Por Marina Gama Cubas, na revista CartaCapital:
Na corda bamba, o pré-candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, não chega aos dois dígitos nas pesquisas eleitorais até então divulgadas. Tal cenário se confirma inclusive com o levantamento feito pelo DataPoder360, publicado nesta terça-feira, 5.
O discurso oficial de Alckmin e de integrantes do partido é o de que a campanha de fato não começou, mas rumores internos apontam para abalos na jornada do ex-governador de São Paulo.
Pedro Tobias, presidente estadual do PSDB, chegou a propor a obrigatoriedade de os filiados declararem apoio formal a Alckmin como candidato sob pena de expulsão do partido por infidelidade. A ideia foi rechaçada porque poderia evidenciar o conflito interno da legenda.
Correligionários do pré-candidato também o pressionam. Em visita a Brasília na semana passada, Alckmin ouviu queixas sobre o ritmo lento da campanha, segundo a Folha de S. Paulo. Deputados e senadores pediram que o tucano adotasse uma postura mais assertiva em relação à questão dos caminhoneiros.
Ele criticou Michel Temer sobre a demora em reagir à greve, mas o próprio presidenciável teve a mesma postura: levou dias para se manifestar nas redes sociais sobre o tema - enquanto seu sucessor no Palácio dos Bandeirantes e pré-candidato ao governo estadual, Márcio França, já negociava com caminhoneiros para que os bloqueios no estado terminassem.
Também preocupada com o cenário à vista, a própria equipe do tucano tenta ampliar a presença dele nas redes sociais e na imprensa, propondo o uso do YouTube e aconselhando-o a dar mais entrevistas a rádios. Entre as atuais estratégias do candidato, estão críticas ao concorrente Jair Bolsonaro, do PSL, e elogios à presidenciável Marina Silva, da Rede.
Nesta terça-feira, 5, o tucano fez acenos a Marina, indicando que uma aliança com a pré-candidata da Rede e segunda nas pesquisas eleitorais - em cenários sem o Lula - não seria uma má ideia. "Independentemente de disputar ou não a Marina é uma pessoa pela qual tenho apreço pessoal. Eu gosto do estilo da Marina", afirmou em encontro com empresários Em São Paulo.
Para Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, as pesquisas não identificam tudo. “O fato de você ter dois pontos a mais ou dois pontos a menos em uma pesquisa não tem nenhum significado”, afirma.
“Não há nenhuma hipótese de alguém sair de seu nível atual antes que as eleições comecem pelos meios de comunicação. Ninguém sobe ou desce antes de começar os horários eleitorais”. E acrescenta: “não tem um cidadão nesse país, a não ser os profissionais que vivem em torno disso, que esteja pensando em eleição”.
Cláudio Couto, cientista político e professor da FGV, corrobora com a ideia que ainda é muito cedo para análises definitivas, mas destaca a situação de Alckmin como paradoxal. Segundo ele, ao mesmo tempo que é “momento mais oportuno para ele ser candidato, se considerada a trajetória política dele”, o tucano sofre ao não conseguir reagir aos seus adversários.
“Digo [que é o melhor momento] em tese porque de fato o que está se mostrando nas pesquisas não é um cenário tão positivo a ele como se podia imaginar antes dessa disputa eleitoral propriamente dita começar. Imagino que os cenário que tem se mostrado para o Alckmin são piores do que os imaginados pelos seus piores desafetos”, explica.
Segundo o cientista político, o fato de o tucano governar São Paulo por anos e já ter sido candidato à Presidência justificaria uma posição melhor nas pesquisas. No entanto, em um contexto de polarização no país, alguém que não se mostra a que veio rapidamente, como Alckmin, se enfraquece na corrida eleitoral.
“Candidato que não forma uma identidade mais clara, sem conseguir deixar mais nítido o que ele tem de tão próprio seu, vai se esvaziando. É a situação que ele vive”, afirma.
Outro ponto importante, de acordo com Couto, é o contexto do PSDB. O desgaste do partido, a divisão da região sul do país em três pré-candidatos, e o fato de a legenda ter deixado de ser o partido anti-PT com a entrada de Jair Bolsonaro (PSL) no jogo político são questões importantes que atrapalham o caminho de Alckmin.
“Ao longo dos últimos anos uma boa parcela do eleitorado tucano foi o eleitorado que provém do antipetismo. Como o PSDB se constitui como o anti-PT em boa medida, votar no PSDB era votar contra o PT. Isso levou para o eleitorado tucano aqueles que eram propriamente eleitores de direita. Esse eleitorado mais fortemente direitista hoje não está com o Alckmin”, afirma Couto.
