Um dos bordões mais populares criados pela tevê brasileira é “o Silvio Santos vem aí, lá lá lalalalá…” Serviu até de jingle para sua campanha a Presidente da República. Sim…. o apresentador, empresário e barão midiático Silvio Santos já flertou com a política de forma direta, quando postulou a vaga de presidente do Brasil, em 1989. Por sorte – pelo menos eu acho que foi uma sorte danada – o TSE cassou a candidatura por irregularidades na sua filiação partidária.
Apesar da meteórica incursão na política, Silvio Santos formou seguidores que viram como a exposição midiática pode alavancar candidaturas. O prefake de São Paulo, João Dória, é um exemplo disso e também mira o Planalto. Outro apresentador que já andou falando que pode trocar os domingos na tevê pela presidência é Luciano Huck.
Silvio Santos é uma personagem icônico. Construiu uma emissora de televisão pensada para as camadas mais populares da sociedade, e isso não se pode negar. No ar, desde o início da década de 60, o Programa Silvio Santos é um dos mais longevos da televisão, e janela de divulgação dos produtos do grupo Silvio Santos. Baú da Felicidade, Tele-Sena, créditos do ex-banco do grupo, o PanAmericano, linhas de comésticos. O Grupo Silvio Santos também atua no setor hoteleiro, agropecuário, entre outros.
Silvio Santos é o tipo de pessoa que acha que o dinheiro pode comprar tudo e todos. Um exemplo disso foi a recente “oferta” feita ao dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa. Silvio ofereceu a bagatela de 5 milhões de reais para que Zé Celso desista do litígio em torno do terreno que há ao lado do Teatro Oficina, onde Silvio quer construir duas torres comerciais. Zé Celso recusou.
Todo esse poder econômico e midiático fez Silvio Santos acreditar que ele é homem intocável. Que pode tudo.
Durante sua trajetória na televisão, em vários momentos se envolveu em polêmicas e foi alvo de muitas críticas. Mas as “brincadeiras’ de mau gosto com mulheres, a humilhação aos pobres, e tantas outras situações que desviam a função de uma emissora de televisão nunca tiveram maiores consequências para Silvio.
Num país sério, as várias violações aos direitos humanos na programação de suas emissoras poderiam, inclusive, ter lhe custado o direito a continuar operando um canal de televisão, já que segundo prevê o artigo 221 da Constituição Federal: “A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; e IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”. O SBT não respeita nenhuma destas regras.
“Mulher não tem o direito de ser feia”
Não apenas no seu próprio programa, mas também em outros da sua emissora, a mulher sempre foi tratada como objeto ou de maneira preconceituosa. Foi no Domingo Legal, do apresentador Gugu Liberato, que surgiu no ano de 1994 o quadro “A banheira do Gugu”.
Mulheres de biquini se esfregavam e eram esfregadas por outras mulheres de biquini e homens de sunga. O quadro ficou 4 anos no ar e tinha uma grande audiência. Pornografia sempre vai ter audiência, mas nas tardes de domingo, na tevê aberta e para toda a família é uma aberração e uma afronta aos direitos humanos, à dignidade das mulheres e está em total desacordo com as finalidades previstas na Constituição para a programação das emissoras de televisão: educativa, informativa, cultural e jornalística.
A banheira saiu do ar, mas a emissora do Silvio Santos segue sendo uma das que mais veicula conteúdos misóginos e humilhantes em todo o espectro aberto de televisão brasileira.
Silvio Santos endossa sua visão de qual considera ser o papel da mulher na sociedade. “Mulher não tem o direito de ser feia”, diz.
Humilhar suas funcionárias ao vivo é uma especialidade de Silvio Santos. Em abril deste ano, durante a premiação do Troféu Imprensa, Silvio repreendeu Rachel Sheherazade: “Você não consegue falar uma frase sem se meter em política? Vai se candidatar a algum cargo? E por que se mete?”. Ela respondeu ao chefe dizendo: “Você me chamou para opinar”. E ele foi taxativo: “Não, eu te chamei para você continuar com a sua beleza, com a sua voz. Foi para ler as notícias, e não dar a sua opinião. Se quiser dar sua opinião compre uma estação de TV e faça por sua própria conta”.
