Por Joaquim de Carvalho, no blog Diário do Centro do Mundo:
Gilmar Mendes chamou a apresentação da denúncia dos procuradores, no dia do julgamento de habeas corpus, de “brincadeira quase juvenil”.
Será?
Os procuradores da República usaram a mesma estratégia que minou o governo de Dilma Rousseff: pautar suas ações em função do calendário político e da repercussão na mídia.
Até agora, tem funcionado.
Hoje, por exemplo, ao noticiar a decisão do Supremo Tribunal Federal, a Globo News intercalou os comentários dos jornalistas com a reportagem sobre a denúncia contra José Dirceu.
Era como se dissessem: está vendo, o Zé Dirceu foi denunciado outra vez, mas o Supremo mandou soltá-lo.
Denúncia não é processo, processo não é condenação. E condenação, em primeira instância, não deve resultar em cadeia.
Quando o repórter que estava em frente ao Supremo fazia a entrada ao vivo, a apresentadora perguntou:
“O que é esse barulho aí atrás? São protestos em razão da decisão de hoje?”
O repórter pediu que o cinegrafista mostrasse a manifestação: havia meia dúzia de pessoas, com bandeira do Brasil, protestando contra o Supremo.
É muito pouco e o noticiário seguiu com os comentaristas agora mirando o Tribunal Federal da 4ª Região, a segunda instância de Moro.
Se condenado lá – um dos comentaristas lembrou –, José Dirceu poderá ser preso outra vez, já que o próprio Supremo Tribunal Federal, em outro julgamento, considerou que, a partir da condenação em segunda instância, o réu poderá ser recolhido à prisão.
Se for absolvido depois, seja no Superior Tribunal de Justiça ou no Supremo Tribunal Federal, se estará diante de um caso de inocente que cumpriu pena.
Mas, nestes tempos estranhos, isso é o que menos importa.
Gilmar Mendes mostrou coragem ao enquadrar os jovens da Lava Jato.
Não é exagero imaginar que ele agiu assim se antecipando ao que pode acontecer agora que as investigações se aproximam de seus amigos do PSDB.
Pode ser.
Mas julgamentos anteriores de Gilmar Mendes indicam que ele é um ardoroso defensor da corrente que vê a liberdade como regra, a cadeia como exceção.
E assim deve ser.
Quanto à ameaça aos tucanos, o próprio Gilmar deve saber que, até agora, o risco de algum dano é mínimo.
Citações de tucanos envolvidos em corrupção raramente se transformam em inquérito e inquéritos, até aqui, não costumam se transformar em denúncias.
E denúncias, quando acontecem, não resultam em condenação.
Quer um exemplo?
Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, foi denunciado por corrupção no caso dos trens em São Paulo.
Está livre, leve e solto, apesar da prova entregue por procuradores da Suíça à Justiça brasileira: conta na Suíça, não declarada no Brasil.
Quer outro exemplo?
Aécio Neves e a irmã, Andrea, rei e rainha da estatal Furnas, citados como envolvidos em corrupção há mais de dez anos, não foram incomodados.
Hoje, Aécio prestou depoimento – falou por uma hora, e a notícia saiu no Jornal Nacional sem imagem.
Uma nota pelada, como se diz no jargão de TV.
Nota sem vergonha seria uma definição melhor.
Imagina se o depoimento fosse de Lula.
O chefe da Lava Jato, Deltan Dellagnol, já explicou que não caça tucano porque eles não eram governo e, portanto, não praticavam a corrupção.
O que faziam antes de 2003, no governo de Fernando Henrique Cardoso?
Bem, como diria o juiz Sérgio Moro, “não vem ao caso”.
Hoje, o Supremo mostrou que Moro pode muito, mas não pode tudo.
O Brasil pode ter começado a retomar o caminho do estado democrático de direito.
Justiça, para ser digna, não pode ser dois pesos e duas medidas.
Os procuradores da República em Curitiba, liderados por Deltan Dallagnol, tentaram hoje de manhã emparedar o Supremo Tribunal Federal, ao apresentar mais uma denúncia contra o ex-ministro José Dirceu.
Mas, como gostava de repetir Tancredo Neves, “esperteza, quando é muita, come o dono”.
No julgamento do pedido de habeas corpus apresentado pela defesa de José Dirceu — que está preso desde agosto de 2015 sem que tenha sido condenado em segunda instância — tiveram que ouvir o que, certamente, não gostaram:
"Não cabe a procurador da República nem a ninguém pressionar o Supremo Tribunal Federal, seja pela forma que quiser. É preciso respeitar as linhas básicas do estado democrático de direito. Quando nós quebramos isso, estamos semeando o embrião, a semente do viés autoritário".