No sul, ele enfrenta uma batalha na disputa por votos com Bolsonaro, que lidera na região, e com o ex-tucano Alvaro Dias, segundo colocado, que se filiou ao Podemos e sempre teve um discurso um pouco mais à direita que Alckmin. Além disso, o partido perdeu seu lugar como a legenda anti-PT.
A que veio?
De acordo com Goldman, “Alckmin tem que mostrar que tem condições melhores que os outros candidatos para enfrentar o futuro do país”. Até agora, entretanto, foram poucas as manifestações públicas do presidenciável falando a que veio.
Couto explica que a dificuldade e indefinição do tucano pode ser “decorrente da própria dificuldade que existe em ser um candidato majoritário numa situação de tanta polarização”. Dessa forma, movimentos feitos por Alckmin no final de 2017, se posicionando como o candidato do "Esquerda Pra Valer" - corrente que se autointitula mais progressista dentro do PSDB - ao mesmo tempo em que propõe facilitar o porte de armas no campo tem o objetivo de captar os votos de ambos os lados, o que parece fazer um certo sentido na situação em que o pré-candidato se encontra.
"Um candidato majoritário é obrigado a falar para vários públicos. E falar para vários públicos significa geralmente fazer um discurso que vai ter elementos de ambiguidade, que ora parece que você está falando uma coisa e daqui a pouco parece que está falando outra. E de fato você está mesmo. Porque uma hora você tem que agradar o eleitorado do Bolsonaro para tirar o voto dele, outra hora você tem que falar com o eleitorado do PT para tirar voto dele e aí fica nessa situação em que cada hora se atira para um lado", afirma Couto.
Nas últimas semanas, Alckmin tem criticado nominalmente Bolsonaro no seu Twitter.
Couto diz não saber se a melhor estratégia para Alckmin é buscar alternar críticas a Bolsonaro e ao PT, "mas é a estratégia que vai sobrando”. Ele lembra ainda que uma parcela da população não está satisfeita com nenhum dos dois extremos que se apresenta no pleito.
“A aposta que faria mais sentido para ele é se vender como candidato da moderação, da ponderação, um ser equilibrado, capaz de evitar grandes conflagrações, grandes conflitos. Isso combinada de uma certa forma com o estilo dele, com a personalidade de ser alguém de fala mansa, de semblante tranquilo, aquele jeito de padre que ele tem ou farmacêutico do interior”, diz.
“Talvez seja essa a coisa, porque realmente muita gente está bastante cansada desse cenário tão polarizado, de tanta raiva e tanto conflito. Se ele se vende como quem pode pacificar, acho que ele tem aí um trunfo. Talvez alguma coisa que permita ele efetivamente crescer”.
O discurso oficial de Alckmin e de integrantes do partido é o de que a campanha de fato não começou, mas rumores internos apontam para abalos na jornada do ex-governador de São Paulo.
Pedro Tobias, presidente estadual do PSDB, chegou a propor a obrigatoriedade de os filiados declararem apoio formal a Alckmin como candidato sob pena de expulsão do partido por infidelidade. A ideia foi rechaçada porque poderia evidenciar o conflito interno da legenda.
Correligionários do pré-candidato também o pressionam. Em visita a Brasília na semana passada, Alckmin ouviu queixas sobre o ritmo lento da campanha, segundo a Folha de S. Paulo. Deputados e senadores pediram que o tucano adotasse uma postura mais assertiva em relação à questão dos caminhoneiros.
Ele criticou Michel Temer sobre a demora em reagir à greve, mas o próprio presidenciável teve a mesma postura: levou dias para se manifestar nas redes sociais sobre o tema - enquanto seu sucessor no Palácio dos Bandeirantes e pré-candidato ao governo estadual, Márcio França, já negociava com caminhoneiros para que os bloqueios no estado terminassem.
Também preocupada com o cenário à vista, a própria equipe do tucano tenta ampliar a presença dele nas redes sociais e na imprensa, propondo o uso do YouTube e aconselhando-o a dar mais entrevistas a rádios. Entre as atuais estratégias do candidato, estão críticas ao concorrente Jair Bolsonaro, do PSL, e elogios à presidenciável Marina Silva, da Rede.
Nesta terça-feira, 5, o tucano fez acenos a Marina, indicando que uma aliança com a pré-candidata da Rede e segunda nas pesquisas eleitorais - em cenários sem o Lula - não seria uma má ideia. "Independentemente de disputar ou não a Marina é uma pessoa pela qual tenho apreço pessoal. Eu gosto do estilo da Marina", afirmou em encontro com empresários Em São Paulo.
Para Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, as pesquisas não identificam tudo. “O fato de você ter dois pontos a mais ou dois pontos a menos em uma pesquisa não tem nenhum significado”, afirma.
