segunda-feira, 28 de março de 2016

Mídia tenta legitimar o golpe. Doeu!

Por Altamiro Borges

Os golpistas não gostam de ser chamados de golpistas. Com a crescente onda de resistência à cruzada para derrubar a presidenta Dilma Rousseff, eleita democraticamente por 54,5 milhões de brasileiros, a mídia, a oposição direitista e setores do Judiciário resolveram vir a público para jurar que não estão orquestrando uma ruptura ilegal da ordem constitucional. O grito nas ruas de "não vai ter golpe", que já obteve repercussão internacional, incomoda os conspiradores. Nos últimos dias, os jornalões e os "calunistas" da televisão fizeram de tudo para legitimar sua ação criminosa. Alguns juristas velhacos também tentaram embelezar a punhalada traiçoeira na democracia.

Em editoriais carregados de sofismas, Folha, Estadão e O Globo argumentaram que o impeachment está previsto na Constituição. Para justificar o "golpe de toga", judicial-midiático, eles não vacilaram em esconder a figura do correntista suíço Eduardo Cunha, que preside a Câmara Federal e comanda a corrida frenética para depor Dilma. Os jornalões também evitaram destacar que a "comissão especial do impeachment" é composta por inúmeros deputados federais denunciados pela midiática Operação Lava-Jato. Enquanto não paira qualquer acusação formal contra Dilma, os seus algozes estão metidos até o talo na lama da corrupção - a começar do achacador Eduardo Cunha.

Merval e a "narrativa ridícula"

Mas estes fatos "não vêm ao caso". A Folha, por exemplo, publicou neste domingo (27) um editorial, intitulado "Dizer o óbvio", em que prega abertamente que "o processo de impeachment está previsto na Constituição e não pode ser considerado um golpe... Em tese, deveria ser desnecessário recorrer a expoentes do mundo jurídico para obter resposta tão evidente quanto essa. Dada a escalada da crise política e da polarização exagerada que a acompanha, porém, mesmo as coisas mais óbvias precisam ser ditas", afirma o jornal que apoiou no passado um golpe militar e hoje prega um "golpe de toga".

Já Merval Pereira, o "imortal" da Globo, criticou a "narrativa ridícula" dos que rechaçam o golpe nas ruas e nas redes sociais. Para o serviçal da famiglia Marinho, a deposição da presidenta Dilma, sem qualquer prova de crime de responsabilidade, é plenamente justificável e urgente. Para o golpista, que até recentemente defendia o "ético" Eduardo Cunha, impeachment é condição necessária para o país "voltar à normalidade". No mesmo diapasão, o jornal Estadão já estampou o título "Basta", o mesmo utilizado pela mídia na véspera do golpe militar de 1964, para defender a saída imediata da presidenta reeleita.

Juristas velhacos e novatos

Para reforçar este coro monocórdio e mafioso, a mídia tucana aciona juristas velhacos e novatos que estão em plena campanha contra a democracia brasileira. Carlos Ayres Britto, ex-ministro do STF que hoje presta serviços aos donos da imprensa, é um dos entusiastas com a tese do impeachment. Já Eros Grau, outro ex-ministro do Supremo que atualmente curte a vida em Paris, também embarcou na onda do golpe. Em carta "obtida com exclusividade" pelo jagunço Diego Escosteguy, da Época, ele manuseou a Constituição para afirmar que "quem não é criminoso enfrenta com dignidade o devido processo legal... Já o delinquente faz de tudo procurando escapar do julgamento". Pura bravata!

Ainda no time dos golpistas acionados pela mídia vale citar a conduta do "novato" Claudio Lamachia, recém-eleito presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A entidade que apoiou o golpe militar está novamente metida numa conspiração golpista. Em entrevista à Folha neste domingo (27), o "especialista em direito empresarial" defende o impeachment de Dilma e afirma, no maior cinismo, que "não imagino que o Supremo regulamentasse um golpe". Ele só esqueceu de citar que em 1964 o STF, a exemplo da OAB, garantiu a "legitimidade" dos generais golpistas. Agora, novamente, a mídia e setores do Judiciário, como expressões das elites, tentam legitimar um novo golpe! 

