Por Altamiro Borges
A Polícia Federal anunciou ontem que investigará a
explosão de uma bomba na seccional do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), ocorrida na última quinta-feira (7). O artefato danificou o 9º
andar do edifício Sobral Pinto, sede da entidade. O imóvel foi esvaziado e
ninguém ficou ferido. Segundo o advogado Wadih Damous, ex-presidente da OAB-RJ,
poucas horas antes do atentado o Disque-Denúncia da polícia carioca recebeu uma
ligação informando que ele seria o alvo do atentado.
“Houve uma ligação dizendo que alguns militares da reserva
estariam tramando o meu assassinato e que explodiriam três bombas na OAB”, relata. A
explosão ocorreu às vésperas da sua nomeação para a presidência da Comissão da
Verdade do Rio de Janeiro. Damous não descarta que haja relação entre o
atentado e a sua nomeação. “A OAB-RJ já foi vítima de um atentado a bomba à
época da ditadura. Agora estouram um artefato. Obviamente que a conclusão vai
nesse rumo. Se é verdade ou não, só as investigações vão dizer”.
Em 27 de agosto de 1980, em plena ditadura militar, um
atentado com uma carta-bomba na OAB-RJ provocou a morte da funcionária Lydia
Monteiro da Silva e feriu outra pessoa. “Se de fato houve uma tentativa de
intimidação, ela não vai funcionar. A futura Comissão da Verdade não vai se
deixar intimidar por isso”, afirmou o advogado, que comandará as investigações
sobre os crimes da ditadura no Rio de Janeiro. Como aponta a nota abaixo da
Comissão Nacional da Verdade, o caso é grave e exige rápida e rigorosa apuração:
*****
Há três décadas, o Brasil e o povo brasileiro decidiram
superar o período de violência e medo gerados pelo golpe civil-militar imposto
em 1964. A população apostou na democracia e nas liberdades para enfrentar o
desafio de construir um país justo e próspero, que gere oportunidades para
todos.
Hoje um explosivo foi detonado na sede da OAB, no Rio de
Janeiro. Trata-se de um tardio ato de terror dos que não querem viver num país
democrático. Criando um clima de confronto e desatino “eles” afetam adversários
e a si próprios.
A Comissão Nacional da Verdade, que visa investigar e
reconstituir as graves violações de direitos humanos ocorridas em nossa
história política recente, repudia com veemência o ato intimidatório cometido
na sede da Ordem dos Advogados do Brasil-RJ, e a ameaçadora mensagem recebida
no local afirmando que o ato visava matar seu ex-presidente, Wadih Damous, a
ser nomeado Presidente da Comissão Estadual da Verdade, na segunda-feira, pelo
governador Sérgio Cabral.
A democracia não se constrói com bombas, nem se sustenta com
violência. A coragem de defendê-la deve superar o nosso medo do terror.
No ano de 1980 uma bomba matou Lyda Monteiro e feriu outra
pessoa na sede da OAB no Rio de Janeiro. Felizmente agora não houve vítimas.
Precisamos, contudo, estar atentos aos acontecimentos e solidários na
resistência.
As autoridades competentes estão sendo mobilizadas para
adotar as providências cabíveis. A Comissão Nacional da Verdade espera que se
apure a autoria e se puna os que pretendem negar ao Brasil o caminho da
democracia e das liberdades.
Rio de Janeiro, 7 de março de 2013
Rosa Maria Cardoso da Cunha - Coordenadora Pro Tempore da
CNV
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