quinta-feira, 29 de junho de 2017

A conta que sobra para o PSDB

Por Tereza Cruvinel, em seu blog:

Já começou a correr o tempo para que a Câmara decida se concede ou não licença para que Temer seja processado por corrupção passiva. E com isso, o PSDB vê-se diante do maior dilema de sua existência. O contraste entre a força com que os tucanos massacraram o PT, enquanto o partido figurou como inventor e protagonista único da corrupção, e a leniência com que vem tratando Temer, está sendo devidamente anotado pelos eleitores. A fatura virá. Tendo espancado tão violentamente o PT, como poderá o PSDB votar contra a licença para que Temer seja processado por corrupção passiva, diante de evidências tão abundantes?

No muro, o partido adiou esta decisão, bem como a de ficar ou sair do governo, para a primeira quinzena de agosto. Mas é justamente nesta época que a Câmara deverá estar votando o pedido do STF. Irá o PSDB abdicar do que resta de seu DNA democrático para apoiar o governo mais corrupto, vulgar, cínico e leviano do Brasil democrático pós-1985? Fernando Henrique tem tentado em vão impedir este abraço de afogados que levará seu partido para as águas profundas do oportunismo.

A incoerência é um problema dos tucanos mas a sobrevida de Temer no cargo tem um custo alto para o Brasil, e o PSDB é um dos principais responsáveis por ela. Temer não cai porque falta uma forte mobilização popular exigindo sua saída e também porque ainda conta com o PSDB em sua base no Congresso. Só o Centrão e o baixo clero não o estariam segurando. Quanto mais ele durar no cargo, maior será o custo para o Brasil, para sua economia e sua imagem, e maior a conta que será debitado, em grande parte, ao PSDB.

Ao longo dos últimos doze anos o PSDB dedicou-se ao trucidamento moral do PT, cobrando impiedosamente, do partido que já fora guardião da ética, sua queda desmoralizante nos desvãos da corrupção. Assim tem sido desde 2005, ano do estouro do mensalão petista. No auge do petrolão, quando a Lava Jato ainda não havia chegado aos outros partidos, os deputados petitas, sentados cabisbaixos no lado esquerdo do plenário da Câmara, já não respondiam aos ataques e engoliam em seco enquanto os tucanos vociferavam no microfone. Numa tarde de 2014, o líder tucano Carlos Sampaio passou longos minutos no microfone apontando o dedo para a bancada petista e repetindo: “Partido corrupto! Partido corrupto!”.

Em 2013, e principalmente em 2015/16, levar as massas à rua foi fácil. A Lava Jato e a oposição, com o PSDB à frente, apontavam o dedo para o PT e estava resolvido. O PT era o culpado de tudo e a massa cantava na paulista, com aquela melodia de “o campeão voltou”: “O PT roubou, o PT roubou....”. O PT era o demônio, o cão, o belzebu, o culpado de tudo.

Com as arcas da corrupção mais abertas, por força das contradições da Lava Jato, delas têm saído escândalos em série envolvendo outros partidos e o PSDB, a começar de seu presidente afastado, Aécio Neves. Justamente ele, que na campanha de 2014 vociferou tanto contra a corrupção petista. Derrotado, e não aceitando a derrota, pediu a impugnação da chapa Dilma-Temer alegando abuso de poder econômico e financiamento ilícito da campanha. De fato, houve isso e muito mais, mas as duas chapas fizeram uso do caixa dois e das doações cruzadas com obras públicas. Carlos Sampaio, o líder que ficava rouco de tanto bradar contra o PT, e pregava a extinção do partido de Lula, também já está enrascado. O hoje ministro de Temer, Antonio Imbassahy, certa vez discursou na Câmara dizendo: “foi o PT que institucionalizou a corrupção”. Agora, tudo indica que ele ajudará a cabalar votos de deputados contra a licença para que Temer seja processado por corrupção passiva.

Agora se vê que todos, e não apenas o PT, permitiram o roubo, desde que sobrasse uma parte para os partidos e para as campanhas. Que todos mantiveram relações para lá de promíscuas com os fornecedores do Estado, tanto no plano da União como no plano dos estados, a começar de São Paulo e Minas, governados por tucanos. Todos são culpados porque não mudaram o sistema político, não fizeram a reforma que importava, optando por manter o cassino funcionando. O PT, chegando ao governo, entrou no jogo e foi o primeiro a ir para a cruz.

Agora ficou difícil mesmo chamar as massas às ruas. Os coxinhas exaltados enfiaram a viola no saco. Os moralistas perderam a moral. Se todos fazem aquilo de que acusavam apenas o PT, como proceder? Também por isso, e pelo cansaço, e pela desilusão com tudo e todos, o “Fora Temer” não ganha a força necessária para garantir a mais rápida queda dele. Não havendo massa, e havendo ainda base no Congresso, com o PSDB no papel de cereja brilhante do bolo, Temer vai ficando. E nós vamos pagando a conta. E em algum momento boa parte dela será espetada no PSDB.

Não nos iludamos. O parto não vai ser rápido como a situação exige. Temer, com aquele discurso de guerra de ontem, mostrou que está se lixando para o país. Que venham todas as crises, que haja risco para as instituições, que o tecido democrático se esgarce, que a economia se dane, enquanto ele se equilibra no cargo buscando um bote salva-vidas. Com a ajuda do PSDB.

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