A reprimenda - um puxão de orelha vigoroso - veio pelo voto de Gilmar Mendes, de quem se pode dizer muita coisa, menos que seja simpático ao PT de José Dirceu.
Mas, como gostava de repetir Tancredo Neves, “esperteza, quando é muita, come o dono”.
No julgamento do pedido de habeas corpus apresentado pela defesa de José Dirceu — que está preso desde agosto de 2015 sem que tenha sido condenado em segunda instância — tiveram que ouvir o que, certamente, não gostaram:
"Não cabe a procurador da República nem a ninguém pressionar o Supremo Tribunal Federal, seja pela forma que quiser. É preciso respeitar as linhas básicas do estado democrático de direito. Quando nós quebramos isso, estamos semeando o embrião, a semente do viés autoritário".
A reprimenda - um puxão de orelha vigoroso - veio pelo voto de Gilmar Mendes, de quem se pode dizer muita coisa, menos que seja simpático ao PT de José Dirceu.
Gilmar Mendes chamou a apresentação da denúncia dos procuradores, no dia do julgamento de habeas corpus, de “brincadeira quase juvenil”.
Será?
Os procuradores da República usaram a mesma estratégia que minou o governo de Dilma Rousseff: pautar suas ações em função do calendário político e da repercussão na mídia.
Até agora, tem funcionado.
Hoje, por exemplo, ao noticiar a decisão do Supremo Tribunal Federal, a Globo News intercalou os comentários dos jornalistas com a reportagem sobre a denúncia contra José Dirceu.
Era como se dissessem: está vendo, o Zé Dirceu foi denunciado outra vez, mas o Supremo mandou soltá-lo.
Denúncia não é processo, processo não é condenação. E condenação, em primeira instância, não deve resultar em cadeia.
Quando o repórter que estava em frente ao Supremo fazia a entrada ao vivo, a apresentadora perguntou:
“O que é esse barulho aí atrás? São protestos em razão da decisão de hoje?”
O repórter pediu que o cinegrafista mostrasse a manifestação: havia meia dúzia de pessoas, com bandeira do Brasil, protestando contra o Supremo.
É muito pouco e o noticiário seguiu com os comentaristas agora mirando o Tribunal Federal da 4ª Região, a segunda instância de Moro.
Se condenado lá – um dos comentaristas lembrou –, José Dirceu poderá ser preso outra vez, já que o próprio Supremo Tribunal Federal, em outro julgamento, considerou que, a partir da condenação em segunda instância, o réu poderá ser recolhido à prisão.
Se for absolvido depois, seja no Superior Tribunal de Justiça ou no Supremo Tribunal Federal, se estará diante de um caso de inocente que cumpriu pena.
Mas, nestes tempos estranhos, isso é o que menos importa.
Gilmar Mendes mostrou coragem ao enquadrar os jovens da Lava Jato.
Não é exagero imaginar que ele agiu assim se antecipando ao que pode acontecer agora que as investigações se aproximam de seus amigos do PSDB.
Pode ser.
Mas julgamentos anteriores de Gilmar Mendes indicam que ele é um ardoroso defensor da corrente que vê a liberdade como regra, a cadeia como exceção.
E assim deve ser.
Quanto à ameaça aos tucanos, o próprio Gilmar deve saber que, até agora, o risco de algum dano é mínimo.
Citações de tucanos envolvidos em corrupção raramente se transformam em inquérito e inquéritos, até aqui, não costumam se transformar em denúncias.
E denúncias, quando acontecem, não resultam em condenação.
Quer um exemplo?
Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, foi denunciado por corrupção no caso dos trens em São Paulo.
Está livre, leve e solto, apesar da prova entregue por procuradores da Suíça à Justiça brasileira: conta na Suíça, não declarada no Brasil.
Quer outro exemplo?
Aécio Neves e a irmã, Andrea, rei e rainha da estatal Furnas, citados como envolvidos em corrupção há mais de dez anos, não foram incomodados.
Hoje, Aécio prestou depoimento – falou por uma hora, e a notícia saiu no Jornal Nacional sem imagem.
Uma nota pelada, como se diz no jargão de TV.
Nota sem vergonha seria uma definição melhor.
Imagina se o depoimento fosse de Lula.
O chefe da Lava Jato, Deltan Dellagnol, já explicou que não caça tucano porque eles não eram governo e, portanto, não praticavam a corrupção.
O que faziam antes de 2003, no governo de Fernando Henrique Cardoso?
Bem, como diria o juiz Sérgio Moro, “não vem ao caso”.
Hoje, o Supremo mostrou que Moro pode muito, mas não pode tudo.
O Brasil pode ter começado a retomar o caminho do estado democrático de direito.
Justiça, para ser digna, não pode ser dois pesos e duas medidas.
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