Por José Carlos Ruy, no site Vermelho:
Muita gente acredita que a luta política ocorre em torno de ideias e formas, melhores ou piores, para governar. O tamanho da campanha movida pela direita e pela oposição neoliberal contra os governos democráticos e populares desfaz, de maneira didática, essa ilusão.
E revela, para quem ainda tenha dúvidas, que os contendores no cenário político são movidos pelo objetivo de controlar direta ou indiretamente o governo federal e criar as condições para abocanhar parte fundamental da riqueza nacional.
Toda a retórica é usada pela direita e pelos conservadores para encobrir este objetivo e apresentar a defesa de seus próprios interesses particulares como se fosse a defesa do povo e da sociedade.
O aspecto didático referido acima pode ser visto na forma como lideres e políticos da direita. e seus ventríloquos da mídia hegemônica, tratam os dois principais temas presentes na conjuntura deste início do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff: a crise na Petrobrás provocada por denúncias escandalosamente manipuladas por parte do Judiciário e pela mídia conservadora e ligada a ela, a estridente gritaria pelo impeachment da presidenta.
São temas que a direita apresenta juntos para tentar criar condições que facilitem o assalto ao poder - ou, ao menos, para manter a tática do jagunço contra a presidenta e os partidos de esquerda: sangrar para enfraquecê-los e melhorar as condições para uma eventual vitória eleitoral que afaste a aliança democrática e popular da presidência da República.
O interesse material em disputa é visível. Fernando Henrique Cardoso, no artigo publicado em O Estado de S. Paulo (01/02/2015) em que pregou aberta e despudoradamente um golpe de Estado, já havia investido contra as regras que garantem o controle brasileiro sobre o pré-sal.
Neste domingo foi a vez do campeão neoliberal, o ex-ministro da Fazenda tucano Pedro Malan, investir no mesmo rumo. No artigo intitulado “A força da realidade” (O Estado de S. Paulo, 08.02.2015) seu alvo foi o mesmo: ele atacou o modelo de partilha do pré-sal (disse que “deve ser abandonado”), defendeu concessões e a abertura do mercado a empresas estrangeiras, e condenou a política de conteúdo nacional (que, disse, “gera ônus excessivos para a estatal”).
O escândalo e os temores que a política do governo em relação ao pré-sal provoca nestes setores são compreensíveis. A legislação específica criada para garantir aos brasileiros o controle e os benefícios dessa riqueza estabelece - pela primeira vez na história do país - a forma como ela será empregada em benefício do desenvolvimento nacional, da melhoria da vida do povo e da afirmação da soberania nacional.
É uma perspectiva que contraria um vício elitista secular. A economia brasileira sempre esteve organizada para atender aos interesses de uma minúscula classe dominante aliada ao imperialismo, que é o verdadeiro beneficiário do arranjo que prevaleceu desde a Independência, em 1822. A dependência externa se traduziu em uma dívida externa impagável e responsável pelo desequilíbrio estrutural das contas externas do país que provocava, internamente, a inflação incontrolável e os custos excessivos jogados sobre a população na forma de salários inadequados e condições de trabalho precárias e desumanas. Uma parte pequena da população (alguns a calculam em, no máximo, 1/3 dos brasileiros) era beneficiada pela situação de dependência do país. Essa parte incluía desde os sócios menores da espoliação externa, que conseguiam manter seus empregos a duras penas, até a extremamente pequena minoria de dominantes que abocanhava fatias maiores e mais significativas.
Os governos democráticos e populares começaram a mudar essa lógica perversa, antidemocrática e antinacional. São governos que proclamam a necessidade de usar as riquezas nacionais em benefício do país e seu povo. E sinalizam uma mudança que promete alteração real nas relações de poder e entre as classes sociais dentro do país.
Para a classe dominante, que sempre abocanhou a parte do leão das riquezas produzidas no país, essa mudança é inaceitável - e ameaçadora para seus privilégios seculares.
Este é o pano de fundo que move a oposição neoliberal e de direita, que quer manter o mesmo arranjo econômico em que seus interesses prevalecem. Por isso pregam a entrega do pré-sal para empresas estrangeiras. Ao preço de, irresponsavelmente, colocar em risco a integridade desta empresa que faz parte do patrimônio nacional, a Petrobrás, cuja existência sempre os incomodou. E ameaçam destruir conquistas democráticas, sociais e nacionais alcançadas a duras penas nos último treze anos de governos democráticos e populares.
Para alcançar seus objetivos precisam criminalizar o Partido dos Trabalhadores, o Partido Comunista do Brasil, a esquerda e os governos dirigidos por ela.
Mas a direita, que desde 1945 é o principal fator das crises políticas, parece ter dificuldade para completar sua unidade em torno do objetivo golpista. Mesmo seu principal partido, o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves e José Serra, parece trincado. Existiriam ao menos três alas no ninho tucano. De um lado, o senador Cassio Cunha Lima aparece como o mais veemente defensor do impeachment da presidenta; outra ala, onde se destaca o ex-governador mineiro Aécio Neves, garante que o tema não está na agenda do partido, mas diz que não é crime discuti-lo; finalmente outra ala, com destaque para o governador goiano Marconi Perillo, aparece como contrária a qualquer movimento de oposição radical à presidenta.
