sexta-feira, 3 de maio de 2013

Internet e o fim do pensamento único

Por Luis Nassif, em seu blog:

A principal mudança trazida pela Internet no modo de produção jornalística é a interatividade – ou seja, a possibilidade do leitor-comentarista participar da construção do conhecimento.

Ontem escrevi um texto sobre a competência do Globo. No Blog, o leitor Jorge Vieira colocou comentário inteligente, completando o raciocínio.
Diz ele que faltou à Globo visão estratégica e de futuro para consolidar uma relação permanente com seu público.

São dois os pontos de crítica:

“Um monopólio de fato nessa área, perseguindo permanentemente o poder político, produz, no médio e no longo prazo, um gigante de pés de barro, cercado de ameaças por todos os lados”.

A segunda, decorrente da primeira, se prende ao fato de não diversificar os pontos de vista sobre os principais temas.

“De repente, por exemplo, ocorre um crime cometido por um menor de 18 anos que choca a todos e, aí, você vê por vários dias notícias veiculadas de crimes cometidos por menores de idade até a onda passar. Você percebe que vem uma ordem da direção: a hora é de demonizar os menores infratores”.

“A economia, como se sabe, é área da ação humana em que não se pode atingir todos os indicadores de desempenho positivos ao mesmo tempo. Há sempre a possibilidade de ocorrer o sacrifício de alguns para favorecer outros ou vice-versa. E neste jogo, eles estão sempre com a possibilidade de responsabilizar os governos pelo mau desempenho dos indicadores sacrificados”.

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No fundo, a crítica central de Vieira é a contraposição entre a diversidade de opiniões, pela Internet, e a homogeneização da opinião pela Globo. O que se passa por lá, no entanto, é problema comum aos grandes grupos de comunicação, quando se viram confrontados com a realidade da Internet.

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As redes sociais, o acesso amplo e irrestrito a um mundo de opiniões diversificadas, está produzindo um novo cidadão-leitor, o cidadão conectado. Ele não se conforma mais com o prato feito.

Tome-se a questão dos menores. Pela Internet é possível colher opiniões contrárias à redução da maioridade penal e opiniões a favor; opiniões que acham que a imputação penal não refreará os ímpetos do jovem criminoso; e os que julgam que bastam leis severas para reduzir a criminalidade.

Independentemente do mérito de cada um, o leitor conectado terá à sua disposição condimentos dos mais variados para poder montar o SEU prato, a SUA opinião.

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Ao mesmo tempo que estimula o gregarismo, a Internet abre espaço inédito para as manifestações individualizadas – de pessoas ou grupos restritos de opinião.

Nenhum partido político, nenhum veículo de mídia conseguirá administrar essa realidade com a visão antiga, de condutores de povos. É uma nova realidade que exigirá, cada vez mais, o exercício permanente da negociação, dos pactos, da mediação.

Não comporta mais o poder absoluto, nem do Estado nem dos grandes grupos midiáticos, nem dos partidos políticos, nem das religiões. Quem permanecer na velha moldura se arriscará a vestir um paletó de madeira menor do que o figurino.

Como conservar o poder, abrindo mão do direcionamento da informação? Essa é a esfinge que devorará o grupo de comunicação que não conseguir decifrá-la.

1 comentários:

luis alcazar disse...

O grande problema da grande mídia é a grande rede de notícias produzidas em todos os lugares do mundo. Não é possível noticiar tudo de uma forma fidedigna e veraz. E como não se pode fazer isso, se cria a versão, como sempre se criou. Nada de novo aqui. Jornais, TV e rádios são e sempre foram porta vozes de um determinado pensamento. Nunca foram espaços de discussão, de pluralidade de opiniões e sempre visaram um estímulo ao pensar exatamente igual ao pensamento divulgado. As técnicas são simples mas efetivas e criam um enorme movimento de pensamento único e linear.
A internet começou a bagunçar o coreto. E bagunçou porque os autores das noticias e opiniões são muitos. Só isso não garante a leitura, algo fundamental. O que garante a leitura alternativa é a velha máxima dos tradicionais meios de comunicação. Vc compra o que vc conhece. E lê quem vc conhece. Ou acha que conhece. Vc compra uma Brahma Antártica e compra uma cocacola de sabor guaraná. Vc consome o conhecido. Sejam produtos, ideias ou noticias. E pensa o que todos pensam. A linearidade típica do ser humano social. Pensar diferente é complicado e tachado de comunista. Ou algo pior. Sempre foi assim.
A internet revolucionou isso. E o fez porque começou a veicular noticias e formas de pensar assinadas por gente conhecida. E séria. E mesmo os não tão bem conhecidos assim, se vendem como egressos das grandes mídias. Eles foram das grandes mídias então devem ser bons. A filosofia da venda é essa.
O que tenho lido, dos autores dos blogs alternativos, funciona. Os caras são bons. E se vc é bom, isso ajuda na venda e na leitura.
E o problema da grande mídia é que não se consegue combater isso. Vc pode não veicular uma opinião diferente sobre uma noticias divulgada. Mas como evitar com a internet? E como evitar que gente de nome fale, comente e opine? E ainda por cima, te convidam a vc se manifestar? Vc é parte da notícia e da opinião. Acho que esta ultima parte ainda é pouco incentivada. Talvez organizar um fórum de debates para entender como tratar esta interatividade nova. A internet é tão nova que é necessário se organizar. Há muita coisa. Muita informação. Muita opinião. E não se pode esperar que todos leiam. A diversidade é uma arma sensacional e positiva mas também é uma arma negativa. Difícil domesticar isso. Mas necessário pensar. Tai uma boa ideia para um fórum de debates. Com todos. Como organizar os blogs de mídia alternativos? Como noticiar? Como opinar? Que assuntos tratar? Todos? Quem decide isso? O dono do blog? Justo?
Como incentivar a participação de qualquer um, do não famoso, do Zé ninguém, na discussão de ideias? Como organizar tudo isso? Como organizar a zona?
A internet e os que emitem opiniões, os sérios, merecem se debruçar sobre estes problemas. Temos uma poderosa arma na mão. Extremamente poderosa.
Abraços
Luis Alcazar