Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A terça-feira (8/10) registra as escaramuças entre os neurônios da imprensa para desvendar o significado da aliança política entre a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. A fundadora da frustrada Rede Sustentabilidade encontra no Partido Socialista Brasileiro uma sigla com nome tradicional para amarrar seu projeto político que se pretende inovador.
Não são poucos os jornalistas que se referem a um acordo entre “sonháticos” e “pragmáticos”, decretando de uma vez só que socialistas não sonham e que os “sustentabilistas” não têm relação com a realidade prática. Nessa conta de padeiro, um precisa do outro para, juntos, comporem uma força política respeitável.
O problema das análises é que elas precisam de dados concretos onde fixar as teorias, e o terreno da política partidária é um verdadeiro pantanal. Assim, tudo que se declara hoje pode ser desmentido no mesmo dia. Por exemplo, afirmar que o Partido Socialista é socialista e desenvolvimentista é apenas exercício de boa vontade de quem o diz: não se pode nem mesmo afirmar que o PSB seja socialista, pois, como se sabe, são raros os partidos no Brasil cujas siglas representam algum programa ideológico.
Também é arriscado dizer que a Rede Sustentabilidade congrega todos, ou pelo menos uma proporção razoável dos brasileiros que desejam um projeto de desenvolvimento sustentável. A Rede é um projeto da ex-ministra Marina Silva, que representa uma parcela da militância que herdou o ideário do líder seringalista Chico Mendes.
Ela participou de um projeto político no Acre, onde o poder foi tomado de grupos conservadores ligados à agropecuária para ser, vinte anos depois, transformado em uma ação entre amigos constantemente assediada por denúncias de corrupção e nepotismo. Sua conversão à igreja Assembleia de Deus alimenta controvérsias sobre sua capacidade de aplicar a questões simples, como os direitos de minorias, a visão contemporânea da tolerância.
É arriscado até mesmo afirmar, como fazem alguns comentaristas, que uma provável chapa Eduardo Campos-Marina Silva venha a deslocar o PSDB, principal força da oposição, para um papel de mero coadjuvante nas eleições de 2014. Os jornais trazem uma profusão de opiniões, mas nenhum deles analisou os potenciais dos novos aliados em comparação com o patrimônio eleitoral dos tucanos, por exemplo. Não se deve subestimar a força da relação dos antigos socialdemocratas com as classes médias tradicionais das grandes cidades.
Caneleiras de titânio
Sabe-se que o jogo da política é bancado pelo potencial de votos, que atrai investidores e agrega aliados, o que amplia o tempo de exibição durante a campanha no rádio e na TV. Esse potencial é medido constantemente pelas pesquisas de intenção de voto justamente porque as intenções se alteram aleatoriamente, e cada consulta equivale a um retrato da cena que já passou.
Alguns candidatos, que são capazes de mover sentimentos difusos, costumam aparecer bem nas primeiras pesquisas, mas tendem a perder terreno à medida que o eleitorado se aproxima do momento de decidir. Esse é o desafio central de Marina Silva: transformar em propostas concretas aquilo que até aqui se apresenta como um conjunto de ideias vagamente associadas a uma possibilidade de mudança.
Observe-se, por exemplo, que em agosto de 2010, ou seja, a dois meses da eleição presidencial, ela confessou que não tinha opinião formada a respeito da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. Por outro lado, seu parceiro socialista deve enfrentar embaraços para justificar como haveria de conciliar os “sonháticos” de Marina com certos correligionários mais claramente identificados com o capitalismo predador do que com o que possa vir a ser um projeto de sustentabilidade.
Portanto, apesar do aspecto surpreendente da aliança Campos-Silva, e dos sinais de que a imprensa tende a transferir seu apoio para os novos protagonistas, só com muita ginástica mental se pode afirmar que o jogo mudou. A política partidária segue refletindo o recorte entre dois campos antagônicos nos quais a ideologia há muito tempo deu lugar ao pragmatismo.
Se quiser jogar para valer, Marina Silva vai precisar de caneleiras de titânio para proteger suas frágeis canelas. Para seguir contando com os espaços generosos que a mídia lhe proporciona nestes dias, em que o impacto de sua aliança com o PSB ainda provoca especulações, ela deverá definir rapidamente o que realmente, na prática, diferencia sua candidatura das propostas já colocadas em jogo.
Ela vai precisar, de um lado, continuar alimentando os sonhos de seus seguidores e, de outro, atender às expectativas conservadoras da imprensa.
Não são poucos os jornalistas que se referem a um acordo entre “sonháticos” e “pragmáticos”, decretando de uma vez só que socialistas não sonham e que os “sustentabilistas” não têm relação com a realidade prática. Nessa conta de padeiro, um precisa do outro para, juntos, comporem uma força política respeitável.
