sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Corruptos e drogas na equipe de transição

Por Altamiro Borges

Um mês após a operação policial, a Folha revelou nesta semana as sujeiras de mais um “colaborador” da hermética e sinistra equipe de transição do presidente Jair Bolsonaro. Vale conferir trechos da reportagem assinada por Walter Nunes:

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Na manhã de 27 de novembro, policiais federais e fiscais da Receita entraram no apartamento do advogado Thiago Taborda Simões, em São Paulo, em busca de provas sobre a suposta atuação de uma quadrilha que operava um esquema de fraude, sonegação e lavagem de dinheiro que pode ter dado prejuízo de R$ 500 milhões ao Fisco.

Durante as buscas, os investigadores apreenderam documentos, encontraram uma caixa com maconha e cocaína e um crachá de acesso ao local de trabalho da equipe de transição do governo do presidente Jair Bolsonaro, em Brasília.

Segundo a operação, batizada de Chiaroscuro, a suposta quadrilha funcionava a partir de um escritório de advocacia que atuava em conjunto com empresas laranjas e reais.

A PF afirma que as empresas simulavam a venda de produtos e serviços e, ao receber os pagamentos e emitir notas fiscais sobre as transações fictícias, distribuíam os valores para contas no Brasil ou no exterior, ou realizavam a entrega de dinheiro em espécie aos envolvidos no grupo.

"Há indícios de que esses pagamentos eram realizados para diminuir valores devidos em impostos, lavar dinheiro e pagar propinas a agentes públicos", diz a polícia.

As empresas teriam continuado a operar mesmo após passar pela fiscalização de um funcionário da Receita que pertencia ao grupo.

Simões virou alvo porque, segundo a investigação, indicou a um cliente com problemas com a Receita um advogado envolvido no esquema. Teria recebido uma comissão por isso.

Simões não é formalmente da equipe de transição, mas participou de reuniões com o grupo comandado pelo economista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia.

O advogado admitiu à Folha, via sua assessoria, que teve dois encontros com a equipe de Guedes como especialista convidado. Teria atuado, segundo ele, como consultor em assuntos tributários.

Ex-conselheiro do Carf (Conselho Administrativo da Receita Federal), órgão administrativo que julga processos em segunda instância na Receita, Simões é ligado aos irmãos Abraham e Arthur Weintraub, integrantes da equipe de transição da área econômica.

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Abraham é cotado para assumir como secretário-executivo da Casa Civil, para ser o principal articulador da reforma da Previdência.

A Polícia Federal ainda analisa o material apreendido e não terminou o relatório nem decidiu sobre indiciamentos.

Por causa da descoberta das drogas, o advogado teve que assinar na polícia um termo circunstanciado, que é o registro de uma infração de menor potencial ofensivo. A pena máxima nesses casos é de até dois anos de prisão ou multa.


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Pelo relato da Folha dá para perceber que o “colaborador” é gente finíssima. Thiago Simões, evidente, nega as acusações e diz que “participou de duas reuniões [da equipe de transição], mas meramente como especialista convidado”. Sobre as drogas na sua casa, ele alegou se tratar de “questão de foro pessoal, já esclarecida e arquivada pelas autoridades”. A Folha até procurou o comando da equipe de transição do demagogo que se traveste de vestal da ética e de líder da cruzada em defesa da família, da moral e dos bons costumes. “Procurada, a assessoria não se manifestou”, registra o jornal, sem maiores críticas.

Mentiras do WhatsApp e Lei Maria da Penha

Thiago Simões não é o único “colaborador” acusado por mutretas. Outros integrantes da sinistra equipe de transição já tinham sido denunciados antes – o que confirmava os riscos sobre o futuro governo. O primeiro nome a aparecer no esgoto foi o do empresário Marcos Aurélio Carvalho, um dos donos da firma AM4 Brasil Inteligência Digital, a maior prestadora de serviços da candidatura de Jair Bolsonaro no front da guerra cibernética. A empresa foi a responsável pelo disparo em massa de notícias falsas pelo WhatsApp e recebeu R$ 650 mil pelo serviço sujo e ilegal – segundo a suspeita prestação de contas apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Temendo dores de cabeça, o próprio Thiago Simões pediu para sair da equipe de transição.

Na sequência surgiu um nome ainda mais complicado no sinistro time da transição: o do deputado federal Julian Lemos (PSL-PB). Vice-presidente nacional do partido de Jair Bolsonaro, o parlamentar já foi alvo três vezes da Lei Maria da Penha, acusado de agressão pela irmã e pela ex-mulher. A primeira queixa contra o valentão, que se porta como jagunço do novo presidente, foi feita em 2013 pela ex-mulher, Ravena Coura, que relatou à polícia ter sido agredida fisicamente e ameaçada por uma arma de fogo. Na ocasião, Julian Lemos foi preso em flagrante. Em 2016, ela fez outra denúncia, afirmando que o então marido “é uma pessoa muito violenta” e a teria ameaçado, dizendo: “Vou acabar com você, você não passa de hoje”.

Num estranho recuo, Ravena Coura pediu para arquivar as acusações, afirmando que tudo não passou de “desavença banal” e que o ex-marido “é um homem íntegro, honesto, trabalhador e cumpridor de todas as obrigações”. Os dois inquéritos foram arquivados. Uma terceira investigação foi instaurada em 2016 por solicitação da irmã do valentão, Kamila Lemos. Ela contou em depoimento que tentou “apaziguar” uma briga do irmão com a ex-mulher, quando passou a ser ofendida e agredida fisicamente, com “murros, empurrões”, tendo sido arrastada pelo pescoço. Laudo do Instituto Médico Legal (IML) constatou escoriações. Também de forma misteriosa, pouco depois a irmã teria apresentado uma carta de retratação.

Indicado por Onyx Lorenzoni

Um quarto nome da briosa equipe de Jair Bolsonaro também surgiu metido em encrencas. Segundo matéria da revista Época, assinada pelo jornalista Vinicius Sassine, “um integrante do grupo de transição montado pelo presidente eleito é apontado em relatório do Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU) como um dos responsáveis por irregularidades na contratação superfaturada de uma empresa de tecnologia pelo Ministério do Trabalho. Nomeado como assessor no grupo de transição, Pablo Antônio Fernando Tatim dos Santos é citado no relatório da CGU que acabou por embasar a abertura de um inquérito pela Polícia Federal. As investigações da PF estão em curso desde março de 2017”.

“Tatim foi colocado no grupo de transição por indicação do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). O deputado é ministro extraordinário da transição, braço direito de Bolsonaro e já foi anunciado pelo presidente eleito como titular da Casa Civil a partir de 1º de janeiro de 2019. Onyx nomeou Tatim para a função de coordenador de assuntos jurídicos de seu gabinete de ministro coordenador da transição. A designação foi publicada no Diário Oficial da União... O relatório da CGU apontou um potencial sobrepreço de R$ 26,2 milhões na ata de registro dos preços, um potencial superfaturamento de R$ 9,3 milhões em contrato assinado e ‘fortes indícios de desvio de finalidade’ na seleção da empresa, a Business to Technology (B2T). Na nota técnica, a CGU listou 18 pessoas “supostamente envolvidas” nas irregularidades, entre elas Tatim”.

2 comentários:

Leitor_Critico disse...

Miguel, seu texto é excelente mas ler nesta fonte é osso, fica muito cansativo. Mude a fonte do seu blog. Peça uma ajuda a quem trabalha com sites

Unknown disse...

Concordo. Excelente materia mas a fonte utilizada dificulta a leitura.