Por Jeferson Miola, em seu blog:
Em fevereiro de 1962, no premonitório ensaio Quem dará o golpe no Brasil?, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos antecipou com pouco mais de 2 anos o desfecho da conspiração que culminaria no golpe civil-militar de 31 de março de 1964.
No Brasil de hoje não cabe repetir a pergunta formulada por Wanderley Guilherme há 58 anos, porque os autores do golpe desfilam a olhos vistos. Com retóricas, armas e ataques violentos, deixam muito claros seus propósitos antidemocráticos e inconstitucionais.
A pergunta que se coloca hoje, portanto, é outra. A essas alturas, é de se perguntar quando será o golpe? Aliás, Eduardo Bolsonaro afirmou que nas reuniões da sua facção criminosa não se discute “se” terá ruptura da ordem, “mas, sim, quando vai ocorrer” a ruptura.
O general e ex-ministro Carlos Alberto Santos Cruz publicou na tarde desta 5ª feira [Estadão, 28/5] o artigo O militar e a política.
Na visão dele, “As Forças Armadas são instituições permanentes do Estado brasileiro e não participam nem se confundem com governos, que são passageiros, com projetos de poder, com disputas partidárias, com discussões e disputas entre Poderes ou autoridades …”.
Santos Cruz também recorda que “Não por acaso, foi justamente no regime militar que as FA decidiram, acertadamente, sair da política e ater-se ao profissionalismo de suas funções constitucionais”.
Numa referência indireta ao caos provocado pelos bolsonaristas para pretextarem intervenção militar com base numa interpretação deturpada do artigo 142 da CF, o general diz que “A busca da harmonia é obrigatória aos três Poderes. É uma obrigação constitucional. As diferenças, o jogo de pressões e as tensões são normais na democracia e as disputas precisam ocorrer em regime de liberdade, de respeito e dentro da lei”.
A publicação de um texto clamando pelo profissionalismo das Forças Armadas e pelo respeito à sua missão constitucional longe da política é, em si mesmo, um sinal preocupante.
Quando, entretanto, é publicado por um general da influência do Santos Cruz e em meio a ataques violentos do governo militar à ordem jurídica e aos poderes de Estado, o artigo se converte num alarme de movimentações perigosas que já ocorrem nos quartéis.
Este alerta, porém, pode ser tardio, porque os militares parecem dispostos e prontos para dar o bote.
Há método e planejamento no caos infernal em que mergulharam o Brasil. Os próprios militares estimulam crises e manietam todas as peças no teatro das operações. Com um detalhe: estão, sempre, muitas jogadas à frente no tabuleiro de xadrez e manipulam as facções lavajatistas e bolsonaristas que se digladiam.
O aumento deliberado da tensão política a níveis insuportáveis, o esgarçamento das relações entre os poderes e a instabilidade intencional ambientam o cenário de guerra que ocupa a arena da política: no lugar do caos civil, instalam a ordem militar.
Se não houver uma reação urgente, a consumação do golpe será mera questão de tempo. Os sinais, por enquanto, são desalentadores; e o Brasil avança para o abismo da ditadura.
A resistência nas ruas está comprometida pela pandemia, os presidentes da Câmara e Senado reagem só com nota covardes e vergonhosas, e o presidente do STF segue tutelado de perto pelo general lotado no seu gabinete [aqui].
Neste contexto, se nada disso mudar, não será possível deter a consumação do golpe.
Em fevereiro de 1962, no premonitório ensaio Quem dará o golpe no Brasil?, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos antecipou com pouco mais de 2 anos o desfecho da conspiração que culminaria no golpe civil-militar de 31 de março de 1964.
No Brasil de hoje não cabe repetir a pergunta formulada por Wanderley Guilherme há 58 anos, porque os autores do golpe desfilam a olhos vistos. Com retóricas, armas e ataques violentos, deixam muito claros seus propósitos antidemocráticos e inconstitucionais.
A pergunta que se coloca hoje, portanto, é outra. A essas alturas, é de se perguntar quando será o golpe? Aliás, Eduardo Bolsonaro afirmou que nas reuniões da sua facção criminosa não se discute “se” terá ruptura da ordem, “mas, sim, quando vai ocorrer” a ruptura.
O general e ex-ministro Carlos Alberto Santos Cruz publicou na tarde desta 5ª feira [Estadão, 28/5] o artigo O militar e a política.
Na visão dele, “As Forças Armadas são instituições permanentes do Estado brasileiro e não participam nem se confundem com governos, que são passageiros, com projetos de poder, com disputas partidárias, com discussões e disputas entre Poderes ou autoridades …”.
Santos Cruz também recorda que “Não por acaso, foi justamente no regime militar que as FA decidiram, acertadamente, sair da política e ater-se ao profissionalismo de suas funções constitucionais”.
Numa referência indireta ao caos provocado pelos bolsonaristas para pretextarem intervenção militar com base numa interpretação deturpada do artigo 142 da CF, o general diz que “A busca da harmonia é obrigatória aos três Poderes. É uma obrigação constitucional. As diferenças, o jogo de pressões e as tensões são normais na democracia e as disputas precisam ocorrer em regime de liberdade, de respeito e dentro da lei”.
A publicação de um texto clamando pelo profissionalismo das Forças Armadas e pelo respeito à sua missão constitucional longe da política é, em si mesmo, um sinal preocupante.
Quando, entretanto, é publicado por um general da influência do Santos Cruz e em meio a ataques violentos do governo militar à ordem jurídica e aos poderes de Estado, o artigo se converte num alarme de movimentações perigosas que já ocorrem nos quartéis.
Este alerta, porém, pode ser tardio, porque os militares parecem dispostos e prontos para dar o bote.
Há método e planejamento no caos infernal em que mergulharam o Brasil. Os próprios militares estimulam crises e manietam todas as peças no teatro das operações. Com um detalhe: estão, sempre, muitas jogadas à frente no tabuleiro de xadrez e manipulam as facções lavajatistas e bolsonaristas que se digladiam.
O aumento deliberado da tensão política a níveis insuportáveis, o esgarçamento das relações entre os poderes e a instabilidade intencional ambientam o cenário de guerra que ocupa a arena da política: no lugar do caos civil, instalam a ordem militar.
Se não houver uma reação urgente, a consumação do golpe será mera questão de tempo. Os sinais, por enquanto, são desalentadores; e o Brasil avança para o abismo da ditadura.
A resistência nas ruas está comprometida pela pandemia, os presidentes da Câmara e Senado reagem só com nota covardes e vergonhosas, e o presidente do STF segue tutelado de perto pelo general lotado no seu gabinete [aqui].
Neste contexto, se nada disso mudar, não será possível deter a consumação do golpe.
0 comentários:
Postar um comentário