terça-feira, 10 de maio de 2016

"Panama Papers" e a família Marinho

Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:

A acreditar na versão oficial da família Marinho - de João Roberto Marinho e da filha Paula, neta de Roberto Marinho - as três empresas offshore para as quais Paula pagou taxas de manutenção pertencem ao ex-marido dela, Alexandre Chiappetta de Azevedo.

O casamento de Alexandre e Paula terminou formalmente em outubro do ano passado.

As offshore são a Vaincre LLC, a A Plus Holdings e a Juste International.

As três empresas foram abertas com alguns dias de diferença.

O intermediário da abertura foi um escritório de advocacia de São Paulo, de Miguel Bechara Jr., que fica na alameda Campinas, nos Jardins.

O escritório atuou na criação de ao menos oito empresas que aparecem nos Panama Papers. Três delas são ligadas a Alexandre Chiappetta/Paula Marinho.

Quem criou as empresas foi a panamenha Mossack & Fonseca, que semeou um laranjal no mundo.

Muitas das empresas criadas pela Mossack são de fachada, existem apenas no papel, são utilizadas para lavar dinheiro sujo, sonegar impostos, pagar propina ou ocultar patrimônio.

A Vaincre LLC, criada em Las Vegas, Nevada, surgiu em 9 de março de 2005.

Dois dias depois foi a vez da A Plus Holdings, registrada no Panamá.

No dia 24 do mesmo mês foi criada a Juste International, registrada nas ilhas Seychelles.

A primeira pergunta óbvia é: por que um empresário de terceiro escalão como Alexandre abriria três offshore de uma só vez, em um único mês?

Afinal, o único negócio aparente que ele tinha em 2005 era a concessão ilegal do estádio de remo da Lagoa Rodrigo de Freitas, obtida em 1997.

Àquela altura, o estádio nem tinha passado pela primeira reforma e, se rendia alguma coisa ao concessionário, era dinheiro pouco.

A primeira reforma do estádio só aconteceu por conta dos Jogos Panamericanos de 2007: uma arquibancada de concreto foi demolida e uma nova construída, “coincidentemente” com as medidas necessárias para abrigar sob ela seis cinemas.

O Rio de Janeiro pagou pela obra e o genro de João Roberto Marinho, casado com Paula, tirou proveito para turbinar seus negócios.

Os cinemas, no entanto, só foram inaugurados em dezembro de 2010: 1.114 lugares em seis salas do Cinépolis Lagoon.

Os restaurantes do empreendimento, por sua vez, só começaram a funcionar em maio de 2012, tendo à frente o empresário Roberto Maciel.

Hoje, com a divulgação da base bruta de dados dos Panama Papers pelo Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo, o ICIJ, novas revelações jogam luz sobre as três offshore atribuídas pela família Marinho a Alexandre.

Formalmente, elas têm ligação direta ou indireta com a empresa Glen/Glem/Lagoon, controlada por ele.

Pelas informações divulgadas há algumas horas, sabemos agora que a A Plus Holdings tem 10 acionistas, nenhum deles identificado.

A Vaincre LLC, de Nevada, tem como acionistas Lúcia Cortes Pinto e a Juste International.

A Juste, por sua vez, tem 12 acionistas. Apenas um identificado: de novo, Lúcia Cortes Pinto.

Lúcia mora em um bairro modesto do Rio de Janeiro, o Grajaú. Por telefone, negou-se a explicar seus negócios.

Agora, sabemos que eles têm dimensão internacional: os 12 acionistas da Juste, inclusive Lúcia, aparecem ligados nos Panama Papers a um endereço no bairro de La Victoria, em Lima, no Peru: Parque Luna y Peralta, 123, Balconcillo.



Não se trata de uma área bancária, nem nobre da capital do Peru, informa o jornalista peruano Lumi Zúnica.

Os novos dados dos Panama Papers demonstram que a Juste é uma das controladoras da Vaincre LLC, que é dona da mansão de concreto na praia Vermelha, em Paraty, a chamada Paraty House.

Se por acaso a casa foi construída com recursos que vieram de fora do Brasil, está no campo das possibilidades - repetimos, das hipóteses - que dinheiro tenha vindo do Peru, via Juste, para financiá-la.

Esclarecer isso depende de investigações.

A coincidência é que neste exato momento o Peru está sendo abalado por um escândalo derivado da Lava Jato.

A descoberta de que empreiteiras brasileiras usaram um esquema no Peru para lavar dinheiro e fazer o pagamento de propinas. Tiraram proveito de um marco legal forjado para facilitar às empresas estrangeiras a sonegação de impostos em seus países de origem.

O jornalista investigativo Lumi Zúnica começou a publicar uma série de reportagens sobre o assunto aqui mesmo no Viomundo.

Logo os investigadores brasileiros estarão diante de novos desafios. Esclarecer:

1. Há algum tipo de ligação entre o escândalo do marco legal peruano e as três empresas atribuídas ao genro de João Roberto Marinho, representadas no Peru pela Juste? Podemos adiantar que a data de abertura delas, 2005, é compatível com o esquema do qual empresas brasileiras tiraram proveito em Lima.

2. Por que Paula Marinho, neta de Roberto Marinho e filha de João Roberto Marinho, pagou taxas de manutenção das três empresas offshore à Mossack & Fonseca, se elas pertenciam apenas e tão somente ao marido dela?

3. Foi mesmo Alexandre quem decidiu montar esta arquitetura internacional com empresas em três refúgios fiscais diferentes - Nevada, Panamá e Seychelles - e com qual objetivo?

4. A Juste, que é dona da Vaincre, que é dona da Paraty House, investiu algum dinheiro vindo de fora na obra prima da costa brasileira?

Abaixo, o bairro de Balconcillo e a Paraty House: quem diria, o prêmio da arquitetura internacional… foi parar na periferia de Lima.

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