Outro episódio envolveu a atriz/apresentadora Maisa Silva, de 15 anos. Ele humilhou a adolescente dizendo que se ela não conseguia arrumar um namorado, ele ia ajudá-la. “Tenho notado que você não consegue arrumar namorado. Você tem 15 anos e ele 19 [Dudu Camargo], o jogo foi um pretexto para aproximar vocês dois”, disse Silvio. A menina ficou constrangida e não baixou a cabeça para o patrão. “Então eu posso ir embora. Não estou aqui para arranjar namorado. É um ultraje, é constrangedor você me submeter a uma situação dessa”. Maísa saiu chorando do palco.
Este não foram o primeiro, nem o segundo caso de humilhação envolvendo Silvio Santos e uma funcionária de seu grupo. Mas quem sabe possa ser um dos últimos, porque desta vez vai lhe doer no bolso. O Ministério Público do Trabalho de São Paulo (MPT-SP) abriu uma ação civil pública (ACP) contra a emissora na qual impõe uma multa de R$ 10 milhões por “danos morais coletivos”.
A ACP também cita o caso no qual o apresentador Ratinho chutou uma assistente de palco ao vivo, isso aconteceu em abril de 2016. Sua assistente, Milene Pavorô, estava dentro de uma caixa de papelão. “Aroldo, o senhor notou que ela é uma funcionária rebelde? Providências terão de ser tomadas… Ela vai pra rua”!
O Ministério Público diz, na ação, “que os programas produziram cenas que configuram lesão ao direito da personalidade, bem como abuso de poder hierárquico em detrimento do gênero feminino nas relações de trabalho, caracterizando uma espécie de discriminação pela forma de tratamento dispensada às artistas, ao denotar um papel feminino estereotipado, que reforça a inferioridade da mulher e viola a sua dignidade por atentar contra sua intimidade, privacidade, imagem e a honra, o que merece ser combatido pelo estado-juiz”, defende a ação. A ação foi motivada por diversas denúncias recebidas sobre os dois casos. Exige, ainda, que o SBT tome “providência da empresa para que ajuste sua conduta e não mais permita, tolere ou submeta seus empregados a situações vexatórias, constrangedoras, ou qualquer conduta que implique desrespeito à pessoa humana, à vida privada, à honra, à intimidade e à imagem ou qualquer violência ou discriminação contra a mulher ou outro fator injusto de discriminação, garantindo-lhes tratamento respeitoso e digno”.
E o melhor da ação, que eu estou aguardando para assistir de camarote, é a exigência de que Silvio Santos e Ratinho se retratem ao vivo. Além disso, e da multa, o SBT deverá veicular, no início e no fim dos programas dos apresentadores a seguinte mensagem: “A emissora respeita os direitos da personalidade, a dignidade, a intimidade, a honra, a vida privada, a imagem e a integridade física e mental dos trabalhadores, bem como repele qualquer violência ou discriminação contra a mulher ou outro fator injusto de discriminação, garantindo-lhes tratamento respeitoso e digno”.
Mas Silvio Santos não se emenda. No último domingo, 24, assediou ao vivo a atriz Helen Ganzarolli. “Helen, tenho certeza que vou completar 90 anos e no dia do meu aniversário, vou comer bolo que é você”, disse Silvio em seu programa na TV aberta. “Eu vou continuar tentando descobrir o dia que nós vamos levantar juntos”, seguiu o apresentador.
Além dos disparates dos seus programas de auditório, a emissora de Silvio Santos acolhe jornalistas como Rachel Sheherazade, que propaga discurso de ódio e incentiva justiçamentos. O caso ganhou grande visibilidade, em 2014, quando durante a exibição de uma reportagem sobre um jovem negro que foi amarrado ao poste ela comentou: “Num país que sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível”, disse. “O Estado é omisso, a polícia desmoralizada, a Justiça é falha… O que resta ao cidadão de bem, que ainda por cima foi desarmado? Se defender, é claro. O contra-ataque aos bandidos é o que chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite”.
Este tipo de posicionamento de jornalistas e comentaristas que usam espaços privilegiados em emissoras de rádio e televisão, disseminando um discurso de ódio na sociedade, contribui para estimular bandeiras como a redução da maioridade penal, que vai criminalizar principalmente a juventude pobre e negra.
