quinta-feira, 3 de agosto de 2017

A metástase que se espalha pelo Brasil

Por Marco Aurélio Weissheimer, no blog RS-Urgente;

No início deste ano, em um debate realizado no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Flavio Koutzii falou do retorno de alguns sentimentos incômodos vivenciados no período pós-golpe de 64 no Brasil: o sentimento de sentir-se exilado dentro do próprio país e o de um profundo estranhamento em relação ao que nos cerca. A palavra “cerca” aqui tem um duplo sentido: o que nos rodeia e o que nos prende a um pequeno espaço, como se fosse a ante-sala de um matadouro.

O nível de degradação, cinismo, mentira e corrosão de qualquer coisa que possa ser chamada de estado de direito e de justiça hoje no país parece alimentar esses sentimentos de exílio e estranhamento nos corações e mentes de muita gente. A sensação de estranhamento em relação aos cenários para os quais fomos empurrados nos últimos meses é crescente. Há cenários e personagens bizarros circulando com uma naturalidade tal que parece configurar a invasão de uma realidade paralela, uma versão tupiniquim do clássico “Invasores de Corpos”.

O que se viu na Câmara dos Deputados hoje foi mais um capítulo dessa bizarrice. Nada surpreendente. Tudo previsível. E é por isso mesmo que parece mais grave. Muito se falou hoje da apatia da população em relação ao que acontecia no Congresso. Talvez não tenha sido apatia, mas uma desistência mais profunda em relação aquele ambiente pútrido protegido por uma polícia militar que, cada vez mais, assume a função de guarda pretoriana dos destruidores da democracia e do país. Um tímido protesto ocorreu no final da tarde e início da noite. Os zelosos policiais lá estavam, para evitar que os invasores de corpos fossem perturbados. Cercar o Congresso hoje significaria o que mesmo?

A perda progressiva do sentido de pertencimento a uma nação, o crescimento dos sentimentos de exílio e de desistência são sintomas da metástase que vai tomando conta do Brasil. Na Itália, o resultado da Operação Mãos Limpas foi a ascensão de Berlusconi ao poder. Aqui, a Operação Lava Jato e suas ramificações políticas, jurídicas e midiáticas podem superar essa marca e transformar o Brasil numa grande Líbia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quisera isso aqui se transformasse em Líbia. Pelo menos a instalação do conflito armado trancaria a pauta dos golpistas e, pelo menos, não se morreria de tédio.

DARCY BRASIL RODRIGUES DA SILVA disse...

Penso que Weissheimer não deveria sentir estar perdendo progressivamente a sensação de pertencer à nação. Ao contrário, estamos nos tornando cada vez mais aptos para, não apenas nos sentirmos parte de uma grande nação, como também para perceber com precisão qual é a dimensão social exata desta nação, posto que seus contornos estão sendo delineados como nunca diante de nossos olhos, dando-nos clareza para afirmar que nem todos os indivíduos nascidos no Brasil pertencem à nação brasileira. Os golpistas, os jornalistas mercenários da grande mídia, os fascistas, como Bolsonaro e João Dória, os religiosos vigaristas, como Silas Malafaia, a Globo, os ruralistas, a bancada evangélica, o SBT, a Record, a Bandeirantes, partidos inteiros, como o DEM e o PSDB, não podemos contar como partes da nação brasileira, sendo eles, sim, e não nós, estranhos à nação, ou, mais precisamente, antinacionais, inimigos da nação, conspiradores cotidianos contra os interesses da nação.

Assim, há uma vantagem na era do golpe que não pode ser desconsiderada: ele pôs abaixo os múltiplos mitos liberais, a começar pelo mito do Estado Democrático de Direito que jamais existiu entre nós - e que, na minha opinião, jamais será uma realidade antes de uma REVOLUÇÃO -, o mito do republicanismo, o mito da nação a que se pertence, bastando, para tanto, ter nascido no Brasil, tal como reza a Constituição. À nação somente pertencem aqueles que defendem os interesses nacionais, que se confundem com os interesses da maioria do nosso povo. Pode parecer estranho para alguns a minha crença de que um Estado Democrático de Direito jamais será uma realidade entre nós antes de uma REVOLUÇÃO. Parecerá estranho e, talvez, fruto de um radicalismo anacrônico, principalmente quando reformistas, mercadores de ilusões, como Tarso Genro, vivem a nos falar da construção de um Estado Democrático de Direito, de um Estado de Bem Estar Social, que seria um fim perseguido pelo desenvolvimento natural da história movida por uma dialética hegeliana - aquela que Marx diz ter encontrado de cabeça para baixo-, ou seja, desenvolvida a partir do desenvolvimento das ideias liberais (pelo menos é essa a sensação que tenho toda vez que leio Tarso Genro falando desse tal Estado ideal, seja diretamente, seja indiretamente, nos recomendando leituras de livros e autores que falam com o mesmo entusiasmo no tal Estado Democrático de Direito, como Norberto Bobbio, negando, desse modo, quase sempre de forma implícita, o caráter de classe do Estado, posto que parece acreditar na existência de um Estado acima das classes, regulador da luta de classes).
No Brasil, até mesmo um Estado Democrático de Direito que é uma instituição caríssima ao pensamento reformista, aos adeptos do evolucionismo, somente se construirá mediante uma REVOLUÇÃO, ou seja, mediante uma luta de classes vitoriosa, seguida da conquista do poder, por parte dos todos os indivíduos que pertencem à nação, sobre os indivíduos que não pertencem à nação e que atualmente detêm o poder do Estado. No Brasil, Weissheimer, a nação também tem caráter de classe. Somente os membros da plutocracia têm o direito de não se sentir parte dela. Nós, ao contrário, temos, mais do que nunca, o direito, o dever e o orgulho de dizer que pertencemos a ela, e que, por ela, lutaremos até a morte, se for necessário, para defendê-la