terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A nova faca no pescoço de Dilma

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Consumou-se o óbvio.

Eduardo Cunha teve uma vitória avassaladora, eleito em primeiro turno, com praticamente o dobro dos votos de Arlindo Chinaglia.

Não foi, propriamente, uma vitória da Oposição, mas uma vitória de oposição ao Governo.

Foi, sobretudo, uma vitória do “sindicato” dos deputados, o que já, de cara, Cunha deixou claro ao prometer colocar, de imediato, em votação e aprovar o orçamento impositivo, ou a “mordida” obrigatória no dinheiro público para projetos de prefeituras, de estados e para os malsinados “convênios”, dos quais não me permito falar por problemas estomacais.

Cunha vai seguir, claro, fazendo seus lobbies, como fez nos governos de Lula e de Dilma.

Mas, depois de um pequeno período de “pose de estadista”, o que ele fará é o mesmo, em ponto muito maior.

Porque, agora, é quem decide o que entra ou não em pauta para votação.

Cunha mudou de “ordem de grandeza”.

O negócio, agora, não é uma diretoria da Caixa ou de algum outro órgão.

É tudo.

Experimente-se, para ver, resistir à sua gazua.

Porque, no sistema eleitoral que temos, montam-se bases parlamentares com base em que?

Porque é que Marina, com Itaú e tudo, não conseguiu formar partido e Paulinho da Força fez o Solidariedade com um pé nas costas?

E não pense que essas “boas obras” vão para a conta deles, não.

Vão para a conta do governo que eles pressionam e politicamente chantageiam.

O Governo Dilma ganhou a reeleição, mas reluta em assumir o poder.

E o poder exige alinhamento entre os que o partilham.

Se não há um mínimo de alinhamento, não pode haver esta partilha.

Atentem para o que quer dizer o resultado.

Mesmo com parte dos votos tucanos para Julio Delgado, o “cunhismo” teve maioria absoluta da Câmara.

Com o PSDB fechado, tem maioria até para mudanças constitucionais.

Resta ao governo, agora, a triste sina de negociar cada projeto de lei ou Medida Provisória no varejinho da esquina parlamentar.

Ou dialogar com a população, o que até ameaçou fazer – e recuou – ao propor a reforma político-eleitoral em 2013.

Mas dialogar com a população, como?

Cada vez mais o governo vai atando seus movimentos.

Eu sigo os conselhos do velho Brizola e recorro aos poetas, a um dos grandes, Cartola:

Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés

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