sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Paulinho da Força está pendurado no Cunha

Por Altamiro Borges

O deputado federal Paulinho da Força (SD-SP) deve andar preocupado e deprimido. Por razões ainda obscuras, o ex-dirigente sindical virou o principal defensor do correntista suíço Eduardo Cunha. Ele até parecia um jagunço do achacador. "Estou com ele para o que der e vier", afirmou várias vezes. Só que o mundo dá voltas e o ex-todo poderoso lobista parece que está com os seus dias contados. Nesta semana, a Procuradoria-Geral da República pediu seu afastamento da presidência da Câmara Federal e o Supremo Tribunal Federal abortou a sua "comissão especial do impeachment" de Dilma. Caso ele seja afastado, cassado ou até preso, Paulinho da Força ficará pendurado no Cunha!

Para os que questionavam a sua conversão em jagunço do lobista, o fundador do Solidariedade - uma legenda que reúne notórios vigaristas, como o ex-secretário de Segurança do Paraná, o espancador de professores Fernando Francischini -, Paulinho da Força argumentava que Eduardo Cunha era o único que reunia condições para depor a presidenta petista. "O nosso negócio é derrubar a Dilma. Nada nos tira desse rumo. O governo bate nele porque sem ele não tem impeachment. Estou com ele para o que der e vier", afirmou o deputado, no maior cinismo, à Folha em 16 de outubro. 

Proteção mafiosa

Há quem acredite, porém, que a motivação do jagunço não é apenas política. Segundo especulações da mídia, o achacador financiou a campanha e ajudou a eleger mais de 100 deputados. Eles deveriam fidelidade ao capo da máfia. Alguns deles, com destaque para o deputado paulista, compuseram a "tropa de choque" de Eduardo Cunha, ajudando a aprovar os seus projetos conservadores - inclusive o que amplia a terceirização nas empresas. Além disso, Paulinho da Força acumula inúmeros processos na Justiça por corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha e outros crimes. A presença do lobista na presidência da Câmara Federal era uma garantia maior de imunidade, de proteção mafiosa. 

No início de dezembro, o empresário Ricardo Pessoa, um dos delatores da Lava-Jato, confirmou que doou R$ 1,6 milhão ao deputado Paulinho da Força e ao seu partido, o Solidariedade, entre 2010 e 2015, para sabotar lutas trabalhistas. O Globo vazou o depoimento em que o dono da UCT explica porque decidiu financiar a legenda: "Que em razão dessas doações a Paulinho, o declarante tinha a liberdade para poder pedir a ele, a qualquer momento, que intercedesse em movimentos sindicais liderados por ele que pudessem vir a causar problemas em seus negócios". O empresário relata ainda que ligou pessoalmente para o deputado "para pedir interferência numa ameaça de paralisação na construção da hidrelétrica São Manoel, no Rio Teles Pires".

Resistência na Força Sindical

A postura agressiva de Paulinho da Força em defesa de Eduardo Cunha, mesmo após a descoberta de suas contas na Suíça, acabou gerando resistências na própria central que ajudou a fundar na época do ex-presidente Collor de Mello. Quando ele promoveu um ato de desagravo ao presidente da Câmara, o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves (Juruna), divulgou um texto pedindo seu afastamento da direção da entidade. Já na semana retrasada, vários dirigentes da central criticaram o deputado publicamente por sua aliança espúria com Eduardo Cunha para golpear a presidenta Dilma.

Segundo relato do site Vermelho, "'aliado fiel de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e com uma reputação não menos ilibada, Paulinho da Força, deputado federal pelo Solidariedade de São Paulo, bem que tentou arrastar a Força Sindical para apoiar o golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, mas o tiro saiu pela culatra. No sábado (5), Paulinho disse em seu blog que a Força Sindical estava à frente dos protestos na porta da residência de deputados contrários ao impeachment. Foi o que bastou para promover uma reação em cadeia de lideranças da central sindical". 

O site Vermelho ouviu dirigentes da Força Sindical de vários Estados e houve consenso na crítica ao golpismo do ex-presidente da central. "A neutralidade declarada pelo presidente Miguel Torres é a posição mais correta para preservar a unidade entre os nossos filiados até que haja um debate mais aprofundado", afirmou Sérgio Luiz Leite, presidente do Sindicato dos Químicos de São Paulo e da Federação Estadual dos Químicos. "Não houve nenhuma reunião da Força Sindical nem deliberação sobre o impeachment. Respeitamos a opinião de Paulinho e do Solidariedade... Agora, na central convivem diversas linhas partidárias. Nossa central se caracteriza pela convivência harmoniosa entre todas as correntes de opinião', disse João Carlos Gonçalves (Juruna) ao blog do Camarotti.

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