Por Thiago Cassis, no site Vermelho:
No começo eram só homens correndo atrás da bola. Depois dividiram em onze pra cada lado e passaram a usar uniformes pra distinguir seus jogadores. E então vieram federações para organizar o jogo com regras e campeonatos. A torcida, fiéis seguidores dos chutadores de bola, não parava de aumentar e logo, com o passar do tempo, o rádio se tornou um importante difusor das emoções que aconteciam dentro das 4 linhas. E assim o futebol se tornou o esporte mais popular do mundo.
Mais de 100 anos depois de Charles Miller dar seus primeiros pontapés na redonda em terras brasileiras, nosso povo ainda é apaixonado pelo drible e pela bola estufando a rede. De Norte a Sul do país, a cada final de semana, uma legião de fanáticos lota as arquibancadas, ou os confortáveis e frios assentos das arenas, para esperar por um punhado de bom futebol, ou ao menos um golzinho de seu clube, mesmo que sem uma apresentação vistosa.
Mas no meio do caminho tinha a Rede Globo. Poderoso veículo de comunicação que crava sua marca, na busca por lucros e por seus interesses políticos, em quase todos os âmbitos da vida de nosso país. De eleições e golpes, a criação de identidades e preconceitos, lá está a Globo com suas cordas invisíveis a manipular a história do Brasil como se fossemos um ventríloquo. No futebol não poderia ser diferente.
Através de sua “telinha” ela convenceu grande parte da população de que “Globo e você, tudo a ver!”, e transbordou os aparelhos televisores de nossa gente com o Flamengo de Zico e companhia nos anos 80, de Leste a Oeste do país, não importando se cada estado já tenha seus grandes e tradicionais clubes. Os campeonatos paulista e carioca eram introduzidos à força em cada canto do Brasil.
E tudo seguia seu rumo, a Globo mandando, os clubes obedecendo, as federações sendo praticamente escritórios da poderosa empresa de comunicação. Até que no dia 19 de fevereiro de 2017, Coritiba e Atlético-PR, ambos campeões brasileiros, e as duas maiores forças do futebol paranaense, insatisfeitos com a oferta da Globo para exibir o famoso Atletiba, resolveram exibir o jogo pelo YouTube, de forma gratuita. Um teste, nas palavras de seus dirigentes, para explorar uma nova forma de transmissão disponível.
Mas mesmo com o estádio lotado e a transmissão funcionando normalmente, a Federação Paranaense decide impedir o início do jogo. Estava lá a bola, os onze de cada lado, com seus uniformes distintos, os juízes para que as regras fossem cumpridas e os torcedores – que pagaram caro por seus ingressos. Se estava tudo que é necessário para uma boa partida de futebol, por que a bola não podia rolar? Porque no Brasil, antes da bola, acima dos clubes e jogadores e sem a mínima preocupação com os torcedores, que aliás vivem tendo sua festa criminalizada, existe a Globo. Sem a Globo, não tem futebol. Se a Globo não quer nem democracia temos no país.
O que talvez a emissora não esperasse é que os clubes seriam corajosos, e já que não podiam transmitir sua peleja como bem entendessem, não jogariam e ponto final. E assim foi, com direito a saudações dos atletas para a torcida que berrou “vergonha!” para o circo armado pela Federação.
A bola não rolou, mas quem sabe um tijolo importante tenha sido colocado no muro de resistência contra o Império Global. Afinal, quem construiu o futebol, o povo brasileiro ou a Rede Globo? Que mais clubes tenham força e coragem para se juntar a esta luta.
* Thiago Cassis é jornalista e coordenador do Coletivo Futebol, Mídia e Democracia do Barão de Itararé.
No começo eram só homens correndo atrás da bola. Depois dividiram em onze pra cada lado e passaram a usar uniformes pra distinguir seus jogadores. E então vieram federações para organizar o jogo com regras e campeonatos. A torcida, fiéis seguidores dos chutadores de bola, não parava de aumentar e logo, com o passar do tempo, o rádio se tornou um importante difusor das emoções que aconteciam dentro das 4 linhas. E assim o futebol se tornou o esporte mais popular do mundo.
Mais de 100 anos depois de Charles Miller dar seus primeiros pontapés na redonda em terras brasileiras, nosso povo ainda é apaixonado pelo drible e pela bola estufando a rede. De Norte a Sul do país, a cada final de semana, uma legião de fanáticos lota as arquibancadas, ou os confortáveis e frios assentos das arenas, para esperar por um punhado de bom futebol, ou ao menos um golzinho de seu clube, mesmo que sem uma apresentação vistosa.
Mas no meio do caminho tinha a Rede Globo. Poderoso veículo de comunicação que crava sua marca, na busca por lucros e por seus interesses políticos, em quase todos os âmbitos da vida de nosso país. De eleições e golpes, a criação de identidades e preconceitos, lá está a Globo com suas cordas invisíveis a manipular a história do Brasil como se fossemos um ventríloquo. No futebol não poderia ser diferente.
Através de sua “telinha” ela convenceu grande parte da população de que “Globo e você, tudo a ver!”, e transbordou os aparelhos televisores de nossa gente com o Flamengo de Zico e companhia nos anos 80, de Leste a Oeste do país, não importando se cada estado já tenha seus grandes e tradicionais clubes. Os campeonatos paulista e carioca eram introduzidos à força em cada canto do Brasil.
E tudo seguia seu rumo, a Globo mandando, os clubes obedecendo, as federações sendo praticamente escritórios da poderosa empresa de comunicação. Até que no dia 19 de fevereiro de 2017, Coritiba e Atlético-PR, ambos campeões brasileiros, e as duas maiores forças do futebol paranaense, insatisfeitos com a oferta da Globo para exibir o famoso Atletiba, resolveram exibir o jogo pelo YouTube, de forma gratuita. Um teste, nas palavras de seus dirigentes, para explorar uma nova forma de transmissão disponível.
Mas mesmo com o estádio lotado e a transmissão funcionando normalmente, a Federação Paranaense decide impedir o início do jogo. Estava lá a bola, os onze de cada lado, com seus uniformes distintos, os juízes para que as regras fossem cumpridas e os torcedores – que pagaram caro por seus ingressos. Se estava tudo que é necessário para uma boa partida de futebol, por que a bola não podia rolar? Porque no Brasil, antes da bola, acima dos clubes e jogadores e sem a mínima preocupação com os torcedores, que aliás vivem tendo sua festa criminalizada, existe a Globo. Sem a Globo, não tem futebol. Se a Globo não quer nem democracia temos no país.
O que talvez a emissora não esperasse é que os clubes seriam corajosos, e já que não podiam transmitir sua peleja como bem entendessem, não jogariam e ponto final. E assim foi, com direito a saudações dos atletas para a torcida que berrou “vergonha!” para o circo armado pela Federação.
A bola não rolou, mas quem sabe um tijolo importante tenha sido colocado no muro de resistência contra o Império Global. Afinal, quem construiu o futebol, o povo brasileiro ou a Rede Globo? Que mais clubes tenham força e coragem para se juntar a esta luta.
* Thiago Cassis é jornalista e coordenador do Coletivo Futebol, Mídia e Democracia do Barão de Itararé.
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