Por Haroldo Lima
A maior empresa de engenharia da América Latina, a brasileira Odebrecht, acaba de pedir “recuperação judicial”.
O número de trabalhadores da Odebrecht em 2015, incluindo terceirizados, era 276 mil. Hoje é 48 mil. Significa que em 4 anos, 228 mil trabalhadores, muitos de elevada qualificação, perderam o emprego.
A responsabilidade principal por tal desastre foi da Operação Lava Jato, com sua forma peculiar de combater a corrupção, prendendo corruptos, corruptores e destruindo as empresas a eles vinculadas. O ocorrido com a Odebrecht é exemplar.
Em novembro de 2014, a Lava Jato identificou corrupção nas relações entre grandes empreiteiras e funcionários da Petrobras. Em junho de 2015, prendeu o presidente da companhia Marcelo Odebrecht. Diretores da Petrobras já estavam ou foram presos em seguida, assim como presidentes e diretores de grandes empreiteiras, como Andrade Gutierrez, OAS, Camargo Correa, Queiroz Galvão, UTC Engenharia, Engevix e outras.
Esperava-se que a Lava Jato aprofundasse suas investigações, buscasse recuperar o dinheiro afanado e promovesse processos para a condenação dos responsáveis, tudo dentro da lei.
Mas o que ela fez foi diferente. Deu andamento a uma outra operação, demorada, espalhafatosa, com objetivos políticos que agora foram comprovados.
Administradores e proprietários de grandes companhias não foram apenas presos, mas expostos à execração pública, a linchamento moral e a humilhações que os atingia e atingia em cheio as empresas a eles ligadas. A própria Petrobras foi vítima dessa sanha. Esteve ameaçada de ser vista como um antro de corruptos, perdeu valor e prestígio.
Uma sequência de ações ilegais, sob os olhares lenientes do Judiciário, foi perpetrada. Um novo agente de justiça ganhou força, o “delator premiado”. Suas delações, induzidas, comprovadas ou não, garantiam-lhes vantagens e levavam a prisões retumbantes, que o país assistia atônito. Eram métodos da guerra híbrida voltados contra pessoas e empresas.
A corrupção foi alçada ao nível de problema número um da República, mas apenas a chamada corrupção-política.
No Brasil, entre 2017 e 2018, a pobreza aumentou, o desemprego bateu recorde, a inflação esteve baixa e o país só cresceu 1,3%. No mesmo período, os juros de cheques especiais foram a 15% ao mês, 327% ao ano e os quatro maiores bancos lucraram 20%, R$69 bilhões, coisa estupenda. Contudo, isto não é visto como esbulho à população. A sonegação de impostos, as isenções, os depósitos em paraísos fiscais, tudo isso que ultrapassa, em muito, a corrupção identificada pela Lava Jato, não é computada como corrupção. A elite esconde bem a corrupção que quer proteger, e que é a grande.
Os espetáculos montados pela Lava Jato, com o apoio da mídia hegemônica, criaram o clima de que para prender um corrupto ou corruptor político, tudo se justificava. Os interesses nacionais foram olimpicamente desconsiderados. A necessidade de se resguardar no país uma base empresarial forte em engenharia, indispensável à construção de uma nação soberana, nem foi cogitada. Por isso não se pensou em punir culpados salvaguardando as empresas a ele vinculadas.
As empresas foram desmoralizadas, imobilizadas e finalmente inviabilizadas, elas que eram as maiores empresas brasileiras de engenharia, das mais avançadas do mundo.
As companhias estrangeiras tiraram proveito rápido da criminosa razia promovida pela Lava Jato. Em dezembro de 2014 a Petrobrás decidiu proibir novos contratos com 23 empresas investigadas na Operação, todas as grandes brasileiras aí incluídas. No início de 2017, a Petrobras convidou para participar da licitação para a construção da sua maior obra em curso, a Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN), de Itaboraí, no Rio, trinta empresas, todas estrangeiras. E o que é incrível: como mostrou o DCM, (24/01/2017), diversas das convidadas estavam envolvidas com corrupção em seus países, como a espanhola Acciona, a inglesa Amec Foster Wheeler, a norte-americana Bechtel Corporation e outras.
Registre-se que esse extermínio empresarial demorou anos e não se escutou nenhum protesto das entidades empresariais brasileiras. Fiesp, Firjan e outras nada fizeram. As denúncias do pessoal de esquerda não eram ouvidas, e talvez não tenham sido suficientemente enfáticas.
Há pouco, a 17 de junho passado, o empresário João Carlos Saad, dono do Grupo Bandeirantes, falando a outros empresários, responsabilizou a Lava Jato pela “destruição de empresas nacionais”. E tocou em questão central: “Nenhuma das empresas internacionais que se envolveu no escândalo da Petrobrás ou em outros escândalos foi destruída.” De fato, as delações citaram as Samsung, SBM Offshore, Maersk, Jurong, Kawasaki, Mitsubishi, Mitsui, Toshiba, Rolls-Royce e outras. Todas estão “muito bem, obrigado”.