O problema das análises é que elas precisam de dados concretos onde fixar as teorias, e o terreno da política partidária é um verdadeiro pantanal. Assim, tudo que se declara hoje pode ser desmentido no mesmo dia. Por exemplo, afirmar que o Partido Socialista é socialista e desenvolvimentista é apenas exercício de boa vontade de quem o diz: não se pode nem mesmo afirmar que o PSB seja socialista, pois, como se sabe, são raros os partidos no Brasil cujas siglas representam algum programa ideológico.
Também é arriscado dizer que a Rede Sustentabilidade congrega todos, ou pelo menos uma proporção razoável dos brasileiros que desejam um projeto de desenvolvimento sustentável. A Rede é um projeto da ex-ministra Marina Silva, que representa uma parcela da militância que herdou o ideário do líder seringalista Chico Mendes.
Ela participou de um projeto político no Acre, onde o poder foi tomado de grupos conservadores ligados à agropecuária para ser, vinte anos depois, transformado em uma ação entre amigos constantemente assediada por denúncias de corrupção e nepotismo. Sua conversão à igreja Assembleia de Deus alimenta controvérsias sobre sua capacidade de aplicar a questões simples, como os direitos de minorias, a visão contemporânea da tolerância.
É arriscado até mesmo afirmar, como fazem alguns comentaristas, que uma provável chapa Eduardo Campos-Marina Silva venha a deslocar o PSDB, principal força da oposição, para um papel de mero coadjuvante nas eleições de 2014. Os jornais trazem uma profusão de opiniões, mas nenhum deles analisou os potenciais dos novos aliados em comparação com o patrimônio eleitoral dos tucanos, por exemplo. Não se deve subestimar a força da relação dos antigos socialdemocratas com as classes médias tradicionais das grandes cidades.
Caneleiras de titânio
Sabe-se que o jogo da política é bancado pelo potencial de votos, que atrai investidores e agrega aliados, o que amplia o tempo de exibição durante a campanha no rádio e na TV. Esse potencial é medido constantemente pelas pesquisas de intenção de voto justamente porque as intenções se alteram aleatoriamente, e cada consulta equivale a um retrato da cena que já passou.
Alguns candidatos, que são capazes de mover sentimentos difusos, costumam aparecer bem nas primeiras pesquisas, mas tendem a perder terreno à medida que o eleitorado se aproxima do momento de decidir. Esse é o desafio central de Marina Silva: transformar em propostas concretas aquilo que até aqui se apresenta como um conjunto de ideias vagamente associadas a uma possibilidade de mudança.
Observe-se, por exemplo, que em agosto de 2010, ou seja, a dois meses da eleição presidencial, ela confessou que não tinha opinião formada a respeito da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. Por outro lado, seu parceiro socialista deve enfrentar embaraços para justificar como haveria de conciliar os “sonháticos” de Marina com certos correligionários mais claramente identificados com o capitalismo predador do que com o que possa vir a ser um projeto de sustentabilidade.
Portanto, apesar do aspecto surpreendente da aliança Campos-Silva, e dos sinais de que a imprensa tende a transferir seu apoio para os novos protagonistas, só com muita ginástica mental se pode afirmar que o jogo mudou. A política partidária segue refletindo o recorte entre dois campos antagônicos nos quais a ideologia há muito tempo deu lugar ao pragmatismo.
Se quiser jogar para valer, Marina Silva vai precisar de caneleiras de titânio para proteger suas frágeis canelas. Para seguir contando com os espaços generosos que a mídia lhe proporciona nestes dias, em que o impacto de sua aliança com o PSB ainda provoca especulações, ela deverá definir rapidamente o que realmente, na prática, diferencia sua candidatura das propostas já colocadas em jogo.
Ela vai precisar, de um lado, continuar alimentando os sonhos de seus seguidores e, de outro, atender às expectativas conservadoras da imprensa.
3 comentários:
... O quase-provável ministro da agricultura do [hipotético - e improvável!] governo Eduardo [Em] Campos [Minados]: pelo próprio "MINIstro"!
"Sábado me ligaram - eufóricos de alegria - até para dizer que o governador [de Pernambuco, Eduardo Campos] futuramente me queria ministro da Agricultura...."
