Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
Até outro dia, nas conversas a respeito da próxima eleição presidencial, a moda era falar na “terceira via”. Prossegue, mas agora com um componente novo: passou a ser de bom-tom descartar os resultados das atuais pesquisas de intenção de voto. Até alguns pesquisadores aderiram à novidade.
Embora nunca explícito, o raciocínio subjacente parece ser de que “estamos longe demais da eleição” e que somente “quando ela começar de fato” é que poderemos saber o que os eleitores farão em outubro. Por enquanto, as pesquisas pouco (ou nada) diriam.
Claro que os mais críticos são os que menos gostam do que veem. Os que rejeitam o candidato que está na frente desgostam do segundo colocado e não querem aceitar que o candidato de sua preferência talvez permaneça do tamanho que tem, longe de ambos.
De fato, para quem torce por qualquer outro nome que não os de Lula e Jair Bolsonaro, o quadro é complicado. Tão preocupante que é melhor jogar fora as pesquisas e rezar para que, algum dia, saiam números mais agradáveis.
Dependendo do instituto, Lula e Bolsonaro reúnem, atualmente, algo entre 50% e 60% das preferências, com larga dianteira para o ex-presidente. Em si, isso já seria preocupante para os torcedores de outros candidatos, mas há mais problemas.
Não é complicado estimar as taxas de votos nulos e brancos em eleições presidenciais, onde a escolha é mais simples e os eleitores costumam definir-se melhor. Nas duas últimas eleições, brancos e nulos somaram, no primeiro turno, cerca de 10% dos votos (8,6% em 2010 e 9,6% em 2014).
Se considerarmos que é provável que essa taxa suba em outubro próximo, dado o desgaste do sistema político aos olhos dos eleitores, as pesquisas atuais podem estar certas. Nas últimas, as proporções de entrevistados que pretendem assim votar são parecidas: 15% na mais recente CUT/Vox Populi e 14% no Datafolha de dezembro.
Voltando ao que as pesquisas mostram de voto nominal: 60% para Lula e Bolsonaro, mais 15% de brancos e nulos, deixa um total de 25% de votos para distribuir entre todos os demais candidatos. E se os dois líderes ganharem votos, diminuirá ainda mais a parcela a repartir.
É isso, aliás, que aconteceu ao longo de 2017: Lula cresceu, enquanto caíram candidatos mais à esquerda; Bolsonaro subiu à medida que minguaram as candidaturas à direita. Mantida a tendência, menores ficam as chances de “terceiras vias”.
Houve momentos em nossa história eleitoral recente que dão alento a quem torce pela possibilidade de que alguma coisa mude o cenário atual. Mais especificamente, o que aconteceu em 1989 com Fernando Collor e, de certa forma, o ocorrido em 2010 com Dilma Rousseff. Mas o alívio é ilusório. Nos candidatos com aspiração a repeti-los, não há nenhum com características semelhantes.
A questão fundamental é o nível de conhecimento. Se um candidato é pouco conhecido e possui atributos valorizados por aqueles que não o conhecem, é de imaginar que crescerá à medida que se tornar mais conhecido. Existe também a possibilidade de um candidato ser conhecido, mas possuir qualidades desconhecidas, cuja percepção faria com que crescesse.
Quando ocorre o inverso, o impasse é evidente: como fazer com que candidatos conhecidos, cujos atributos são igualmente conhecidos, cresçam? Em quais segmentos do eleitorado poderão aumentar seus votos, se todo mundo os conhece e não dá sinais de querê-los?
Collor e Dilma, no início de suas campanhas, eram praticamente desconhecidos. Ambos, no entanto, possuíam atributos altamente valorizados pelo conjunto do eleitorado. Era apenas questão de tempo e de exposição para que avançassem e foi o que aconteceu. Quando o eleitorado conheceu Collor e ficou sabendo que Dilma era a candidata que Lula apoiava, subiram nas pesquisas e venceram a eleição.
Quem se parece com qualquer um deles? Alckmin, um político nacional que já foi candidato a presidente e que governou São Paulo por quase 14 anos? Marina, que está prestes a ser candidata pela terceira vez seguida? Ciro Gomes, igualmente candidato por duas vezes e querendo ir para a terceira?
E os candidatos a representar o “governismo”? A qualidade desconhecida que possuem para se apresentar (ou se reapresentar) aos eleitores é o continuísmo? Acham que esse é um atributo que muita gente preza? Supõem que ser a Dilma Rousseff de Michel Temer dá votos? Ao fazer prognósticos e torcer por eles, é bom que as pessoas se lembrem que Lula é Lula. E também que Bolsonaro não é Celso Russomanno. É pouco provável que alguém cresça tirando votos que já estão com eles. Onde encontrar os que não têm?