De pai para filha
Silvio Santos conseguiu sua primeira outorga de televisão, o canal 11 no Rio de Janeiro, no governo militar, em outubro de 1975, por decreto assinado pelo presidente Ernesto Geisel. Anos mais tarde, no governo Figueiredo, conseguiu também a licença para operar o canal 4 de São Paulo. E ai começa o império mediático de Silvio Santos, com o nascimento do SBT no final da década de 1980.
Silvio se considera o “dono” dos canais que opera. Mas não é, e deveria caber ao Estado dizer isso para ele.
Como o que move o “mercado” de radiodifusão não é o interesse público, e sim as conveniências políticas e o poder econômico, uma “troca de favores” entre Silvio Santos e o governo garantiu ao empresário que Michel Temer assinasse, em fevereiro deste ano, quatro decretos autorizando a transferência societária das suas quatro concessões de televisão. Os decretos autorizaram Silvio Santos a realizar “transferência indireta” e “modificação do quadro diretivo” das suas concessões no Rio de Janeiro (TV SBT – Canal 11), São Paulo (TV SBT – Canal 4), Porto Alegre (TV SBT – Canal 5), e Brasília (TV Stúdios de Brasília Ltda.) para as filhas Cíntia, Silvia, Daniela, Patricia, Rebeca e Renata.
Em troca destes favores e de vultosos recursos publicitários que tem recebido do governo federal, Ratinho foi ao Palácio do Planalto para fazer uma entrevista exclusiva com Temer, que falou dos “benefícios” da Reforma Trabalhista e da Previdência.
Depois de os decretos terem sido publicados no Diário Oficial, Silvio Santos levou toda a família para o seu programa dominical e fez a seguinte brincadeira, que mostra o triste quadro da radiodifusão no Brasil. “Aqui tá a família toda, nepotismo, hein. Tá a Silvinha, a Patrícia, o meu neto… Como é o nome dele? Tiago! Quem tá mais. Silvio Santos, a Rebeca… Quer dizer que tá a família toda, tá parecendo repartição pública, só tem família!”, disse.
Sem comentários.
Silvio Santos conseguiu sua primeira outorga de televisão, o canal 11 no Rio de Janeiro, no governo militar, em outubro de 1975, por decreto assinado pelo presidente Ernesto Geisel. Anos mais tarde, no governo Figueiredo, conseguiu também a licença para operar o canal 4 de São Paulo. E ai começa o império mediático de Silvio Santos, com o nascimento do SBT no final da década de 1980.
Silvio se considera o “dono” dos canais que opera. Mas não é, e deveria caber ao Estado dizer isso para ele.
Como o que move o “mercado” de radiodifusão não é o interesse público, e sim as conveniências políticas e o poder econômico, uma “troca de favores” entre Silvio Santos e o governo garantiu ao empresário que Michel Temer assinasse, em fevereiro deste ano, quatro decretos autorizando a transferência societária das suas quatro concessões de televisão. Os decretos autorizaram Silvio Santos a realizar “transferência indireta” e “modificação do quadro diretivo” das suas concessões no Rio de Janeiro (TV SBT – Canal 11), São Paulo (TV SBT – Canal 4), Porto Alegre (TV SBT – Canal 5), e Brasília (TV Stúdios de Brasília Ltda.) para as filhas Cíntia, Silvia, Daniela, Patricia, Rebeca e Renata.
Em troca destes favores e de vultosos recursos publicitários que tem recebido do governo federal, Ratinho foi ao Palácio do Planalto para fazer uma entrevista exclusiva com Temer, que falou dos “benefícios” da Reforma Trabalhista e da Previdência.
Depois de os decretos terem sido publicados no Diário Oficial, Silvio Santos levou toda a família para o seu programa dominical e fez a seguinte brincadeira, que mostra o triste quadro da radiodifusão no Brasil. “Aqui tá a família toda, nepotismo, hein. Tá a Silvinha, a Patrícia, o meu neto… Como é o nome dele? Tiago! Quem tá mais. Silvio Santos, a Rebeca… Quer dizer que tá a família toda, tá parecendo repartição pública, só tem família!”, disse.
Sem comentários.
1 comentários:
O SS é um atraso no Brasil. Pior q serviu de referência a quase todos os apresentadores da TV. A midia brasileira precisa urgentemente de rédeas legais, pois nunca teve.
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