Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Sentado ao centro de uma imensa mesa nos fundos da Livraria da Vila, nos Jardins, em São Paulo, com a caneta na mão para dar autógrafos, o ex-procurador geral da República Rodrigo Janot olha fixamente para ninguém à sua frente.
A seu lado, nenhum parente, amigo, colega de trabalho ou fã - é comovente a solidão do autor do livro “Nada Menos que Tudo”.
Na icônica foto de Marcelo Chello vê-se apenas três funcionários da editora Planeta pensando na fria em que entraram.
Nunca se viu uma noite de autógrafos tão desanimada. Parecia mais um velório do que uma festa de lançamento.
Marcada para as 19 horas, a sessão começou com 20 minutos de atraso, esperando a chegada do autor, que apareceu acompanhado de seguranças.
“Às 19h43, já não havia mais ninguém na fila. Depois, alguns leitores foram chegando a conta-gotas”, relata Walter Nunes, na Folha.
Janot chegou mudo e saiu calado, sem querer explicar como tentou matar Gilmar Mendes em Brasília num dia em que estava no Recife.
Havia lá mais repórteres do que compradores do livro à sua espera, mas saíram todos frustrados. Nenhuma autoridade compareceu.
“Hoje é só palavra escrita”, foi a única coisa que Janot disse, e passou o resto do tempo de cara amarrada.
Dos 550 exemplares do livro colocados à venda, só foram comprados 43, um fracasso total para qualquer escritor principiante.
Uns dez anos atrás, lancei naquela mesma livraria um dos meus livros de crônicas - “Uma Vida Nova e Feliz… sem poder, sem cargo, sem carteira assinada, sem crachá, sem secretária e sem sair do Brasil” (Ediouro) - num sábado de manhã, e fiquei horas fazendo dedicatórias, até que bateu a fome, quando ainda tinha gente na fila e eu fui comer com os amigos.
Nem faz tanto tempo, o poderoso ex-procurador geral aparecia em frente ao STF segurando uma faixa em que se lia “Janot – A esperança do Brasil” levada por seus admiradores.
Era o auge da cruzada contra a corrupção da Operação Lava Jato, comandada por Moro & Dallagnol, com a cumplicidade de Janot e dos tribunais superiores.
Daqueles tempos de glória só restou esse livro que deveria ser de memórias, mas virou de ficção, ao ser desmascarada a principal revelação feita por Janot no depoimento romanceado que deu aos repórteres Guilherme Evelin e Jailton Carvalho.
“Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio àquela algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha”, escreveu Janot.
No livro, ele não dá o nome da autoridade, mas em várias entrevistas na semana passada para promover o lançamento do livro ele falou que era o ministro Gilmar Mendes, do STF.
Sabe-se agora que tudo não passou de um delírio de Janot pois ele nem estava no STF no dia do suposto quase atentado.
Por uma dessas ironias da vida, na mesma noite de segunda-feira, Gilmar Mendes, o anti-herói da história, estava no programa Roda Viva, da TV Cultura, desancando a Lava Jato e a imprensa que se prestou a servir de porta-voz dos vazamentos criminosos de Rodrigo Janot e dos procuradores de Curitiba.
Com a loquacidade pernóstica do personagem Rolando Lero da Escolinha do Professor Raimundo, Gilmar dominou o palco por 90 minutos, sem dizer nada de novo e tripudiando sobre os heróis caídos.
A Justiça tarda, mas não falha, costumam dizer os otimistas, mas não precisava demorar tanto.
Aguarda-se agora o lançamento das memórias de Moro & Dallagnol. Alguma editora se habilita?
Vida que segue.
Sergio Moro, Deltan Dallagnol e, agora, Rodrigo Janot: um a um vão caindo os “heróis nacionais” fabricados pela Operação Lava Jato.
Sentado ao centro de uma imensa mesa nos fundos da Livraria da Vila, nos Jardins, em São Paulo, com a caneta na mão para dar autógrafos, o ex-procurador geral da República Rodrigo Janot olha fixamente para ninguém à sua frente.
A seu lado, nenhum parente, amigo, colega de trabalho ou fã - é comovente a solidão do autor do livro “Nada Menos que Tudo”.
Na icônica foto de Marcelo Chello vê-se apenas três funcionários da editora Planeta pensando na fria em que entraram.
Nunca se viu uma noite de autógrafos tão desanimada. Parecia mais um velório do que uma festa de lançamento.
Marcada para as 19 horas, a sessão começou com 20 minutos de atraso, esperando a chegada do autor, que apareceu acompanhado de seguranças.
“Às 19h43, já não havia mais ninguém na fila. Depois, alguns leitores foram chegando a conta-gotas”, relata Walter Nunes, na Folha.
Janot chegou mudo e saiu calado, sem querer explicar como tentou matar Gilmar Mendes em Brasília num dia em que estava no Recife.
Havia lá mais repórteres do que compradores do livro à sua espera, mas saíram todos frustrados. Nenhuma autoridade compareceu.
“Hoje é só palavra escrita”, foi a única coisa que Janot disse, e passou o resto do tempo de cara amarrada.
Dos 550 exemplares do livro colocados à venda, só foram comprados 43, um fracasso total para qualquer escritor principiante.
Uns dez anos atrás, lancei naquela mesma livraria um dos meus livros de crônicas - “Uma Vida Nova e Feliz… sem poder, sem cargo, sem carteira assinada, sem crachá, sem secretária e sem sair do Brasil” (Ediouro) - num sábado de manhã, e fiquei horas fazendo dedicatórias, até que bateu a fome, quando ainda tinha gente na fila e eu fui comer com os amigos.
Nem faz tanto tempo, o poderoso ex-procurador geral aparecia em frente ao STF segurando uma faixa em que se lia “Janot – A esperança do Brasil” levada por seus admiradores.
Era o auge da cruzada contra a corrupção da Operação Lava Jato, comandada por Moro & Dallagnol, com a cumplicidade de Janot e dos tribunais superiores.
Daqueles tempos de glória só restou esse livro que deveria ser de memórias, mas virou de ficção, ao ser desmascarada a principal revelação feita por Janot no depoimento romanceado que deu aos repórteres Guilherme Evelin e Jailton Carvalho.
“Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio àquela algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha”, escreveu Janot.
No livro, ele não dá o nome da autoridade, mas em várias entrevistas na semana passada para promover o lançamento do livro ele falou que era o ministro Gilmar Mendes, do STF.
Sabe-se agora que tudo não passou de um delírio de Janot pois ele nem estava no STF no dia do suposto quase atentado.
Por uma dessas ironias da vida, na mesma noite de segunda-feira, Gilmar Mendes, o anti-herói da história, estava no programa Roda Viva, da TV Cultura, desancando a Lava Jato e a imprensa que se prestou a servir de porta-voz dos vazamentos criminosos de Rodrigo Janot e dos procuradores de Curitiba.
Com a loquacidade pernóstica do personagem Rolando Lero da Escolinha do Professor Raimundo, Gilmar dominou o palco por 90 minutos, sem dizer nada de novo e tripudiando sobre os heróis caídos.
A Justiça tarda, mas não falha, costumam dizer os otimistas, mas não precisava demorar tanto.
Aguarda-se agora o lançamento das memórias de Moro & Dallagnol. Alguma editora se habilita?
Vida que segue.
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