Embora nunca explícito, o raciocínio subjacente parece ser de que “estamos longe demais da eleição” e que somente “quando ela começar de fato” é que poderemos saber o que os eleitores farão em outubro. Por enquanto, as pesquisas pouco (ou nada) diriam.
Claro que os mais críticos são os que menos gostam do que veem. Os que rejeitam o candidato que está na frente desgostam do segundo colocado e não querem aceitar que o candidato de sua preferência talvez permaneça do tamanho que tem, longe de ambos.
De fato, para quem torce por qualquer outro nome que não os de Lula e Jair Bolsonaro, o quadro é complicado. Tão preocupante que é melhor jogar fora as pesquisas e rezar para que, algum dia, saiam números mais agradáveis.
Dependendo do instituto, Lula e Bolsonaro reúnem, atualmente, algo entre 50% e 60% das preferências, com larga dianteira para o ex-presidente. Em si, isso já seria preocupante para os torcedores de outros candidatos, mas há mais problemas.
Não é complicado estimar as taxas de votos nulos e brancos em eleições presidenciais, onde a escolha é mais simples e os eleitores costumam definir-se melhor. Nas duas últimas eleições, brancos e nulos somaram, no primeiro turno, cerca de 10% dos votos (8,6% em 2010 e 9,6% em 2014).
Se considerarmos que é provável que essa taxa suba em outubro próximo, dado o desgaste do sistema político aos olhos dos eleitores, as pesquisas atuais podem estar certas. Nas últimas, as proporções de entrevistados que pretendem assim votar são parecidas: 15% na mais recente CUT/Vox Populi e 14% no Datafolha de dezembro.
Voltando ao que as pesquisas mostram de voto nominal: 60% para Lula e Bolsonaro, mais 15% de brancos e nulos, deixa um total de 25% de votos para distribuir entre todos os demais candidatos. E se os dois líderes ganharem votos, diminuirá ainda mais a parcela a repartir.
É isso, aliás, que aconteceu ao longo de 2017: Lula cresceu, enquanto caíram candidatos mais à esquerda; Bolsonaro subiu à medida que minguaram as candidaturas à direita. Mantida a tendência, menores ficam as chances de “terceiras vias”.
Houve momentos em nossa história eleitoral recente que dão alento a quem torce pela possibilidade de que alguma coisa mude o cenário atual. Mais especificamente, o que aconteceu em 1989 com Fernando Collor e, de certa forma, o ocorrido em 2010 com Dilma Rousseff. Mas o alívio é ilusório. Nos candidatos com aspiração a repeti-los, não há nenhum com características semelhantes.
A questão fundamental é o nível de conhecimento. Se um candidato é pouco conhecido e possui atributos valorizados por aqueles que não o conhecem, é de imaginar que crescerá à medida que se tornar mais conhecido. Existe também a possibilidade de um candidato ser conhecido, mas possuir qualidades desconhecidas, cuja percepção faria com que crescesse.
Quando ocorre o inverso, o impasse é evidente: como fazer com que candidatos conhecidos, cujos atributos são igualmente conhecidos, cresçam? Em quais segmentos do eleitorado poderão aumentar seus votos, se todo mundo os conhece e não dá sinais de querê-los?
Collor e Dilma, no início de suas campanhas, eram praticamente desconhecidos. Ambos, no entanto, possuíam atributos altamente valorizados pelo conjunto do eleitorado. Era apenas questão de tempo e de exposição para que avançassem e foi o que aconteceu. Quando o eleitorado conheceu Collor e ficou sabendo que Dilma era a candidata que Lula apoiava, subiram nas pesquisas e venceram a eleição.
Quem se parece com qualquer um deles? Alckmin, um político nacional que já foi candidato a presidente e que governou São Paulo por quase 14 anos? Marina, que está prestes a ser candidata pela terceira vez seguida? Ciro Gomes, igualmente candidato por duas vezes e querendo ir para a terceira?
E os candidatos a representar o “governismo”? A qualidade desconhecida que possuem para se apresentar (ou se reapresentar) aos eleitores é o continuísmo? Acham que esse é um atributo que muita gente preza? Supõem que ser a Dilma Rousseff de Michel Temer dá votos? Ao fazer prognósticos e torcer por eles, é bom que as pessoas se lembrem que Lula é Lula. E também que Bolsonaro não é Celso Russomanno. É pouco provável que alguém cresça tirando votos que já estão com eles. Onde encontrar os que não têm?
0 comentários:
Postar um comentário