domingo, 14 de dezembro de 2014

Entre estupradores e pseudo-intelectuais

Por Igor Augusto, no site da UJS:

Ainda este ano, fiz uma avaliação do que seria a próxima composição do Congresso Nacional, eleito o mais conservador desde 1964, no texto “O Congresso, o Planalto, o ódio e junho de 2013″ publicado no Portal Vermelho. Antes mesmo de sua posse, o novo Congresso já mostra sua cara: cada vez mais ódio, preconceito e machismo.

A viúva da ditadura

“Não saia não, Maria do Rosário, fica aí. Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias, ‘tu’ me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui pra ouvir!”. Dar nojo de ler, não? Fico imaginando a deputada Maria do Rosário ouvindo essas palavras do fascista, ou neo-nazista Jair Bolsonaro, na última terça, dia 9. O episódio foi mais uma das atuações circenses do ”deputado”, que além de um agressor confesso, é uma das viúvas da Ditadura Militar no Brasil.

Para muitos pode parecer banal ou até algo que não é digno de atenção, mas pensem comigo. Ela não estupra, porque ela não merece. Se fosse outra ele iria estuprar? Pior do que isso, existe alguma mulher no mundo que mereça ser e-s-t-u-p-r-a-da ? Ultimamente o conservadorismo impregnado nesse país tem tornado comum esse tipo de comportamento. “Mulher com saia curta está pedindo sexo”, “Mulher de vestido curto está querendo transar”. Ora, será que toda mulher que queira usar uma roupa mais ousada, está fazendo um pedido pra fazer sexo com qualquer homem?

O sociólogo paraense

Aqui no Pará, um delegado eleito deputado federal mais votado do estado, o famoso Eder Mauro, disse em uma entrevista concedida a uma jornalista do jornal O Liberal, que é “policial, não sociólogo” e que a homossexualidade é igual a maconha: “Não pode incentivar!”. De fato, a bancada militar mostrou para o que veio. Existe forma de estimular a homossexualidade? Será que a homossexualidade é algo a ser combatido das formas mais cruéis possíveis, ou é uma opção individual?

Da mesma forma a maconha. Não entro no mérito da droga em si, mas do tráfico. É necessário sim combater o tráfico de drogas, que mata e destrói famílias todos os dias. Mas não é batendo, esfolando e matando “aviõezinhos”, “fogueteiros” e “distribuidores” de drogas que se combate o tráfico. Para muitos a solução é prender o traficante, porém, prender um traficante não tira a possibilidade de surgirem outros. O combate ao tráfico se dá na raiz do problema, se dá pela presença maior do estado, não com repressão, mas dando educação e oportunidades de melhoria de vida à população mais pobre.

Os pseudo-intelectuais

Como podemos observar, a cada dia a sanha conservadora vai mostrando a cara não apenas através de parlamentares, mas também por ‘pseudo-intelectuais’ ao nível de Lobão e Olavo de Carvalho, que aliás, em pleno ano de 2014, ainda pedia a morte de comunistas em uma rede social. Mesmo após 50 anos de um golpe que censurou, torturou e matou, ainda há gente pregando ódio a comunistas e a pessoas ligadas a esquerda.

É, a luta de ideias e os debates tendem a ser ainda mais acirrados daqui pra frente. No parlamento, existem parlamentares que a todo dia estão na linha de frente para combater essas ideias. Aqui fora cabe a cada um de nós, militantes ou não, de esquerda ou não, travar essa luta, e não falo em estabelecer como alvo uma pessoa e sim ideias retrógradas.

O que fazer?

Que ideias são essas? Resumindo: 1 – mulher nenhuma, em hipótese alguma vai merecer ser estuprada; 2 – o combate as drogas se dá com educação e distribuição de renda igualitária, não se combate drogas com porrada; 3 – homossexualismo não é doença, nem uma praga e muito menos uma chaga social, é uma opção individual e que deve ser respeitada; 4 – o Brasil vive uma democracia, que apesar das falhas, garante a existência de partidos e organizações políticas, de esquerda e de direita, que podem fazer suas manifestações e mostrar suas ideias; 5 – o golpe militar de 64 matou e torturou sim e é uma ameaça a qualquer país ter sua liberdade cerceada por um regime como este.

Por último quero ressaltar que vivemos em uma democracia que te permite de certo modo, dizer o que pensa, ter suas opiniões e sua ideologia, mas fazer isso com discurso de ódio, alimentando o preconceito e a violência é grotesco. Ideias divergentes e discurso de ódio são coisas opostas e temos que ter muito cuidado com isso. Vamos dialogar? Vamos bater um papo centrado e sem ofensas? Vamos mostrar nossas ideias e alimentar o debate com a sociedade? É isso que fortalece a democracia e isso que vai fazer pessoas mais críticas e menos alienadas.

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