mais firmes do que nunca, apesar de haver também frinchas entre eles, uns (a minoria) achando que podem esperar até setembro para que Mubarak saia, outros (a maioria) achando que ele deve sair já. 3) Apesar de armados de canivetes, chicotes, barras de ferro e armas de fogo, os "manifestantes" pró-Mubarak estão em clara desvantagem numérica, diante das centenas de milhares de pessoas que exigem a queda do governante. Segundo cálculos disseminados, eles devem somar mais ou menos 4.000 pessoas; sem o alinhamento do exército a seu lado, não conseguirão "limpar" as ruas do Cairo, sem falar nas outras cidades, como Suez, Alexandria, etc.
Assim, a semana vai começar com expectativas renovadas, mas sem alteração na sua substância. Que fará o Exército? Omar Suleiman conseguirá firmar seu "diálogo com as oposições"? Mubarak vai desistir (comenta-se que ele pode vir para a Alemanha, a fim de fazer "tratamento médico", o que seria uma "saída honrosa" para um ditador já desmoralizado)? El Baradei conseguirá firmar sua liderança, que é reconhecida mas não aceita por todos os participantes do xadrez político? As potências ocidentais ficarão com seu rondó ou partirão para um endurecimento com Mubarak, Estados Unidos à frente?
Quanto a Berlusconi, esperemos que seu ato de fé contribua para seu auto-da-fé (político, é claro).
*****
PS - Espraia-se a notícia, já reivindicada por muitos, da indicação de Julian Assange para o Nobel da Paz, oficialmente feita por um deputado norueguês. Quero assinalar que a primazia mundial por essa indicação cabe ao Blog do Velho Mundo e ao camarada Vladimir Putin. Num perfeito entrosamento, como num jogo de volei, o Blog do Velho Mundo levantou na rede e no corta-luz o camarada de Moscou bateu o ponto. O Blog disse que Assange deveria ganhar "algum Nobel" (até um hipotético de jornalismo) e o camarada primeiro ministro emendou, dois dias depois: "da Paz".
O que prova, quando não mais, que o camarada Putin é um assíduo leitor da RBA e do Blog do Velho Mundo. Nasdróvia! Saúde!
Em meio a rumores, dúvidas e gente indecisa sobre que rumo tomar na crise, afinal surgiu um líder de visão clara e afinada com princípios e fins: numa reunião de cúpula da União Européia, na sexta-feira passada, 4 de fevereiro, em Burxelas, o primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi reafirmou sua confiança em Hosni Mubarak, seja para continuar no poder até setembro, seja para até lá conduzir uma transição democrática. Chamando o ditador egípcio de "homem sábio", Berlusconi foi mais longe. Para não correr o risco de ser mal interpretado, deixou claro que suas palavras não implicavam necessariamente o desejo de que Mubarak se eternizasse no poder, mas sim incluíam a possibilidade de que seu sucessor fosse "alguém como ele".
Não sei que pontos isso pode ter rendido a Mubarak na confusa e titubeante cena internacional. Nesta, os Estados Unidos pressionam sem fazer pressão, a União Européia faz pressão sem pressionar, Israel teme e treme, a esquerda israelense (algumas vozes, ver no Haaretz) adverte que não tem volta nem no Egito nem no resto do mundo árabe.
No Egito, neste sábado em que registro estas notas, a situação permanece no fio da navalha. Notícias disseminadas a partir da Fox News dão conta de um atentado contra o vice-presidente Omar Suleiman, que seguidamente vem sendo apontado como o novo homem forte do regime, o governante "de facto", para usar uma expressão cara aos nossos conservadores. Nesse atentado, que ainda não se apontam autores, teriam morrido dois de seus guarda-costas.
Na praça Tahrir, os manifeatantes que pedem a queda de Mubarak continuam reunidos, depois da gigantesca manifestação de sexta-feira, "o dia da partida". Isso, por si só, já é um feito. Quarta e quinta-feira "partidários" de Mubarak, a cavalo ou a camelo, ou jogando paralelepípedos do alto de edifícios, ou mesmo usando armas de fogo, tentaram "conquistar" os espaços, no Cairo, que os revoltados usam para suas manifestações, entre eles, o da praça Tahrir, que é o mais importante.
Existem duas versões sobre estes "mubarakistas", que nào são excludentes entre si. Uma diz que eles são policiais ou ex-policiais. A outra diz que eles são camponeses pobres, recrutados ao norte do Cairo, que, pelo equivalente a um punhado de dólares, vão cometer os atentados contra os manifestantes.
Seja como for, não conseguiram o seu intento, por três razões. 1) Depois de um momento de hesitação, o exército voltou a isolar os grupos. 2) os manifestantes revoltados estão mais firmes do que nunca, apesar de haver também frinchas entre eles, uns (a minoria) achando que podem esperar até setembro para que Mubarak saia, outros (a maioria) achando que ele deve sair já. 3) Apesar de armados de canivetes, chicotes, barras de ferro e armas de fogo, os "manifestantes" pró-Mubarak estão em clara desvantagem numérica, diante das centenas de milhares de pessoas que exigem a queda do governante. Segundo cálculos disseminados, eles devem somar mais ou menos 4.000 pessoas; sem o alinhamento do exército a seu lado, não conseguirão "limpar" as ruas do Cairo, sem falar nas outras cidades, como Suez, Alexandria, etc.
Assim, a semana vai começar com expectativas renovadas, mas sem alteração na sua substância. Que fará o Exército? Omar Suleiman conseguirá firmar seu "diálogo com as oposições"? Mubarak vai desistir (comenta-se que ele pode vir para a Alemanha, a fim de fazer "tratamento médico", o que seria uma "saída honrosa" para um ditador já desmoralizado)? El Baradei conseguirá firmar sua liderança, que é reconhecida mas não aceita por todos os participantes do xadrez político? As potências ocidentais ficarão com seu rondó ou partirão para um endurecimento com Mubarak, Estados Unidos à frente?
Quanto a Berlusconi, esperemos que seu ato de fé contribua para seu auto-da-fé (político, é claro).
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PS - Espraia-se a notícia, já reivindicada por muitos, da indicação de Julian Assange para o Nobel da Paz, oficialmente feita por um deputado norueguês. Quero assinalar que a primazia mundial por essa indicação cabe ao Blog do Velho Mundo e ao camarada Vladimir Putin. Num perfeito entrosamento, como num jogo de volei, o Blog do Velho Mundo levantou na rede e no corta-luz o camarada de Moscou bateu o ponto. O Blog disse que Assange deveria ganhar "algum Nobel" (até um hipotético de jornalismo) e o camarada primeiro ministro emendou, dois dias depois: "da Paz".
O que prova, quando não mais, que o camarada Putin é um assíduo leitor da RBA e do Blog do Velho Mundo. Nasdróvia! Saúde!
1 comentários:
A Itália brinca novamente com o fascismo.
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