Tudo indica que pode prevalecer entre a oposição neoliberal a tática do jagunço já usada contra Lula em 2005/2006: sangrar para enfraquecer e dificultar a vida de Dilma Rousseff, de Lula e do eventual candidato da aliança democrática e popular na eleição no longínquo 2018.
Aliás, Lula deu um significativo passo nesse embate e anunciou, durante a festa dos 35 anos do Partido dos Trabalhadores, em Belo Horizonte (MG), a decisão de candidatar-se à sucessão de Dilma Rousseff, em 2018.
Ele se apresenta montado num número extremamente favorável: 56% das pessoas ouvidas na última pesquisa do Datafolha indicaram Lula como o melhor presidente que o Brasil já teve; Fernando Henrique Cardoso aparece na mesma pesquisa com meros 13%.
Água fria nos ânimos pelo impeachment! Pelo menos foi o que indicou a colunista conservadora Eliane Cantanhêde, que relativizou a defesa do afastamento da presidenta em artigo publicado no site de O Estado de S. Paulo (11/02/2015). Não há viabilidade para isso, escreveu. Depois de se referir às crises em que foram depostos Getúlio Vargas (1954), João Goulart (1964) e Fernando Collor (1992), ela concluiu que “Dilma tem biografia solida, a história do PT, exército, tropa”, gerando um quadro político no qual “um processo de impeachment simplesmente incendiaria o País”.
A jornalista poderia lembrar que o Brasil não é mais o mesmo de 60 ou 50 anos atrás; deixou de ser aquela nação metade agrícola metade industrial pouco desenvolvida e dominada por uma elite política retrógrada, antidemocrática e antinacional.
O Brasil mudou de feição e o povo fez seu aprendizado na luta contra a ditadura, no Fora Collor, na resistência antineoliberal contra Fernando Henrique Cardoso. Ainda falta muito no desenvolvimento de sua consciência política, mas os brasileiros avançaram, e isso faz toda a diferença com épocas passadas. Eliane Cantanhêde tem razão ao dizer que Dilma tem tropa - tropa que se dispõe a sair às ruas em defesa da legalidade e do programa de mudanças que levou à reeleição da presidenta no ano passado. Essa é uma tropa quer uma agenda unitária contra a ameaça da direita.
Muita gente acredita que a luta política ocorre em torno de ideias e formas, melhores ou piores, para governar. O tamanho da campanha movida pela direita e pela oposição neoliberal contra os governos democráticos e populares desfaz, de maneira didática, essa ilusão.
E revela, para quem ainda tenha dúvidas, que os contendores no cenário político são movidos pelo objetivo de controlar direta ou indiretamente o governo federal e criar as condições para abocanhar parte fundamental da riqueza nacional.
Toda a retórica é usada pela direita e pelos conservadores para encobrir este objetivo e apresentar a defesa de seus próprios interesses particulares como se fosse a defesa do povo e da sociedade.
O aspecto didático referido acima pode ser visto na forma como lideres e políticos da direita. e seus ventríloquos da mídia hegemônica, tratam os dois principais temas presentes na conjuntura deste início do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff: a crise na Petrobrás provocada por denúncias escandalosamente manipuladas por parte do Judiciário e pela mídia conservadora e ligada a ela, a estridente gritaria pelo impeachment da presidenta.
São temas que a direita apresenta juntos para tentar criar condições que facilitem o assalto ao poder - ou, ao menos, para manter a tática do jagunço contra a presidenta e os partidos de esquerda: sangrar para enfraquecê-los e melhorar as condições para uma eventual vitória eleitoral que afaste a aliança democrática e popular da presidência da República.
O interesse material em disputa é visível. Fernando Henrique Cardoso, no artigo publicado em O Estado de S. Paulo (01/02/2015) em que pregou aberta e despudoradamente um golpe de Estado, já havia investido contra as regras que garantem o controle brasileiro sobre o pré-sal.
Neste domingo foi a vez do campeão neoliberal, o ex-ministro da Fazenda tucano Pedro Malan, investir no mesmo rumo. No artigo intitulado “A força da realidade” (O Estado de S. Paulo, 08.02.2015) seu alvo foi o mesmo: ele atacou o modelo de partilha do pré-sal (disse que “deve ser abandonado”), defendeu concessões e a abertura do mercado a empresas estrangeiras, e condenou a política de conteúdo nacional (que, disse, “gera ônus excessivos para a estatal”).
O escândalo e os temores que a política do governo em relação ao pré-sal provoca nestes setores são compreensíveis. A legislação específica criada para garantir aos brasileiros o controle e os benefícios dessa riqueza estabelece - pela primeira vez na história do país - a forma como ela será empregada em benefício do desenvolvimento nacional, da melhoria da vida do povo e da afirmação da soberania nacional.
