Por Marco Piva
À primeira vista, uma vastidão de informações e números que surpreendem. Apresentados de forma coloquial, animam o ouvinte a se aproximar de assunto tão árido. Mas, ali, no pentefino, um reprodutor de notícias feitas e mesmice de interpretação. Todos os dias, na CBN, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg destila suas opiniões com um único objetivo: atender aquela parcela do mercado que nasceu na frente de tudo e de todos e agora não tolera caminhar ao lado de tudo e de todos, malfadando a economia que distribui riqueza e gera novas oportunidades.
A opinião é livre, ora pois. A Constituição assim o garante. Mas, pensando bem, aqui encontramos a mesma opinião, todo santo dia. E aí a famosa dúvida filosófica aparece na forma de um biscoito. Inflação descontrolada é a bola da vez. Dia sim, dia sim, o tema aparece como um assustador leão que está prestes a invadir a nossa casa. E o domador do bicho nada faz porque dele nada entende; apenas é o seu dono.
Dito assim, parece que o pessoal da Fazenda acorda tarde, faz uma esteira e depois se manda para o cabeleireiro arrumar as madeixas. Lá no salão mesmo toma importantes decisões: onde almoçar, quem convidar e, de quebra, assina enfadonhos decretos, leis e por aí afora.
Enquanto isso, paladino da moral econômica de mercado, Sardenberg segue triunfante sua saga ideológica. Reza ao deus-mercado como quem cita trechos decorados da bíblia para os fiéis. Não estima ele a possibilidade de que, do outro lado da linha, estejam presentes mentes inquietas e curiosas por outras versões possíveis do mundo da economia. Mas, como disso saber se a principal voz da emissora nessa seara diz sem parar que as autoridades estão erradas, que não aprenderam como se dirige um país! Sardenberg para ministro da Fazenda é a conclusão.
Talvez o Brasil seja um pouco maior do que os raciocínios principistas da economia de livre mercado que o colunista defende ardorosamente e quem sabe com quais resultados pessoais. O fato é que, no fundo, no fundo, só queremos outras vozes, outras opiniões. Para isso, a luta escorre para outro campo: a democratização da comunicação.
* Marco Piva é jornalista e dirigente da Associação Brasileira de Empresários e Empreendedores da Comunicação (Altercom).
2 comentários:
Marco Piva foi brilhante (como sempre). Chega a ser ridículo que Sardenberg tenha lançado um livro inteiro de elogios ao neoliberalismo em princípios de 2009, uns seis meses depois que aquele fundamentalismo havia falecido de inanição (com uns estortores convulsivos localizados).
Ou seja: o cara ainda está no Tatcherismo, no Reaganismo, e deita lições de Economia!
Pelamor!
Sou assiduo ouvinte da CBN, e é claro do Sardenberg. Gosto de ouví-lo, pois ele ingenuamente expões a essencia do pensamento chimango. Não é comum um chimango declarar tão objetivamente o que pretendem; só na CBN, estas declarações são objetivas e diretas. O nossos governantes deveriam ouvir a CBN. Facilitaria tudo. Bastaria fazer o contrário. Mas não é só ele, todos na CBN rezam diariamente a mesma cantilena.
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