sábado, 20 de fevereiro de 2016

Cuba e as novas relações com os EUA

Por Max Altman, no site Opera Mundi:

Um dos temas mais fascinantes da política internacional é de como Cuba se irá desenvolver nos próximos anos política, ideológica e economicamente depois do restabelecimento de relações com o seu inimigo regional, os Estados Unidos. Cientes da validade de um dos principais lemas ideológicos - “o socialismo nasceu da miséria para acabar com ela” -, a liderança e o povo cubano dispõem-se a criar as condições para um desenvolvimento sustentável capaz de garantir o progresso e o bem-estar de sua população sem violentar os princípios e os valores do socialismo. Terão êxito nesta formidável empreitada?

Após alguns fatos, como a bem-sucedida visita do papa Francisco, o encontro de Francisco com o patriarca Kirill e as negociações de paz entre o governo da Colômbia e as Farc, que garantiram a Havana uma presença de respeito no cenário político internacional, acontecimentos mais recentes estão a indicar um avanço sério e concreto.

O governo Barack Obama aprovou a instalação da primeira fábrica norte-americana em Cuba em mais de meio século. Uma pequena empresa do Alabama vai construir uma linha para a montagem de implementos agrícolas. Os sócios Horace Clemmons e Saul Berenthal estão autorizados a produzir tratores e outros equipamentos pesados em uma zona econômica especial – a de Mariel, cujo porto foi construído pela empresa Odebrecht, com financiamento do nosso BNDES, estão os leitores e os não leitores lembrados? – criada pelo governo cubano para atrair investimento estrangeiro.

As autoridades cubanas endossaram o projeto, pública e entusiasticamente, pois tende a enfrentar o calcanhar de Aquiles da economia cubana, a produção alimentar autóctone.

“Todo mundo quer ir para Cuba vender alguma coisa, mas não é isso que estamos tentando fazer. Estamos estudando os problemas e vendo como ajudar Cuba a resolver os problemas que eles consideram os mais importantes”, disse Clemmons.

A fábrica de tratores, batizada de Oggún - homenagem a uma divindade da Santería, religião sincrética cubana -, montará autopeças já disponíveis comercialmente para produzir um trator durável e de fácil manutenção, com motor de 25 HP, que deve ser vendido por menos de US$ 10 mil.

Berenthal afirmou que está otimista quanto a exportar os tratores da Oggún a outros países latino-americanos que têm tarifas baixas ou zero para as exportações cubanas, o que tornaria os veículos competitivos em termos de preço. “Creio que teremos um impacto tremendo sobre a capacidade da fábrica não só de ajudar a economia do país mas de estabelecer um exemplo para o Caribe e América Latina”, disse Berenthal.

Cuba e Estados Unidos assinaram um acordo que dá sinal verde à retomada de voos entre os dois países pela primeira vez em mais de meio século. O acordo aéreo permitirá até 110 voos diários entre aeroportos dos Estados Unidos e 10 aeroportos cubanos. Várias empresas norte-americanas já anunciaram interesse em explorar a rota. Imaginemos uma lotação média de um avião de 150 passageiros; 110 voos diários significam o transporte de 16,5 mil passageiros/dia ou 495 mil passageiros/mês ou ainda 5,9 milhões de passageiros/ano. A perspectiva do crescimento vertiginoso do turismo norte-americano é real. Atualmente, só podem visitar Cuba norte-americanos que se enquadrem em uma de 12 categorias, entre as quais, jornalismo, pesquisa e educação. Não se trata ainda do fim da proibição a viagens de turismo para cidadãos dos Estados Unidos, o que só pode ser revogado pelo Congresso.

A secretária de Comércio dos Estados Unidos, Penny Pritzker, e seu homólogo cubano, Rodrigo Malmierca, concordaram em seu otimismo pelo futuro das relações entre ambos os países ao deixar inaugurado em Washington o segundo encontro para intercambiar sobre o âmbito das regulações vigentes, especificamente a possibilidade de outorgar créditos para a venda de produtos aprovados que não sejam agrícolas, enquanto perdurar o bloqueio financeiro e comercial contra a ilha. Pritzker assegurou que recebeu uma clara mensagem de que empresas estadunidenses querem fazer negócios com Cuba.

Em Cuba não há zika, nem chikungunya, nem febre amarela, declarou o ministro de Saúde Pública Roberto Morales, quem fez um apelo a todos os trabalhadores na área da saúde a envidar o máximo dos esforços em apoio à campanha epidemiológica para evitar a entrada do vírus no país.

Se bem que não se tenha registrado nenhum caso de contágio, em 55 municípios existe alta infestação de mosquitos do gênero Aedes, especialmente o Aegypti e o Albopictus, causadores da transmissão da dengue, razão por que não se deve descartar o risco de transmissão da Zika.

Por sua vez, Santiago Badías, secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores na Saúde ressaltou as principais conquistas de 2015: a taxa de mortalidade infantil de 4,3 por cada mil nascidos vivos; a expectativa de vida de 78,45 anos e a declaração da Organização Mundial da Saúde de que Cuba é o primeiro país livre da transmissão de mãe para filho do HIV/Aids e da sífilis.

E, por fim, algo que vai contentar os manifestantes que gritaram e gritam pelas ruas e pelas redes sociais, o “Vai pra Cuba”. O presidente Barack Obama aceitou seu convite e “Vai pra Cuba”. Estará na Ilha em 21 e 22 de março e manterá um encontro com o presidente Raúl Castro para “fazer avançar nossos progressos e esforços que podem ajudar a vida dos cubanos”. Por certo não se furtará – e terá grande prazer – em manter um papo descontraído com Fidel Castro.

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