Aliás, nações empenhadas em se desenvolverem com soberania, nunca liquidam suas grandes empresas, mesmo quando sobre elas pairam enormes problemas. Submetem-nas a uma depuração e salvam-nas. Foi assim na Alemanha após Hitler. Empresas, como as Volkswagen, BMW, Mercedes Benz, Hugo Boss, Krupp, Siemens e muitas outras, serviram ao nazismo, cometeram ou ajudaram a cometer atrocidades, quase todas usaram mão de obra forçada de prisioneiros. O Holocausto, onde foram sacrificados cerca de seis milhões de judeus, não teria acontecido, da forma como aconteceu, sem a contribuição tecnológica da IBM.
Após a guerra, houve empresários punidos, pai e filho Krupp foram julgados em Nuremberg. Mas as empresas de todos foram salvas, são hoje das maiores do mundo.
A destruição do segmento de engenharia de grandes obras praticamente já tinha ocorrido quando se descobre que essa tragédia decorreu de uma farsa.
A revelação das mensagens trocadas entre o juiz Sergio Moro, responsável pelo julgamento em primeira instância das investigações da Operação Lava Jato, e o próprio Ministério Público, puseram abaixo a visão da Lava Jato como coisa séria. Os diálogos mostram um juiz conspirando com um dos lados da causa que ia julgar, maquinando, às escondidas, a melhor forma de condenar um político, Lula. E a farsa se consumou. Lula foi condenado por esse juiz que tramou com a acusação argumentos para prendê-lo e, preso, Jair Bolsonaro pôde se eleger presidente. Como retribuição, o juiz Moro foi em seguida nomeado ministro da Justiça.
Situação complexa vive o Brasil. Fruto de um embuste, desorientou-se o país, colocou-se na cadeia, por razões políticas e de forma facciosa, o líder mais popular da nação, abrindo-se caminho assim para se eleger um governo antinacional e de extrema direita, ligado a milícias, caricato nos valores ridículos que defende e que se esforça por desmontar o país. Desmonte que começou dramaticamente quando a engenharia brasileira de grandes obras, das mais avançadas do mundo, foi destroçada.
Para reconstruir a nação, é imperioso barrar a marcha batida do reacionarismo em curso. A descoberta do embuste da Lava Jato, o desmascaramento do seu falso herói Sérgio Moro e a irrecorrível libertação de Lula ajudarão a uma tomada de consciência nova dos brasileiros e a iluminar o caminho para a saída dessa crise.
* Haroldo Lima é engenheiro, membro da Comissão Política Nacional do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil, foi deputado federal e diretor geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.
A maior empresa de engenharia da América Latina, a brasileira Odebrecht, acaba de pedir “recuperação judicial”.
O número de trabalhadores da Odebrecht em 2015, incluindo terceirizados, era 276 mil. Hoje é 48 mil. Significa que em 4 anos, 228 mil trabalhadores, muitos de elevada qualificação, perderam o emprego.
A responsabilidade principal por tal desastre foi da Operação Lava Jato, com sua forma peculiar de combater a corrupção, prendendo corruptos, corruptores e destruindo as empresas a eles vinculadas. O ocorrido com a Odebrecht é exemplar.
Em novembro de 2014, a Lava Jato identificou corrupção nas relações entre grandes empreiteiras e funcionários da Petrobras. Em junho de 2015, prendeu o presidente da companhia Marcelo Odebrecht. Diretores da Petrobras já estavam ou foram presos em seguida, assim como presidentes e diretores de grandes empreiteiras, como Andrade Gutierrez, OAS, Camargo Correa, Queiroz Galvão, UTC Engenharia, Engevix e outras.
Esperava-se que a Lava Jato aprofundasse suas investigações, buscasse recuperar o dinheiro afanado e promovesse processos para a condenação dos responsáveis, tudo dentro da lei.
Mas o que ela fez foi diferente. Deu andamento a uma outra operação, demorada, espalhafatosa, com objetivos políticos que agora foram comprovados.
Administradores e proprietários de grandes companhias não foram apenas presos, mas expostos à execração pública, a linchamento moral e a humilhações que os atingia e atingia em cheio as empresas a eles ligadas. A própria Petrobras foi vítima dessa sanha. Esteve ameaçada de ser vista como um antro de corruptos, perdeu valor e prestígio.
Uma sequência de ações ilegais, sob os olhares lenientes do Judiciário, foi perpetrada. Um novo agente de justiça ganhou força, o “delator premiado”. Suas delações, induzidas, comprovadas ou não, garantiam-lhes vantagens e levavam a prisões retumbantes, que o país assistia atônito. Eram métodos da guerra híbrida voltados contra pessoas e empresas.
A corrupção foi alçada ao nível de problema número um da República, mas apenas a chamada corrupção-política.
No Brasil, entre 2017 e 2018, a pobreza aumentou, o desemprego bateu recorde, a inflação esteve baixa e o país só cresceu 1,3%. No mesmo período, os juros de cheques especiais foram a 15% ao mês, 327% ao ano e os quatro maiores bancos lucraram 20%, R$69 bilhões, coisa estupenda. Contudo, isto não é visto como esbulho à população. A sonegação de impostos, as isenções, os depósitos em paraísos fiscais, tudo isso que ultrapassa, em muito, a corrupção identificada pela Lava Jato, não é computada como corrupção. A elite esconde bem a corrupção que quer proteger, e que é a grande.