Pelo "futuro MINIstro" Ronaldo Caiado do DEMo de Goíás dos ilibados DEMÓstenes Torres e Marconi Perrilo
em http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1354358-caiado-diz-que-foi-atropelado-por-alianca-marina-campos.shtml
OCT
8
CIVITAS DEMITEM CUNHADO, RACHAM CLÃ E CRIAM RIVAL
Principal quadro da área comercial do Grupo Abril, Jairo Mendes Leal perde todos os cargos conquistados em 40 anos na empresa; marido de Roberta Civita, única filha mulher de Roberto Civita, morto este ano, executivo era do staff da AbrilPar e tinha assento no conselho editorial; absolutismo dos irmãos Gianca e Titi Civita pode custar caro; respeitado pelo mercado publicitário, Leal avisa que irá criar a sua própria editora; em apenas três meses no poder, herdeiros promoveram mais de uma centenas de demissões, dividiram a própria família e defenestraram seu principal executivo; mutatis mutandis, são eles os Bórgia do século 21?
8 DE OUTUBRO DE 2013
247 – No Renascimento europeu, a família hispano-italiana Bórgia tantas fez que entrou para a história como sinônimo de traições e barbaridades dentro de si mesma e alhures. Mutatis mutandis, ao longo dos séculos diferentes outros clãs foram alvos de comparações com aqueles amantes da política, do poder e das perversidades. Agora, de novo.
Nesta terça-feira 8, por meio de um comunicado repleto de floreios, em tudo parecido com uma mensagem que saúda uma grande promoção na carreira, os dois herdeiros Civita, do Grupo Abril, Ginca e Titi, se livraram de uma terça parte de sua própria família: o executivo Jairo Mendes Leal foi demitido.
Considerado o principal quadro da área comercial da Abril, Leal foi defenestrado sem motivo declarado. Num só empurrão, ele foi tirado de suas cadeiras no staff da AbrilPar, a holding da organização, e no Conselho Editorial. Nos últimos 20 anos, foi homem de confiança do patrão Roberto Civita (1936-2013), que lhe concedeu a mão de sua única filha, Roberta, em casamento. Ingresso na Abril aos 15 anos de idade, o executivo que cumpriu uma carreira de 40 anos na empresa era como um filho para o sogro. Os filhos de Roberto mostram, agora, que a harmonia familiar acabou.
A cizânia, porém, está apenas começando. A amigos, Leal já diz que pretende, o quanto antes, montar uma editora para concorrer com a casa da qual foi oficialmente expulso hoje. Para tanto, experiência e competência não lhe faltam. Como reconhece Giancarlo Civita, citado no comunicado de dispensa do cunhado (abaixo), o executivo que sai detém "grande conhecimento de todos os aspectos do negócio de fazer revistas". O texto assinala que Leal "vai agora dedicar-se a projetos pessoais fora da organização".
REQUINTE DE HUMILHAÇÃO - De maneira bastante cruel diante dos que que conhecem os meandros da Abril e do mercado, o comunicado oficial lembra que Leal criou as revistas Men's Health, Lola e Alfa, estas duas últimas fechadas por Gianca e Titi assim que assumiram seus posto atuais, sob alegação de darem prejuízo à empresa. Esse tipo de requinte de humilhação só é dominado pelos clãs acostumados a vigorosas lutas intestinas. Trinta anos atrás, antes de morrer, o fundador do grupo, Victor Civita, teve o cuidado de dividir sua herança empresarial cuidadosamente entre seus filhos Roberto e Richard para que eles não se engalfinhassem numa disputa fraticida. Apelidado de Tio Patinhas, o "seo" Victor sabia os filhos que tinha.
Não há uma palavra sequer sobre o motivo, afinal, para a saída de Leal. O que se sabe é que era um corte anunciado. Antes de tirar o crachá dele de acesso ao NEA - Novo Edifício Abril -, os Civita ordenaram a demissão do também executivo da área comercial Roberto Ferreira, considerado o braço direito do executivo que continua, goste-se ou não, pertencendo à família.
http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br/2013/10/civitas-demitem-cunhado-racham-cla-e.html
Caro Miro,
Com sua licença postarei um comentário acerca do artigo de hoje
no Nassif - onde não posso mais postar pois só tenho yahoo.
É sobre um caso de ressarcimento e danos morais da Telebhaia.
Poderia ser qq uma ou outro tipo de empresa que lesa consumidores.
1)É uma situação de escárnio com o consumidor. Estamos expostos a essa situação há ao menos uma década.
2)O governo é totamente conivente com essa situação.
3) O Congresso é totalmente conivente com essa situação.
4) O artigo é verdadeiro e apenas uma amostra do que deve ser ainda pior com outras pessoas.
5) Os números de lesados não vão a público, pois isso não interessa às queridas empresas lesadoras.
6)Isso reflete nos protestos difusos e aglutina pessoas contra qq governo.
7) A insatisfação é geral com os serviços.
8) As pessoas não tem tempo para lutar e ficam frustradas.
9) Os procons são apenas propagandas e desvios de dinheiro nos níveis estaduais.
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