“Não há nenhuma hipótese de alguém sair de seu nível atual antes que as eleições comecem pelos meios de comunicação. Ninguém sobe ou desce antes de começar os horários eleitorais”. E acrescenta: “não tem um cidadão nesse país, a não ser os profissionais que vivem em torno disso, que esteja pensando em eleição”.
Cláudio Couto, cientista político e professor da FGV, corrobora com a ideia que ainda é muito cedo para análises definitivas, mas destaca a situação de Alckmin como paradoxal. Segundo ele, ao mesmo tempo que é “momento mais oportuno para ele ser candidato, se considerada a trajetória política dele”, o tucano sofre ao não conseguir reagir aos seus adversários.
“Digo [que é o melhor momento] em tese porque de fato o que está se mostrando nas pesquisas não é um cenário tão positivo a ele como se podia imaginar antes dessa disputa eleitoral propriamente dita começar. Imagino que os cenário que tem se mostrado para o Alckmin são piores do que os imaginados pelos seus piores desafetos”, explica.
Segundo o cientista político, o fato de o tucano governar São Paulo por anos e já ter sido candidato à Presidência justificaria uma posição melhor nas pesquisas. No entanto, em um contexto de polarização no país, alguém que não se mostra a que veio rapidamente, como Alckmin, se enfraquece na corrida eleitoral.
“Candidato que não forma uma identidade mais clara, sem conseguir deixar mais nítido o que ele tem de tão próprio seu, vai se esvaziando. É a situação que ele vive”, afirma.
Outro ponto importante, de acordo com Couto, é o contexto do PSDB. O desgaste do partido, a divisão da região sul do país em três pré-candidatos, e o fato de a legenda ter deixado de ser o partido anti-PT com a entrada de Jair Bolsonaro (PSL) no jogo político são questões importantes que atrapalham o caminho de Alckmin.
“Ao longo dos últimos anos uma boa parcela do eleitorado tucano foi o eleitorado que provém do antipetismo. Como o PSDB se constitui como o anti-PT em boa medida, votar no PSDB era votar contra o PT. Isso levou para o eleitorado tucano aqueles que eram propriamente eleitores de direita. Esse eleitorado mais fortemente direitista hoje não está com o Alckmin”, afirma Couto.
No sul, ele enfrenta uma batalha na disputa por votos com Bolsonaro, que lidera na região, e com o ex-tucano Alvaro Dias, segundo colocado, que se filiou ao Podemos e sempre teve um discurso um pouco mais à direita que Alckmin. Além disso, o partido perdeu seu lugar como a legenda anti-PT.
A que veio?
De acordo com Goldman, “Alckmin tem que mostrar que tem condições melhores que os outros candidatos para enfrentar o futuro do país”. Até agora, entretanto, foram poucas as manifestações públicas do presidenciável falando a que veio.
Couto explica que a dificuldade e indefinição do tucano pode ser “decorrente da própria dificuldade que existe em ser um candidato majoritário numa situação de tanta polarização”. Dessa forma, movimentos feitos por Alckmin no final de 2017, se posicionando como o candidato do "Esquerda Pra Valer" - corrente que se autointitula mais progressista dentro do PSDB - ao mesmo tempo em que propõe facilitar o porte de armas no campo tem o objetivo de captar os votos de ambos os lados, o que parece fazer um certo sentido na situação em que o pré-candidato se encontra.
"Um candidato majoritário é obrigado a falar para vários públicos. E falar para vários públicos significa geralmente fazer um discurso que vai ter elementos de ambiguidade, que ora parece que você está falando uma coisa e daqui a pouco parece que está falando outra. E de fato você está mesmo. Porque uma hora você tem que agradar o eleitorado do Bolsonaro para tirar o voto dele, outra hora você tem que falar com o eleitorado do PT para tirar voto dele e aí fica nessa situação em que cada hora se atira para um lado", afirma Couto.
Nas últimas semanas, Alckmin tem criticado nominalmente Bolsonaro no seu Twitter.
Couto diz não saber se a melhor estratégia para Alckmin é buscar alternar críticas a Bolsonaro e ao PT, "mas é a estratégia que vai sobrando”. Ele lembra ainda que uma parcela da população não está satisfeita com nenhum dos dois extremos que se apresenta no pleito.
“A aposta que faria mais sentido para ele é se vender como candidato da moderação, da ponderação, um ser equilibrado, capaz de evitar grandes conflagrações, grandes conflitos. Isso combinada de uma certa forma com o estilo dele, com a personalidade de ser alguém de fala mansa, de semblante tranquilo, aquele jeito de padre que ele tem ou farmacêutico do interior”, diz.
“Talvez seja essa a coisa, porque realmente muita gente está bastante cansada desse cenário tão polarizado, de tanta raiva e tanto conflito. Se ele se vende como quem pode pacificar, acho que ele tem aí um trunfo. Talvez alguma coisa que permita ele efetivamente crescer”.
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