terça-feira, 15 de outubro de 2019

O Equador saindo do beco. Será?

Foto: Reuters
Por Eric Nepomuceno

Foi tudo muito tenso e muito rápido.

No finalzinho da tarde do domingo 13 de outubro um grupo de indígenas liderados por Jaime Vargas, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), se reuniu com o presidente Lenín Moreno e outros integrantes do governo nos arredores de Quito.

A reunião começou por volta das seis da tarde.

E quando faltavam quinze para as dez da noite, chegou-se a um acordo.

Ou melhor dizendo: Moreno aceitou a principal reivindicação de Jaime Vargas e anulou o decreto 883, cuja consequência principal foi um aumento de mais de 120% no preço da gasolina e do diesel e, com isso, desencadeou uma tormenta que sacudiu e paralisou o país ao longo de longuíssimos treze dias.

O diálogo entre Jaime Vargas e Lenín Moreno começou simples e direto: o líder indígena disse que aceitava conversar desde que, de saída, ficasse estabelecido que o decreto que cumpria instruções explícitas do Fundo Monetário Internacional (o sempre nefasto FMI) fosse suspenso.

Moreno disse que o decreto estava suspenso, e pronto. Então Vargas disse que as mobilizações e ocupações estavam igualmente suspensas.

Era isso ou a tragédia: um dia antes o presidente havia decretado o estado de sítio em todo o país e a militarização de Quito.

Como ninguém saiu de onde estava, uma ordem para dispersar milhares de manifestantes desataria, inevitavelmente, uma carnificina.

A segunda-feira amanheceu com imagens das praças que foram os pontos de concentração dos manifestantes em Quito sendo limpas por mutirões feitos por milhares de equatorianos, em sua maioria indígenas.

Essas imagens, em todo caso, não diluem o que ficou pendente.

A medida decretada por Moreno e que desatou a tormenta fazia parte do acordo assinado com o FMI para liberar quatro bilhões e duzentos milhões de dólares, primeira cota de um total previsto para dez bilhões.

Como tudo que se refere ao FMI, por ‘acordo’ deve-se ler imposição.

Para liberar essa parcela o tal ‘acordo’ estava previsto, além do fim do subsídio aos combustíveis que existe há quarenta anos, a desaparição de milhares de postos de trabalho, entre outras medidas de força que afetariam principalmente as classes mais pobres do país.

E agora?

Bem, pelo que foi acertado entre o presidente Moreno e o líder indígena, será criada uma comissão mista supervisada por representantes das Nações Unidas e da Conferência Episcopal Equatoriana para chegar a um acordo já não entre governo e FMI, mas entre governo e a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador.

Os termos desse novo acordo serão levados ao FMI. O que virá depois ninguém sabe.

Moreno insistiu que o novo decreto terá como objetivo ‘canalizar recursos para quem mais necessita’. Algo tão vago como uma nuvem no horizonte.

Além disso, o FMI jamais deu mostra alguma desse tipo de preocupação.

Ministros do governo deram ênfase à palavra ‘acordo’, dizendo que tanto indígenas como o presidente haviam cedido em partes de suas posições iniciais. É verdade: Jaime Vargas havia posto como condição, além da suspensão do fatídico decreto, o afastamento de vários ministros.

Já Moreno havia condicionado ao diálogo ao fim das manifestações.

Ora, nada mais óbvio e previsível: suspenso o decreto, tal como ocorreu, as manifestações não teriam sentido.

O problema de Lenín Moreno deixou de ser com os indígenas e a população equatoriana. Agora, ele terá de se entender é com o FMI.

E vai fazer isso sabendo que se tornar a se submeter, um furacão voltará às ruas e ele poderá ser facilmente varrido da poltrona presidencial.

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