sexta-feira, 16 de março de 2018

A greve dos servidores contra Doria

Foto: Joanne Mota 
Por Gabriel Valery, na Rede Brasil Atual:

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), afirma que não recuará em sua intenção de promover uma reforma na previdência dos servidores municipais. A gestão vem pressionando o Legislativo a apressar a matéria para que ela seja aprovada até abril, quando o tucano deixa a prefeitura para concorrer ao governo do estado. Do outro lado, estão os trabalhadores que, organizados, decidiram em assembleia conjunta nesta quinta-feira (15) continuar com a greve e mobilizações.

Hoje foi o dia da maior delas. Mais de 80 mil servidores, segundo os organizadores, estiveram na região da Câmara Municipal, onde o Projeto de Lei (PL) 621/2016 passou por nova audiência pública. A queixa central é a falta de diálogo. A própria data de realização dessa audiência, um dia depois de a matéria ter sido aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Casa, foi apontada como prova da desatenção. As entidades citam também pareceres de auditores do município apontando para irregularidades no texto.

O impacto de manifestação de hoje foi reflexo da forma como os servidores foram tratados pela administração pública ontem. Dentro da Casa, a sessão da CCJ foi tumultuada e aconteceu com portas fechadas após professores serem feridos pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) por ordem da direção da Casa (o presidente da Câmara, Milton Leite, é do DEM) e da administração municipal.

Do lado de fora, a Polícia Militar, comandada pelo governador, colega de partido e pré-candidato à presidência da República, Geraldo Alckmin, disparou uma bateria de bombas de gás e de balas de borracha contra os manifestantes.

“Estávamos trabalhando até ontem, mas devido à repressão violenta contra os que foram defender nossos direitos, paralisamos nossa escola para vir dar apoio. Esse PL vai nos prejudicar muito. Não temos FGTS, não temos verba de nada, só nosso salário. Aumentando o desconto dessa maneira, sem retorno, não tem como, fica inviável permanecer no serviço público, e é assim que estão sucateando”, disse a professora de educação infantil Ingride Almeida. Elaestava com outras professoras de sua escola, na Vila Formosa, zona leste da capital. Traziam flores brancas como contraponto à violência do Estado.

“Sou professora há 20 anos. É a primeira vez desde que entrei no serviço público que não estamos nas ruas por aumento, e sim, para não diminuírem salários. Os vereadores estão rindo de nós e o que aconteceu ontem aqui foi ordenado”, disse a colega Nilda Santana.

Era grande a presença feminina e de aposentados na manifestação. Como a enfermeira Neuza de Jesus Duque, aposentada há apenas três meses. “Esse PL já vem sendo apontado por um tempo e em momento algum fomos chamados para negociar. Doria colocou ele na pauta no fim do ano passado, na calada da noite. Quando falamos que é o PL do extermínio, não é força de expressão”, afirmou.

“Além do desconto que vai de 11% até 19%, arrebenta com a previdência. Os funcionários da ativa e os aposentados de hoje entram em um regime e os novos em outro. Soma-se a isso que ele não tem feito concursos públicos e tem fechado escolas. O que acontece? Não tem fonte para repor a previdência. Doria, além de não fazer nada pela cidade, está destruindo projetos e programas. Ele quer aprovar a matéria a todo custo porque quer mostrar que o Temer não conseguiu, mas ele consegue”, completou.

A opinião de Neuza é compartilhada pelo presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), Sérgio Antiqueira. “Esse projeto nunca foi discutido, porque eles perdem. Doria está pouco preocupado com a discussão. Ele quer sinalizar para os bancos, para o mercado e para a imprensa golpista que é capaz de fazer o que o Temer não conseguiu. Até tentam disfarçar de democracia, como essa audiência pública depois da CCJ. Fazem figurações, tentam criar um clima de democracia.”

“Estamos como uma greve que afeta a educação, chegando quase à totalidade das unidades paradas. Estamos com 100% da rede de assistência social parada, 100% da vigilância sanitária parada, o pessoal dos CEUs, bibliotecas, UBSs que não são privatizadas pararam, prefeituras regionais. Estamos cada dia mais aumentando o movimento. Por isso o Doria tem pressa, porque ele está perdendo espaço com a população”, completou o sindicalista.

O presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, professor da rede estadual, reafirmou apoio ao movimento grevista. “A rua está tomada. Essa é a resposta dos servidores à proposta do Doria que quer confiscar salários. Essa greve está forte e vai crescer ainda mais. Ontem, desrespeitaram os trabalhadores. Nós, da CUT, apoiamos a greve. Com unidade, derrotamos a reforma do golpista Temer. E com unidade vamos derrotar essa retirada de direitos”, disse.

1 comentários:

Anônimo disse...

Importante destacar a atitude de solidariedade dos funcionários públicos municipais que subiram a pé, três importantes ruas da Capital: Augusta, Consolação e 23 de maio, em número expressivo de participantes, após horas de manifestação contra a reforma da previdência municipal na Câmara Municipal, colocada em votação na calada da noite, pelo atual prefeito, sem qquer discussão, cuja violência repressora, culminou com professora sendo agredida no rosto por policial, de cassetete em punho, ensanguentando-a conforme cenas horripilantes divulgadas nos Blogs progressistas. Foram prantear as mortes de Marielle e Anderson denunciando o atentado contra a vida das mulheres e dos demais trabalhadores, cuja truculência vitima até 21 brasileiros/dia. Foram repudiar qualquer ação do estado contra o povo brasileiro, afirmando especialmente que NÃO É NÃO: NÃO às mortes dos pobres, dos negros, das mulheres, dos LGBT, e NÃO também à retirada de qualquer direito conquistado pelos Brasileiros!