Foto: Ricardo Stuckert |
O ano está terminando e as eleições presidenciais ficam cada vez mais próximas. Daqui a apenas 11 meses, teremos um novo presidente da República. Comparado a momentos semelhantes vividos nas últimas décadas, este é o mais incerto. Não pela dúvida a respeito de quem vai ganhar a eleição, pois, a 11 meses do pleito, ninguém apostava, por exemplo, que Fernando Collor venceria em 1989 ou que, em 1994, Fernando Henrique Cardoso nem sequer seria candidato.
O que torna especialmente confuso o panorama não é a dificuldade de antecipar o comportamento dos eleitores em outubro próximo. Isso é próprio da democracia e ocorre em todo o mundo. Nosso problema é mais sério: nunca houve uma eleição brasileira em que, a menos de um ano, ainda estivéssemos sem saber se o principal candidato poderia disputá-la.
Contrariando o desejo da maioria, que quer que Lula tenha o direito de concorrer, existe um segmento minoritário da sociedade, atavicamente hostil ao petista, obcecado em excluí-lo. Quase todas são pessoas para quem não importam acusações específicas, novas ou antigas, pois já o julgaram e condenaram em seus tribunais privados.
Em si, esse não é o problema, pois também faz parte da democracia que políticos como Lula enfrentem resistências na opinião pública, que podem ser profundas e até irracionais. Ninguém vem de onde veio e faz o que fez sem provocar a reação dos contrários à mudança. Getúlio, Juscelino e Jango foram igualmente atacados e insultados, até com as mesmas palavras.
O grave é que o inconformismo dessa minoria foi assumido por um grupo de juízes, promotores e delegados que resolveu extrapolar seu papel, ignorar o que dizem as leis e se tornar protagonistas. Diante da inércia dos que deveriam dirigi-los, puseram-se à caça do ex-presidente com o intuito de excluí-lo da eleição.
Depois do abuso do impeachment de Dilma Rousseff e de sua substituição por um cidadão como Michel Temer, criou-se tal anomia institucional que as movimentações desse grupo passam incólumes. Enquanto continuarem a fazer o que lhes dá na veneta, ninguém saberá dizer como será a próxima eleição.
Do ponto de vista dos sentimentos do eleitorado, 2017 não foi, como era previsível, um bom ano para nenhum dos possíveis candidatos ligados ao condomínio que derrubou Dilma, com seus braços no sistema político, nos oligopólios da mídia, no empresariado e na sociedade. Extraordinário é que só agora, no fim do ano, estejam se dando conta da precariedade da aventura em que se meteram.
A incompetência das elites conservadoras brasileiras é proverbial, mas elas se superaram desta feita. Fantasiaram que, depondo Dilma e inventando a narrativa da “maior corrupção de todos os tempos” contra Lula e o PT, a sociedade correria a apoiar sua “agenda de mudanças”, quase toda constituída por propostas regressivas e antipopulares.
Confiaram essa agenda a um presidente ilegítimo e desqualificado, cercado por um grupo que há muito os eleitores conheciam e a respeito do qual não podiam ter ilusões. Permanecem à espera da “melhora das expectativas econômicas”, adiada para um horizonte cada vez mais longínquo.
A saída de Dilma não melhorou a vida do povo, a tese da “maior corrupção” foi soterrada pelas evidências dos ilícitos praticados pelos arquitetos do golpe, a agenda empacou e as expectativas pioraram. Não é surpresa que todos os nomes nem sequer remotamente ligados a esses fracassos tenham baixa intenção de voto. Nas últimas pesquisas, nenhum dos pré-candidatos do PSDB passa de 1% nas respostas espontâneas ou de 7% no voto estimulado, algo que nunca havia acontecido antes.
O antipetismo, a verdadeira bandeira do PSDB nos últimos anos, foi empunhado por alguém de fora, astuto o bastante para manter-se longe do governo ao qual as lideranças peessedebistas aderiram alegremente. Jair Bolsonaro é o novo rosto dessa animosidade, aquilo que restava aos tucanos depois que a imagem de seriedade e proficiência, que chegaram a possuir para muitas pessoas, foi para o espaço.
Lula é Lula. A maioria dos brasileiros gosta dele e o admira, depois de refletir a seu respeito, sopesar acertos e erros, e chegar a uma conclusão racional. É o grande favorito a vencer a eleição e pode consertar os despropósitos dos últimos anos. Para o futuro da democracia, o problema é haver uma casta de burocratas inconformados, paladinos de causas minoritárias.
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