É uma perspectiva que contraria um vício elitista secular. A economia brasileira sempre esteve organizada para atender aos interesses de uma minúscula classe dominante aliada ao imperialismo, que é o verdadeiro beneficiário do arranjo que prevaleceu desde a Independência, em 1822. A dependência externa se traduziu em uma dívida externa impagável e responsável pelo desequilíbrio estrutural das contas externas do país que provocava, internamente, a inflação incontrolável e os custos excessivos jogados sobre a população na forma de salários inadequados e condições de trabalho precárias e desumanas. Uma parte pequena da população (alguns a calculam em, no máximo, 1/3 dos brasileiros) era beneficiada pela situação de dependência do país. Essa parte incluía desde os sócios menores da espoliação externa, que conseguiam manter seus empregos a duras penas, até a extremamente pequena minoria de dominantes que abocanhava fatias maiores e mais significativas.
Os governos democráticos e populares começaram a mudar essa lógica perversa, antidemocrática e antinacional. São governos que proclamam a necessidade de usar as riquezas nacionais em benefício do país e seu povo. E sinalizam uma mudança que promete alteração real nas relações de poder e entre as classes sociais dentro do país.
Para a classe dominante, que sempre abocanhou a parte do leão das riquezas produzidas no país, essa mudança é inaceitável - e ameaçadora para seus privilégios seculares.
Este é o pano de fundo que move a oposição neoliberal e de direita, que quer manter o mesmo arranjo econômico em que seus interesses prevalecem. Por isso pregam a entrega do pré-sal para empresas estrangeiras. Ao preço de, irresponsavelmente, colocar em risco a integridade desta empresa que faz parte do patrimônio nacional, a Petrobrás, cuja existência sempre os incomodou. E ameaçam destruir conquistas democráticas, sociais e nacionais alcançadas a duras penas nos último treze anos de governos democráticos e populares.
Para alcançar seus objetivos precisam criminalizar o Partido dos Trabalhadores, o Partido Comunista do Brasil, a esquerda e os governos dirigidos por ela.
Mas a direita, que desde 1945 é o principal fator das crises políticas, parece ter dificuldade para completar sua unidade em torno do objetivo golpista. Mesmo seu principal partido, o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves e José Serra, parece trincado. Existiriam ao menos três alas no ninho tucano. De um lado, o senador Cassio Cunha Lima aparece como o mais veemente defensor do impeachment da presidenta; outra ala, onde se destaca o ex-governador mineiro Aécio Neves, garante que o tema não está na agenda do partido, mas diz que não é crime discuti-lo; finalmente outra ala, com destaque para o governador goiano Marconi Perillo, aparece como contrária a qualquer movimento de oposição radical à presidenta.
Tudo indica que pode prevalecer entre a oposição neoliberal a tática do jagunço já usada contra Lula em 2005/2006: sangrar para enfraquecer e dificultar a vida de Dilma Rousseff, de Lula e do eventual candidato da aliança democrática e popular na eleição no longínquo 2018.
Aliás, Lula deu um significativo passo nesse embate e anunciou, durante a festa dos 35 anos do Partido dos Trabalhadores, em Belo Horizonte (MG), a decisão de candidatar-se à sucessão de Dilma Rousseff, em 2018.
Ele se apresenta montado num número extremamente favorável: 56% das pessoas ouvidas na última pesquisa do Datafolha indicaram Lula como o melhor presidente que o Brasil já teve; Fernando Henrique Cardoso aparece na mesma pesquisa com meros 13%.
Água fria nos ânimos pelo impeachment! Pelo menos foi o que indicou a colunista conservadora Eliane Cantanhêde, que relativizou a defesa do afastamento da presidenta em artigo publicado no site de O Estado de S. Paulo (11/02/2015). Não há viabilidade para isso, escreveu. Depois de se referir às crises em que foram depostos Getúlio Vargas (1954), João Goulart (1964) e Fernando Collor (1992), ela concluiu que “Dilma tem biografia solida, a história do PT, exército, tropa”, gerando um quadro político no qual “um processo de impeachment simplesmente incendiaria o País”.
A jornalista poderia lembrar que o Brasil não é mais o mesmo de 60 ou 50 anos atrás; deixou de ser aquela nação metade agrícola metade industrial pouco desenvolvida e dominada por uma elite política retrógrada, antidemocrática e antinacional.
O Brasil mudou de feição e o povo fez seu aprendizado na luta contra a ditadura, no Fora Collor, na resistência antineoliberal contra Fernando Henrique Cardoso. Ainda falta muito no desenvolvimento de sua consciência política, mas os brasileiros avançaram, e isso faz toda a diferença com épocas passadas. Eliane Cantanhêde tem razão ao dizer que Dilma tem tropa - tropa que se dispõe a sair às ruas em defesa da legalidade e do programa de mudanças que levou à reeleição da presidenta no ano passado. Essa é uma tropa quer uma agenda unitária contra a ameaça da direita.
Isso ficou demonstrado no evento que reuniu (neste dia 11), na sede do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo, parte do estado maior dessa tropa. Lá estavam, entre outros, os dirigentes da União Nacional dos Estudantes, UNE (a presidenta Vic Barros), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST (João Paulo) e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, MTST (Guilherme Boulos). Todos defenderam a unidade dos movimentos sociais, entidades e partidos de esquerda, contra o golpismo da direita neoliberal.
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