Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Todos os detalhes da prisão de Claudia Trevisan em Yale, onde ficou detida durante cinco horas, três e meia numa cela, descrevem uma situação arbitrária, que pede uma reação imediata do governo brasileiro.
Cabe ao Itamaraty pedir explicações, já que os direitos de uma cidadã brasileira foram atingidos.
Vamos lá: uma jornalista do Estado de S. Paulo, um dos maiores jornais do País, solicita uma entrevista a Joaquim Barbosa, presidente do STF, presente a um seminário na universidade. Barbosa recusa o pedido e Claudia decide comparecer ao local, do mesmo jeito. Normalíssimo. No Brasil, na China, na Bolívia, nos Estados Unidos, jornalistas agem assim mesmo.
Quando uma autoridade recusa um pedido formal de entrevista, o que sempre tem o direito de fazer, tenta-se uma aproximação direta para se obter um depoimento, o que os jornalistas também podem fazer. É a situação mais comum do mundo. Se não quisesse mesmo falar, Barbosa poderia recusar de novo. Se não quisesse nem responder diretamente, poderia valer-se de um assessor para impedir até uma aproximação ou, em caso extremo, pedir à segurança da universidade que mantivesse Claudia Trevisan à distância. Tudo isso faz parte do jogo universal entre repórteres que querem um depoimento e autoridades que não querem falar. Você já deve ter visto isso várias vezes nos filmes.
O que não se pode aceitar é a entrada da polícia em ação. Ela não se limitou a impedir que Claudia fizesse a entrevista. Prendeu, algemou, manteve incomunicável por horas. Agiu como se estivesse querendo impedir um crime - e não uma entrevista. Com base em quê? Em nome de quem?
Direitos fundamentais foram atingidos. É brutal e inaceitável. Cabe às autoridades norte-americanas esclarecer o que se fez e por quê.
Neste terreno, o Brasil deu um exemplo de civilidade. No início de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou indignado diante de uma reportagem do New York Times, fazendo insinuações de que decisões de seu governo estariam sendo prejudicadas por seu costume de ingerir bebidas alcoólicas. A reportagem era muito ruim: não tinha fatos concretos para apontar nem testemunhas que dessem sustentação ao que disse.
Indignado, Lula chegou a tomar uma decisão dramática -- expulsar o correspondente –, mas voltou atrás. Em nenhum momento, contudo, o jornalista, Larry Rother, foi preso, algemado nem mantido incomunicável.
Como se pode imaginar, a reação de muitos brasileiros diante a arbitrariedade que não houve foi muito maior e explosiva do que agora, quando uma correspondente internacional foi detida por cinco horas sem explicações nos EUA.
O nome disso é complexo de vira-lata?
Todos os detalhes da prisão de Claudia Trevisan em Yale, onde ficou detida durante cinco horas, três e meia numa cela, descrevem uma situação arbitrária, que pede uma reação imediata do governo brasileiro.
Cabe ao Itamaraty pedir explicações, já que os direitos de uma cidadã brasileira foram atingidos.
Vamos lá: uma jornalista do Estado de S. Paulo, um dos maiores jornais do País, solicita uma entrevista a Joaquim Barbosa, presidente do STF, presente a um seminário na universidade. Barbosa recusa o pedido e Claudia decide comparecer ao local, do mesmo jeito. Normalíssimo. No Brasil, na China, na Bolívia, nos Estados Unidos, jornalistas agem assim mesmo.
Quando uma autoridade recusa um pedido formal de entrevista, o que sempre tem o direito de fazer, tenta-se uma aproximação direta para se obter um depoimento, o que os jornalistas também podem fazer. É a situação mais comum do mundo. Se não quisesse mesmo falar, Barbosa poderia recusar de novo. Se não quisesse nem responder diretamente, poderia valer-se de um assessor para impedir até uma aproximação ou, em caso extremo, pedir à segurança da universidade que mantivesse Claudia Trevisan à distância. Tudo isso faz parte do jogo universal entre repórteres que querem um depoimento e autoridades que não querem falar. Você já deve ter visto isso várias vezes nos filmes.
O que não se pode aceitar é a entrada da polícia em ação. Ela não se limitou a impedir que Claudia fizesse a entrevista. Prendeu, algemou, manteve incomunicável por horas. Agiu como se estivesse querendo impedir um crime - e não uma entrevista. Com base em quê? Em nome de quem?
Direitos fundamentais foram atingidos. É brutal e inaceitável. Cabe às autoridades norte-americanas esclarecer o que se fez e por quê.
Neste terreno, o Brasil deu um exemplo de civilidade. No início de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou indignado diante de uma reportagem do New York Times, fazendo insinuações de que decisões de seu governo estariam sendo prejudicadas por seu costume de ingerir bebidas alcoólicas. A reportagem era muito ruim: não tinha fatos concretos para apontar nem testemunhas que dessem sustentação ao que disse.
Indignado, Lula chegou a tomar uma decisão dramática -- expulsar o correspondente –, mas voltou atrás. Em nenhum momento, contudo, o jornalista, Larry Rother, foi preso, algemado nem mantido incomunicável.
Como se pode imaginar, a reação de muitos brasileiros diante a arbitrariedade que não houve foi muito maior e explosiva do que agora, quando uma correspondente internacional foi detida por cinco horas sem explicações nos EUA.
O nome disso é complexo de vira-lata?
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