domingo, 30 de dezembro de 2018

Temer volta a atacar a indústria nacional

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira:

Hoje o governo Temer, através da Camex, deu mais um passo visando acabar com a indústria nacional. Decidiu que em quatro anos as tarifas sobre a importação de bens de capital caiam de 14 para 4 por cento. O argumento é que o setor se beneficia de protecionismo, quando não há protecionismo algum.

O que as tarifas fazem é neutralizar a doença holandesa para efeito de vendas no mercado interno e, assim, dar condições para que as boas empresas do país possam competir.

O liberalismo econômico vem condenando o Brasil ao atraso desde 1990.

Nesse ano as elites brasileiras se submeteram à hegemonia neoliberal, que se tornara dominante nos países ricos dez anos antes, e o regime de política econômica deixou de ser desenvolvimentista para ser liberal. Nos 60 anos anteriores, a economia brasileira havia crescido extraordinariamente e se transformado em grande exportadora de bens manufaturados porque neutralizava sua doença holandesa.

Fazia-o intuitivamente porque naquele tempo não se conhecia a doença holandesa, mas os economistas e os empresários desenvolvimentistas sabiam que desenvolvimento significava industrialização.

Desde então – ao abrir a economia e ao aceitar a tese liberal que não importa se o país produza microchips ou potato chips – o Brasil praticamente parou de crescer, Instaurou-se no país grave processo de desindustrialização que resultou baixíssimo crescimento.

Ao invés de realizar o alcançamento, o Brasil passou a ficar cada vez mais para trás.

Os economistas dos países ricos têm uma ideia muito vaga e incompleta do que seja essa apreciação de longo prazo da moeda nacional e, portanto, essa desvantagem competitiva representada pela doença holandesa.

E naturalmente não estão interessados em discutir o assunto.

Os economistas brasileiros, que deveriam estar sumamente interessados, são dominados pelo liberalismo econômico, e entendem que as tarifas são protecionistas, não compreendendo que, na verdade, elas apenas neutralizam de maneira incompleta a doença holandesa em relação ao mercado interno.

Asseguram, portanto, às empresas brasileiras ou multinacionais que aqui produzem bens de capital condições de competição relativamente iguais às das empresas similares de outros países.

Os dirigentes da Abimac conhecem a doença holandesa e têm alertado inutilmente o governo.
 
O problema, porém, não está claro para os empresários da área, que, submetidos ao credo neoliberal, aceitam equivocadamente que há protecionismo nas tarifas e declaram concordar com sua redução desde que o custo-Brasil seja reduzido, baixe o custo do capital para investimentos e capital de giro, e os custos dos insumos diminuam.

Reformas necessárias, mas que nada têm a ver com o problema de assegurar as nossas empresas condições de igualdade no mercado interno que as tarifas aduaneiras proporcionam.

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