Os espetáculos montados pela Lava Jato, com o apoio da mídia hegemônica, criaram o clima de que para prender um corrupto ou corruptor político, tudo se justificava. Os interesses nacionais foram olimpicamente desconsiderados. A necessidade de se resguardar no país uma base empresarial forte em engenharia, indispensável à construção de uma nação soberana, nem foi cogitada. Por isso não se pensou em punir culpados salvaguardando as empresas a ele vinculadas.
As empresas foram desmoralizadas, imobilizadas e finalmente inviabilizadas, elas que eram as maiores empresas brasileiras de engenharia, das mais avançadas do mundo.
As companhias estrangeiras tiraram proveito rápido da criminosa razia promovida pela Lava Jato. Em dezembro de 2014 a Petrobrás decidiu proibir novos contratos com 23 empresas investigadas na Operação, todas as grandes brasileiras aí incluídas. No início de 2017, a Petrobras convidou para participar da licitação para a construção da sua maior obra em curso, a Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN), de Itaboraí, no Rio, trinta empresas, todas estrangeiras. E o que é incrível: como mostrou o DCM, (24/01/2017), diversas das convidadas estavam envolvidas com corrupção em seus países, como a espanhola Acciona, a inglesa Amec Foster Wheeler, a norte-americana Bechtel Corporation e outras.
Registre-se que esse extermínio empresarial demorou anos e não se escutou nenhum protesto das entidades empresariais brasileiras. Fiesp, Firjan e outras nada fizeram. As denúncias do pessoal de esquerda não eram ouvidas, e talvez não tenham sido suficientemente enfáticas.
Há pouco, a 17 de junho passado, o empresário João Carlos Saad, dono do Grupo Bandeirantes, falando a outros empresários, responsabilizou a Lava Jato pela “destruição de empresas nacionais”. E tocou em questão central: “Nenhuma das empresas internacionais que se envolveu no escândalo da Petrobrás ou em outros escândalos foi destruída.” De fato, as delações citaram as Samsung, SBM Offshore, Maersk, Jurong, Kawasaki, Mitsubishi, Mitsui, Toshiba, Rolls-Royce e outras. Todas estão “muito bem, obrigado”.
Aliás, nações empenhadas em se desenvolverem com soberania, nunca liquidam suas grandes empresas, mesmo quando sobre elas pairam enormes problemas. Submetem-nas a uma depuração e salvam-nas. Foi assim na Alemanha após Hitler. Empresas, como as Volkswagen, BMW, Mercedes Benz, Hugo Boss, Krupp, Siemens e muitas outras, serviram ao nazismo, cometeram ou ajudaram a cometer atrocidades, quase todas usaram mão de obra forçada de prisioneiros. O Holocausto, onde foram sacrificados cerca de seis milhões de judeus, não teria acontecido, da forma como aconteceu, sem a contribuição tecnológica da IBM.
Após a guerra, houve empresários punidos, pai e filho Krupp foram julgados em Nuremberg. Mas as empresas de todos foram salvas, são hoje das maiores do mundo.
A destruição do segmento de engenharia de grandes obras praticamente já tinha ocorrido quando se descobre que essa tragédia decorreu de uma farsa.
A revelação das mensagens trocadas entre o juiz Sergio Moro, responsável pelo julgamento em primeira instância das investigações da Operação Lava Jato, e o próprio Ministério Público, puseram abaixo a visão da Lava Jato como coisa séria. Os diálogos mostram um juiz conspirando com um dos lados da causa que ia julgar, maquinando, às escondidas, a melhor forma de condenar um político, Lula. E a farsa se consumou. Lula foi condenado por esse juiz que tramou com a acusação argumentos para prendê-lo e, preso, Jair Bolsonaro pôde se eleger presidente. Como retribuição, o juiz Moro foi em seguida nomeado ministro da Justiça.
Situação complexa vive o Brasil. Fruto de um embuste, desorientou-se o país, colocou-se na cadeia, por razões políticas e de forma facciosa, o líder mais popular da nação, abrindo-se caminho assim para se eleger um governo antinacional e de extrema direita, ligado a milícias, caricato nos valores ridículos que defende e que se esforça por desmontar o país. Desmonte que começou dramaticamente quando a engenharia brasileira de grandes obras, das mais avançadas do mundo, foi destroçada.
Para reconstruir a nação, é imperioso barrar a marcha batida do reacionarismo em curso. A descoberta do embuste da Lava Jato, o desmascaramento do seu falso herói Sérgio Moro e a irrecorrível libertação de Lula ajudarão a uma tomada de consciência nova dos brasileiros e a iluminar o caminho para a saída dessa crise.
* Haroldo Lima é engenheiro, membro da Comissão Política Nacional do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil, foi deputado federal e diretor geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.
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