Em tempo: Diante do coro golpista, sempre amplificado pela imprensa, vale reproduzir o manifesto dos profissionais do cinema divulgado na semana passada contra o impeachment de Dilma. Assinado por cineastas como Luiz Carlos Barreto, Anna Muylaert e Jorge Furtado e por vários artistas - como Wagner Moura, Paulo Betti e Gregório Duvivier -, ela não teve qualquer destaque na mídia tucana.  

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Nós, cineastas, roteiristas, atores, produtores, distribuidores e técnicos do audiovisual brasileiro, nos manifestamos para defender a democracia ameaçada pela tentativa de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Entendemos que nossa jovem democracia, duramente reconquistada após a ditadura militar, é o maior patrimônio de nossa sociedade.

Sem ela, não teríamos obtido os avanços sociais, econômicos e culturais das últimas décadas. Sem ela, não haveria liberdade para expressarmos nossas distintas convicções,__ pensamentos e ideologias. Sem ela, não poderíamos denunciar o muito que falta para o país ser uma nação socialmente mais justa. Por isso, nos colocamos em alerta diante do grave momento que ora atravessamos, pois só a democracia plena garante a liberdade sem a qual nenhum povo pode se desenvolver e construir um mundo melhor._

Como nutrimos diferentes preferências políticas ou partidárias, o que nos une aqui é a defesa da democracia e da legalidade, que deve ser igual para todos. Somos frontalmente contra qualquer forma de corrupção e aplaudimos o esforço para eliminar práticas corruptas em todos os níveis das relações profissionais, empresariais e pessoais.

Nesse sentido, denunciamos aqui o risco iminente da interrupção da ordem democrática pela imposição de um impeachment sem base jurídica e provas concretas, levado a cabo por um Congresso contaminado por políticos comprovadamente corruptos ou sob forte suspeição, a começar pelo presidente da casa, o deputado federal Eduardo Cunha.

Manifestamos a nossa indignação diante das arbitrariedades promovidas por setores da Justiça, dos quais espera-se equilíbrio e apartidarismo. Da mesma forma, expressamos indignação diante de meios de comunicação que fomentam o açodamento ideológico e criminalizam a política. Estas atitudes colocam em xeque a convivência, o respeito à diferença e a paz social.

Repudiamos a deturpação das funções do Ministério Público, com a violação sistemática de garantias individuais, prisões preventivas, conduções coercitivas, delações premiadas forçadas, grampos e vazamentos de conversas íntimas, reconhecidas como ilegais por membros do próprio STF. Repudiamos a contaminação da justiça pela política, quando esta desequilibra sua balança a favor de partidos ou interesses de classes ou grupos sociais.

Nos posicionamos firmemente a favor do estado de direito e do respeito à Constituição Brasileira de 1988. Somos contrários à irracionalidade, ao ódio de classe e à intolerância.
Como construtores de narrativas, estamos atentos à manipulação de notícias e irresponsável divulgação de escutas ilegais pelos concessionários das redes de comunicação.

Televisões, revistas e jornais, formadores de opinião, criaram uma obra distorcida, colaborando para aumentar a crise que o país atravessa, insuflando a sociedade e alimentando a ideia do impeachment com o objetivo de devolver o poder a seus aliados. Tal agenda envolve desqualificar as empresas nacionais estratégicas, entre as quais se insere a emergente indústria do audiovisual.

Por todos esses motivos, nos sentimos no dever de denunciar essa enganosa narrativa e de alertar nossos pares do audiovisual em outros países sobre este assombroso momento que vivemos.

Usaremos todos os instrumentos legais à nossa disposição para impedir um retrocesso em nossa frágil democracia.


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